Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

O doutoramento de Adriano Moreira em Cabo Verde

José Carlos Pereira, 03.01.12

O texto do Prof. António Fidalgo, da Universidade da Beira Interior, publicado no "Expresso" desta semana sobre o doutoramento honoris causa do Prof. Adriano Moreira pela Universidade do Mindelo, em Cabo Verde, revelou-me um acto que desconhecia e do qual terá havido um eco reduzido nos nossos media.

Académico e pensador do Portugal contemporâneo, Adriano Moreira é uma daquelas personalidades de espessura invulgar que fazem falta à reflexão e acção política quotidiana, o que não custa reconhecer mesmo quando se está em quadrantes políticos diferentes. Foi, de resto, o único ministro de Salazar que o regime democrático acolheu de braços abertos, tendo sido deputado e líder do CDS no final dos anos 80 e no início da década de 90 do século passado.

Este primeiro doutoramento honoris causa em Cabo Verde reuniu o consenso da intelectualidade e dos políticos cabo-verdianos, contando com a presença do primeiro-ministro e dos reitores das seis universidades de Cabo Verde, entre os quais Iva Cabral, filha de Amílcar Cabral.

Adriano Moreira tem-se empenhado ultimamente na defesa de uma maior aproximação de Cabo Verde a Portugal e à União Europeia. No espírito de muitos estará ainda a revogação da Lei do Indigenato, que privava dos direitos de cidadania os nativos do ultramar, quando exerceu funções ministeriais em 1961/62.

 

Ele ou nós?

sociodialetica, 27.03.11

1. São conhecimentos antigos e frequentemente referidos: “Não se pode (duradoiramente) repartir o que não se produziu”; “Para garantir maior produção é fundamental o investimento (todo ele)”; “a moeda (equivalente geral) só existe porque há produção e troca de bens”.

Qualquer estudante de economia deve ter presente estes princípios básicos. Li-os pela primeira vez em Problemas Fundamentais de Economia, do saudoso Francisco Pereira de Moura, no início dos anos 60.

Bastaria ter estes aspectos em consideração para se saber que um projecto duradoiro de moeda única em diversos países, que abdicariam da sua moeda, logo de uma parte da sua soberania e da sua capacidade de regular a sociedade, passaria inevitavelmente por estratégias de aproximação produtiva entre regiões. Uma moeda única entre diversos países passaria por o que se costuma designar por “convergência real”.

Contudo, quando se começou a falar da criação da moeda única europeia os políticos, por ignorância, interesse ou soberba, afastaram a “convergência real” da agenda política. Foi substituída pela veleidade da “convergência nominal”: os países continuam com profundas desigualdades produtivas, competitivas, redistributivas, logo estratégicas, mas” acertariam o passo” em termos orçamentais, fiscais, de inflação.  Como se diria na gíria popular, constrói-se a casa a partir do telhado. Nem todos os países estariam nessa situação, porque a moeda única era feita à medida de alguns, mas estariam todos os que têm menores capacidades de produtividade e competitividade.

Produtividade e competitividade que podem melhorar com o voluntarismo, mas que essencialmente dependem da produção e de procedimentos formativos de longo prazo.

Teve-se a soberba de construir a moeda única de cima para baixo, sabendo desde sempre que a capacidade dos países para fazerem face, mesmo em conjunto, a eventuais especulações sobre as moedas seria pequena. Os especuladores internacionais eram mais poderosos. Sabia-se quando o projecto foi avançado, agravou-se quando foi concretizado, intoxicou-se com a actual crise.

 

2. Discutir hoje o euro deveria ter em conta tudo isto e reconhecer os erros cometidos. É preciso salvar o euro? Não tenho nada contra, antes pelo contrário. Mas a prioridade é sabermos como salvar os cidadãos dos países da moeda única, todos e cada um deles. Salvemos o euro só e apenas só se isso for compatível com salvarmos as populações e as nações.

Se tal é possível, só será concretizável com uma estratégia de longo prazo, obviamente atenta ao presente, mas não hipotecada a ele. Que os políticos, os domínios e as subordinações não gerem novas fugas em frente.

Não gerarão mesmo?!

Liedson na selecção (portuguesa) de futebol

José Carlos Pereira, 27.08.09

O avançado brasileiro do Sporting Liedson, que recentemente obteve a nacionalidade portuguesa, foi convocado para representar o país na selecção de futebol que vai disputar encontros decisivos do apuramento para o Mundial 2010. Nada que não se esperasse, após um longo folhetim que envolveu jogador, federação e Governo.

A naturalização de jogadores estrangeiros, que depois representam os países de residência, ocorre um pouco por toda a Europa e em várias modalidades desportivas. Em Portugal, isso já aconteceu nas selecções de andebol, basquetebol e atletismo, por exemplo. Nos primeiros casos porque se procurava colher o ensinamento e a experiência de atletas credenciados com formação em países mais evoluídos, o leste da Europa no caso do andebol e os EUA no caso do basquetebol, no atletismo porque se adoptou e integrou um jovem nigeriano à procura do sucesso, Francis Obikwelu. Critérios sempre discutíveis se virmos para além dos direitos de cidadania obtidos com a naturalização portuguesa. É essa a melhor forma de promover uma política desportiva estruturada? Deve privilegiar-se o resultado imediato ou a formação de base?

É isso que me faz olhar de forma algo diferente para a integração de Liedson, face aos anteriores casos de Deco e Pepe. Estes chegaram à selecção portuguesa de futebol em resultado da sua afirmação no futebol português desde os 17/18 anos, que foi a idade com que chegaram a Portugal oriundos de um obscuro clube brasileiro - Deco para ser cedido pelo Benfica ao Alverca e Pepe para integrar o Marítimo B. As suas qualidades naturais estavam lá, mas foi em Portugal que completaram a sua formação e se afirmaram como jogadores profissionais de futebol.

O caso de Liedson é diferente, já que se transferiu de uma equipa de primeiro plano do futebol brasileiro, o Corinthians, para o Sporting quase a meio da carreira, aos 24/ 25 anos. Era um jogador afirmado e reconhecido e por isso foi contratado como um valor consagrado. Um jogador que nunca foi chamado a representar o seu país de origem e que, agora, aos 31 anos, vai representar Portugal. Confesso que me custa entender, apesar de reconhecer o seu direito administrativo a tal. No entanto, que tenha uma boa horinha e que nos faça sambar...

Ainda a "reposição da verdade" no caso ABC - é só mais este post, desculpem lá a maçada

ex Kamikaze, 06.04.09

"a razão substancial da demissão de Alberto Bernardes Costa não foi anulada pelos tribunais, foi anulada, sim, a habilidade do Governador, pela qual o meu despacho de demissão foi substituido por um outro a ser anulado por vício de forma, ou seja, por falta de fundamentação."

 

(excerto de texto enviado ontem por JAB ao Publico, com pedido de publicação para "reposição da verdade" e que foi publicado... na secção Cartas dos Leitores - podem vê-lo/lê-lo na íntegra no blog Porta da Loja)

 

Que assim foi de facto pode comprovar-se da leitura do Acórdão (o tal que em 2005 eu não  encontrava em lado nenhum) que anulou o despacho não fundamentado com que Carlos Melancia exonerara Costa, dando assim azo ao recebimento por este de uma indemnização - para o ler é só clicar aqui.


ADITAMENTO a 8 de Abril 09:

Link para a entrevista de JAB a O Independente - 28 de Out. 2005

 

Segurança “Problemática”

JSC, 01.09.08

As questões em redor da Segurança vão continuar a animar o debate político. As rusgas aos “bairros problemáticos” irão prosseguir, para maior tranquilidade de todos. Irão ser instaladas câmaras por tudo que é sítio “problemático”, que vigiarão os cidadãos “problemáticos” e os outros. Contudo, de fora ficarão, ainda, os sítios de que fala M.A. Pina, a ler aqui.

Soljenitsyne

JSC, 04.08.08
Soljenitsyne, escritor e Prémio Nobel, morreu. A sua biografia está na net. MCR, se não estivesse de férias, daria, certamente, nota do desaparecimento do escritor.

Durante o dia ouvi muita gente a falar sobre Soljenitsyne. Todos enalteceram a valia da sua obra. Também se referiam à inegável intervenção política na denúncia dos trabalhos forçados e das perseguições políticas, que caracterizaram o período estalinista.

Das declarações que ouvi aquela que mais me impressionou foi a de Zita Seabra. Para falar como fala, só pode ter tido uma amnésia.

Das diversas pessoas que foram opinando, todas se referiram à sua luta pelas liberdades no país dos sovietes e à sua qualidade enquanto escritor. Contudo, nenhuma referiu os rasgados elogios que o cidadão Soljenitsyne fez a Pinochet e o público apreço que nutria pelo regime franquista.

Pode não ser muito afectuoso lembrar coisas menos simpáticas nestas alturas. Mas figuras com a notoriedade pública de Soljenitsyne devem ser lembradas no seu todo, para não desvirtuar a coerência por que nortearam as suas vidas.

ENXOTAR CIGANOS

JSC, 23.07.08
PSP ... enxota ciganos…” É assim que o JN titula a saga dos ciganos de Loures. Esta simples e inocente frase fez-me lembrar que em pequeno, 7 ou 8 anos, a minha Avó ordenava: “vai enxotar as ovelhas que estão a comer as vides, corre!”. E eu lá ia enxotar o gado para outro lado.

Se os ciganos tivessem um príncipe real poderiam deitar mão do instituto da Aposentadoria Real e enxotar os escribas dos seus aposentos, para neles se instalarem, até virem melhores dias.

Como não têm um príncipe real nem santo que os proteja, têm que se valer de outros expedientes para encarar a vida, que os enxota de um lado para o outro, sem fim que se veja, apesar de todos os programas de reinserção, que nem matam a fome nem estimulam a trabalhar.

Por isso, de modo deliberado ou não, a palavra choque da notícia é a que deveria ser. Na verdade, a política de integração tem passado por enxotar a gente portuguesa cigana de um lado para o outro, sem glória, diga-se, para nenhuma das partes.

Crise de Abastecimento de Produtos Alimentares?

JSC, 06.05.08
Segundo a comissão europeia os produtos alimentares, na Europa, irão sofrer um aumento, este ano, de cerca de 40%. A especulação, afirmam os especialistas comunitários, será responsável em mais de 30% por este aumento.

A repentina crise no mercado dos produtos alimentares só poderia estar associada à crise financeira provocada pelo “subprime” americano e que se repercutiu globalmente. Ou seja, a crise é provocada pelos grandes especuladores que procuram compensar as perdas no mercado das acções e na queda do dólar, deslocando os seus negócios para a bolsa das matérias-primas, onde se transaccionam os produtos alimentares.

A questão que se pode colocar é a da saber qual o papel dos Governos nesta história toda. Até pode parecer que se revelam incapazes de actuar perante a força do mercado. Contudo, o que se passa é que estão a criar as condições para que se obtenha m novo equilíbrio, que o sistema se auto-regule. Os governos procurarão minimizar os estragos, conter os famintos (distribuindo pratos de arroz, alguns subsídios e porrada se for preciso) de modo a que a espiral civilizacional se eleve e passe a um novo estádio, mantendo os genes vitais.

Anote-se que nestas coisas da especulação Portugal revela grande competência. Só dois exemplos:

Primeiro, o preço do pão. Segundo os jornais o preço do trigo subiu 10% nos últimos três meses. Contudo, em Portugal o preço do pão terá subido 50% no mesmo período, pelo efeito conjugado do aumento de preço/unidade e da diminuição do peso/unidade.

Segundo exemplo, o preço dos combustíveis. Ainda segundo a comunicação social, apesar do aumento do preço do petróleo no mercado internacional, o aumento de peço praticado pelas empresas petrolíferas que actuam em Portugal é bem superior ao aumento registado pelas empresas congéneres que abastecem outros países europeus.

E o Governo que faz perante estes aumentos especulativos? Pelo menos uma coisa sei que faz, arrecada os impostos, cujo montante cresce proporcionalmente ao aumento dos preços, mesmo que provocados por agentes especuladores.

Conclusão (um tanto ou quanto enviesada): Do ponto de vista fiscal, os Governos são os segundos grandes ganhadores com os movimentos especulativos. Portanto, como é aos Governos que compete cuidar do interesse colectivo, até se poderá concluir pela bondade da especulação…