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(A política em férias 3)
mons parturiens
(declaração de interesses: nunca fui apreciador do senhor Marinho e Pinto que, felizmente, não conheço pessoalmente. Sempre me pareceu vaidoso, espalhafatoso, tonitroante e, acima de tudo, medíocre. Razões conjunturais fizeram-no Bastonário. Parece que ele se tomava por “tribuno da plebe” e que uma certa plebe profissional acreditou nisso. Mesmo quando a causa era boa, ele, com um discurso verboso e grandiloquente, conseguia tornar a coisa ridícula ou destemperada. Sobradas razões para entender que a criatura além de excessiva era balofamente desinteressante).
O senhor Marinho e Pinto, actual deputado europeu vai concorrer, com partido próprio, acabadinho de fazer, às legislativas. Convém relembrar o seu sinuoso percurso político logo que se acabou a sua carreira de bastonário.
Nada tenho contra o facto de, enquanto, representante da Ordem dos Advogados, ele perceber uma elevada quantia como honorários. Estava longe da sua residência e, sobretudo, do seu escritório de advogado. Mesmo que, como é tradicional fosse compensado pelas deslocações, aceito sem grande resistência que se fizesse pagar. Claro que, deveria ser entendido que a remuneração do bastonário deveria corresponder à média dos últimos anos de actividade (obtida pela declaração de IRS) majorada numa percentagem que nunca deveria exceder os 25%.
Corre por aí que M e P recebia cerca de 6.000€ mensais o que ou pressupõe uma lucrativa carreira jurídica anterior ou um exagero. Consta igualmente que terá recebido da Ordem uma quantia que não será assim tão pequena para se reintegrar na vida de todos os dias.
Surpreendeu-me, como a uma maioria dos portugueses, que, em 2014, ele aceitasse candidatar-se pelo Parido da Terra ao Parlamento Europeu. Mas aceitou e foi eleito.
Da sua carreira em tal areópago pouco há a dizer excepto que ele se indignou com as quantias (absolutamente excessivas, segundo o próprio) pagas aos deputados e com o pouco que no PE se faz (segundo declarações dele, novamente).
Todavia, longe de se demitir persistiu e persiste no cargo, recebe com evidente desgosto as vultuosas verbas já denunciadas e desconhece-se a sua actividade em tal câmara. Vê-se que é uma pessoa talhada não direi para altos voos mas pelo menos para ingentes sacrifícios...
Logo que M e P se apanhou em Bruxelas largou o partido onde apanhara boleia para lá chegar e, em menos de duas avé-marias, criou outro, à sua imagem e semelhança com que pretende concorrer às legislativas. Nisso foi ajudado por Eurico figueiredo, irrequieto e desastrado político que não pára em sítio nenhum nem sequer no recentíssimo partido que já abandonou entre lamúrias indignadas e acusações que me não custa aceitar.
Nesta curta, recente, mas vertiginosa. carreira política já nada me espanta ou, melhor: só me espanta que M e P não se candidate à Presidência da República. Ao fim e ao cabo já por lá anda outro neófito da política, o senhor Nóvoa cujos predicados na matéria são desconhecidos, bem como desconhecida é a sua experiência política seja em que capítulo for. (Nem sequer se pode gabar de uma curta estadia na cadeia de Caxias enquanto estudante ou de uma episódica passagem pelas fileiras do PCP, tudo coisas muito juvenis e sem consequências).
Entretanto nem o parlamento de cá nem o outro da Europa conseguem responder a estas simples questões: pode uma criatura eleita pelo partido A criar outro, mantendo todavia as posições conquistadas enquanto membro do primeiro? Afinal em que votam os cidadãos, no partido como parece decorrer da votação em lista, ou nas pessoas que individualmente a compõem? E onde pára a ética nisto tudo?
Um velho amigo, ao comentar esta façanhuda personagem, sustentava uma tese tão curiosa quanto coerente: num país abalado pela crise económica, falho de segurança, desconfiando da sua identidade, incapaz de se reencontrar no punhado de antigos valores que a insensatez reinante expulsou como velharias, o que “está a dar” são estes epifenómenos do Entroncamento. A gritaria substitui a argumentação, o descaramento passa por audácia e a verborreia substituiu o discurso político.
Espera-se que os portugueses, num milagroso sobressalto político e de bom senso, afundem nas urnas este excessivo destempero eleitoral. De vez em quando as montanhas parem ratos...
* na gravura "mons parturiens" encontrado na net