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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 946

mcr, 07.11.24

The great american disaster

mcr, 7-11-24

 

Numa antiga série policial passada por uma qualquer tv podiamos seguir as aventuras de um policia americano que, por razões de protecção, fora enviado para Inglterra  para trabalhar na Scotland Yard temdo como prceira uma detetive inglesa vinda da aristocracia. Os métodos eficazes mas heterodoxos do americano irritavam o chefe inglês que lhe chamava "great american disaster", um trocadilho cpm o título de uma canção dos Bee Gees   (New York mining disaster, criada em 1967).

Por inexplicáveis razões isto veio-me à cabeça talvez por ser algo muito da minha juventude académica que foi um tempo feliz, violento e inesquecível.

Já não recordo a letra da canção mas a coisa ocorreu-me para classificar a rotunda derrota do partido democrata americano.

Faço parte dos que consideram Trump uma criatura infrequentável, um troglodita, uma aberração pouco sofisticada do mais delirante narcisismo que se pode encontrar. Isto sem falar no mau gosto da criatura, no machismo alarve,  ns negociatas, na fuga aos impostos e manifesta indigência verbal. 

Por todas as razões e porque com Kamala Harris a "minha" América seria mais agradável e mais previsível, sinto-me hoje completamente derrotado, sentimento que será partilhado por muitos europeus qu, todavia, não são votantes americanos. E foram esses (brancos, negros, latinos, emigrantes estabelecidos desde os cubanos aos portugueses, operários e lavradores e mais uma multidão de criaturas ) que deram a Trump uma tremenda vitória , algo que já não sucedia há mais de cem anos. 

É verdade que esta eleição começou mal para os democratas dado o péssimo desempenho de Biden num frente a frente e a tardia entrada em cena da vice presidente Harris na contenda.

Pessoalmente entendo que muito fez ela em pouco mais de cem dias mesmo se, nos últimos quatro anos tivesse passado despercebida (como de resto é tradição de boa parte dos vice-presidentes americanos).

Porém, nada disto absolve a elite democrata dirigente  que nos últimos anos tem dado mais destaqu a questões que para os americanos são, apesar de tudo, menores e sobretudo porque não foi capaz de contestar alguns êxitos do passado trumpista. Na verdade durante o mandato da criatura, a economia manteve-se bem (graças ao legado de Obama, é bom recordá-lo)  actualmente a inflação mesmo se moderada "comeu" parte dos salários americanos e pode ter suscitado alguma ruína no mundo rural. Isso mesmo terá levadoa uma fraca mobilização da população negra  que sobretudo nos Estados do Sal não se dignou ir às urnas. Outras minorias fizeram o mesmo em toda a parte o que acredita a teses que Kamala perdeu mais votos no seu possível campo do que a soma dos ganhos por Trump. Alguma da esquerda do partido democrata veio dizer isso, mesmo se também haja quem critique a mesma ala pelo seu radicalismo. Haris não conseguiu o apoio dos muçulmanos ou, sobretudo, sofreu a pesada influência dos protestos universitários adeptos da causa palestiniana, ou críticos da violência israelita. em Gaza, no Líbano e muito, muitíssimo, na Cisjordânia. 

Por muito que Biden tenha insistido com os dirigentes israelitas a brutal realidade é esta: OS EUA apoiaram com fornecimentos maciços de armas, e muita colaboração secreta,  Israel. Permitiram a este país (que obviamente tem direito à existência) o que até agora negaram à Ucrânia ou seja levar a guerra até aos locais de onde partem as bombas e os mísseis que destroem paulatinamente o país.

A campanha de Kamala nunca soube interpretar a questão económica nem foi explícita quanto a medidas concretas, reais e eficazes para diminuir drasticamente os efeitos perversos da inflação. 

Nem conseguiu explicar convenientemente os futuros efeitos do aumento verificado no PIB ou no emprego. 

É também provável que a América mais religiosa e conservadora ache as tradicionais propostas democratas  "pouco americanas" ao mesmo tempo que as intermináveis marchas dos refugiados económicos que atravessam o México em direcção à fronteira americana. 

É duvidoso que a imigração dos deserdados da terra  tenha especial efeito no anunciado aumento da criminalidade (que eventualmente poderia verificar-se sobretudo nas grandes cidades de maioria democrática) mas o agitar dessa ameaça tem claros efeitos na multidão menos educada (mas votante!...)

Por outro lado é provável que uma mulher ainda por cima "de cor" filha de emigrantes recentes e educados  não tenha tido o apoio esperado. Nem nas mulheres, nem sobretudo na comunidade negra afro-americana.

De resto, entendo que o partido democrata que tivera na perdida eleição da senhora Clinton. uma expressiva maioria popular e dera uma clara vitória a Biden, pode ter  menosprezado a campanha de Trump e mesmo não ter percebido a sua força e penetração no eleitorado.

Sei perfeitamente que um bom terço dos americanos não vota e que nestas últimas disputas ambos os partidos tentam fazer com que os seus eleitores e simpatizantes vão às urnas. Trump conseguiu maior mobilização e Kamala ficou muito atrás dos anteriores candidatos democratas. 

Em boa verdade, sai de cena (se é que sai...) com dignidade, educação bem longe do que se passou na eleição de Biden. Não sei se isso lhe poderá dar espaço para uma nova candidatura  mas convém lembrar que os democratas terão de fazer uma longa reflexão sobre as suas propostas. É verdade que ganharam em todos os Estados tradicionalmente democratas desde a costa oeste até ao nordeste. Mas não chegou e, sobretudo verificou-se um recuo de votos nos swing states, essenciais para quem quer ganhar eleições.

Finalmente, poderíamos duvidar do sistema eleitoral e da maneira com os "grandes eleitores" apanham tudo nos Estados mas enquanto não houver uma Emenda constitucional é algo que pode favorecer qualquer um dos concorrentes. Como já aconteceu. 

Portanto e em resumo, fui derrotado, coisa que, nesta minha longa vida, já me sucedeu muitas vezes. 

Não vale a pena fazer previsões sobre como Trump governará mesmo se não creia que fará milagres ou sequer que me agradará. No entanto muita água ira passar sob as pontes do Potomac  até ao momento da constituição do novo governo americano. 

Acendam uma velinha... Mal não fará e pode miraculosamente fazer algum bem (pelo menos aos fabricantes de velas...)   

 

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