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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 280

mcr, 14.01.25

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Rui Namorado , um adeus

mcr, 13-1-25

 

Nascemos no mesmo ano e na mesma terra. E éramos ambos filhos de médico que terão sido contemporâneos mas não condiscípulos na mesmíssima cidade.

fomos às "sortes" na mesma altura , um ou sois meses antes de rebentar a guerra em Angola. Ambos ficámos "livres" por falta de robustez física graças a uma coisa chamada índice de Pignet. O Rui, como eu era magro esgalgado mas mais alto, um monte de ossos galhofeiro que já poetava. Nem seise o conheci primeiro como poeta e só mais tarde pessoalmente. De todos os modos ficámos amigos logo nos finais de 1960. Ambos nos implicámos a sério na vida associativa estudantil e, também por isso, fomos "compagnons de route" do pc, partido a que o Rui nunca aderiu como nessa altura me confidenciou. Em 1962 fomos dos poucos estudantes de Coimbra que conseguiram chegar  Lisbos para festejar o "dia do estudante" e só o conseguimos porque pouco antes de Lisboa deixámos o comboio que se dirigia a Santa Apolónia e apanhámos um outro, provavelmente suburbano, que nos deixou em Entrecampos. quando chegámos ao campus universitário fomos convenientemente agredidos pela polícia . Depois, já em Coimbra, estivemos na primeira fila da tomada de posição de solidariedade com a malta de Lisboa. Em Maio de 62 fazendo parte do grupo que, pela 2ª vez, ocupou a sede da Associação Académica. quarenta e quatro de nós  foram mandados para Caxias. E o Rui (e eu...) sempre nesse grupo activista. Em 69 lá estávamos de nova na primeira barricada mas dessa vez, ele teve a sorte de escapar à prisão. Estivemos juntos no "Cong" (congeminação que ele Rui reduziu significativamente para aquelas quatro enigmáticas letras e, na sequência da crise de 69 fundámos a "Centelha"  onde ele editou o livro que apresento em vinheta. Não era o primeiro  ("Maio ausente", nome premonitório para uma recolha  anterior 4 anos a Abril ) mas elegi-o porque foi feito e editado pelo grupo que fundou e dirigiu a Centelha, editora que terá numa breve vida que não terá chegado a uma dúzia de anos, fez circular bem mais de uma centena de títulos onde avulta um quarteirão delivros de poesia. Poeta e ensaísta, o Rui deixou mais mreia dúzia delivros depoesia foi publicando poesia esparsa em várias publicações de que destaco "Poemas Livres", I, II e III,  "Petas da Centelha" e "antologia da poesia universitária". Nos últimos anos animava um blog, "O grande Zoo" título que ele pescado num livro de Nicolás Guillen. E durante vários anos lá me enviava por Abril e às vezes por uma que outra data que nos era comum, um poema. 

No ano passao já não recebi poema e logo suspeitei que a saude dele estaria abalada. Ainda tentei saber o que se passava mas as minhas parcas diligências não tiveram resultado. Com mais de oitenta anos, nada mais natural, do que a previsão breve do dim da vida.

Dos nossos companheiros de Caxias, já se foram bastantes, mais do que aqueles de que tive notícia, porquanto espalhados pelo país, fomos perdendo o contacto.

 

Em memória de Abílio Vieira, António Bernardes, Alfredo Fernandes Martins, Alfredo soveral Martins. Carlos Mac-Mahon José Martins Baptista,  José Augusto Rocha, Francisco Delgado, José Monteiro, Irene Namorado, João Quintela, Luís Bagulho, Mário silva,  Manuel Balonas e, eventualmente mais alguns de que não tenho notícia.

Estiveram em  Caxias em 1962 e já cá não estão. O Rui já está com eles. 

E na minha, nossa, memória.