Os novos deputados emergentes
A polémica suscitada pelo comportamento e atitudes da deputada Joacine Katar Moreira, eleita pelo Livre, trouxe de novo à baila a questão das responsabilidades individuais dos deputados e os compromissos, valores e princípios defendidos pelos partidos políticos que candidatam esses deputados. Joacine Katar Moreira "cresceu" após a sua eleição e parece considerar-se acima do colectivo que representa e pelo qual foi eleita. Veremos o que vai ocorrer daqui em diante, mas a imagem pública do Livre, depois da grande vitória eleitoral, pode ficar irremediavelmente comprometida.
Não é o primeiro caso de eleição emergente que resulta em decepção para o eleitorado. Recorde-se a eleição para o Parlamento Europeu de Marinho Pinto e de um segundo deputado pelo MPT, em 2014, que redundou pouco tempo depois em divórcio e levou Marinho Pinto a desvincular-se do MPT e a criar um novo partido, situação que levaria à perda do seu mandato de deputado se tal ocorresse no nosso parlamento. Em 1991, tivemos também a ascensão ao parlamento do deputado Manuel Sérgio, do PSN, que não passou de um fogacho sem continuidade.
Nas últimas legislativas, tivemos, além do Livre, a eleição de deputados únicos da Iniciativa Liberal e do Chega. No primeiro caso, assistiu-se à insólita situação de ver o líder do partido, que não foi eleito pelo círculo do Porto, bater com a porta e dizer que não lhe podiam exigir mais tempo e dedicação. O que sucederia se tivesse sido eleito? Quanto ao Chega, tem actuado como um partido unipessoal, com registos de divergências e até de afastamentos entre vários fundadores, que se terão fartado dos comportamentos do líder.
Estes exemplos devem servir de reflexão a todos os que se manifestam defensores de candidaturas independentes e de círculos uninominais, que nestes novos tempos potenciam o aparecimento de políticos populistas, mais fieis ao pragmatismo da acção do que à comunhão e ao compromisso com valores e princípios ideológicos. É certo que os partidos políticos tradicionais não têm sido uma escola de boas práticas e que é necessário aproximar eleitos de eleitores, mas estes exemplos recentes devem servir-nos de reflexão sobre os caminhos a percorrer no futuro.