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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 213

d'oliveira, 03.06.21

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Liberdade vigiada 31

Os livros regressam

mcr, 3 de Junho

 

 

O último JL noticia uma pancada de livros novos alguns dos quais foram imediatamente pedidos. Pra começar, e que começo, eis que saiu um sumptuoso “Atlas Suzanne Daveau”, uma grande senhora da Geografia Portuguesa que vai a caminho dos 100 anos com grande fleuma. Já a conhecia da excelente obra colectiva (com Duarte Belo e José Mattoso) “Portugal, o sabor da terra”(9 vol. Círculo de Leitores)  e sabia que fora casada com Orlando Ribeiro, outro autor da minha especial preferência. Este atlas (cerca de  350 ´páginas) é um repositório de boas fotografias fruto do olhar atento, culto e obviamente geográfico de uma cientista de mão cheia que adoptou o nosso país e veio enriquecer o conhecimento geográfico de Portugal. A edição é de um até agora desconhecido (por mim) Museu da Paisagem e é recentíssima.

Também recentes são duas edições da Imprensa Nacional /Casa da Moeda inseridas numa colecção “Itálica”: “Rimas” de Guido Cavalcanti e “Vida de um homem –toda a poesia- de Ungaretti. Permito-me destacar este último que comecei a conhecer por uma belíssima mas curta tradução de Orlando de Carvalho (“sentimento do tempo” cadernos de poesia, D.Quixote, 1971). Orlando de Carvalho era, quando o conheci,  primeiros anos 60, uma pessoa cultíssima, curioso de tudo, católico progressista e corajoso. A tradução deste punhado de poemas é de uma enorme qualidade. Até finais de oitenta foi este o único e escasso título de Ungaretti em português. Mais tarde a “Hiena” excelente editora do Rui Martiniano ele mesmo poeta, alfarrabista e bom amigo publicou parte de “vida de um homem”. Agora, finalmente, sai, em português, toda a poesia. Suponho que tenho toda a obra em italiano mas não resisto a comprar esta edição. Primeiro porque posso não ter tudo, depois porque é preciso apoiar o esforço de editores corajosos que se atrevem ainda a editar poesia.

Quero, também dar a notícia da saída do “diário” de Mário Dionísio, um intelectual de enorme talento que atravessou o segundo meio século passado deixando um rasto luminoso como poeta, ensaísta, ficcionista para lá do de professor. Conheço dezenas de ex-alunos que se confessam marcados pelo seu ensino, apoiados pelo professor e gratos pelo que ele lhes transmitiu.

Ainda há pouco tempo, noticiei aqui, a publicação da correspondência cruzada de Mário Dionísio e Joaquim Namorado e suponho que deixei claro todo o bem que que guardo da sua leitura. Agora, a “Casa da Achada” promete publicar o diário sob o título “Passageiro Clandestino”” em cinco tomos e com abundantes notas devidas à sua filha, Eduarda Dionísio. Duas notas, porém: quando fui pelo livro à Wook só me saiu um livro com nome idêntico da autoria de Leonor Xavier. Depois parti em busca da Casa da Achada que é quem assume a responsabilidade da edição e descobri que são raras as livrarias a quem o livro foi enviado para venda. Convenhamos que a venda militante por muito generosa que seja faz desistir gente menos chata do que eu. No Porto, apenas duas livrarias (e por mero acaso, conheço uma que é fundamentalmente alfarrabista) o vendem. Tentei enviar o pedido para a  livraria da editora centromariodionísio@gmail.com mas dei com os burrinhos na água: aquilo emperra não sei bem onde pelo que vou tentar o telefone (218 877 090) amanhã que é dia “útil”.

Saídos há algum tempo mas também só agora chegados a este cafarnaum de livros faço questão de recomendar:

“L’almanach du Blaue Reiter” (le cavalier bleu) obra de Wassily Kandinsky e Franz Marc reeditada em França, pela Klingsieck, com apresentação e notas de Klaus Lankheit. Esta edição é de 2021 São 330 páginas, ricamente ilustradas, muito bem anotadas, algo que é imperioso ter quando gostamos do expressionismo e derivados alemães. Eu apanhei-lhe o vício em Murnau nos anos 80 do século passado e fiquei inoculado para todo o sempre

Finalmente dois livros sobre dois autores contemporâneos de Dionísio e não menos importantes e actuantes: “Fernando Namora por entre os dedos da PIDE” de Paulo Marques da Silva, “Miguel Torga e a PIDE” de Renato Nunes. A história deste país, em todos os sentidos que lhe queiram dar passa por estes dois homens  que tive a sorte de conhecer (o Namora inclusivamente foi o autor da caricatura do meu pai para o seu livro de quintanistas de Medicina), de ler e de admirar. Basta pedi-los à 2wook” que nisto de envio rápido é exemplar.

Também aqui lamentei a morte canalha por covid de Artur Portela Filho. Tenho dele um ou dois romances , sobretudo, “A funda”. Esta obra (sete volumes mesmo se houvesse anúncio de um oitavo) andava-me atravessada. Tinha os seis primeiros volumes mas sempre que ia pelo último a resposta dos meus amigos alfarrabistas era, no caso de o terem, que só vendiam o conjunto! Ora, francamente, irrita-me comprar livros repetidos que depois tenho de oferecer. Teimoso como uma mula espanhola (e da Extremadura que onde estes animais mais se distinguem pela pertinácia) tanto procurei que dei com um alfarrabista (O esconderijo dos Livros) que vendia o exemplar em separado. Já cá canta que, ainda por cima, aquela malta do esconderijo é rápida no envio e modesta nos preços.    

Ainda sobre Ungaretti: existe uma edição de L’Herne “Ungaretti” bilingue que traz “il porto sepolto” em fac-simile e é muito ilustrada