liberdade vigiada 147
Liberdade vigiada 147
Politicamente tonto
mcr, 26-09-20
Aqui para nós que ninguém nos ouve, eu nem sabia que o sr. Brilhante Dias já era membro (menor) do Governo. Também é verdade que não costumo acompanhar de perto a ascensão dos rapazes e raparigas criados nas jotas. À uma são todos iguais uns aos outros, aquilo basta tirar um ao calhas e substituir se ele subir (e sobem todos) para outro poleio melhor. São políticos fungíveis, se é que ainda sei o que é uma coisa fungível...
Depois, tem todos (e todas, bem entendido( o mesmo discurso redondo, usam os mesmos narizes de cera e obedecem como autómatos à “his master voice, que era uma marca de discos que tinha um cãozinho a ouvir um alto-falante dos antigos.
Mas, quis o destino, a mofina, o mero acaso que eu visse e ouvisse em primeira mão no noticiário a famosa frase da criatura.
Agora parece que há uns bons samaritanos que afirmam que aquilo foi um mero lapsos linguae, uma distracção, algo proferido no calor do entusiasmo.
Ora bem: não foi nada disso. O rapaz fez peito e afirmou: “agora vou ser politicamente incorrecto”. E depois averbou a estúpida, parola e inconcebível ideia de que o covid até tinha tido um vago efeito positivo. Enfim algo no mesmo género e, sobretudo no mesmo sentido.
O cavalheiro Dias parece ter esquecido que o vírus matou, antes do tempo previsto, alguns milhares de portugueses (e entre eles vários amigos meus que me fazem falta). O covid, estrangulou, moeu, derreteu milhares de empresas que desapareceram do mercado. Só aqui no meu bairro, fecharam cinco estabelecimentos, o que, no mínimo, dá uma boa dúzia e meia de desempregados. As consequências da crise ainda nem se viram na totalidade pois , pelo desaparecimento nos últimos três meses de marcas firmes no mercado, é de temer que, até meados do próximo ano, vejamos a procissão aumentar fortemente. E nisto incluo empresas exportadoras (por exemplo, a “Jack Morgan” – calçado – fechou as lojas e pelos vistos faliu. E exportava senhor Brilhante, exportava!)
Eu, sempre me espantei com a arrogância de certos governantes que julgam dever-se a eles o progresso num certo ramo de actividade. A exportação portuguesa, desde o calçado ao têxtil, é obra exclusiva de trabalhadores e patrões do sector. Com dias ou noites nada se modificaria, felizmente.
Vir agora um pimpão aviar uma afirmação que ele (e mal) acha “politicamente incorrecta” a tecer uma espécie de auto elogio à actividade dele ou que ele vagamente acompanha, é algo que só me não assombra porque sei, lamento dizê-lo, do que a casa gasta.
E não se tratou de uma distração, de um arroubo momentâneo. A frase foi pensada, penosamente pensada. A criatura queria mostrar que era brilhante e não apenas de nome.
Numa mesa redonda de há dias numa estação de televisão, um dirigente socialista, veio em defesa do aspirante a político incorrecto, afirmando que se trata de um excelente moço, muito trabalhador, muito activo, bom militante, sério e mais três ou quatro coisas a abater.
Quanto não sabemos o que dizer de um pobre diabo, deixamos sempre essas pequenas notas de boa pessoa, muito trabalhadora, zelosa, camarada dos seus. Este género de elogios é quase uma certidão de óbito para visado. A nota do MNE é também ela própria algo do mesmo género.
Eu não venho pedir a cabeça deste Eurico que não é presbítero nem herói romântico. Provavelmente não é pior do que algum substituto que arranjasse no serralho jotista.
Nem sequer me espanto com o facto de a criatura continuar impávida e serena no posto que tem. De há algum tempo a esta parte me habituei a ver políticos a dizer burrices supinas, com o mesmíssimo sorriso parvo, e a continuar impenetráveis à chuva de impropérios que as suas palavras ou acções geram.
Nem vale a pena citar o actual “punching ball” Cabrita que ainda não conseguiu sequer dizer a quantos quilómetros seguia o carro que o transportava, carro que como se sabe foi abalroado por um imprudente trabalhador que circulava na esquera da via contra tosas as regras do código da estrada e do respeito devido a ministros & similares, atarefados competentes.
(sobre esta historieta, sobrepõe-se outra, desta feita sem mortos nem feridos mas milagrosa: o sr. secretário geral do PS ou 1º Ministro vá lá saber-se, foi de Lisboa ao Algarve em hora e meia. Os jornalistas bem quiseram perguntar-lhe a que velocidade ia o popó mas S.ª Ex.ª escusou-se a essa minucia. Note-se que se para um 1º Ministro isso já não é nada recomendável, para um mero secretário geral de um partido, é bem mais grave! De todo o modo não há mortos, nem feridos, apenas uma infracção muito grave ao Código da Estrada. Por uns miseráveis 148 km/hora, apanhei quatro meses sem carta, 300 euros de multa e cinco anos de vigilância. Também é verdade que não sou ministro nem ando em campanha eleitoral...)
nota final: este texto, fora os dois últimos parágrafos, tem dois dias. Hoje domingo, o “Público traz mas ainda não li, um comentário sobre o tema. Fico furioso quando isso acontece mas no caso em apreço a culpa é só minha. Devia tê-lo publicado quando o completei e não só hoje, dia de eleições.
São onze da manhã, já tomei os cafés da praxe, já votei e já me lembrei do meu leitor JM Morais que, creio, estará a dirigir uma mesa de voto desde as sete da manhã. Terá que fazer até às onze, meia noite. E fa-lo-á como já me disse, com alegria e consciência de dever cumprido. Bem haja pelo seu esforço e pela exemplar cidadania de que dá mostras. A mim bastou-me uma única experiência, ainda no tempo da outra senhora. Em 1969 a oposição foi às urnas e eu, fui delegado numa mesa da freguesia de Santo António dos Olivais em Coimbra. Não me poso queixar de ter sido mal recebido. Trataram-me com respeito, alguma admiração, afinal era preciso ter alguma ousadia para vir desafiar o vencedor anunciado. A PIDE, essa, não esqueceu e lá elaborou a competente informação. Também não foi grave. Era só mais uma depois de tantas outras que se vinham acumulando desde 2961...
Dessa minha experiência ficou-me a ideia de que aquilo é uma seca. Por isso, tiro o meu chapéu aos milhares de portugueses que hoje vão passar o dia a registar os nossos votos, a conta-los, a elaborar actas. E com eles às inúmeras pessoas ue com eles colaboram desde a que nos indica em que mesa iremos votar a todas as outra que nos encaminham e ajudam. Isto, sim, é que é a verdadeira festa da democracia: o modesto mas imprescindível serviço prestado à comunidade. Bem hajam!
Hoje não há vinheta: a criatura brilhante não merece o esforço.