Que competitividade?
Pelo segundo ano consecutivo, Portugal desceu no índice mundial de competitividade elaborado pelo Fórum Económico Mundial (FEM). E desta vez foi uma queda de oito posições, do 36º para o 48º lugar, no ranking liderado pela Suíça. Entre os factores que mais concorreram para essa descida, destacam-se as taxas e impostos, a burocracia do Estado e a “instabilidade política”.
Depois de ocupar o 23º lugar em 2002, no final dos governos de António Guterres, a tendência foi de descida ao longo da última década, assistindo-se a uma significativa recuperação de quinze lugares em 2014, curiosamente o ano que coincidiu com o fim do Programa de Assistência Económica e Financeira e com a celebrada partida da troika. O arauto Daniel Bessa exclamava ontem na televisão que nem no tempo da troika se assistira a tamanha queda de competitividade em Portugal.
Pois bem, mas afinal o que justificará esta montanha russa do índice de competitividade português medido pelo FEM, que recupera quinze lugares em 2014 e perde oito lugares em 2016? Se os indicadores de saúde, educação, infra-estruturas e mercados financeiros não registaram grandes alterações de 2014 para 2016, se temos até um Governo manifestamente comprometido com a modernização administrativa e o combate à burocracia no Estado, podemos concluir que as grandes variações ocorreram na política fiscal e na solução de Governo em vigor. Ou seja, a competitividade de que os empresários auscultados gostam é aquela que é formatada pelas políticas austeritárias aplicadas pela troika, carregando nos impostos sobre o trabalho, aliviando a regulamentação laboral e seguindo os ditames orçamentais de Bruxelas e do Norte da Europa. Quando aparece um Governo que procura inverter essas políticas, lá se vai a competitividade. É um bom retrato das elites que temos.