estes dias que passam 945
O rei e o ministro timorato
mcr, 4-11-24
A monarquia espanhola não faz parte do meu modesto panteão de organizações favoritas. Não porque tenha saudades da República que nunca conheci mas apenas porque nasci nesta iíngua de terra desolada entre a montanha e a areia e seja pouco dado a iberismos de qualquer espécie.
Todavia ontem fiquei (bem) impressionado com a coragem dos Reis espanhóis que enfrentaram a multidão que os acusava de tudo e de nada coisa que se compreende numa gente subitamente reduzida à miséria nas vésperas do frio invernal e da segura lentidão da reconstrução das suas cidades e aldeias.
Convenhamos que os insultos a Filipe VI e a sua mulher Letícia (raio de nome ...) não tinham grande razão de ser. O Rei não tem poderes executivos de qualquer espécie ,pelo que não serianunca a instância política culpada da inércia indecente do poder central espanhol. Mesmo se eu saiba que este tipo de máquinas demoram sempre a tornar eficaz qualquer ajuda.
Porém, o que mais me poderia espantar (e espantou) foi o facto do sr Sanchez ter dado às de Vila Diogo logo que os protestos começaram. Em primeiro lugar deixou o Rei sozinho a aguentar a chuva de impropérios que só ele merecia. Em segundo lugar, mostrou que a multidão o atemoriza mesmo se fosse duvidoso que alguém se lembrasse de lhe puxar a orelhinha murcha,
Sua Excelência escafedeu-se, mostrando que a duvidosa maioria que o aguenta no poder é mais do que artificial e que os seus dotes de governante não atingem os mínimos necessários para enfrentar uma provação séria e dar alento a uma população que ainda nem sequer pode contar todos os seus mortos e desaparecidos.
Sondagens que desde há muito mostram a fraca possibilidade do PSOE actual ganhar eleições mesmo conluiado com partidos radicais e independentistas já eram conhecidas. Presumo que, se agora, outra se fizesse seria verdadeiramente o sinal da debandada.
A incapacidade política demonstrada por Sanchez não é de hoje nem sequer se percebe como é que um indivíduo tão medíocre quanto alto conseguiu chegar à Moncloa.
Pelos vistos terá sido o Rei, farto da inacção governamental ,que insistiu em ir até à Comunidade Valenciana , coisa que um governante deveria ter feito logo no dia seguinte ao da tragédia. Mesmo que não levasse nada de especial o dever de um Primeiro Ministro é aparecer nos momentos difíceis e tentar mostrar solidariedade e compaixão.
Ao fugir tristemente mas depressa, o Chefe do Governo de Espanha desonra-se e desonra o seu Governo. E, obviamente dá armas aos seus adversários conservadores ou radicais de Direita que, num país onde a "hombria" parece ser ainda um valor especial, o torna uma espécie de balão vazio.
Quanto tempo durará e como durará?
(algum leitor reparará que nada digo sobre a América. É para nõ tentar o destino nem despertar as Erínias e outras fúrias menores... eu, claro, votaria sempre contra Trump mesmo que tivesse de pôr o voto no Capitão Marvel. Porém senhora Harris merece estar nesta corrida e, perdoe-se o cavalheirismo de outras épocas, ela é mesmo uma Senhora.
E Trump nunca será sequer uma criatura e menos ainda um senhor...
No país de Fulkner, Pound, Gillespie ou Ellington como é que isto foi possível?)