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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

O que fazer com estes resultados?

José Carlos Pereira, 27.05.14

As eleições europeias do passado domingo permitiram chegar a algumas conclusões, cá dentro e lá fora. Todas elas preocupantes, por sinal.

Entre nós, a vitória do Partido Socialista, em votos e em mandatos, acabou por saber a pouco perante o colapso da coligação no poder. O resultado alcançado pelo PS, após três anos de crise, de desemprego, de falências e aumento brutal de impostos, não permite vislumbrar uma confiança clara dos portugueses nas propostas e nos protagonistas apresentados pelo PS. As últimas sondagens confirmam-no.

A maioria PSD/CDS, que registou o pior resultado de sempre, manteve-se à tona de água e pode afirmar a sua legitimidade para governar o tempo que resta da legislatura e preparar o caminho para as eleições de 2015.

O reforço da CDU, a emergência – episódica? – do MPT de Marinho Pinto e a inédita pulverização de dezenas de milhares de votos por vários partidos pequenos mostram que os partidos do arco da governabilidade foram claramente postos em causa. O fenómeno que vemos lá fora, com várias forças representadas nos parlamentos, pode ter chegado para ficar em Portugal. O próprio Bloco de Esquerda, para além dos muitos erros cometidos, acabou por ser vítima também das dissidências corporizadas pelo Livre e pelo MAS.

A mais alta abstenção de sempre no nosso país e o número de votos brancos e nulos são outros indicadores que revelam o afastamento e a descrença dos portugueses face à Europa, à política e aos partidos tradicionais.

António Costa decidiu hoje reagir ao resultado do PS e disponibilizar-se para disputar o lugar de secretário-geral com António José Seguro. Depois dos avanços e recuos de há um ano, creio que esta era a hora de assumir a candidatura à liderança do PS. Não tenho dúvida que os portugueses gostariam de ver António Costa a disputar as próximas legislativas como líder da esquerda democrática. Terão a mesma opinião os militantes do PS? Como reagirá o aparelho que esteve sempre tão próximo de Seguro? Vai ouvir o país? Para conquistar o poder e exercer a governação nestes tempos difíceis exige-se mais. Não basta mais do mesmo.

Na Europa, assistimos à desagregação dos partidos que tradicionalmente assumem as responsabilidades do poder e à consolidação dos movimentos extremistas e eurocépticos. Os resultados em França, em Inglaterra, na Grécia, só para citar alguns exemplos, foram elucidativos.

Os dirigentes europeus são os primeiros a contribuir para este afastamento das populações face ao “ideal europeu”. Quando Angela Merkel veio dizer, em plena campanha eleitoral, que os resultados poderiam nada querer dizer quanto ao nome a indicar para a presidência da Comissão Europeia estava a dizer a verdade, é certo, mas também veio passar um atestado de menoridade à eleição, aos partidos políticos e aos seus representantes.

O cidadão europeu comum associa a União Europeia a uns quantos burocratas que redigem leis e regulamentos e a um reduzido número de governantes que tomam as grandes decisões. Os cidadãos sentem-se, por isso, afastados do centro das preocupações e das políticas europeias, pelo que se alheiam de votar e de participar. Em alternativa, muitos refugiam-se nos extremismos para travar os males que identificam, seja o euro, a imigração, o desemprego ou a alegada perda de soberania. É difícil de perceber?

O presidente do Banco Central Europeu já veio defender que, perante o resultado das eleições, são necessárias melhorias e “pensar mais em crescimento, emprego e prosperidade”. Depois da casa roubada trancas à porta? Ao menos isso…