Liberdade vigiada 10

Comemorações e polícia

Mcr 13 de Maio

De repente dou-me conta que hoje é um dia especial em Fátima. A GNR informa (é rádio que me dá a notícia logo de manhã)que no recinto estão apenas os previstos 7500 peregrinos que já chegaram e que não entra mais ninguém. Ou seja, a Igreja Católica respeita escrupulosamente as regras emitidas pela DGS. Convém salientar que os peregrinos (alguns ai estão na estrada) vem em ranchos diversos dos mais variados pontos do país, Nas pernas pesam-lhes dezenas ou centenas de quilómetros. Algum do caminho foi feito debaixo de chuva. Todavia, ei-los que, disciplinadamente, acatam as interdições da DGS e o controlo da reitoria do santuário. Um exemplo de civismo que faltou absolutamente em Lisboa, por altura das comemorações sportinguistas. Notem bem: em Lisboa são criaturas urbanas de todas as idades que entendem pisar o risco. Não vêm de aldeias e vilas ignotas do interior pobre e iletrado. Vem da grande cidade e celebram o clube que, durante decénios foi o ponto de encontro dos “talassas”, dos ricos, dos “a armar ao fino”. Mesmo que hoje, haja mais pé rapado na multidão festiva, ninguém se preocupou especialmente. Ou melhor:_ o director nacional da PSP preveniu com antecedência o MAI e a CM Lisboa. Pelos vistos, estas e o SCP devem ter achado que o polícia era tolinho e nada, rigorosamente nada foi previsto, preparado acautelado.

A multidão, inebriada pela quebra de um jejum de 19 anos, saiu em força para a rua, de qualquer maneira, muitas vezes sem máscara e sempre sem “distanciamento social”. Todo o país viu isso nas televisões e mesmo bem antes do jogo. O que tinha de acontecer aconteceu. Muito álcool também, muita alegria, um berreiro infindável e pouco inovador (“campeões, campeões, campeões” e até 2040, provavelmente). Depois, a polícia tentou acalmar ânimos e manter alguma frágil (des)ordem. Ou seja um desastre! Alguém se admirará se daqui a 15 dias três semanas houver uma erupção de infecções?

Depois, foi o habitual passa-culpismo. A Câmara, o MAI (mas o Mai é o que se sabe: ultra competente para Costa, uma aberração para a Oposição e um deserto de ideias e bom senso para toda a gente) o Sporting que acha os seus adeptos adoráveis quando há um par de anos os achou uma espécie de gangsters. Chovem felicitações desde Ronaldo a Figo, desde Roquete (um cavalheiro da elite rica e civilizada) ao homenzinho que foi corrido por indecente e má figura que agora vem dizer, pobre diabo!, que a hora é de “unidade”. Amorim que se cuide. Para o ano se os resultados forem na média dos passados dezoito anos, ainda corre o risco de ser esbofeteado e corrido).

As televisões também acharam sensato (ou apenas malicioso?) mostrar as comemorações portistas do ano passado: um prodígio milagroso de bom senso e disciplina.

O sr. Presidente da República lá deu uma no cravo e outra na ferradura como é seu hábito e vício.

Quanto à PSP parece que agora há um inquérito aos seus parcos e pouco visíveis excessos. Eu, que nunca tive qualquer amorio pela polícia, desta vez até os desculpo e compreendo, sobretudo sabendo, adivinhando o que ocorreria, coisa fácil e previsível a olho nu.

(nota: não tenho qualquer afeição pelo Porto, Benfica ou Sporting; limito-me, neste capítulo, a ser um adepto não praticante da Associação Naval 1º de Maio. Também nada me liga a Fátima, à Igreja Católica ou à religião, seja ela qual for. Mas não há dúvida que há quem cumpra regras e quem não cumpra. E isso deve ser salientado e saudado.)