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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Indignado, mas não espantado

J.M. Coutinho Ribeiro, 12.05.11

Em post abaixo, José Carlos Pereira indigna-se pelo facto de Avelino Ferreira Torres ter visto prescrito o crime de abuso de poder por que foi condenado (dois anos e 3 meses, com pena suspensa), por factos praticados enquanto presidente da Câmara de Marco de Canaveses. Tem razão ao indignar-se; não tem razão para ficar espantado. Ambos o conhecemos bem e eu levo-lhe a vantagem de saber mais alguma coisa sobre os meandros em que estas coisa se resolvem.

Não por acaso, sempre garanti aos marcuenses que a única forma de abater AFT seria por força dos votos e nunca por força dos tribunais. Eu próprio o tentei, sem sucesso, em 2001, como candidato; eu próprio ajudei a derrotá-lo, em 2009, quando me envolvi na campanha eleitoral do Marco, na sua tentativa de regresso.

Desde há muitos anos que tenho como seguro que Ferreira Torres é - vá-se lá saber o motivo - um homem protegido. O que me leva muitas vezes a questionar que raio de segredo conhecerá o homem que o torna tão seguro de si, ao ponto de insultar magistrados em pleno julgamento ou através da comunicação social sem que nada lhe aconteça. Especulando, retrocedo aos tempos do PREC para tentar encontrar uma justificação. Em vão.

Por volta da Páscoa de 2009 e depois de vários anos de relações cortadas, recebi um inesperado telefonema de Avelino Ferreira Torres, que nessa altura já tinha sido absolvido do seu segundo processo judicial. Queria falar comigo sobre as eleições autárquicas desse ano e fazer-me uma proposta. Aceitei, com uma condição: que a conversa decorresse no espaço público, à vista de toda a gente, não fosse alguém pensar que andávamos em conversações secretas. Rejeitada a engraçada proposta que me fez, questionei-o sem rodeios: "Conte-me: quem é que lhe põe a mão por baixo?". E ele não se fez rogado: "Não tenha dúvida de que tenho quem me ajude...". E antes que o homem estendesse o dedo para o céu, fui-lhe dizendo: "Ah, não, não é Esse, que Esse eu sei que é muito seu amigo. Eu quero saber é quem é, cá em baixo...". Garantiu-me que ninguém. Ninguém. Que sim, que era verdade que tinha feito uns pedidos quando foi do julgamento de alguém que lhe é próximo, mas para ele, nada. Sorri. Está bem. Pediu para outros, mas para ele nada.

Tudo só para dizer que, tal como JCP, eu também fico indignado com a prescrição do crime. A única diferença, é que eu não fico espantado. E confesso: sinto até uma ponta de admiração pelo homem. Mas não sinto nenhuma por quem permite que as coisas sejam assim.