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Incursões

Instância de Retemperação.

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Os 90 anos de Mário Soares

José Carlos Pereira, 07.12.14

Mário Soares completa hoje 90 anos. Uma vida longa e plena. Oposicionista ao regime do Estado Novo, líder e fundador do Partido Socialista, primeiro-ministro por três vezes, Presidente da República durante 10 anos, vencedor de eleições para o Parlamento Europeu aos 74 anos e recandidato presidencial aos 80 anos.

Mário Soares nunca foi uma personalidade consensual, como nunca o são as personagens marcantes da história. A ruptura com a esquerda mais extremista, que permitiu a consolidação da democracia em Portugal nos anos de brasa de 74/75, e as repercussões à direita de um doloroso processo de descolonização contribuíram muito para que Soares gerasse uma oposição forte em determinados sectores.

O país, contudo, deve-lhe muito. A implantação e consolidação do regime democrático e a adesão à Europa tiveram na sua acção um contributo determinante. Mário Soares é, sem qualquer dúvida, um dos pais fundadores da nossa ainda jovem democracia.

Aos 90 anos, Soares mantém-se orgulhosamente fiel ao princípio de lutar e resistir às adversidades, mas, como bem lembrava Henrique Monteiro no “Expresso” da passada semana, o seu discurso inflamado de hoje e as palavras às vezes excessivas devem ser devidamente enquadradas e temperadas. Todos nós gostamos de uma forma especial dos amigos e familiares que atingem tão bonita idade.

Encontrei-me duas vezes com Mário Soares, nas campanhas eleitorais presidenciais vitoriosas, que apoiei convictamente. Na primeira campanha, integrei a pequena comitiva que o recebeu à entrada do município de Marco de Canaveses e daí seguimos para um comício bem sucedido em que também intervim. Recordo com saudade o abraço apertado e emocionado que me deu no final desse comício, quando as perspectivas de vitória eram ainda longínquas. Esta minha intervenção, quando era então um jovem militante da JSD, valeu-me, aliás, uma inconsequente ameaça de expulsão. Cinco anos depois, já livre de militâncias partidárias, voltei a conversar com Mário Soares num evento da sua campanha no Porto.

Lamentei a sua decisão de se candidatar novamente à presidência da República em 2006 e decidi, por isso, não corresponder ao convite para ser o seu mandatário concelhio em Marco de Canaveses. Já não era o tempo de Mário Soares, embora percebesse o que o fazia avançar. Não o apoiei, mas também não votei contra esta sua última investida.

Parabéns, caro Presidente Mário Soares!