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Incursões

Instância de Retemperação.

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Os desafios de Rui Rio

José Carlos Pereira, 15.01.18

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Rui Rio venceu as eleições directas para presidente do PSD, batendo Pedro Santana Lopes por uma diferença superior a três mil votos, num universo de aproximadamente 43 mil votantes. Foi uma disputa equilibrada como a campanha eleitoral foi deixando perceber. Rio ganhou a Norte, onde se concentra o maior número de militantes, e isso bastou para face à vantagem de Santana Lopes nos distritos mais a Sul.

O novo presidente do PSD enfrentará agora o desafio de constituir uma equipa forte e mobilizadora para o acompanhar, incluindo-se aqui a aposta na liderança parlamentar, que ganha ainda mais importância pelo facto de o presidente do partido não ser deputado. Hugo Soares, um antigo presidente da JSD que se afirmou na liderança de Passos Coelho, foi eleito por larga margem há pouco tempo, mas o facto de ter declarado apoio a Santana Lopes pode ter comprometido a relação de confiança política com Rui Rio. Hugo Soares, de todo o modo, deveria tomar a iniciativa de colocar o lugar à disposição da nova liderança.

Para o lugar de secretário-geral tem-se falado muito de Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar e da distrital de Aveiro. Malheiro foi director da campanha de Rui Rio e, pelo que se apurou, mexe-se à vontade no terreno dos militantes-fantasma e do caciquismo partidário. O destaque que assumiu na campanha não abona a favor de Rui Rio, que se afirma sempre como um paladino dos valores, da ética e da transparência, mas que não se importou de ter ao seu lado dirigentes como Salvador Malheiro ou Rodrigo Gonçalves, ex-presidente da concelhia de Lisboa e já anteriormente denunciado por comportamentos semelhantes no passado.

Quanto à forma como Rui Rio fará oposição à actual solução governativa, só o tempo dirá o que vai mudar. Rio admitiu viabilizar no futuro um executivo minoritário socialista para evitar que PCP e BE se mantenham na esfera do poder, mas essa posição não deixará de criar graves rupturas no interior do partido. Todos aqueles que se bateram por Passos Coelho, e não se conformaram com o facto de o PS ter construído uma solução alternativa de governo depois de ser derrotado nas legislativas, não aceitarão que no futuro “se venda a alma ao diabo” e com isso se assegure a manutenção do PS no poder. O pragmatismo de Rui Rio, que não se importou de ceder pelouros à CDU no seu primeiro mandato na Câmara do Porto para assegurar a maioria, será posto à prova.

De resto, esta visão de Rui Rio olvida que o PS tem hoje um núcleo importante de dirigentes e governantes que prefere governar com o PCP e o BE do que aproximar-se do PSD. A relação inter-partidária mudou significativamente nos últimos anos e isso deve-se essencialmente à troika e a Pedro Passos Coelho.