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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 969

mcr, 25.02.25

55 anos depois...

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mcr 25-2-25

 

Há 55 anos cheguei a Berlin depois de uma tormentosa travessia de parte da RDA por uma auto-estrada que bão devia ver obras desde o tempo do IIIº Reich. 

Obviamente, o meu destino era Berlin ocidental, já cercada por um muro infame  que se aprisionava os alemães ali residentes, condenava ainda mais os de Leste que durante o tempo daquele pesadelo aí deixaram quase mil mortos numa desesperada tentativa de fuga do paraíso "democrático" e protegido pelo exército soviético. 

Uma das primeiras coisas que fiz foi ir ver o lado de lá e o que e me deparou foi uma versão pobre, antiquada da parte pobre e antiga da minha cidade natal. 

Berlin leste, a montra da Alemanha (que só um mal inspirado jornalista francês  chamou "a Dinamarca dos países socialistas". 

É verdade que o lado ocidental da cidade era uma montra das maravilhas do Ocidente  mas nem isso caricaturava o desastre oriental. 

Todavia, Berlin capital da RDA era mesmo assim bem melhor e menos miserável do que o resto da República  "Democrática"  Alemã.

Convenhamos que, para castigo dos que levaram Hitler ao poder aquilo era, quinze anos depois do fim da guerra, um impiedoso castigo.

Entretanto o mundo lá foi mudando, o muro abriu uma imensa  brecha numa noite miraculosa e, pouco depois, o império soviético implodiu  gangrenado por contradições internas.

A lemha de leste foi incorporada na República Federal, perdeu imediatamente mais umas largas centenas de milhares de habitantes e, pouco a pouco, graças a uma gigantesca mobilização de capitais ocidentais, lá se foi reanimando  mesmo que ainda não se possa falar no fim da reabilitação daqueles territórios.

Interessa agora sublinhar que, desde essa época até hoje, o que fora um utopico e impossível Estado "socialista" se transformou numa  região que depois de quarenta anos de poder de uma coisa que, anedóticamente, se chamava "partido socialista unificado", vota agora, e cada vez mais, numa repelente nova versão do radicalismo de Direita que ainda não é nazi mas que, com o tempo, poderá voltar a sê-lo.

Foi nesta região ponto por ponto idêntica  a finada RDA, que a Alternativa  venceu (e cresceu).  

À semelhança de outras regiões onde o "socialismo real" floresceu (sempre à sombra do exército soviético , da polícia política, da proibição de partidos democráticos  e da sistemática repressão das oposições) eis a herança da falência de um mito político e económico.

Que numas eleições gerais a "Alternativa para a Alemanha" conquiste um segundo lugar (20% dos votos) suplantando o velho SPD (Parido Socialista Alemão) eis algo com que nós europeus teremos de lidar.

Mais extraordinário ainda, num mundo que subitamente parece ter mudado, temos que quem dirige esse partido, machista, conservador, xenófobo e pró-russo  é uma mulher(!) lésbica  (!!) que vive com uma oriunda do Sri-Lanka (claramente uma imigrante!!!).

Convenhamos que num país onde a imaginação  não caracteriza especialmente a sua gente, a coisa merece um breve apontamento ou pelo menos alguma incredulidade.

Ou, não fora dar-se o caso de isto ser grave, talvez merecesse um sorriso.

Pelos vistos não bastava o tiranete russo, os seus amigos norte coreanos e iranianos, a indisfarçável protecção chinesa ou o delírio absoluto de Trump. Aí está agora, bem fora do armário, o espectro de um fantasma que, uma vez mais, ronda a Europa