a varapau 19
A nova teoria do golpe de Estado
( variações semânticas e não só)
A senhora deputada Catarina Martins deve pensar que nasceu para ser uma reencarnação de Dolores Ibarruri, vulgarmente conhecida como Pasionaria.
Faltam-lhe porém a circunstância e o modo. E a origem de classe que, diga Gramsci o que disser, tem a sua importância. Catarina, apesar do nome, não é ceifeira, não nasceu na ditadura, vem da burguesia média e educada, e anda perdida num Portugal semi post-moderno. Já é azar!
É actualmente porta voz de um agrupamento que se tem vindo a dessangrar em abandonos, zangas, exclusões e outras coisas do mesmo teor e substância que geralmente ocorrem nestas frentes imperfeitas de radicalismos juvenis.
Foi, domesticamente, uma das mais acirradas defensoras do que ela (tomando a nuvem por Juno, e presumindo-se pitonisa) entendeu ser uma “revolução” grega. E, mesmo que não deva ter lido Lenine, lá terá entendido que “uma centelha pode incendiar toda a pradaria”. Nem sempre, nem na maioria das vezes, melhor dizendo quase nunca.
Com o Syriza no poder, os ameaços do “Podemos”, a melancólica solidão do sr Melenchon em França e umas já quase esquecidas manifestações de indignados, aqui e ali, eis que a referida catequista de esquerda, depois de ir em peregrinação à Grécia, regressou exaltada e ungida pelos apóstolos helénicos pregar a “boa nova” entre os indígenas do cantinho lusitano.
Quando ocorreu o “referendo”, foi vê-la qual liberdade guiando o povo, exaltada e fervorosa a declinar todos os casos que eventualmente poderiam cair sobre uma Elefteria de que provavelmente desconhece tudo como também provavelmente desconhecerá tudo da atormentada Hélade antiga e da cópia em calão em que se transformou a actual.
Hoje, ao saber do dramático acordo que Tsipras assinou de cruz veio às televisões perorar sobre o triunfo de um “golpe de Estado” (sic) que teria torpedeado o Syriza, e já agora os gregos.
Conviria explicar à mimosa criatura que os golpes de Estado são sempre obra de uma minoria contra extensas maiorias. Ora, o que na “Europa” ocorreu foi um acordo entre 18 países e um décimo nono que ainda há quinze dias poderia ter assinado um documento cem vezes menos gravoso do que este que terá de levar ao parlamento. Aquilo que há 15 dias era uma humilhação é hoje pontapé no cu desdenhoso que Tsipras leva.
Foram amigos destes que terão convencido o cavalheiro grego que conseguiria em nome do seu povo, da sua antiquíssima democracia (outro engano que prova que nem sequer a História da Grécia clássica ou até somente a de Atenas foi lida com atenção) obrigar os seus credores a voltar a emprestar-lhe dinheiro. Foi a inconsciência das Catarinas e dos Danieis portugueses (e não só) que eventualmente encantou o cavalheiro que se tomou por Aquiles (manifestamente um bruto invencível que morreu pelo pé) ou até (ó escândalo) por Ulisses, o astuto. Tsipras é apenas Tsipras, os cidadãos gregos parece que preferem o euro mesmo com incomensurável sacrifício e a situaçãoo que era má em Janeiro, horrível em Junho vai ser medonha na próxima quarta feira, dia em que o parlamento irá (ou não) votar o “diktat” dos 18.
Catarina, sonha com revoluções, pensa que é uma revolucionaria prestes a conquistar o Palácio de Inverno ou a Cidade Proibida, mas não passa de uma senhorinha perdida num mundo globalizado em que não bastam as proclamações ruidosas e grandiloquentes.
Não ganha na Grécia e, julgo, nunca ganhará em Portugal. Neste, de 2015. No outro com que eventualmente sonha, o da Resistência, não duraria (caso entendesse combater o Estado Novo) três dias.
A Revolução não é para os entusiasmos de quem não consegue perceber a realidade exterior.
d'Oliveira fecit 13.07-15
(na estampa: golpe dos coroneis)