estes dias que passam 973
Uma cultura política se desperdício
mcr, 16-3-25
Não, não vou referir-me ao penoso espectáculo da sessão parlamentar onde se discutiu (???) a moção de confiança. Menos ainda as trocas de galhardetes que ao longo destas duas últimas semanas se foram sucedendo.
alguns leitores terão conseguido assistir a tudo aquilo pois lá terão sentido que em período quaresmal convém sofrer para tentar apagar boa parte dos pecados.
Nisto de sacrifícios oferecidos a Deus conheci dois exemplos perfeitos. Uma senhora dona de uma loja de móveis abstinha-se durante estes quarenta dias de comer chocolates que eu, maldoso e incréu, lhe levava propositadamente para a ouvir recusar sem unca confessar o motivo da recusa.
O segundo é o do excelente e seguramente já falecido padre Cruz capelão militar no que na época se chamava Lourenço Marques.
Cruz, amável eclesiástico a quem, por pura mas amigável malícia eu chamava padre Katz em lembrança de um dos extraordinários heróis do "Valente soldado Chveik" (leiam Jaroslav Hasek, leitores, leiam um dos maiores génios literários do sec XX e da extinta Checoslováquia. hoje reduzida à República Checa) era um dos muitos companheiros de bridge de meu pai. Companheiro é pouco
pois o padre era um medonho viciado no jogo.
Durante a Páscoa, oferecia com mais que doloroso sacrifício um jejum absoluto à mesa de jogo. Chegado o sábado de aleluia eis que Cruz vencido o demónio das tentações aparecia reluzente, fresco e pimpão à primeira hora do perído de jogatana. Os amifos não apareciam ou se apanhados por ele escusavam-se. Não podiam, não lhes apetecia. tinham que sair, enfim, um rosário de desculpas que punha Cruz crucificado e à beira da apoplexia. Aquele complemento de Sexta Feira da Paixão durava escassos minutos mas isso bastava para lembrar ao cléigo que os parceiros de bridge tinham por vezes um ataque de laicismo.
Terminado est apontamento pascoal, voltemos à vaca dria.
Dois meses, dois inteiros meses até que se chegue às urnas!
Países seguramente menos civilizados que Portugal despacham este assunto em escassas semanas e, uma vez realizadas as eleições o Governo constitui-se num período curto quando não é curtíssimo.
Não vale a pena por mais no desenho para se perceber quanto a coisa, entre nós, é lenta, pesada e cara
Uma segunda questão em que hei de insistir até morrer é o facto de a votação recairem listas e não serem uninominais. Isto resulta na completa desreponsabilização dos eleitos perante os eleitores que, aliás no caso dos maiores círculos nem sequer conhecerem em quem votam. Votam num magote, enfendrado pelos aparelhos o que significa que não são escolhidos os melhores mas tão só os mais obedientes, osque não causam problemas nem têm uma eventual visão crítica sobre alguma posição partidária...
No meu caso (cidadão votante no Porto) tenho pela frente a tarefa de pôr o papel em trint e seis criaturas (mais os suplentes) pelo que desafio quem quer que seja a afirmar que conhece perfeitamente ou quase (ou só um bocadinho)os felizes eleitos.
Também nisto somos quase únicos e o resultado vê-se.
Poderia juntar a esta penitencial lista mais um par de razões mas hoje é sabado, fim de semana se não chover, e os leitores tem mais em que se entreter. Aguentem a campanha que vai ser memorável mas, pelo menos, compareçam no local de voto. há sempre o voto branco ou o voto nulo quanto mais não seja para não se assistir outra vez a uma gigantesca abstenção,
E, aproveitando a época, rezem para que não saia eleito outro amigo do alheio...