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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 224

d'oliveira, 09.11.21

Weltkronik,_Hartmann_Schedel_(1493),_Colapse_of_Me

 
 

Limpando a biblioteca para o Natal

mcr, 9-11-21

 

 

Durante anos sofri horrores  com a escolha de prendas de Natal. A teoria vigente cá em casa era a das prendas pessoalizadas. Nada de livros, discos ou dvds de filmes.

Havia que entregar a cada criatura algo que lhe dissesse muito ao coração e, eventualmente, à cabecinha pensadora. 

Proibido  de oferecer coisas que eu percebia, foi um martírio encontrar as tais prendas que significassem o meu profundo apreço e ao mesmo tempo agradassem a quem as recebia. O êxito era, apesar da intensa cerebração a que me entregava, relativamente minguado. 

No que a mim tocava, todos se recusavam a dar-me o que eu gosto (exactamente livros, discos ou filmes) Eu bem afirmava que eram prendas baratas, fáceis de encontrar em qualquer fnac, mas nada! Apanhei assim com uma larga dúzia de àguas de colónia, de produtos para depois de fazer a barba, de sofisticados para o duche (logo eu que me forneço no supermercado...). Ou então roupa. Neste capítulo o recordista foi o meu irmão que durante anos me enfiava com um cachecol, chegando ao ponto de os repetir. Quanto a outras roupas, nunca ninguém, mesmo conhecendo-me, me deu algo que eu fosse capaz de vestir. Logo eu que sou do mais clássico possível, digamos mesmo conservador, em vestuário!...

Tentei, sem qualquer êxito, fazer pequenas listas de livros, tendo o cuidado de limitar as ofertas a um preço barato mas nem assim. 

Felizmente, boa parte da família decidiu que, entre adultos deixava de haver prendas. Não foi apenas o alívio financeiro, foi sobretudo o fim de um pesadelo que começava ainda nos inícios de Novembro e durava até ao Natal. 

Agora, os ofertantes são muito menos. Tentei aliás convencê-los a natais mais simples com prendas apenas para a arraia miúda, adolescentes incluídos. Nada feito. A minha enteada quase que considerou insultuosa tal sugestão. Ela adora o Natal e sobretudo o ritual temível das longas horas de distribuição das prendas. “Lá vai isto para X da parte de Z”

Confesso que esta maratona, a que me submeto em nome da harmonia familiar, me deixa num estado quase comatoso e o bacalhau comido revolve-se-me no estômago ou em qualquer outra víscera adjacente de modo revoltante e quase indigno. Quando me despeço e vou recolher-me estou exausto! 

Entretanto, a idade (provecta, lá vai o nariz de cera) tornou-me ousado. E agora já ofereço livros sem medo. Aguentem que é serviço!

E descobri que, algumas vezes, acerto. 

Desta feita, resolvi ir ainda mais longe. A biblioteca que fui acumulando ressente-se de repetições que depois enchem estantes cortando o acesso a livros novos. 

E assim, descobri que para um casal quase familiar havia uma excelente edição da Crónica Universal de 1493, um calhamaço com 1800 ilustrações. Ainda por cima é uma edição (esgotada, creio) da Taschen, em francês (espero que ainda leiam esta língua...) com um livro de estudo acoplado onde se resume a obra de um cavalheiro Hartmann Schedel, cidadão de Nuremberga que gastou uma fortuna e pouco ou nenhum retorno obteve.    

 

Aproveito uma breve consulta à wikipédia para resumir o contudo da obra, aliás curiosíssima, repleta de anedotas históricas, saborosas e reflectindo muito dos saberes, crenças e avanços científicos da época: 

 

A Crónica do Mundo de Schedel, apareceu pela primeira vez em livro no ano de 1493, em Nuremberga, numa versão em alemão e outra em latim.

 

A obra segue a tradição das crónicas medievais, apresentando a história do Mundo dividida em "idades" ou "eras":

1.ª Era do Mundo — desde a Criação ao Dilúvio;

2.ª Era do Mundo — até ao nascimento de Abraão;

3.ª Era do Mundo — até ao reinado do rei David;

4.ª Era do Mundo — até ao Exílio na Babilónia;

5.ª Era do Mundo — até ao Nascimento de Cristo;

6.ª Era do Mundo — do Nascimento de Cristo ao presente (esta era do mundo é a mais completa da Crónica);

7.ª Era do Mundo — antevisão do Apocalipse e do Juízo Final.

 

 

Trata-se, se quem a recebe não tiver pachorra para a desbravar de um quase livro-objecto. Quem for mais curioso, tem com que se entreter.

 

Uma segunda obra foi descoberta acidentalmente depois de me ter desgraçado com a compra da “Enciclopédia...” (a única e irrepetível enciclopédia de Diderot e d’Alembert, na edição fabulosa de FM Ricci, fac-similada com um esmero e amor que enternece). 

Eu sempre defendi que esta enciclopédia, claramente datada, como se imagina, valia actualmente sobretudo pelas estampas que a ilustravam. Centenas, muitas, primorosamente gravadas que nos dão uma ideia clara do conhecimento em finais do século XVIII.

E não é que, já depois de ter encontrado uma edição recente da totalidade dessas estampas (e que já tem como destinatário o leitor JMM, outro maníaco dos livros que conheci através do blog)  descobri também por cá andavam três volumes por mim organizados de um “Recueil  de Planches” que se não comportar todas as gravuras da Enciclopédia anda por lá perto. Ainda por cima com o tamanho original! 

Pimba, mais um casal que vai gramar com as estampas, goste ou não goste (por acaso um dos membros do d casal quase enlouqueceu de satisfação pois, apesar de tudo tive a misericórdia de lhe anunciar a prenda)

Finalmente, descobri, sempre na lista de repetidos, um volume (o 2º) de “À volta do mundo”, uma publicação que, suponho aproveitaria (ou seria mesmo uma adaptação) da francesa “Le tour du monde”  (nouveau jornal de voyages) sec XIX, de que há notícade 52 edições.

Perdi uma colecção quase completa (ou mesmo completa) por um par de dias no Bernardo Trindade. E a um excelente preço. Claro que aquilo enchia um par de estantes mas que maravilha! 

Contento-me com três volumes encontrados nalgum alfarrabista, por 70 euros...(encadernação pobre mas miolo limpo e em bom estado)

Ora o volume que encontrei traz a com o título de “Excertos do livro de viagens do major Serpa Pinto) toda a primeira parte da obra que seria depois publicada em 3volumes. A história desta publicação é simples: comecei por encontra-la tal e qual, bem encadernada. Quando descobri que era apenas um dos volumes pus-me à procura dos restantes ,as só os encontrei completos, pelo que ficou a sobrar esta. Além da viagem, há dezenas de descrições de outros percursos sempre voluptuosamente ilustrados por gravuras excelentes.

 

(Nota: “A volta do mundo” (jornal de viagens e de assumptos geográficos), ilustrado com milhares de gravuras. Diectores literários dr. Theophilo Braga e Abílio Eduardo da Costa Lobo,  desenhos portugueses de Columbano Bordalo Pinheiro e dos melhores artistas , cópias de photographias de Carlos Relvas,  empresa literária Luso Brasileira-Editora, MDCCCKXXXIII )  

*a ilustração "queda da ponte de Masstricht in "Crónica Universal"de Hartman Schelen

 

 

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