o leitor (im)penitente 265
Nuno Júdice, um poeta inteiro (e um amigo)
mcr, 18-3-24
Atravesso as rosadas núvens da poeira
...
queixo-me do acaso (ao acaso) adormeço e acordo
com o barulho de grupos compactos de aves
Que penso da vida par aestar assim?---
(Nuno Júdice: "o autor in memoriam" in Critica Doméstica dos paralelipípedos)
abri ao acaso um dos primeiros livros do Nuno e saiu o poema que publico em excerto. Poderia escolher entre mais de trinta livros dele que andam espalhados, pelo menos por duas estantes diferentes segundo um critério a que já perdi a origem e o significado.
Quando o conheci, muito depois de uma boa dúzia e meia de livros dele, comprados, lifos, admirados , avisei-o que só o acaso nos reunia porquanto eu sou melhor leitor que conversador com autores. Não sei o que me terá respondido mas na verdade, conversámos bastante e mais ainda quando lhe revelei a quantidade de livros dele que já tinha. E se os não tenho todos (os de poesia...) é por pura preguiça, por os não ter encontrado a tempo ou por recear repetir títulos. Mesmo assim tenho por quase certo que a faltarem-me, faltar-me-ão poucos.
Não sei se o conheci via Eduardo Prado Coelho ou através da Maia Manuel (Viana) uma prima muito querida e escritora que também, como os dois já citados, também já não anda por cá.
Obviamente não foram muitos os encontros mesmo se, nos últimos anos no tivéssemos cruzado diversas vezes, quase sempre em livrarias. E recomeçava uma conversa inacabada que finalmente se dá por finda mesmo se, leitor empedernido, eu, volta que não volta, regresse a dos seus livros, às vezes por um poema, um verso ou porque dando de caras com o livro não resisto a abri-lo.
O jornal afirma que além de ser um autor prolífico teve a sorte (que aliás mais que mereceu) de chamar a atenção de editores estrangeiros que lhe traduziram um par de obras.
Nos últimos anos., o Nuno dirigia a prestigiadíssima revista Colóquio da Gulbenkian claro e da sua actividade de director-editor só se pode dizer bem. Levava a sério a função, tinha critério, gosto e bom senso qualidades que nem sempre se encontram reunidas.
É difícil propor a qualquer leitor uma ou duas obras no meio de tantas porém, talvez seja preferível aconselhar "Obra Poética. ma recolha de todos os seus primeiros livros ou, a Antologia pessoal. Provavelmente muitas das obras sobretudo as publicadas no século passado, estarão esgotadas.
* Obra poética 1972-1985 Quetzal ed 1991 (reunião dos primeiros dez livros de NJ )
**na vinheta duas dúzias de livros de NJ à sombra de um elmo Igbo (Nigéria)