estes dias que passam 988
São incorrigíveis. Não aprendem...
mcr, 27-5-2005
Amanhã, passam 99 anos da fatídica data que pôs fim ao regime da 1ª República. Em boa verdade foi esse regime que se auto-suicidou. 16 anos, 51 governos, várias revoluções outros tantos golpes de Estado, um desastre que a entrada na guerra só agravou.
Também é verdade que o "ar dos tempos" parecia favorável ao autoritarismo e aos regimes de partido único. A Itália e a Alemanha fixavam o fascismo puro e duro. A Roménia (Guarda de Ferro e Antonescu), a Hungria (Horty), a Grácia (Metaxas)ou a Polónia (Pilsusky) estavam a caminho da mais puro autocracia reaccionária. No Ocidente a França e a a Bélgica assistiam ao surgimento de forts movimentos de extrema direita (Croix de feu, rexistes) a Espanha ia lentamente agonizando até ao triunfo de Franco.
Salazar, entronizado em 1931 até podia passar por "moderado" (reparem nas aspas antes de me amaldiçoarem...) quando apenas enfrentava um país atrasado, rural, católico e pouco desenvolvido.
Curiosamente, e já no meu tempo, a crise académica de Coimbra atingiu o seu auge num 28 de Maio (1969) data que iniciou a mais forte e duradoura (e finalmente) vitoriosa greve académica. Ironias da História.
E é de ironias da história (desta vez com letra pequena, que "eles" não merecem maiúscula...) que evnho até aqui.
Comecemos pelo sr Pedro Nuno dos Santos evaporado secretário geral do PS.
Que se saiba a sua vida de adulto fpo toda ela passada nos corredores do poder, como deputado e, mais tarde, como membro do Governo.
Não é caso único, bem pelo contrário, mas este desconhecimento da vida real dos eleitores que nele depositaram o voto e a confiança, foi-lhe fatal.
E tudo começou quando num arroubo de pura tontice declarou que Portugal poderia não pagar o que devia e que tal ameaça faria tremer as perninhas dos banqueiros alemães.
Eu não sei se PNS alguma vez viu um alemão, e menos ainda um banqueiro teutónico. Se visse e reparasse bem, aquela gente tem normalmente pernas altas e fortes e não treme com patacoadas de um portuguesinho armado em valente.
Da sua actividade de deputado não const nada de sensacional, sequer de notório ou mesmo sofrível. A criatura jurava pela Esquerda mesmo se parece discutível que soubesse exactamente quer a história pregressa quer os problemas actuais do socialismo mais radical. O ar do tempo, este, a solução gerigoncial tudo lhe parecia dar asas a uma imaginação desenfreada. Chegado ao Governo, não se conhece qualquer golpe de asa (menos anda de génio) ao mesmo tempo que ainda se recorda a sua irreflectida decisão sobre Alcochet, aproveitando uma ausência de Costa.
quando este último o desautorizou desabridamente, ninguém lhe disse que, num caso daqueles, uma imdiata demissão era o melhor caminho para salvaguardar a honra.
ficou, diminuído mas não convencido, num Governo onde já ningúem lhe concedia qualquer crédito. quando finalmente resolveu sair desse incómodo e inseguro posto, voltou à AR e sentou-se na última fila.
adquiriu nessa altura a aura de mártir e de futuro genial secretário geral. E as entusiasmadas multidões do costume entregaram-lhe o partido.
E foi o que se viu. Um naufágio prolongado de um barco sem salva-vidas, encalhado num banco de areia .
Não era a História tragico marítima mas apenas uma caricatura dela.
Agora sabe-se que quando decidiu votar contra a moção de confiança que Montenegro lhe estendeu como armadilha, não ouviu nenhum dos seus mais próximos adeptosque aconselhavam a abstenção. Derrubou o Governo como este, aliás, pretendia, e estatelou-se ao comprido numas eleições emque perdeu eleitores, deputados e, provavelmente, a posição de líder da oposição.
Atordoado lá se decidiu a sair para dar lugar a alguém mais capaz que reconstrua o esfacelado corpo político do PS.
A sua divisa se ele soubesse francês poderia ser "aprés moi le déluge!"
Neste espaço sempre o achei presunçoso, ignorante, mal preparado política e ideologicamente. Teve a faca e o queijo na mão e cortou ingloriamente a mão.
Agora, mesmo já sem qualquer responsabilidade política, não resistiu a voltar a morder a canela de Montenegro, a quem acusa de falta de idoneidade, mas, imitando outro cadáver político, Santana Lopes, ameaçou que iria "andar por aí"... Está tudo dito.
A segunda personagem deste romance de faca e alguidar é a senhora Mortágua.
sofreu, mas admitiu-o, uma tremenda derrota eleitoral. Por pouco que desaparecia do parlamento. Porém, na noite eleitoral teve o descaramento de proclamar que a campanha eleitoral fora magnífica! Não vale a pena lembrar que nem sequer a chamada da terceira idade partidária à disputa eleitoral foi coroada de êxito. Os senhores Fazenda, Louça e Rosas passaram pela vergonha de obter, nos círculos para onde os designaram, percentagens inferiores à média do BE-
Agora, tardiamente e empurrada, a responsável do BE anuncia uma convenção lá para os idos de Novembro. Até lá ira tentar remendar uma imagem feita em cacos que poderá ainda pirar nas autárquicas.
O mesmo sucede à senhora responsável do PAN que esteve ainda mais peto do fim que a senhora Mortágua. Ao ouvi-la ficámps a saber que "a luta continua", pelas mulheres, pela natureza, pelos animais e por mais três ou quatro coisas . será que ela reparou que fora de Lisboa (que elege ima cabazada de deputados...) ninguém lhe liga patavina?
No meio desta barafunda, é bom que se diga, que o PC mesmo perdendo um deputado (o que é grave, demasiadamente grave, como indício d de um percurso de envelhecimento e de lenta perda de eleitores e de influência, este partido tem ainda duas âncoras, os sindicatos e as autarquias. No caso destas últimas, os resultados no Alentejo são pouco encorajadores, ou francamente preocupantes.
Desde ha muito que penso que um Alentejo rural e camponês a votar comunista era algo de surpreendente ou excepcional. As lições da hustória dizem-nos que o campo pode eventualmente ser anarquista (como ocorreu em Espanha) mas que são os camponeses e a sua milenar sede de terra os mais poderosos e radicais inimigos da "propriedade colectiva" NA URSS nunca as organizações colectivas agrárias convenceram os agricultores apesar da violentíssimarepressão contra eles. Chegou-se mesmo ao ponto de ver que os pequenos quintais entegues aos trabalhadores rurais tinham em percentagem uma produtividade várias vezes superior à granja colectiva. O mesmo se passou na China. Em város países do bloco de Leste apareceram ou foram tolerados partidos agrários cuja missão era captar a gente do campo. O sucesso doi mitigado para não dizer medíocre. A famosa "reforma agrária e as unidades colectivas dela saídas durou o tempo de um suspiro. Restaram, contudo, as câmaras municipais que terão sido geridas com particular cuidado e eficácia.E duraram até hoje mesmo se em número crescentemente reduzido. A esmagadora vitória do CHega nos distritos de Beja e Setúbal (e mesmo no de Portalegre onde houve câmaras comunistas) pode indiciar uma forte derrota autarquica para o PC .Por outras palavras o partido de protesto que o PC representou nestas regiões é agora, queira-se ou não, o Chega.
no que toca aos sindicatos parece que ainda resistirão. A CGTP é a maior e mais forte confederação e os militantes do PC ocupam praticamente todos os cargos de direcção. A Esquerda radical contenta-se com pequenas sobras que ainda distam muito dos sindicatos de influência PS-
fialmente, o PC controla toda uma série de organizações populares (ou que se apresentam como tal mesmo se a sua representatividade é diminuta) que pretende representar mulheres, utentes de serviços públicos, pensionistas mas que tem especial impacto na sociedade, como é caso dos movimentos pela paz que não conseguem disfarçar a sua origem em correias de transmissão patentes quase sempre na escolha que fazem dos direitos que dizem defender.
De todo o modo a disciplina e o empenhamento dos militantes consegue ainda dar uma ideia de força que falha nos restantes partidos ou mesmo em todos os outros.
Neste panorama, o Livre, aparece como ganhador. Pelos vistos já toda a gnt esqueceu aquela primeira deputada que logo que se apanhou eleita mandou o partido dar uma volta ao bilhar grande. Desapareceu a dita critura e pelos vistos há eleitores que transferiram votos do BE e do PAN para este singular partido que se pretende federador da Esquerda.
Outro partido que embora crescendo em votos e deputados, focou aquém das espectativas (suas e de certos comentadores e jornalistas), a ILnão produziu especial entusiasmo. Provavelmente, tal se deve ao líder cujo carisma não ultrapassa o de um molusco. Também não é um grande orador que complica ainda mais a sua projecção. Depois, a IL continua a embrulhar-se em estranhas disputas internas que são pouco perceptíveis pelos portugueses em geral. Digamos que este resultado, mais do que uma vitória, é apenas um resultado que não ultrapassa o "benefício da dúvida"
Finalmente, o senhor Montenegro ganhou qualquer coisinha. Foi mais do que o "poucochinho" com que Costa ingratamente brindou Seguro Desconheço se ele esperava uma maioria absoluta, inclino-me a pensar que não acalentaria uma ideia tão fora da realidade, mas não ponho a mão, sequer a luva, na brasa.
O maior ganhador da noite eleitoral será esperto, espertíssimo, mas como dizia o professor Carr a propósito de um excelente comentador político português, não tem inteligência suficiente para a esperteza que possui.
A criatura vai a todas com desenvoltura mas até ao momento por muito que queira ser um duce, um fuehrer ou um conducator falta-lhe qualquer coisa. Espero que isso se torne evidente o mais rapidamente possível. De todo o modo, é ainda, uma espécie de homem só, um faz tudo num partido onde até ao momento não avultam quadros que traduzam no parlamento e em outras prováveis futuras instâncias, uma política que se perceba e ultrapasse o "contra tudo isto". Alguém, perante casos semelhantes, dizia "deixa-os pousar... "
PS e AD ainda podem, se é que percebem o risco que correm, travar esta algazarra de sargeta onde nem sequer faltou um gatuno de malas no aeroporto (que ainda não foi preso, sequer indiciado ou ouvido pelas autoridades. Raio de país!)