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Incursões

Instância de Retemperação.

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Passos Coelho e o desemprego "bom"

José Carlos Pereira, 13.05.12

O primeiro-ministro, Passos Coelho, continua a surpreender-nos com algumas tiradas impensáveis, nomeadamente sobre a nossa economia e o desemprego, que cresce para números inéditos. Há alguns meses encorajou à emigração e à busca de oportunidades fora do país aqueles que se viam sem emprego, dirigindo-se em concreto aos professores sem colocação em Portugal. Mostrou nessa altura uma total insensibilidade para os problemas das pessoas desempregadas, além de um completo desconhecimento dos requisitos e das necessidades dos países de língua portuguesa.

Agora, Passos Coelho resolveu ver no desemprego uma oportunidade para mudar de vida, dizendo que estar desempregado não pode ser visto como uma coisa negativa. Custa perceber o alcance de tais declarações no momento em que tantos portugueses vivem mal, com sérias dificuldades e em que todos os dias centenas ou milhares de pessoas são lançadas no desemprego.

Por muito que se tente dar uma interpretação benévola às sua palavras, o mínimo que se pode dizer, como o fez Marcelo Rebelo de Sousa, é que tais declarações são desequilibradas, sem atenderem ao que se passa no país real e ao que sentem as pessoas que, com maior ou menor idade, se vêem sem emprego numa economia em que escasseiam as oportunidades para encetar novas carreiras profissionais. António José Seguro, com toda a razão, diz que Passos Coelho mostra estar ausente da realidade e não compreende o drama dos desempregados. Aliás, os próprios dirigentes da juventude do Partido Popular Europeu, a que pertencem PSD e CDS, reunidos em Lisboa, foram unânimes em distanciar-se destas infelizes declarações de Passos Coelho.

Muitos criticam a frágil estratégia de comunicação do Governo, querendo ver aí a razão para estes "tiros no pé" e para outros desencontros verbais entre membros do Governo. Contudo, creio bem que estas afirmações, além de revelarem a débil espessura do primeiro-ministro, evidenciam que o seu pensamento liberal marca o passo da governação - para si, os desempregados não passam de vítimas necessárias para o ajustamento das empresas, ou do próprio Estado, às exigências do sacrossanto mercado.