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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

estes dias que passam 954

mcr, 26.12.24

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Natal Nostalgia

mcr, 26-12-24

Naquele tempo, oh há quanto tempo!..., o Natal era (como a escola...) franco e risonho

O avô Alcini com um avental sobre o colete e a gravata) preparava com mestria e agilidade as rabanadas. usando para o efeito  um "porto" velho e de grande qualidade  da sua lavra (melhor do seu armazém de exportador ). A avó Beatriz e a minha mãe coadjuvavam-no e punha, as criadas em trabalhos. Os dois meninos, eu e o meu irmão, iam para o quintal munidos de martelos para partir as nozes, comer os bocadinhos pequenos, roubar um outro maior, aplicados na taref e sonhando com a manhã do dia seguinte (o dia 25) para descobrir os pequenos tesouros no sapatinho. Madrugada alta  já estávamos acordados esperando que algum adulto se fizesse ouvir para numa correria irmos até à árvore de natal ver o que o menino Jesus bos enviara.

Curiosamente, só me lembro de uma prenda por volta dos meus 8 ou 9 anos: era um livro de Júlio Verne, "Da terra à lua". quando ao fim da tarde fui pedir mais outro aos grandes, ninguém acreditava que eu já  lera. Tive de recitar toda a primeira página para se verificar que não só lera mas que, no entusiasmo, decorara pelo menos a primeira página (ainda, tantos anos depois) consigo recordar algumas frases...) 

No ano seguinte, o Avô trouxe, entre outros coisas, uma antologia  de textos portugueses se Mendes dos Remédios onde, suponho vinha "A morte do lobo" de Camilo Castelo Branco. Terá começado aí a minha sina de leitor empedernido. 

Anos mais tarde, fui assistindo à alegria da Maria Manuel, do Quim, depois dos sobrinhos e agora dos sobrinhos netos e do neto ("o melhor do mundo são as crianças" dizia Pessoa de quem pelos meus 17 ou 18 anos recebi o primeiro livro. A infecção benigna pessoana nunca mais me abandonou, Deus seja louvado -se é que um agnóstico o pode sizer...-

Mas o Natal é também uma mesa repleta de ausências, avós, pai, tios, ainda há dias foi a tia Néné com 97 anos bem medidos e que, tmbém ela, é responsável pelos descaminhos deste leitor (im)penitente pois com os mesmos nove anos me levou à Biblioteca Pública Municipal  Fernandes Tomás e me entregou aos cuidados do senhor Santos que generosamente me deixava andar pelo labirinto das estantes à pesca se algum Salgari, dos Tarzan de Edgar Ric  Burroughs (saudosa Editora Terramarear, de que ainda procuro uma boa meia dúzia de volumes que provavelmente nunca lerei) dos Ponson du Terrail   e Paul Féval (viva Lagardére!) .

O Natal para este velho paroquiano é uma saudade pungente mesmo diante dos gritos de entusiasmo da pequenada.

Junte-se-lhe um raio de emissora que entendeu durante três ou cinco dias só passar musica natalícia, coisa que põe qualquer um a opodiar as m

úsicas de Natal pois há nesse conjunto para ládo Stille Nacht,   do Jingle bells, do O Tannenbaun ou do White Christmas, centena d bombalhices natalícias que os esforçados locutores dessa emisspra atiram contra os ouvintes. Um desastre que faz lembrar os antigos merceeiros que, no primeiro dia de trabalho enfartavam os jovens marçanos de doçaria para eles enjoarem definitivamente qualquer caramelo. 

Este ano corri toda a gente a livros. Durante uma boa década pedi que não se preocupassem com a minha velha carcaça e, caso insistissem em me presentear que me bartava um cheque da fnac de 15 euros para livros. Nada feito. 

"ai ele é isso? pois vão levar livros achem ou não que é presente   personalizado..."

Até  o Nuno Maria (para além de brinquedos) levou com um voluminho delicioso dos Peanuts  (e o raio do  petiz ficou entusiasmado!...)

Ontem pelas cinco da tarde, fechei o Natal, dormi uma soneca, jantei uma soptinh e ma rabanada  e levei parte do serão diante da televisão a ouvir boa música no "internezzo". Oh que stillle Nacht, heilige Nacht...

E perdoei ao camafeu que nos meus viçosos 16 aninhos me ensinou um vago alemão e me fez conhecer esta melodia e a sua história

Para ucranianos ou para sudaneses (de que ninguém se lembra) não vale a pena desejar-lhes um feliz e santo Natal.

Mesmo sem bombas, hão de ter frio e no caso dos segundos fome e medo. que algum Deus seja ele qual for lhes ponha a mão por cima

*na vinheta : Sudão, um país paup´érrimo, uma guerra civl icriminosa, um povo em fuga