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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

homem ao mar 5

d'oliveira, 18.04.21

Liberdade condicional 13

ninguém escapa à História

mcr, 18 de Abril

 

Parece que no próximo dia 20passará o 41º aniversário das FP25, uma organização terrorista que deixou um lastro de 17 ou 18 mortes, por inúmeros feridos, assaltos a bancos e outras malfeitorias .

As FP25 eram uma caricatura torpe e infame das organizações armadas que floresceram venenosamente na europa Ocidental entro fim dos anos 60 e o início dos 80. O paroxismo poderá ter sido atingido pela “Rote Armee Fraktion” que numa Alemanha Ocidental próspera foi buscar à contestação estudantil (nomeadamente à berlinense – ocidental, claro que, no outro lado do muro, a justiça “popular, socialista e revolucionaria” matava no ovo qualquer protesto mesmo o mais pacífico) as alegadas razões para combater o Estado burguês e “neo-fascista”. Durou pouco esta organização por evidentes razões: impreparação teórica, incapacidade de se “ligar às massas” e incapacidade de determinar objectivos evidentes. Aquilo era, como depois com os aberrantes kmeres vermelhos de Pol Pot, uma conjura de intelectuais ultra-radicalizados, desconfortáveis com a sua situação de classe, mais ainda com os privilégios de que disfrutavam e embriagados com uma ideia ultra-romântica de Revolução a que os novos tempos de crescimento económico não deixavam espaço ou razão. 

O mesmo, de resto sucedeu na Itália de finais de 60. No norte (no Norte, não no sul pobre sujeito a tudo è à máfia) rico e industrializado, controlado pelos sindicatos comunistas e com centenas de localidades governadas pelos comunistas, um pequeno grupo de estudantes, acreditou que o aburguesamento do Estado e do PCI deveria ser sacudido por acções de guerrilha de rua, citadina, para despertar a “classe operária” que não percebia que estava a ser oprimida. 

A classe operária não despertou e o saldo das acções que começaram por tiro nas pernas de alvos escolhidos e terminaram com assassínios de personalidades da Direita, entre as quais Alfo Moro, dirigente democrata cristão que tentava uma espécie de aliança com o PCI, prova provada da maldade intrínseca da DC e do abandono dos ideais revolucionários do PCI!

Em Portugal, como de costume, a coisa demorou a chegar. Aliás, praticamente só chegou depois do fim do Estado Novo e do estabelecimento da Democracia.  Dois grupos destacaram-se um continuando o combate das Brigadas Revolucionárias, mesmo depois do “5 de Abril. Assaltos a bancos, qualificados como “recuperação de fundos” (como se vê, a “nov-língua” já na altura fazia milagres) 

Desaparece como organizaçãoo autónoma embora alguns militantes tenham integrado as FP25 que durante quase dez anos permaneceu em actividade. 

Tentar, 40 anos depois, perceber o porquê de uma organização violenta  num país pacificado, democrático, com um parlamento onde inclusivamente, e para além de uma forte presença comunista, havia um deputado da extrema-esquerda, é algo que, ou não tem explicação lógica, ou remete para o domínio do delírio revolucionário tardio. E criminoso porquanto há na contabilidade sinistra desta associação de malfeitores 17 (ou 18) mortes. 

Na verdade, como com as anteriores e já referidas organizações em outros países, nunca se verificou um apoio popular, proletário às acções das FP25. Nunca, repete-se. Em segundo lugar, são vagos e desconexos os motivos ideológicos apresentados por militantes entretanto presos. Limitavam-se a uma confusa verborreia proto-marxista traduzida em calão. Não vale a pena, ou melhor vale a pena, recordar os textos patéticos e o julgamento em Monsanto. As declarações dos arguidos constituem uma peça aterradora do analfabetismo político. E aqui incluem-se as sucessivas declarações do responsável máximo que, já antes, em pleno PREC se contradizia veementemente. Bastava apontar-lhe um microfone e a criatura soltava pérolas de tolice. 

À boa moda portuguesa (os recentes episódios jurídico-processuais que alarmam a sociedade não são sequer novos ou surpreendentes à vista do aborto jurídico que acabou numa amnistia às três pancadas que mandou em paz, ladrões de bancos e assassinos indiscriminadamente. O alegado cérebro, ou mais justamente o títere transformado em líder da coisa passeia-se por aí  com direito a faladura anual (estamos próximos de o voltar a ouvir) como se nada fosse. 

Desconheço se o livro agora publicado (“Preso por um fio, Portugal e as FP25”, Casa das Letras, 2021) vale a pena. Na verdade mereceu uma chamada de atenção de página inteira do “Expresso”. Suponho que, para alguns, só isso fará fugir algum eventual leitor para quem o semanário é um agente de tudo o que é mau, desde o capitalismo ao imperialismo, da Direita ao fascismo, da burguesia ao patronato. 

Pelo sim, pelo não, irei lê-lo. Com o confinamento há tempo para tudo.  E ainda não é demasiadamente tarde para perceber... 

Finalmente, e antes que algum leitor, me salte ao caminho acusando-me de atacar as forças “progressistas” & assimiladas, há que lembrar que uma defesa  de método abre a porta a todas as tentações da uma ultra-direita igualmente descrente do valor da vida humana e dos direitos de cada um. O terrorismo é uma arma “política” que serve todos os interesses mais divergentes brutais e expeditivos. Matar o adversário com um tiro na nuca ou com uma bomba (mais eficaz porque pode atingir mais gente) é semp um crime, uma cobardia e, a l alongue, uma inutilidade. Matar homens não é o mesmo que matar ideias, ideologias, governos ou partidos. É um mero assassínio. 

E foi isso o que as FP25 fizeram. Nada mais, só isso.

Vinheta? Não há, mesmo se abundem fotografias sobretudo do julgamento. Caras tão determinadas e sorridentes como sócrates. Um nojo. A essa gente nem um milimetro de publicidade. quando me cruzo com um deles, nem o vejo.