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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 225

d'oliveira, 17.12.20

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Eça, “sempre esse homem fatal”

mcr, “pobre homem de Buarcos”, que partilha mês, signo e quase dia de nascimento com esse “pobre homem da Póvoa do Varzim”

 

Eça de Queirós está sepultado no jazigo familiar, em Tormes Demorou um século a chegar a essa terra que ele quase inventou e onde está a fundação com o seu nome. Recordo que, na altura da trasladação houve vozes a pedir a sua panteonização. A família terá agradecido pulidamente mas recusou. Eça foi para aquela terra longe que descobriu numa rápida vinda a Portugal e que tornaria famosa graças a “A Cidade e as Serras”, Na quinta, que foi restaurada com esmero, amor pelo escritor, e sacrifício, está a fundação com o seu nome.

É um local de peregrinação para todos, e são muitos, os “eciamos” e a pequena terra que a alberga tornou-se visível graças ao imortal autor de “Os Maias”.

Eu não sei o que Eça diria desta ideia, um pouco peregrina de, mais uma vez, mudarem o lugar dos seus ossos. Sei, todavia, que Eça é mais Eça, faz mais sentido, em Tormes do que em Lisboa, sem desdoiro para uma cidade que ele amou.

Por outro lado, Eça é com Camilo, convém não esquecer esse escritor genial, um dos maiores escritores do nosso século XIX (lembremos Herculano e Garrett). Panteonizá-lo, lembrando que é um mestre da língua é esquecer o autor do “Amor de Perdição” que no capítulo língua portuguesa não pede meças a ninguém, é mesmo mais interessante do que Eça E eu, mesmo dividido, pendo mais para Eça...

 

É bem verdade que Camilo está no Porto, na Lapa, num jazigo de um amigo, a seu expresso pedido. Os restos dos seus familiares, porém, foram recentemente para S Miguel de Seide, terra que, aliás, tudo deve a Camilo e onde está a sua casa museu.

Temo, porém, o dia em que um qualquer outro grupo de deputados, à falta de melhor ocasião para exercerem os seus alegadamente fartos talentos, se lembre de raptar Camilo que já não se pode defender, e o transfira para Santa Engrácia.

Durante anos, o Panteão esteve adormecido , como aliás está, mas a morte de Eusébio desencadeou um furor tumular imenso e rapidamente para lá marcharam o modesto moçambicano, Amália e Sofia. Eduardo Lourenço ainda não corre tal risco porquanto parece que é necessário um período de nojo entre o sepultamento e o panteão.

Imagino Eça, a sorrir lembrando que Portugal tenta ser uma espécie de caricatura pobre do francês donde nos veio a veia panteonica.

Desentendo, para copiar alguns jovens e inventivos escritores, esta súbita mania de ir remexer nas ossadas de Eça. O meu amigo K explica: “deu-lhes para ali...” e prometeu, também ele, encontrar-me a edição da Livros do Brasil, na versão escolhida por Helena Cidade Moura, capa dura, a vermelho, de “Notas Contemporâneas”. Depois de anos e anos de compras de livros de Eça em toda a espécie de edições, decidi que aquela seria a que definitivamente iria ocupar o espaço a ele destinado na estante. Das restantes, dei quase tudo apenas conservando em casa da minha Mãe, a Campanha Alegre, também ela desirmanada. De facto há uma edição das Farpas (Corazzi editor) em 12 ou 13 volumes sendo os dois últimos os que trazem a colaboração de Eça. Um desses volumes é escandalosamente raro e nunca o vi vendido em separado e como tenho os do Ramalho não me apetece gastar o dinheiro em repetidos.

K, o meu irónico e vivido amigo, desconfia que os quatro deputados não leram todo o Eça ou esqueceram rapidamente a sua lição de português. Ou, finalmente, querem vingar a honra perdida do parlamento que Eça tão bem, e tão justamente, azorragou.

Apesar de tudo, eu, mais generoso, aceito o “deu-lhes para aquilo”.

Isso passa-lhes...

 

Nas vinhetas: em cima as  edições que ficaram: a de Helena Cidade Moura e uma em tamanho pequemo da Ediclube. A ambas juntam-se os 4 ínicos volumes de uma edição ilustrada da Lello . Na esrante de baixo e nas portas fechadas arrumam-se toda uma interminável  série de livros sobre Eça (e também Pessoa e Camilo) 

 

 

 

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