O meu clube bateu no fundo
Já (quase) tudo foi dito sobre a Assembleia Geral (AG) Extraordinária do FC Porto, realizada na passada segunda-feira. Acompanhado do meu filho, estive duas horas na fila, como milhares de outros sócios, entrando no local onde decorria a AG cerca das 23h30. A reunião tinha começado, pasme-se, sem assegurar a entrada de todos os associados presentes, revelando enorme falta de respeito pelos sócios, impreparação e falta de capacidade organizativa, com especiais responsabilidades a deverem ser imputadas aos presidentes da Mesa da Assembleia Geral e da Direcção.
Lá dentro, como já todos viram e ouviram, viveu-se um ambiente inacreditável de intimidação, insultos e agressões, procurando os seus mentores, com essas atitudes, condicionar as intervenções e o voto dos associados. Como se fosse possível travar a vontade dos mais de três mil portistas que se mobilizaram para a AG. Aliás, e uma vez que a alteração dos estatutos requer uma maioria de 3/4 dos votos favoráveis, cedo ficou evidente que a proposta do Conselho Superior, alinhada com a Direcção, estava condenada a ser derrotada.
Mas pior que assistir aos insultos e às agressões, num clima de medo e de ameaças, foi ver os membros da Mesa da Assembleia Geral e da Direcção sentados, absolutamente impávidos e serenos perante o que se passava à frente dos seus olhos. O presidente da Mesa, então, teve um comportamento confrangedor. Sem reacção, sem saber o que podia fazer ou dizer. Absorto.
Perante a derrota iminente, o Conselho Superior, num comunicado patético e indecoroso, decidiu ontem retirar a proposta de alteração dos estatutos, levando assim à anulação da Assembleia Geral Extarordinária. Na esperança, certamente, de que a próxima Assembleia Geral Ordinária, para aprovação de contas, a ter lugar até ao final do corrente mês, não reúna tantos associados oponentes do rumo imposto pela Direcção. A propósito do Conselho Superior do clube, vale a pena a questionar o que estão a fazer nesse órgão algumas personalidades públicas de relevo. Se nos guiarmos pelo exemplo de Luís Montenegro, líder do PSD, ficámos a saber que nunca participou em qualquer reunião. E também já sabíamos que Rui Moreira raramente lá pôs os pés. Ou seja, há muito nomes que ficam bem na lapela, mas nada contribuem para a vida associativa do clube.
Recordo que já na última alteração estatutária, em 2015, quando a sucessão de Pinto da Costa ainda não estava sobre a mesa de modo tão evidente, o processo foi opaco e mal conduzido, com os sócios a conhecerem a proposta de alteração apenas à entrada da reunião. Por tal motivo, por não haver explicações cabais sobre as opções tomadas nessa revisão, acabei por ser o único associado, em duas ou três centenas presentes, a abster-se na votação da proposta na especialidade, o que fez com que a mesma não fosse aprovada por unanimidade. Já na altura não me livrei de uns olhares curiosos, para dizer o mínimo...
A forma como o clube tem sido gerido motiva um descontentamento crescente dos associados. Sobretudo daqueles, a imensa maioria, que são contribuintes líquidos do clube e nada ganham com estranhas negociatas. Mas, vimos agora, que não é só na gestão financeira que o clube bateu no fundo, hipotecando muito do seu futuro próximo. A ética e os valores também se estão a perder ali pelos gabinetes do Dragão...