QUESTÕES QUE O LUANDA LEAKS SUSCITA
Já lá vão alguns anos que, pelo Ano Novo, discutíamos a “acumulação” de riqueza por uma dita élite angolana. Éramos todos oriundos da mesma escola, amigos, com a particularidade de um ser luso-angolano, com grande ligação ao poder e ao MPLA. Era o único a defender, calorosamente, com recurso à teoria económica, os investimentos da Isabel dos Santos e dos que lhe eram próximos.
Não sei que conversa teríamos hoje. Sei que continuo a pensar o mesmo. Era dinheiro a mais para uma pessoa só. E mesmo que dinheiro gere dinheiro, o primeiro dinheiro não podia ter sido gerado. O volume dos investimentos e a oportunidade de cada negócio tornavam isso evidente.
Hoje, atulhado pelo ruído das notícias, centradas em Isabel dos Santos, dou comigo a questionar:
1. Tudo o que tem sido revelado através dos meios da comunicação social deve ser qualificado como jornalismo de investigação ou como pirataria informática?
2. Quem foi o “único denunciante” que entregou os “715 mil ficheiros” à PPLAAF?
3. Como obteve esses milhões de registos?
4. Qual a motivação para disponibilizar essa informação?
5. Como entender que nos 715 mil ficheiros apenas apareça Isabel dos Santos como usurpadora dos recursos públicos?
6. Se os ficheiros começaram a ser disponibilizados no final de 2018 e início de 2019 porque só agora tornaram pública essa informação?
7. Porque não assacam responsabilidades às auditoras, designadamente à PwC, (que terá recebido milhões e agora saltou fora)?
8. Se todos os negócios e Contas foram auditadas porque é que as autoridades angolanas e mesmo as portuguesas não acusam as empresas de auditoria em causa?
9. Porque é que o PGA foi agora tão lesto e disponível para vir a Portugal e foi tão ríspido e ausente no passado recente (caso Manuel Vicente)?
10. Se os “715 mil ficheiros” foram fornecidos por “um único delator”, como poderemos estar seguros da isenção política, económica ou outra deste delator?
Eis algumas questões a que, em meu parecer, o jornalismo democrático e isento deveria responder. A corrupção deve ser combatida por meios lícitos e justos. O combate à corrupção não será bem um combate se na génese deste estiverem outros interesses, igualmente mesquinhos e iníquos. Neste combate não deve haver lugar para ambiguidades.