estes dias que passam 959
O “Malhão” do PS
mcr, 23-1-25
Andará por aí um duplo processo político-eleitoral. Por um lado há uma desesperada tentativa de beatificação do dr Santos Silva, o cavalheiro que adora “malhar na Direita” (mesmo ue não se saiba sempre o que é que ele entenderá por “direita”...)
Paralelamente, corre um processo inquisitorial contra o dr Seguro que, ao fim de uma longa travessia do deserto parece ter acordado com uma invencível vontade de regressar à política desta feita em Belém.
No passado domingo, uma senhora jornalista afirmava que nas paredes do PS escorre o ódio, coisa que, nem sequer é original porquanto ainda há quem se lembre do “sótão” do sr Guterres, da “vitória que sabia a poucochinho” do sr Costa para desaguar naquele pavoroso naufrágio de tudo que foi accionado pelo sr Sócrates.(Santos silva, amigo e companheiro deste chegou a criticar Cavaco por este não premiar a criatura com uma comenda!...) E ainda há um par de meses, o mesmíssimo costa assinava uma carinha sobre o interior do PS (onde honra andaria perdida ou pelo menos em parte incerta) que salpicava de cicuta industrial boa parte do actual establishmennt socialista.
Devo, para já, dizer que nunca tive especial predilecção por Seguro enquanto dirigente e que toda a acção de Santos Silva à cabeça do parlamento me pareceu insensata e altamente favorável ao cavalheiro Ventura .
Imagino até que, todos os dias, ao pequeno almoço, esta criatura enquanto fazia sopinhas de pão no leite, tentava imaginar qual a frase com que poria o Presidente da Assembleia a escumar e , por isso mesmo, a dar-lhe de borla, palco e vitimação.
Não duvido da inteligência dos dois próceres socialistas mesmo seao avaliá-la tenha sempre presente o aforismo “est modus in rebus”. Silva será certeiro, preparado mas de quando em quando parece que se arrebata e “aí vai isto” À falta de cabelo acresce a de algum bom senso. E, como hoje, vários comentadores entendem, também não abunda em civilidade.
Seguro não foi, nem (depois da hecatombe socrática) podia ser especialmente aguerrido. Mas lá levou o barco pelo caminho das pedras, não perdeu nenhuma eleiçãoo e antes e depois da sua breve passagem pela liderança soube fechar a boquinha mimosa e manter um silêncio digno e leal
Digamos que, de certa maneira, foi a antítese da barulheira produzida por Santos silva que tão bem serviu a Direita venturista. Nem o mais dementado deputao do BE conseguia tal efeito!...
Diz-se pelos mentideiros que Santos Silva “pondera” uma candidatura à Presidência. Se sim ou não só ele eventualmente sabe. Que com este ataque a Seguro errou o alvo não põe qualquer dúvida. Pode ratar-lhe alguma base de apoio mas, ao mesmo tempo, deixa nas pessoas que, eventualmente, o achariam bom para o cargo, um gosto indisfarçável a intriga baixa e a punhalada nas costas.
Estou à vontade porque, para mim, há um candidato bem mais interessante, mais preparado, com maior experiência política: António Vitorino, meu amigo desde 1976. Não se sabe se estará interessado mas no caso de estar, daqui lhe digo que conte com os meus fracos préstimos.
Só mais um pequeno (grande ) ponto: não basta a quem quer que seja andar por aí a gritar que gosta de arrear na direita. Hoje em dia, e desde há cinquenta anos, essa “vocação” tem sido garganteada, berrada, gargarejada em todos os tons.
Falta, porém, aos malhadores mais em vista uma pequena coisa: a prova dos factos, o passado malhador mesmo se para muitos dos que já eram crescidinhos em 74 a coisa era mais “ser malhado” pelas polícias do que malhar na vilanagem.
Ora o sr Silva teria, quanto muito dezoito vçosos aninhos no 25 A, ou seja é pouco plausível, improvável até, que nesses anos adolescentes já malhasse no que quer que seja. E sobretudo arriscasse as consequências.
Ninguém, claro, é obrigado a ter um passado, sobretudo um passado de opositor ao Estado Novo. E é bom que se lembre que mesmo entre as gerações mais velhas, não houve assim tantos esforçados cavaleiros da Revolução, sequer da Democracia. Bem pelo contrário.
E havia entre essa gente, que é a minha gente, solidariedade, amizade, civilidade. E pouca ou nenhuma gabarolice que, aliás, era mais do que perigosa.
Para malhos, malhadores ou malhão basta a música popular.
Apesar de tudo a presidência ainda não é a de uma república bananeira. Mesmo que por vezes (demasiadas) o pareça...