estes dias que passam 952
Nôtre Dame, fénix para o século XXI
mcr 13-12-2024
Há cinco anos quem viu o incêndio da catedral nunca pensou voltar a vê-la tal como ao longo de dez séculos ela sefoi fazendo, lentamente, com altos e baixos no meio de uma cidade abençoada que existe ou vê gente há (eventualmente) um largo par de milénios (há anos descobriu-se uma piroga que teria((?)) 6000 anos!).
Mesmo os alucinados optimistas de cujo club devo ser sócio fundador nunca esperaram voltar a ver ND em tão curto espaço de tempo.
Porém, uma vez sem exemplo, o milagre cumpriu-se. A catedral está de pé, mais bonita e mais segura (espera-se) permitindo-nos vê-la à luz do que seria quando os seus construtores a fizeram. com as cors, a pedra lavada, os vitrais a reluzir de novos.
Eu faço parte dos happy few que começaram a conhecer ND bem antes de a poderem ver, sequer avistar do parvis em que hoje ela se mostra (e esta vista é de certo modo recente pois como se sabe a igreja medieval estava rodeada de casario que só os grandes trabalhos de renovação de Paris permitiram destruir.
Teremos perdido um Paris medieval e pitoresco msas ganhámos uma cidade luz e isso, é bom que o reconheçamo, deve-se ao pouco entusiasmante Napoleão IIi e ao barão Haussman que destruiu o casario à volta e em frente da igreja.
Aliás, muito do que hoje se vê é resultado de restauros porquanto a catedral foi vítima de revoluções e tentativas de destruição desde a grande revolução até à comuna. Em boa verdade, suceeram-se os milagres pois por vontade de um par de enloyquecidos revolucionários a catedral poderia ter tido o destino das Tulherias
Qundo, em pleno rescaldo, o presidente Macron anunciou um ambicioo plano de restauto com um prazo de cinco anos quase ninguém acreditou que isso seria possível.
Todavia, dois mil artesãos e artistas (incluindo arquitectos, historiadores para além dos reconstrutores pedreiros, ferreiros, electicistas, carpinteiros, pintores e estucadores restauradores de toda a ordem) mostraram que se há país onde subsistam de forma exaltante as melhores tradições da compaognonage e saber fazer bem esse país é a França.
Segui, comovido, interessado e exaltado todas as reportagens feitas pelas televisões francesas nos últimos tempos e vi como homens e mulheres de toda a França se atiraram com entusiasmo e competência à gigantesca tarefa proclamada por Macron.
O resultado é absolutamente extraordinário e espero que seja brevemente publicitado em catálogo ou por outro meio eficaz. Ver um especialista (coadjuvado, é certo, por outros) restaurar os 8.000 tubos do órgão ou ouvir os sinos recuperados é algo de extraordinário, emocionante. O mesmo se diga dos lenhadores e dos carpinteiros que renovaram a "floresta" interior dos telhados ou os restauradores dos vitrais e das pinturas.
De certo modo, estes homens e mulheres redouraram o brasão do made in France.
E tenho por mim que esta aventura colectiva , nesta especial altura política e social da França poderá ter efeitos benéficos no modo como os franceses encaram o momento político. sobretudo se nos lembrarmos do modo bizarro como o último Governo caiu graças a uma indisfarçavel aliança política entre as extremas Direita e Esquerda. Por muito que se abomine o governo centrista de Macron, a imprudente convocatória de eleições legislativas cuja origem, motivação e espectativas são absolutamente compreensíveis para qualquer analista político e até para qualquer contumaz jogador de casino...) este resultado esta conivência contra cnatura so podia dar resultados suicidários mesmo para os democráticos. A escolha do par Le Pen Melenchon é apesar de tudo ainda mais horrenda do que o voto em Macron mesmo sabendo que este acaba por ser o homem que jogou a desesperada e inútil cartada de eleições parlamentares antecipadas.
Se afinal tudo isto apenas serviu para abrir caminho a um François Bayrou, político de segunda seja por que angulo for, então teremos (ou os franceses terão) de pedir muito a Notre Dame para sair do fosso onde caíram ou se meteram.
E para tal não bastam 2000, 20.000 ou 2 milhões de grandes artesãos e patriotas.
Apetece lembrar Sade e o seu famoso título français encore um effort si vous voulez être républicains