Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 222

d'oliveira, 18.11.20

IMG_0727.jpg

IMG_0726.jpg

Cedo ou tarde, a hora de Orwell

mcr, 18 de Novembro 2020

 

As edições Gallimard tem uma colecção de luxo ou, pelo menos, algo que só assim pode ser considerado. Refiro-me à Bibliothèque de la Pléiade, que já vai nos 650 volumes publicados a que acrescem mais de 50 álbuns e algumas edições especiais.

Colecção eminentemente literária centrada no romance, contem, porém, umas dezenas de obras de História, uma reduzida mas excelente enciclopédia, ensaios (“O Capital”, Tocqueville etc..)uma história da arte e varias edições de teatro e poesia). No seu todo é um ambicioso projecto de coligir o melhor da literatura universal, congregando autores latinos, gregos, chineses, indianos (Ramayana) e árabes. A meu ver, estaria perfeita se já contivesse literatura clássica japonesa e uma boa antologia da literatura oral africana mesmo se, no caso desta última, as dificuldades são múltiplas a começar pela fixação dos textos.

A colecção começou (e continua) como uma colecção de “poche” mesmo se constituída por volumes de várias centenas de páginas, em papel bíblia, dotadas de um formidável aparelho crítico. Exteriormente distinguem-se pela encadernação editorial de excelente qualidade e maneabilidade, com cuidadosas jacquettes elas mesmas protegidas por capas e, eventualmente por caixas HZ

O preço, obviamente, está bem longe dos tradicionais “poche” e actualmente os volumes saem à média de 55/60 euros cada. Todavia, cada volume inclui normalmente várias obras, duas/três no mínimo. (Por exemplo, a obra completa de Stendahl ocupa 7 volumes, Proust tem direito a 3. Nisto estão incluídos estudos, variantes, anexos, notícias biográfica e bibliográfica.

Ando, desde há muitos anos, a perseguir os saldos, as oportunidades, os “2ª mão” em bom estado, os “occasion”. A primeira coisa que faço quando chego a Paris é explorar o último andar da Gibert, alguns bouquinistes e várias pequenas livrarias especializadas no ramo “occasion”. Nos últimos anos, tenho encontrado em alfarrabistas do Porto e Lisboa e na feira dos alfarrabistas da rua Anchieta (quando é que poderei lá voltar?), uma boa quantidade de volumes (comprei a 10 € cada os 8 tomos das “memórias” de Saint Simon e 12 volumes de Voltaire – fundamentalmente a “correspondência”- bem como os 12 da “comédia humana” de Balzac. Muito trabalho, olho vivo e, por vezes, vendedores gentis ou fartos de ter “monos” nas prateleiras). No entanto, mais de metade dos plêiade que tenho foram pagos a preço forte, enfim, ao preço de mercado.

E justamente, há um que vou mandar vir já, pois descobri no suplemento de livros do “Monde”, que acaba de sair um maravilhoso volume com a obra completa de (George) Orwell, o genial autor de “1984”, o jornalista que denunciou o miserável massacre do POUM levado a cabo pelas tchekas hispano-soviéticas e que. Por isso, foi miseravelmente caluniado durante dezenas de anos pelo aparelho informativo/deformativo do Komintern. Curiosamente, este ano de peste, este ano miserável, é um ano fasto para a BdlP pois além de Orwell, anuncia-se os romances e contos de Joseph Kesselbem como s obras de Victor Segalen. O álbum será dedicado a Kessel, grande repórter, grande romancista autor (com Marly e Druon) do “chant des partisans”.

Eu teria 14/15 anos quando li “A equipagem”, romance com toques biográficos com a guerra de 14 como pano de fundo (no caso a vida – e a morte –de uma esquadrilha aérea francesa). Nunca esqueci esse pequeno romance como aliás nunca esqueci uma série de livros sobre essa absoluta carnificina criminosa (que não poupou Portugal graças às estúpidas veleidades guerristas de Afonso Costa & comandita) e que recordo “Nada de novo a oeste” de Erich Maria Remarque, “Le feu” de Henri Barbusse ou “Ceux de 14” de Maurice Genevoix que curiosamente acaba de entrar no Panteão em nome próprio mas também em representação de milhares de combatentes que viveram o horror das trincheiras. Alguns, como Segalen e Péguy, morreram na lama ou pouco depois (Appolinaire) com sequelas de ferimentos em combate. Mais sorte teve Cendrars que “apenas” perdeu um braço.

A “pleiade” é, como o nome indica, um repositório de alguns dos melhores livros já publicados, desde a Odisseia à Bíblia, das Mil e Uma Noites a Robinson Crusoé, das Sagas islandesas (um volume precioso!) a Júlio Verne que já conta com três volumes publicados. De Portugal lá temos o Pessoa e vi anunciado (?) a próxima edição de Lobo Antunes se bem que da editora nada transpareça a este respeito. Eminentemente francesa, como é óbvio - e justo – a biblioteca alberga autores de todo o mundo, ou quase.

Setenta anos depois da sua morte, tendo sobrevivido literariamente a todos os seus inimigos e censores, eis que Orwell entra, por sua vez, e por direito próprio, neste panteão literário. E ao lado de Kessel e Segalen o que não é despiciendo.

Na vinheta: as estantes pleiade infelizmente em fila dupla. Numa delas, na fila de baixo acoitam-se os Borges, que também está na lista prestigiosa.

4 comentários

Comentar post