Acaso: mais que uma probabilidade!
Desisto.
Milhentas vezes entre as agruras mais herméticas tento recordar-te e esquecer-te. Como criança saída dos bancos da ilusão arquitecto o início do romance para que me falta o engenho.
Conheço a história. É banal. Mais uma história de amores e desencontros. Literatura de cordel com todos os ingredientes: paixão, ternura, orgasmo, separação, saudade e dor. Igual a tantas outras. Só precisava de encontrar um início. Um exórdio imaginado, poético, esplendoroso, atractivo.
Grande vaidade pretender que a chama que nos consumia, os poemas que fizemos, as lutas que travámos, os olhares que flamejámos, as carícias que tacteámos, os silêncios que interpretámos, os sonhos que partilhámos, as saudades que amargurámos eram diferentes, mais sublimes e eternos.
Milhões julgaram captar na palma das suas mãos fechadas a eternidade do arrebatamento, o espraiar da contemplação amada.
Está tudo dito e redito, pintado, musicado e representado na multiplicidade das culturas. Sexo aqui e morte ali. Saudade contemplativa nuns e arrebatamento conquistador noutros. Prelúdio e fuga ontem e expressionismo amanhã.
Só falta explicar como nos cruzámos quando nenhum de nós poderia estar naquele local, precisamente naquele segundo, porque fugimos sonhando-nos, quando teimamos em ressuscitar o que a sobrevivência esmagou.
Talvez um dia ainda conte essa história, se for capaz.