A CP quer acabar com a linha do Douro?
A CP prepara-se para dar mais uma machadada na linha do Douro (a derradeira?). Depois de sucessivos governos terem prometido a requalificação e a electrificação da linha ferroviária, pelo menos até Marco de Canaveses, investindo uns largos milhões em expropriações e na supressão das passagens-de-nível, a verdade é que a linha electrificada suburbana termina agora em Caíde (Lousada) e a CP prepara-se para ficar por aí. Adicionalmente, a empresa pública pretende eliminar quinze comboios que asseguram a ligação de Marco de Canaveses a Caíde, o que causaria grandes transtornos às populações que se servem do transporte ferroviário, representando dificuldades acrescidas em tempos de crise. Já hoje muitos marcoenses que pretendem servir-se dos comboios suburbanos se vêem obrigados a deslocar-se de automóvel até Caíde, o que não tem qualquer racionalidade económica.
Pelo caminho, recorde-se, fomos convivendo com o abandono a que foi votada a linha internacional do Douro, o encerramento de estações, o definhamento dos serviços prestados e o encerramento da linha do Tâmega.
Num período de forte restrição dos investimentos públicos e numa região que nunca conquistou o peso político necessário para bater o pé em Lisboa perante os governos e os directórios partidários, o investimento na requalificação da linha do Douro até Marco de Canaveses está condenado para os próximos anos. Disso não tenho dúvida. Mas, como quem não tem cão caça com gato, ao menos que seja assegurado um serviço eficaz de ligação à rede suburbana, permitindo que cidadãos de Amarante, Marco de Canaveses, Baião, Cinfães, Resende e outros municípios do interior possam dispor de ligações rápidas e a horas convenientes para o Porto e demais aglomerados urbanos.
Neste percurso, os dois principais partidos de poder em Portugal não estão inocentes. Por isso, foi deprimente assistir à estafada troca de argumentos entre os dois lados da barricada esta semana na Assembleia da República. Os presidentes das Câmaras Municipais de Amarante, Baião e Marco de Canaveses já anunciaram a sua presença na manifestação agendada para amanhã à tarde, na estação de comboios de Marco de Canaveses, e deputados dos dois partidos já anunciaram o mesmo. Mas convém que saibam que as populações estão fartas de palavras e querem actos concretos de quem exerce o poder e não proclamações para eleitor ouvir.
Fui durante anos um grande utilizador da linha do Douro e compreendo bem que os jovens marcoenses se batam pelo reforço da linha ferroviária, de que dependem para chegar à universidade e aos seus empregos. Infelizmente, a sociedade foi empurrando as populações para o transporte rodoviário e, durante muitos anos, tudo contribuiu para que o serviço ferroviário definhasse. Hoje, as circunstâncias económicas mudaram e volta a ser determinante ter uma oferta de comboios à altura das necessidades.
Creio, no entanto, que a verdadeira motivação da CP pode estar naquilo que Armindo Abreu, presidente da Câmara de Amarante, denunciou: a desarticulação do serviço da linha do Douro provocará uma diminuição da procura de passageiros e acabará por justificar a supressão de ligações ao Porto. Tudo (aparentemente) fácil…