estes dias que passam 971
Navegar em águas turvas.. .
(como de costume...)
mcr, 28-2-25
A sombra do almirante Gouveia e Melo estende-se implacável no comentariado e nos candidatos (efectivos ou virtuais).
Sempre que se lembram, eis que assestam baterias sobre o marinheiro e disparando à queima roupa salvas de pólvora seca.
Eu sou pouco dado a fardas sejam elas as de escuteiro, de tropa ou de porteiro de hotel de luxo.
Vivi alguns poucos anos entre fardas militares e mesmo que genericamente só quase tenha encontrado gente simpática sempre pensei que aquele mundo não era para mim.
Sou, provavelmente, um civil notório, um paisano até ao sabugo, mas isso não significa que despreze a classe militar, que a julgue inútil ou inepta.
Só que, desde cedo, sempre pensei que para cada De Gaulle ou cada Eisenhower apareciam 5 Franco, dez Pinocher ou vinte Videla...
Quando, nos idos de 58, tinha eu 17 ingénuos e ignorantes aninhos! (oh que saudades!....), Portugal foi riscado pelo cometa Humberto Delgado preferi-lhe, de início, a frágil figura de Arlindo Vicente, um advogado com menos carisma mas, apesar de tudo, um civil.
Estava farto de militares, fossem eles a sombra de Carmona ou a inerte presença de Craveiro Lopes, caído em desgraça perante Salazar, um civil matreiro, rural , inteligente e capaz de tudo para se manter no poder.
(e convém recordar que mesmo depois de ser levado para S Bento por militares, nunca se deixou açaimar por eles e, com paciente sentido de acção, sempre fez o que lhe apeteceu, como e quando lhe apeteceu...)
Claro que entre Delgado e o homem de mão de Salazar, um almirante esparvoado mas perigoso, se pudesse votar teria preferido o primeiro.
O tempo, porém, revelou as fragilidades de Delgado, a sua profunda incapacidade política, o seu alucinado arrojo (que o levou à morte numa terreola de Espanha, miseravelmente enganado por um agente da pide de quem muitos, senão todos, desconfiavam) .
Todavia, a minha falta de empatia com militares, não vai ao ponto de, a exemplo de uma jornalista tonta., chamar a Gouveia e Melo "o almirante das vacinas".
É verdade que chefiou com inegável competência o grupo de trabalho que logrou criar condições mundialmente (insisto: mundialmente) conhecidas e reconhecidas como exemplares no combate à pandemia. Porém, antes disso, teve uma carreira pejada de sucesso a pontos de chegar onde chegou. e de adquirir o prestígio militar de que goza.
Aliás, é esse prestígio (anterior e posterior à sua passagem pelas "vacinas") que confunde e exaspera um bom número de criaturas espavoridas com as sondagens que o dão como vencedor em todos ou quase todos os cenários eleitorais,
Estamos, entretanto, muito longe da eleição, desconhecemos quantos e quais serão os candidatos no terreno, não está ainda confirmada a candatura de Gouveia e Melo, pelo que os avisos de um par de pseudo Cassandras são (como na "batalha naval" dos meus tempos de liceu) "tiros na água".
Repito, como "aviso à navegação", que não serei votante do almirante coisa que só aconteceria se a 2ª volta das eleições se travasse entre ele e o cavalheiro Ventura ou outro do amesmo teor e substância. No entanto, e fazendo figas para que tal não ocorra, é tempo de pedir que a caça ao marinheiro não se transforme numa montaria falsificada e cobarde.
O homem merece respeito e, já agora, algum reconhecimento pelo que fez. Açém disso, estão já anunciados ou pré anunciados alguns candidatos que poderão ter um vago passado político de via reduzida mas que tudo indica que são menos dignos da Presidência do que Gouveia e Melo que, como ele próprio afirma, não tem nenhuma capitis deminutio política ou cidadã.
(a menção "aviso à navegação" é roubada de um título de Joaquim Namorado, poeta, resistente, homem sábio e meu amigo)