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Incursões

Instância de Retemperação.

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homem ao mar 31

d'oliveira, 14.05.21

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Liberdade vigiada 11

Uma guerra para cem anos

mcr, 14 de Maio

 

Desde que nasci, e isso foi há já muito tempo, que o território da Palestina, é palco de combates entre judeus e palestinianos. A bem dizer, logo que os Impérios Centrais foram vencidos e a Palestina (com a Jordânia) passou a ser um mandato britânico, a questão palestiniana entrou na ordem do dia.

Aliás, já em 1917, a famigerada “Declaração Balfour” tinha aberto a hipótese de criar na Palestina um “Lar Nacional Judaico”.

Tal decisão, arrancada ao Ministro Britânico, por um dos grandes e milionários líderes da causa judaica, tinha, como pano de fundo, a lembrança, vivíssima, de inúmeros “pogroms” levados a cabo na Polónia e na Rússia, bem como um poderoso sentimento anti-semita que, em França, teve o seu auge com a questão Dreyfus.

Deve salientar-se que, alguns iluminados espíritos europeus tocados pela piedade, já tinham imaginado outros lares nacionais para os judeus, particularmente Madagáscar e o Sul de Angola. Ou, por outra palavras, esta gente amava os judeus desde que estes estivessem longe...

Com o mandato britânico na Palestina, o movimento sionista começou a propagandear um regresso às origens, mesmo se boa parte dos judeus europeus pouco ou nada tivesse a ver com raízes nos territórios históricos de Israel. Sabe-se que a diáspora sefardita conduziu os judeus para a península ibérica, para os territórios da Arábia e para o Magrebe. Mais tarde, com a expulsão dos judeus peninsulares, se é verdade que alguns, uma minoria se dirigiram para o norte da Europa ou para Veneza, a grande maioria espalhou-se por territórios muçulmanos onde, de resto, foram bem recebidos. A Turquia e seus territórios (o norte da actual Grécia mais precisamente) a Tunisia e Marrocos foram eventualmente os maiores focos de recepção dessa comunidade em fuga.

A História tem destas ironias: os que depois foram considerados “inimigos” de Israel foram durante séculos os seus melhores hospedeiros!

Voltando ao século XX, entre guerras, verifica-se que nos reconstituídos países de Leste (Lituânia, Polónia, Checo- Eslováquia) se reacenderam, à luz de violentos nacionalismos, fortes oposições à presença de judeus. O mesmo se passou na Ucrânia, aliás. Nas suas “Crónicas Berlinenses”, Joseph Roth descreve a “invasão” pacífica mas constrangedora, de multidões judias vindas dos “shetls” da Europa Central e deslocadas pela guerra e sobretudo pelas novas perseguições. Amontoados em Berlin, tentando chegar a um porto que os levasse para o novo mundo, miseráveis eram a contra-imagem  das elites judias que aliás se tinham notabilizado nas artes e nas letras. Inúmeros judeus serviram honrosamente nos exércitos alemão e austríaco e também por isso nunca imaginaram que poucos anos depois o seu nacionalismo alemão fosse posto em causa.

O crescente sentimento anti-sionista fez com que a pequena mas persistente corrida askenaze para a Palestina aumentasse. Mesmo se os ingleses, não fossem entusiastas da crescente presença de colonos judeus, a verdade é que estes pouco a pouco foram adquirindo terras, criando estruturas pré nacionais que foram imediatamente denunciadas pelos líderes árabes e sobretudo pelo Grande Mufti de Jerusalém, manifesto admirador de Hitler.

As organizações judias palestinianas organizaram uma milícia  (que daria origem ao futuro exército israelita) e, ao mesmo tempo, criaram vários grupos terroristas que criaram fortíssimos problemas aos ocupantes ingleses (atentado do Hotel King David”). Em boa verdade, os árabes defendiam-se do mesmo modo mas com menor eficácia e menores recursos financeiros.

Portanto, antes da proclamação de Independência, já o ambiente na terra palestina era o de guerra civil larvar.

A partir de 1948, o Estado de Israel levou a cabo, por boas ou más razões, um conjunto de campanhas em resposta às ineficazes tentativas de invasão levadas a cabo pelo Egipto, Síria, Iraque e Jordânia.

Israel conseguiu retificar as fronteiras inacreditáveis do plano de partição e, pouco a pouco, foi aumentando o seu território sobretudo à custa da Jordânia. A cada desastrada campanha árabe, o exercito israelita mais bem armado, mais bem preparado, lutando por objectivos claros e fundamentais, foi-se apoderando de mais território e expulsando multidões de camponeses árabes apanhados entre dois fogos. A diáspora forçada árabe, sobretudo para o Líbano (onde num momento de invasão israelita foram dizimados aos milhares nos miseráveis campos de refugiados onde viviam) e para a Jordânia teve origem logo em 1948 com a operação “Vassoura de Ferro”. A ideia era “limpar” os territórios de habitantes árabes que presumivelmente poderiam fazer causa comum com os invasores.

Todavia, a partir de meados dos anos 60, Israel assumiu sem pudor o papel de ocupante de extensas regiões que nunca tinham feito parte do reino de Salomão. E continuou até à ocupação dos montes Golan e da parte árabe de Jerusalém. Neste último caso, a ocupação israelita reveste-se de uma violência feroz e tem uma única finalidade: expulsar os habitantes árabes do que estes consideram a sua “terceira maior cidade santa”.

Convém aclarar que, do lado árabe, com raras e contadas excepções, não houve qualquer tentativa de diálogo. Pior, a propaganda dos grupos extremistas, a sua actuação terrorista  (basta lembrar Munique) nunca teve qualquer ideia de proteger o povo árabe humilde ou a minoria árabe israelita.

Actualmente, um número significativo de países muçulmanos, sobretudo sunitas, entendeu reconhecer Israel. Não que gostem de judeus mas sobretudo odeiam chiitas e o Irão. Estes entretanto criaram um Estado paralelo no Líbano e em Gaza e levam uma impreparada e ineficiente “guerra santa” a cabo. As vítimas como se viu, se vê e se verá são sempre mais civis árabes mortos, obrigados a viver cada vez mais miseravelmente sobretudo em Gaza. Na Cisjordânia, Israel cria impunemente e contra qualquer regra de direito internacional, colónias que pouco a pouco vão asfixiando o que resta de um governo autónomo palestiniano.

Esta é pois uma primeira tentativa de descrever uma guerra que leva cem anos e que, mesmo sem a proporção de outras, traz em si a hipótese de um genocídio silencioso mas nem por isso menos eficiente.

Aqui não vítimas senão os desgraçados apanhados pelas bombas. Em contrapartida há culpados, de todas as origens e religiões, para todos os gostos. E estes são os que até ao momento vão vencendo. Mesmo quando morrem a defender Israel ou a causa palestiniana.          

          

 

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