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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 270

mcr, 23.06.24

Ler desenfadadamente

mcr, 23-6-24

Sou, para além da livralhada,  um leitor de jornais e revistas, E isso desde sempre. Logo que tive direito a mesada (sempre exígua a meus olhos e seguramente bem diferente do que hoje se concede a filhos e netos) comecei a comprar o jornal e rapidamente a coisa cresceu desmesuradamente. Em Coimbra, ainda caloiro já me aventurava no Diário Ilustrado, depois no Diário de Lisboa e arruinava-me com a "Seara Nov"a e a "Vértice". Pouco depois comecei a ler "Le Monde" e "L'xspress" na altura a mais importante publicação anti-guerra da Argélia.

Ainda hoje, andam cá por casa algumas dúzias de revistas francesas, italianas e espanholas multiplicadas por um número gordo de exemplares cobrindo variadíssimas matérias. No meio disto tudo, livrei-me de várias publicações m-l, francesas e italianas bem como de umas centenas de exemplares da jornalada radical dos anos 74 e seguintes que foram directos para a meritória organização do Zé Pacheco Pereira.

Num malfadado incêndio perdi o Comércio do Funchal o que me doeu bastante tanto mais porque com o jornal se foram duas gravuras de Picasso (assinadas e caríssimas...) e meio metro de dossiers carregados de textos meus  destinados a revistas pré 25 A e quase todos cortados pela Censura. 

Tudo isto, afinal, para chamar a atenção para um texto de Ana Sá Lopes hoje publicado no Público. ASL  toca o tema da comissão das gémeas e defende, bem, muito bem, a mãe que fez tudo o que pode para salvar a vida das crianças e proporcionar-lhes uma vida decente. como eu, ASL critica com dureza o papel inquisidor de Ventura e surpreende-se com o triste silêncio dos restantes inquisidores que, na prática, acabaram por apoiá-lo. 

Estou à vontade para referir ASL, pessoa que leio sempre e de que discordo muitas vezes. digamos que me desagrada um em cada três textos desta jornalista. 

O mesmo aliás, poderia dizer de inúmeros articulistas do Publico e do Expresso para só referir portugueses. 

Entendo  que um jornal, qualquer jornal deve  (ou pode) incluir na sua edição vozes divergentes da maioria ou simplesmente de leitores como eu. Mesmo discordando, acho que me ajudam a melhorar os meus pontos de vista e muitas vezes gostaria de os confrontar com a minha opinião mas isso com jornais é complicado (pelo menos para mim que já não estou para grandes incómodos...). Vale-me o blog onde vou dizendo o que penso, vingando-me assim de uma dúzia de anos em que escrevi sujeito a uma censura  que cortava direito.

Suponho que esta minha repulsa pela actual Comissão parlamentar não terá os favores de vários leitores mas conforto-me com a opinião de uma jornalista de que discordo um bom par de vezes.

Isto faz-me, desde há muito, perceber que leitores deste blog nem sempre concordem com o que vou escrevendo . Basta-me o facto de me lerem para lhes estar reconhecido como eu estou a todos quantos vou lendo, muitas vezes desconsoladamente nos jornais que compro. 

A opinião publica faz-se disto destes acordos e desacordos, desta fuga ao pensamento único, à "verdade a que temos direito" lema deum jornal que servia apenas um certo pensamento mais único que que o partido que o sustentava e que, obviamente, morreu em pouco tempo. 

E, já que estou com a mão na massa,  devo acrescentar que ao longo de uma vida já bem longa mudei de opinião mais de uma vez, abandonei muitos dogmas e verdades feitas a que fui adicto porque o tempo e a troca de opiniões me foram permitindo  corrigir pontos de vista, acertar agulhas, repudiar certezas absurdas. Basta ler lá mais para trás para perceber o que digo.

De todo o modo, tenho (ou penso ter) o cuidado de explicar ao que venho e de fundamentar as minhas opiniões. 

Esta foi uma das vezes que me permitiu mostrar que para além de discordâncias por vezes fortes há lugar para um elogio e um apoio.  

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