o leitor (im)penitente 254
A aprendizagem da liberdade
mcr, 23-10-22
Cheguei a Coimbra em 1960 e rapidamente mergulhei por vício próprio, inocência abundante e desejo de aventura, nos círculos da “oposicrática” estudantil. E como todos os catecúmenos, levei a cabo a minha educação política com determinação e alegria. Em Coimbra, longe da família e na companhia de outros jovens tão exaltados como eu, apenas um par de dúvidas manchava os meu dias. A saber: eu gostava imoderadamente de “westerns”, acabava de descobrir o fascinante mundo do jazz, apreciava Elvis Presley, Fat’s Domino e restantes rockers , não suportava o fado (quer o de Lisboa quer o citadino) e admirava, olá se admirava algumas estrelas de cinema voluptuosas (A Monroe “prima inter pares”, a Vardot, a Lolobrigida etc...) que, à época, não cabiam, na estricta ideologia cineclubista que pregava a boa palavra do neo-realismo italiano. E tinha lido uma obrinha cujo título perdi mas que adejava à volta do extraordinário veneziano Giacoo Casanova. Não que eu quisesse imitá-lo, lonfe disso, tinha bem consciência do meu fracio físico, da minha timidez e não me via a fugir de inimigos poderosose, muito menos, a escapulir dos sinistros “Piombi”, a prisão lá no sótão do palácio ducal.
Poressas alturas comecei a ler roger Vaillant (demasiado heterodoxo para os meus amigos mais puristas) e daí passei para os libertinos, onde fui encontrar uma companhia de cavalheiros admiráveis a começar pelo senhor cardeal de Bernis e a acabar justamente em Casanova.
Descobri que o aventureiro era bem mais do que um mero sedutor e encontrei pela primeira vez umas “memórias” provavelmente resumidas das suas errâncias pelas Europas sempre longe da Veneza natal que lhe não perdoava o espírito e as acções demasiadamente libertárias.
Aliás, fui-me apercebendo que Casanova não era apenas o “homem a femmes” mas que nas suas aventuras amorosas não cabia, bem pelo contrário, qualquer donjuanismo muito menos desprezo pelas mulheres, muitas, com que dormiu. É verdade que, mesmo hoje, quando a figura é olhada com simpatia, inteligência e respeito por uma sólida minoria conhecedora do século XVIII, ainda subsiste uma desconfiança (e alguma, bastante, inveja) sobre o modo como viveu.
Porém, agora, que já está disponível o texto integral da “História da minha vida” é possível mapear as suas vagabundagens, verificar os seus encontros, avaliar as suas opiniões sobre os grandes (e eles foram muitos) que conheceu. E, finalmente, conhecer um espírito fascinante, um homem curioso e culto, um espírito livre como poucos e que não fica atrás de algumas das grandes figuras do seu movimentado século.
Como de costume, apenas venho chamar a atenção de aluns mais ousaos, para a figura de Casanova, recomendando absolutamente a sua formidável auto-biografia.
Ao longo de anos fui encontrando exemplares das “memóires” ou “histoir de ma vie” nos mais diversos tamanhos, edições e comentários. Tirando as clássicas grandes edições (Pleiade, Bouquins) encontrei algumas outras que pelas ilustrações, tamanho, comentários e notas ou até preço fui adquirindo. Com elas juntei uma pequena biblioteca de ensaios sobre a personagem que, em 1987 recebeu a unção da “europe”, uma das melhores e mais conceituadas (e mais inteligentes) revistas “progressistas” num número gordo e histórico que acabava por reconhecer o autor. Curiosamente, mas isso é para outra núpcias, também os “westerns, o jazz, os romances policiais o rock adquiriram com o tempo uma patine que nenhum critério político se atreve a desqualificar. E arilyb como a Bardot ou a Loren e mais muitas outras são agora reconhecidas e celebradas como mulheres que além da beleza tinham talento, humor, paixão pelo cinema e criaram personagens que resistem ao passar dos anos.
(ou então o mal é meu que sou um velho cavalheiro que olha com serenidade e uma certa volúpia para os seus anos de juventude, efémero tesouro e se perdoa gozosamente a si próprio os pecados e pecadilhos capitais ou veniais que cometeu )
*Casanova,” Mémoires”, Pleiade
3 vol , Gallimard, Paris 1948
*Casanova Histoire de ma vie (texte integral du manuscrit original suivi de extes inédits
Col Bouquins, Rober Lafont, 2 vol 1983
*Némoires de J.Casanova de Siengalt écrites para lui même suivis des memoires du prince de Ligne nouvelle édition , 10 vol. Librairie Farnier fréres. Paris, 1888, enc de edit.
*Jacques Casanova de Seingalt, venitien “Histoire de ma vie," il, enc de ed. 10 vol , Plon ed, 1960
*Casanova, “Mémoires” Poche, 5 vol Gllimasr 1967
*Mémoires de Jacques Casanova de Seigalt /extrairs colligés par René Groos) )illustrations de Bruneleschi, 2 vol. Fibert Jeune, Librairie d’amateurs, s.d.
*Casanova la passion de la liberté
Catálogo da exposição que celebra a aquisição do manuscrito originalSob a direcção de Marie-Laure Prévot e de Chantal ThomasCol de Corinne Le Blouzet e Fréderic MartinBibliotheque Nationale de France e Le Seuil, 2011.240.pp. 39 x 25 , enc edit (no cat: un fac-simile de 37 pp do manuscrito original)
*Les voyages de Casanova
Textos de Marco Carminoti partir de “histoire de ma vie” 128 p 34 x 25 x 48 enc. Tela il por fotografias antigas, pinturas do sec XVIII e XIX e aguarelas de Auguste Leroux Citdelles et Mazenot, 2014
*Casanova “Europe”, n´697, Maio qo87
*”Casanovs, L’admirable” , Phiippe Sollers, Folio, Gallimard, 1998
*Curiosidade: Cartas de Casanova Lisboa 1757 António Mega Ferreira, Sextante, 2013 (inteligente, erudito e divertido)