estes dias que passam 935
Pro Pudor!
mcr,12-9-24
A expressão, que, de resto, além de portuguesa é internacional, significa brandamente, "arre que isso é demais" (versão mcr).
Vem a propósito da declaração de Sª Exª o Sr Presidente da República queenteneu conceder postumamente um qualquer grau da Ordem de Santiago da Espada a Augusto M Seabra.
O Sr doutor Marcelo Rebelo de Sousa cruziu-se no Expresso (durante anos) com AMS. Desconheço se o lis ou não, se concordava ou não, sequer se o conhecia verdadeiramente. Com Seabra morto, multiplicaram-se os seus amigos e conhecidos "de toda a vida" como se o milagre dos pães tivesse aterrado nas terras de Santa Mari em versão críioco-cultural.
Não vou abundar neste campo por razões evidentes.
Todavia, no exacto momento em que era anunciada a comenda, o Sr Presidente acrescentou (e está nos jornais) que "de certeza, Seabra nunca aceitaria a honraria.
Em face disto, pergunta-se: a que título se vai contra a vontade de alguém, sobretudo se esse alguém já se não pode defender?
Terá Sª Exª reflectido dois minutos sobre a enormidade, direi a ofensa que faz a um cidadão que durante dezenas de anos andou por aí a escrever sem que qualquer reconhecimento oficial fosse visível.
AMS morreu pobre como quase sempre viveu, por escolha própria.
Arremessar-lhe à queima roupa com uma ordem honorífica sabendo que o visado nunca a aceitaria caso estivesse vivo é, no mínimo, uma vilania, uma brincadeira de péssimo gosto, uma afronta.
Não há outra maneira de descrever a coisa pelo que, tenho a ténue esperança de que a viúva (que será a única familiar próxima viuva) ponha cobro a esta operação que, pessoalmente, me parece ser menos contra o morto e mais afavor de alguém que assim redora um brasão "cultural" que durante a vidado crítico nunca foi visível. Tivesse durante esse tempo (e foram pelo menos sete longos anos...) sido anunciada a homenagem m eu provavelmente aplaudiria mesmo sabendo da ojeriza de Augusto Seabra a este tipo de honrarias. ele recusaria mas ficaria o gesto de reconhecimento por uma obra e um percurso que, repito, começaram há mais de quarenta anos.
Agora é tarde é ofensivo e, sobretudo, ridículo.