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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

diário político 263

d'oliveira, 28.11.22

“de minibus...”

d'Oliveira fecit aos 28 dias de Novembro do ano da graça de 2022

“De minibus non curat praetor”, é uma velha expressão latina que, às tantas foi inventada pelos juristas renascentistas. De todo o modo, usa-se (pi usava-se) muito para significar que quem julga ou quem governa não se deve deixar enredar por coisas menores. 

Ora, este que estas traça não tem por hábito comentar essa luminária de quinta categoria que dá por Ventura  e é o conducator (em caricatura) de um partido que a sndice da Esquerda e o descalabro da Direita permitiram implantar-se de modo significativo no tecido político partidário.

Note-se que, ao contrário de umas criaturinhas que nem a constituição souberam ler, eu não quero proibir o partido em causa. Apenas, e só em casos excepcionais tecer um breve comentário sobre as suas posições que, genericamente, parecem aberrantes. 

Ora dobre a data do 25 de Novembro de 75, o sr Ventura bolsou um par de considerações  (as que se esperariam da parte de alguém que não percebeu o sentido daquela acção militar) que não coincidindo com as baboseiras de uma Esquerda doentiamente infantil  acaba por ter efeitos contrários aos que eventualmente terão sido queridos. 

Mas nem sequer disso venho falar. Apenas apanho um par de frases da criatura para lembrar que o seu discurso parece (ou é)  ou pretende ser um embuste. E isso porque a acreditar no que foi dito, o sr Ventura, e boa parte da sua clientela teriam estado presentes na ocasião, Eu lembraria que, pelos dados que recolhi na internet esta pequena amostra de chefe da Direita, mal traduzido e em calão do francês, não existia por volta de75. Aliás só terá nascido em 83, ou seja oito anos depois, com a Democracia consolidada e a despir-se das últimas tontices que lhe vinham do PREC (também ele, igualmente, traduzido em calão do famoso processo soviético mas com passagem pela peneira latino americana o que duplamente descaracterizava a revolução de Outubro. 

Este quase quarentão Ventura foi em seu tempo um medíocre comentador televisivo de futebol. Depois transportou a sua mediocridade para o campo da política autárquica (por erro grosseiro do partido que o alistou)  e acabou numa coisa chamada Chega que se alimenta do mais rançoso que a saudade do autoritário Salazar permite. 

Em todos os países democráticos há várias opções políticas e é tão legítima a existência de uma esquerda extra parlamentar ao lado de outra mais institucional e em estado terminal como de várias direitas igualmente presunçosas e radicais e que se alimentam exactamente da mesma gamela conflitual que a ultra Direita também cata. 

O que perturba momentaneamente o cidadão mais atento é este discurso pobre, patético e sobretudo baseado no não vivido. 

Alguém mais idoso, mais culto (o que não parece ser difícil ) e mais experiente lá lhe terá soprado duas toleimas sobre o 25 de Novembro e ele, zás!. Lançou-se sem sequer perceber que já nem a memória do 25 de Novembro suscita o mesmo alarido compungido que, em tempos felizmente distantes permitia. À distancia de quarenta etal anos a coisa fica como uma vaga correcção de percurso que, convenhamos, arrastava o país e a Democracia e a Liberdade para inconfessáveis sargetas políticas. 

De resto grande parte dos seus actores também já por cá não anda e é ténue, muito ténue, a recordação dos mais activos elementos vencidos nesse inócuo prélio militar sem sangue nem violência. 

diário político 262

d'oliveira, 01.09.22

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A liberdade mata as ditaduras

d’Oliveira fecit em 31 de Agosto

 

A morte de Mikahil Gorbatchov levanta de novo uma interessante questão: o regime comunista é inexoravelmente diluído pela liberdade. Decompõe-se, desaparece, deixa um vazio perturbador.

Os pressupostos em que assentou o “poder dos sovietes” ( e é bom lembrar que estes duraram muito pouco tempo, pelo menos na sua primitiva e revolucionaria forma tendo sido substituídos por organismos com o mesmo nome mas sem a mesma e libertária substância) foram sol de pouca dura. Os bolcheviques (isto é a famosa maioria chefiadapor Leniin), depois da tomada violenta do poder, imediatamente subordinaram as direcções de todos os novos órgãos revolucionários aos diktats do PC(b) russo e organizaram todos os partidos “irmãos” segunda as rígidas regras da IIIª Internacional.

A revolução mundial não aconteceu, a teoria sagrada que mandava a revolução ocorrer num país avançado (Marx referia a Alemanha, a Inglaterra ou os Estados Unidos da América) com um proletariado industrial numeroso, bem organizado em sindicatos fortes e com um partido experiente em todas as frentes incluindo a parlamentar.

Nada disto ocorreu na Rússia e a revolução passou muito pelos milhões de  soldados e marinheiros mobilizados e cansados de uma guerra que dizimava regimentos inteiros, aliás mal comandados. Foram os slogans do fim imediato da guerra  e da terra quem a trabalhaque galvanizaram os incipientes ”proletariados” citadinos e camponeses. Aliás, só os primeiros poderiam vagamente apelidar-se de proletários. O resto, a imensa massa de camponeses chamados às armas  não se concebia como um corpo organizado nem tinha uma ideia nacional global da pátria russa que defendiam. A Igreja e o trono  eram, eventualmente, os únicos pilares em que acreditavam.

Em 1917, multidões imensas de soldados, fartos da guerra, esfomeados, revoltaram-se. Queriam regressar as suas terras, às suas famílias, aos seus pequenos troços de terra. E não queriam morrer nem ser carne para canhão.

A ideia de continuar a lutar por uma Rússia sem imperador  não lhes suscitava qualquer entusiasmo.

Isso foi bem compreendido por Lenin, e a “revolução” de Outubro  (feita aliás contra uma parte dos mais fieis bolcheviques)  triunfou na rua. O poder esboroou-se no caos que, dia a dia, aumentava. Um punhado de tropas fieis aos bolcheviques (com os marinheiros de Kronstad em evidência) tomou o poder, destituiu todas as autoridades saídas da primeira revolução, desapossou os sindicatos que se opunham, eliminou a direcção dos sovietes e graças à disciplina dos seus primeiros núcleos venceu toda a espécie de adversários que também nunca se entenderam entre eles. Os enormes contingentes mobilizados no campo  sabiam que lutavam contra os antigos opressores e isso lhes bastava. A inteligentsia citadina desprezava e odiava a anterior elite política, a multidão de aristocratas que cercavam o imperador e tinham entrado imprudentemente numa guerra para a qual não estavam preparados moral e militarmente.

Os recém criados partidos políticos burgueses ou evolucionários foram rapidamente aniquilados. Uns por terem tomado o partido da contra-revolução, outros por não aceitarem o bolchevismo, a disciplina pesada boldhevique e tudo o que posteriormente se chamou centralismo democrático.

Anarquistas e socialistas revolucionários foram impiedosamente perseguidos por Lenin que nunca foi meigo com adversários (e que viria a ser alvo e vítima de um atentado vindo dessa massa de radicais perseguidos).

O partido bolchevique que mais tarde se tornará PCUS temperou-se nessa luta incerta, venceu-a graças à disciplina interna, expurgou continuamente quaisquer  dissidentes, não permitiu fracções nem mesmo vagas opiniões divergentes. Com a morte de Lenin e a ascensão  de Stalin, a direcção do PCUS foi sendo metodicamente laminada. Durou anos (1924 1936) mas finalmente o partido que saiu do fim dos processos de Moscovo era algo de profundamente diferente do inicial partido leninista. Tirando Stalin e dois ou três sobreviventes, todos os restantes dirigentes comunistas pereceram por fuzilamento, desapareceram nas prisões e nos campos da Sibéria. Eles, as famílias, os amigos e seguidores ! um massacre de milhões. Se Lnin fora, apesar de tudo, um fore primum inter pares, Stalin acabou com o mito da direcção colectiva e governou sozinho. E isso tornou-se a marca dos novos partidos comunistas, incluindo todos os europeus (que de resto tiveram durante todo o tempo do Komintern uma direcção bicéfala, a publica e nacional e a dos enviados de Moscovo, revolucionários profissionais que dirigiam na sombra, vigiavam a ortodoxia e só obedeciam ao “centro)”

De resto, da revolução mundial, passara-se à teoria duvidosamente marxista da defesa do  socialismo num só país e à defesa desse mesmo país, no caso a URSS.  E esse estado de coisas não acabou com a morte de Stalin antes continuou praticamente intacto até às grandes convulsões no movimento comunista mundial .

A ditadura do proletariado foi na prática a ditadura do PCUS na URSS e a ditadura da URSS no bloco socialista.

Por cá a mesmíssima URSS era “o sol na terra” expressão atribuída a Cunhal mas repetida nos grandes momentos do PREC.

Fácil é de perceber que toda esta amálgama de ideias criadas ao longo de cinquenta anos  isolava crescentemente os órgãos de poder soviéticos, criava uma nomenclatura aparelhística,  educada na obediência absoluta ao dogma do centralismo democrático que mais não era do que as decisões dé cima enviadas para baixo, tudo no mesmo corpo de funcionários escolhidos não pela competência mas sim pela fidelidade ao ideário aprendido nas escolas de formação desde o Komsomol até às Universidades. Nmu universo destes, em que não há confronto de opiniões, liberdade crítica , o conformismo instala-se, expulsa os espíritos mais independentes, isola-os, priva-os de liberdade e de emprego caso não os envie para o arquipélago GULAG.

Nos anos 60 já a URSS é vermelha por fora e seca por dentro. A competição com os EUA só tem força no que toca ao armamento. A população soviética (e a dos países do Pacto de Varsóvia) vive mal, há dificuldades de abastecimento de todo o género de bens de consumo, a opinião pública é formada por um núcleo de meios de comunicação absolutamente uniforme  que preserva o regime mas o apodrece por dentro.

Ora foi isto, esta evidência de um mundo autista que Gorbachov, ele próprio criado dentro do sistema, percebeu. Foi contra isto que terá tentado lutar.

Sem, porém, entender que um mísero raio de liberdade poria tudo de pantanas. Como aconteceu. Bastou a ideia de glasnost para fazer desemperrar as línguas. Bastou a perestroika para evidenciar o desastre económico, industrial, financeiro. 

É bom lembrar que, no resto do mundo, o movimento comunista já não era aquela mole uniforme , disciplinada, obediente aos ukases do Kremlin. No Oriente, a China atacava a ortodoxia rusa numa perspectiva “revolucinária# e aventureira. E tinha seguidores em toda a parte. No Ocidente, a Jugoslávia há muito que se desprendera do bloco  pró-soviético, a Albânia rezava por uma cartilha ainda mais maoísta que a maoísta, e os grandes partidos ocidentais (francês, italiano e o emblemático espanhol) apostavam tudo, mesmo que a diferentes velocidades, no euro-comunismo.

As crises de Berlin, em 1951, da Hungria, 1956,  da Checoslováquia (a primavera de Praga, 1968) e o despontar do Solidarnosc na Polónia  provavam à evidência quão periclitante era o poder da ideologia que, para se manter, recorria cada vez mais à repressão desenfreada, as poderosas polícias políticas nacionais mas não estancava nem as deserções nem a crescente hostilidade da população.

Este era o panoramsas. Já nada parec,ia poder salvar o sistema quê subsistia apenas e só, graças à repressão. Neste ponto de vista a URSS vivia um período de falta de futuro idêntico ao que se viveu nos anos 70 em Portugal.

O navio estava a naufragar e só não ia ao fundo por ser demasiado grande.

Gorbachov percebeu perfeitamente isto mas enganou-se ao pensar que um pequeno e tímido regresso às míticas origens de 1917 poderia resolver o problema. Não podia, como se viu. E. Aliá, a hostilidade do aparrelho, da nomenclatura, do ortoxia mais vesga fizeram o resto. A triste intentona de Moscovo co a consequente prisão do Secretário Geral numa praia, suscitou um contra golpe popular que fazia lembrar Praga com as populações acercar os tanques dos golpistas. E Yeltsin fez o resto, coisa qu muitos, quase todos, fingem esquecer ou ignorar.

Gorbatchov era um homem só no dia em que regressou à capital e A URSS tinha-se evaporado mesmo se ainda demorou tempo a espernear.

 

(este texto estava terminado quando, sem qualquer  surpresa, soube da nota do PCP . Convenhamos que o “p” final é mais putinista que português. O PCP faz-se de tonto ou então não percebeu nada, coisa que não é de todo improvável.

Chora pelo fim de um país artificial que durante cinquenta anos foi uma espécie de berçário para os militantes portugueses. Foi também o farol, farol autoritário, dos mesmos. E por mais juras de amor à pátria, é verdade que a URSS enchia de orgulho o coração dos escasso número de militantes do interior que com enorme coragem e imensa fé lutavam contra a ditadura. Niso convém dizer que os comunistas não foram os únicos nem os mais numerosos combatentes contra o Estado Novo. Mas foram, sem dúvida, os mais disciplinados, quase sempre os mais eficazes, e seguramente os mais odiosamente perseguidos. E por isso , enquanto a URSS ia para a fossa comum, o PCP conseguia durante algum tempo manter a sua unidade e coesão, expurgando de quando em quando mais um grupo de militantes mas guardando a severa ortodoxia que o caracterizava (e caracteriza). Nunca embarcou nas novidades do euro-comunismo, nunca perdeu a sua identidade original. Porém, os tempos, o tempo, o mundo mudaram e agora, também ele, PCP se vê duramente reduzido em militantes, importância política, controlo de câmaras e deputados. Basta confrontar os últimos 10  ou 15 resultados eleitorais  para ver a curva descendente que, sem apelo nem agravo, se acentua.

A nota emitida sobre Gorbatchov não poderia ser outra mas é também a manifestação do autismo que o caracteriza. Paz à sua alma!

Gorbatchov vai sobreviver-lhe! 

diário Político 233

d'oliveira, 21.04.22

A”ajuda”

d’Oliveira fecit, 20 de Abril de 2022

 

O cavalheiro da gravata vermelha, de seu nome Jean Luc Mélenchon  apela aos seus votantes para “não darem um único voto que seja.  à sr.ª Le Pen” (sic).

Também terá dito “não se abstenham” (cfr “Público” 20-4-2022). 

Convenhamos que isto, este súbito e tardio despertar para parte  (só parte) da realidade  é melhor do que nada.

Porém, mesmo as duas frases juntas não dizem “votem Macron” que além da Le Pen é o único candidato em liça. 

Candidato democrático, ninguém se atreve a pôr isso em questão, com uma governação que teve bons resultados económicos, de política internacional e claramente aumentou o prestígio da França, parece que Macron tem a tarefa mais facilitada. 

Ora, apesar de tudo, isto não significa que os rapazes e raparigas que ainda há dias invadiram a Sorbonne e a pixaram de frases e tags tontos,  não resolvam no segredo do “isoloir” votar no capitão Marvel ou pretinho da Banania, se é que tal criatura ainda povoa o universo publicitário francês. 

O jornal afirma que Mélenchon é a “única grande figura da Esquerda francesa” o que diz muito, senão tudo sobre a ruína da mesma Esquerda e sobre a confusão ideológica que por lá prospera.

Eu lembraria, caso o sr Jerónimo de Sousa permita, o dr. Álvaro Cunhal durante o duelo Soares/ Freitas do Amaral na eleição para a Presidência da República. 

Cunhal não gostava de Soares que lhe retribuía a mesma falta de carinho. No entanto, naquele caso, e numa eleição que não tem a mesma importância da francesa, o velho dirigente comunista nem hesitou e afirmou a todos os seus camaradas que se fosse preciso engolir um elefante (ou um sapo, já não recordo) que o engolissem, votando de olhos fechados e lavando depois a mão pecadora com muito álcool etílico,   em Mário Soares.

É isto que distingue uma grande figura de Esquerda (o caso portuguesa) daquela caricatura francesa. 

Pena é que a lição do “intransigente”  Cunhal tenha sido esquecida tão depressa. Se o não tivesse sido, o PC talvez não tivesse averbado uma tão estrondosa derrota nas últimas eleições e talvez não estivesse tão entalado como está no que diz respeito à sessão da AR com Zelensky. 

É porém sabido que às águias sucedem muitas vezes perus que tentam voar como se fossem pavões... e dão com a cabeça no cão como qualquer vulgar galinha pedrês.  

diário político 260

d'oliveira, 31.03.22

Quem te avisa...

d'Oliveira fecit , 31-03-22

 

Decorreu ontem a cerimónia da tomada de posse do Governo. Longa e chata como de costume. Muita gente qie ninguém quer faltar ao beija mão ministerial . aos beijinhos, abraços e restantes cumprimentos. Em Portugal é assim: todos empertigadamente solene, veneradores e obrigados. 

Depois há os discursos.

Sempre longos, sibilinos e sujeitos a intensa análise e escrutínio. Desta vez, o PR avisou que os mandatos são de quatro anos. Isto, porque à cautela, lá foi prevenindo que uma ida para a Europa,  como foi o caso de Durão Barroso, obrigaria a eleições. Em boa verdade, o PR apenas aplicou uma longínqua proposta do PS que Sampaio, mal, não ouviu. 

Por isso tivemos um governo Santana Lopes que foi derrubado por uma frase de Cavaco (“a má moeda afasta a boa”) mais do ue por qualquer outra razão. Os leitores talvez já não se lembrem mas Ferro Rodrigues, na altura secretário geral do PS demitiu-se em protesto à solução arranjada por Sampaio. Diz-se que este queria provar ao mundo a incapacidadede Santana ser melhor do que parecia. Lá provar provou mas quem amargou com aquele governo trambolhofomos nós os paisanos. Se as coisas tivessem corrido com Ferro queria talvez se tivesse adiado ou abandonado a solução Sócrates que, no caso em apreço foi pior do que acicuta. 

Desta feita, o aviso veio a tempo e cristalino: o mandato é para cumprir. Tanto mais que com maioria absoluta só a falta de imaginação é que pode tramar o novo Governo. 

Portanto um governo pronto a consumir. Tudo a favor, para já. A começar pelos mundos efundos do PRR e a acabar na incapacidade de a oposiçãoo se impor. Ainda porcima são duas, três ou mais as oposições. Alguém vê o PC aliado ao PSD contra Costa. Ou os  dois mais o BE e a IL todos juntos a votar melodramaticamente algum desde logo perdida moção de confiança?

Em poucas palavras : há dinheiro, há tempo há um país à espera, quase não há oposição credível e, muito menos, eficaz. 

Que se pode pedir mais?

A resposta matreira é fácil: competência! É preciso competência. 

Ainda é cedo para se começar a medir esta mas conviria reparar que na composição do Governo há um parde situações esquisitas: O Ministério dos Negócios Estrangeiro  está manco dos “Assuntos europeus”!!!

O inventor do PRR não é o responsável pela sua aplicação. 

Até nova ordem o Orçamento é o que foi reprovado mas o seu autor desapareceu do mapa. O mesmo sucedeu ao ex ministro da economia, um sólido e competente (para variar) amigo de Costa

Entre os ministros que continuam temos o delegado geral da falida TAP, aquela senhora da Agricultura que queria vender qualquer coisinha à China e a srª Temido que, pelos vistos, é incontornável na Saúde.

Costa, no seu discurso, afirmou que este Ministério não tem sequer o privilégiode umpar de meses em “estado de graça”. Está enganado. Tem-no sim senhor e muitos de nós estamos dispostos a esperar o tempo necessário para ver os ministros novos ou em novos ministérios perceberem como as coisas estão.

Se algo se provou com este longo interregno político é que as coisas lá foram andando sem especiais percalços mesmo com os ministros com poderes diminuídos e  o parlamento à meia luz. E a pandeia ainda chateava, a guerra acendia-se os preços das matérias primas ameaçavam subir. A vida continuou, graças eventualmente, ao conhecido bom senso do povo português que provou ser capaz de se mexer sem ser aguilhoado pela estridência da rua, pela facúndia discursiva e pela conspirata dos aparelhos políticos. Nem sequer os que costumam engrossar a voz, a engrossaram demasiadamente. Ou porque não quiseram, não puderam ou porque, de facto, já não lhes reste força suficiente para alanzoar ameaças

Só o clima se mostrou contrário: no choveu coisa  que se visse, é provável que  a seca seja violenta mas já há quem garanta que não faltará água para os campos de golfe, instrumentos incomparáveis para o dinamismo turístico..

“Eles” lá sabem....

diário político 259

d'oliveira, 17.03.22

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O rapaz e o lobo mau

ou o cerco contínuo

ou a cassete do costume

d’Oliveira fecit nos idos de Março

 

O partido comunista português herdou todos os defeitos dos seus semelhantes ocidentais (e já falecidos) sem, porém receber, como contrapeso, o que estes tinham de bom, ou de menos mau.

O PCP vê-se a si próprio como uma eterna vítima. Há cem anos que se considera como mísero e mesquinho, ameaçado por todos, encurralado, cercado, defendendo-se heroicamente do imperialismo, do capitalismo, dos monopólios, da burguesia, dos traidores, dos falsos amigos, da chuva, da seca da imprensa ao serviço de obscuros interesses, eu sei lá do que mais.

Tudo isto tem uma história, obviamente. A revolução russa (a boa, claro, a segunda, a chamada de Outubro mesmo que realmente tenha ocorrido em Novembro, pois a anterior não foi mais do qe um ensaio, com os seus mortos, os seus sindicatos, os seus sovietes, a Duma pluripartidária.

Portanto, a tomada do palácio de Inverno defendido por um pobre grupo de mulheres, o congresso interrompido dos sindicatos, a substituição dos sovietes pluripartidários por algo com o mesmo nome e completamente diferente. A guerra civil que se seguiu entre as tropas de Trotsky e os generais brancos, as intervenções canhestras de um par de corpos militares estrangeiros, mesmo não tendo sido um passeio foi seguramente mais do que a contenda entre dois bandos. A sacrificada população russa, os mujiques, a intelectualidade antes perseguida (e depois também, anote-se) os operários em armas foram obrigados a escolher. E preferiram o que lhes parecia ser o futuro, algo de novo contra as estruturas da autocracia dos Romanov apoiadas pela aristocracia proprietária das terras e a recente burguesia urbana quese dividiu entre vermelhos e brancos.

Quem porventura for ler o famoso panfleto “os dez dias que abalaram o mundo” de John Reed, um jornalista americano, sepultado na Praça Vermelha. Reed não era, ele próprio sempre o declarou, uma testemunha imparcial, bem pelo contrário. Era um activista de sempre, com um passado de lutas sociais e de guerras (a do México, por exemplo ) incansável propagandista do socialismo e, mais tarde, do comunismo. Todavia, a sua incansável curiosidade fê-lo testemunhar (maravilhado) boa parte, senão a principal parte dos acontecimentos de Petrogrado e da tomada do poder por Lenin.   Ler este livro é imperioso porque depois confronando-o com as centenas ou melhares de obras sobre a “Revolução de Outubro” percebe-se  o percurso de uma tomada do poder que ficaria como modelo. Claro que onde Reed vê sindicatos contra-revolucionários agora percebe-se que estes apenas se tentavam defender do controlo dos bolcheviques que aliás eram minoritários. Onde Reed vê a consagração dos sovietes agora percebe-se como eles foram dessangrados  tornados simples partes de um aparelho tentacular (basta lembrar o mote dos marinheiros de Kronstadt a favor da reanimação dos sovietes e das eleições livres dentro deles). E por aí fora.

Vem desta altura , época da guerra civil e do “comunismo de guerra, das intervenções estrangeiras, das manifestações gigantesas nas grandes cidades contra o poder recente, da proibição dos partidos anarquista e socialista revolucionário, da prisão de dezenas de milhares de opositores mencheviques, bolcheviques e outros militantes de Esquerda, a teoria do cerco imperialista ao jovem Estado. A revolução mundial tinha falhado em toda a linha, o seu triunfo na Russia era, segundo a ortodoxia marxista, uma espécie de “fenómeno do Entroncamento” tanto era visível a “falta de preparação das massas”, a ausência de um proletariado organizados como no Ocidente, a oposição clara de uma grande parte dos dirigentes da 2ª  Internacional ( e mesmo a menos visível dos antigos aliados de Lenin, sobretudo de Rosa Luxemburgo). É aqui que começa a teoria do cerco, do isolamento, da construção do socialismo num só país, da obrigatoriedade de defesa a outrance da pátria do comunismo imposta expressamente à novel 3ª Internacional que reunia os novos partidos comunistas, os dirigia graças aos enviados do Komintern (que eram a verdadeira direcção secreta destes partidos).

É esta sentida sensação de solidão revolucionária que alimenta entre outras a medonha teoria da “classe contra classe” que na Alemanha teve a sua mais dramática expressão. Enquanto os nazis subiam nas sondagens o pc alemão considerava o partido socialista o seu principal e pior adversário.  

Depois, já tarde e a más horas, apareceram as frentes populares, as tentativas de federar a Esquerda e a guerra que começou por ser declarada uma contenda entre imperialismos e só mais tarde, dois anos depois, graças à invaão da URSS se tornou uma guerra contra o fascismo, aliando Reino Unido, Estados Unidos e URSS. Esta aliança durou enquanto durou a guerra mas, depois da vitória, como disse Churchil, “entre Stettin no Báltico e Triesteno Adriático caiu uma cortina de ferro” ao mesmo tempo que se instalava, duradoura, a guerra fria.

Os poderosos partidos comunistas da França e da Itália tiveram importantes votações mas nunca as suficientes para conquistar o poder o, mesmo, entrar no arco de governação. Competiam com outros partidos que estavam legitimados pela Resistência em qualquer dos dois países. Na Alemanha, graças à mão férrea e ocupante da URSS, na zona oriental estabeleceu-se um governo “democrático” dirigido por um alegado “partido socialista unificado” que, na realidade escondia o antigo partido comunista e uma pequeníssima franja de alegados socialistas forçados à “unificação”.

Em Espanha, o pc que varrera da cena política os trotskistas do POUM e os anarquistas da FAI tornou-se o arauto da resistência a Franco e o mais importante polo aglutinador da oposição democrática a Franco. Em concorrência com ele o PSOE manteve uma pequena presença sobretudo entre os exilados e, mais tarde, foi ganhando adeptos no “interior” mesmo que a luta anti-franquista se revestisse mais das resistências nacionalistas (País Basco e Catalunha, muito menos a da Galiza mantida viva na América Laina). 

Em Portugal, a falência da 1ª República deixou um rasto de divisões na oposição dita democrática que provavelmente esteve na origem dos sucessivos falhanços “revolucionários “ contra o Estado Novo. O pc não teve actuação especialmente visível até às vésperas da guerra. Posteriormente, foi ganhando importância na luta operária  masnunca foi um partido de massas justamente porque a clandestinidade forçada e prudente em que vivia o não permitia. Há, porém, que reconhecer que a partir de 45 (MUD) até a Abril de 74 foi o eixo mais dinâmico da oposição. É verdade que esta conseguiu sempre (e sobretudo com Humberto Delgado) parecer visível pelo menos em períodos eleitorais mas o pc e a sua estricta e disciplinada organização eram muito mais atraentes pelo menos para os grupos mais disponíveis para se manifestarem contra o regime. A partir de meados dos anos 60, o pc viu surgir à sua esquerda diferentes mas pequenos grupos esquerdistas que no capítulo estudantil o tentavam e muitas vezes conseguiam suplanta-lo. .Juntamente com estes começaram a aparecer militantes católicos e, já nos anos 70, os socialistas ressurgiram  com a criação do PS.  Ants dessa altura, os seus militantes confundiam-se com a “oposição democrática e republicana”

De todo o modo, e voltando ao exemplo soviético (agora curiosamente ressuscitado por Putin que acaba de fazer o elogio do “antes só que mal acompanhado” para caracterizar como traidores os opositores e os novos exilados que, segundo as suas palavras a Rússia “cospe” para o exterior, engrandecendo-se assim, mais pura e forte) a propaganda comunista sempre exaltou a ficção do cerco que tentava destruir a revolução, o partido e a pátria. Durante toda a sua história, a URSS, o PCUs, os países satélites e os respectivos partidos, sempre recorreram aos expurgos, violentos onde era possível, ou denunciados pejorativamente quando o sistema não permitia solução mais radical.

O leit-motiv era sempre o mesmo. O Partido estava rodeado de inimigos, defendia-se corajosamente, pirgava-se com inusitada frequência para mesmo mais magro ressurgir mais forte. Quem não estava com ele era, no mínimo anti-comunista (primário se possível). Há todo um catálogo de expressões furibundas contra críticos, dissidentes ou desviantes que valeria a pena elencar como um pequeno dicionário do frenesi partidário.

Claro que qualquer opção política, qualquer acção “inconveniente”, qualquer opinião que fugisse à norma era sempre rotulada de anti-comunismo.

Em Portugal, o PC usou e abusou (aliás usa e abusa) esta acusação. A pontos de se ter estabelecido, em franjas intelectuais a expressão anti-comunismo “primário, secundário e universitário” para dar ênfase à caricatura.

Neste momento, passada a geringonça (de que o PC foi o impulsionador) volta a vaga de alusões ao anti comunismo que grassa em toda a parte e tenta perturbar a triunfante marcha do socialismo (na versal pc) para os amanhãs que cantam.

É bem verdade que o profundo e doloroso sentimento de orfandade nascido com a implosão da URSS, a queda constante de votos e mandatos autárquicos ou legislativos, que o partido regista desde há largos anos, a solidão gigantesca a que foi condenado a propósito da invasão da Ucrânia, dão azo a que os dirigentes do pcp renovem as suas acusações, a sua lamentação, a injustiça de que se sentem vítimas.

Há um velho dito que reza assim: quando o dedo aponta a lua, o tolo só olha para o dedo.

No caso concreto, o pc não vê os tanques, as bombas, os três milhões de  refugiados, os mortos nas ruas, os aviões em voo picado contra populações indefesas. Nada disso. Vê, não se sabe com que óculos, a NATO, a Europa e os Estados Unidos, em permanente conspiração contra a paz (dele, pc), vê batalhões de nazis ucranianos  a invadir a ex-pátria da revolução onde um fantasmático partido comunista totalmente controlado por Putin que o deixa vegetar veio propor o reconhecimento da independência dos cantões sublevados do leste ucraniano. E com isso legitimar as operações especiais  muito ao jeito de outras mais ou menos sangrentas em que o glorioso Exército Vermelho se meteu na Checoslováquia, na Hungria ou no Afeganistão. Era bem lembrar que, nestes três casos, o pc português não tugiu nem mugiu ou, melhor dizendo, acatou, aceitou, porventura aplaudiu a fraterna intervenção contra uns desmiolados nacionalistas burgueses e óbvios anti-comunistas.

Pelo andar da carruagem vamos ter um tsunami (ou vários) anti-comunista nos tempos mais próximos. Pelo menos aos olhos do pc...

*na vinheta: Nem trotsky (parece-me ele) escapou à acusação.

diário político 258

d'oliveira, 12.03.22

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Desnazificação, dizem eles...

d’Oliveira, fecit 12 de Março de 2022

 

 

A Rússia, pela autorizada voz de Putin, afirmou que um dos objectivos da “operação especial” (!!!) era desnazificar a Ucrânia agressora.

É bom lembrar que, em termos de partido da extrema direita, há apenas um deputado no parlamento ucraniano. Bem menos do que a idêntica representação de partidos extremistas de direita na Duma. Ironias da nova história  sicut Putin e seus epígonos portugueses que os há e nos mais insuspitos lugares, desde um académico coimbrão até comentadores pacifistas cujos nomes não se revelam por mera medida de higiene.

Como essa gentinha não conhece ou finge desconhecer a História é bom regressar aos anos 1939-1941, época de guerra na Europa em que a Alemanha nazi e a URSS viviam uma lua de mel perfeita, à custa da Polónia, dos países bálticos da Roménia e da Finlândia.

O pacto germano-soviético que foi celebrado até por Stalin que veio beber `saúde de Hitler,deu à Alemanha a oportunidade de não ter de se preocupar com a fronteira leste de onde, de resto, lhe chegaram abastecimentos de toda a espécie em quantidades enormes.

Foi essa garantia russa de não alinhar com os Aliados  que permitiu aos exércitos nazis, ocuparem a Holanda, Bélgica, Dinamarca, Noruega e França

Todavia há mais e pior. Até ao exacto dia do começo da invasão da URSS houve um gigantesco trânsito de comboios carregados de matérias primas essenciais ao esforço de guerra nazi e de alimentos  saídos da URSS com destino à Alemanha.

É de registar, não vá alguém fazer-se de parvo e esquecer que os partidos comunistas europeus alinharam todos pela posição soviética, declararam que a guerra Alemanha-Aliados era uma guerra imperialista e, nos territórios rapidamente ocupados deixaram-se estar quietinhos e calados mesmo quando já se esboçavam diferentes formas de Resisttência. Em França, e pela mão de Duclos, um dos mais importantes membros do CC do PCF os comunistas  chegaram a solicitar ao ocupante nazi, autorização para publicar o seu jornal oficial ,”L’Humanité”. Tal situação que sógenerosamente se apelida de trégua (e não de colaboração) só terminou com a invasão da URSS

A surpresa de Stalin com a invasão foi inacreditável tanto mais que ele tinha sido avisado por ingleses e americanos bem como por uma enorme rede de espiões em que se destacou o lendário Sorge. Stalin (como agora Putin?) não levou a sério os avisos constantes. Aliás, é bom recordar, que num dos habituais, paranoicos e sangrentos expurgos que rechearam a história infame do despotismo estalinista . No caso específico, ficou famoso o processo contra a cúpula militar soviética o que teve como consequência não só a decapitação do Exercito Vermelho mas sobretudo permitiu o gigantesco desastre militar das primeiras semanas da invasão.

 

Não vale a pena insistir neste capítulo da História soviético-russa. Para quem fala em desnazificar, estes dados chegam tanto mais que há milhares d e livros (incluindo russos e da época soviética)-

Passemos, agora, às relações soviético-americana durante a época da invasão nazi da URSS.

Pelos vistos, os “nossos” adversários do imperialismo, do capitalismo, da NATO dos EUA e da Europa, fingem desconhecer que entre 1941 e 1945  os Estados Unidos entregaram 3.964.000  toneladas de bens diversos, sobretudo militares e para militares. Tal ajuda efectuou-se através de vários “corredores” (Corredor do Ártico,-78 comboios- corredor do Pacífico e corredor persa, este último com ajuda britânica).

Ou, por outras palavras: os malvados imperialistas americanos deram um contributo precioso, vital à resistência da URSS.

Claro que isto faz parte do “esquecimento” histórico (há quem lhe chame mistificação) do PCP & assimilados.

 

A História é uma maçada, os factos são os factos,  e na Europa post fim da 2ª Guerra, os principais acontecimentos para-bélicos, tirando o conflito jugoslavo, tiveram sempre o selo da Rússia ou da URSS, desde a repressão do 17 de Junho berlinense, à defenestração de Praga, à invasão da Hungria, ao bloqueio de Berlim, ao muro da vergonha e à repressão da primavera de Praga.

Só a implosão da URSS, que caiu, roída por dentro, empobrecida incapaz de manter a ficção do pacto de Varsóvia por mais tempo é que terminou um estado de coisas cadaveroso e de pobreza persistente da população é que mudou este estado de coisas na Europa.

E também será útil não esquecer que a Extrema Direita europeia tem sido alimentada pela nova Russia e que os sobressaltos iliberais tem quase todos origem nos territórios onde o alegado “socialismo” durou umas dezenas de anos. Isto  para não falar onde é que a Direita pura e dura se tem implantado nos países ocidentais. Lugares onde os pc perderam eleitores não se tornaram democratas mas sim autênticos viveiros da Direita (basta ver o que se passa na França e na Itália, para não referir como a AfD prospera nos territórios da extinta e artificial República Democrática Alemã, uma prisão de onde ninguém se escapava )

O PCP numa única coisa acertou. A Rússia é um Estado imperialista, de capitalismo selvagem e corrupção ilimitada.. Já agora informa-se esse partido de trabalhadores que foi do pequeno e residual Partido Comunista Russo que partiu a proposta de reconhecimento da independe

ncia das duas repúblicas irredentistas do leste da Ucrânia. E que esse “reconhecimento” só russo foi um dos momentos altos de preparação da invasão da Ucrânia. 

Parece, entretanto, que o pc russo não esteve de acordo com a “operação especial” mas que, nem por isso, a condenou fosse onde fosse (rua ou Duma).

Les beaux esprits se rencontrent...

 

na imagem: assinatura do pacto germano-soviético com Stalin presente e wuase sorridente

diário político 257

d'oliveira, 01.03.22

A prática contra a teoria 

d’Oliveira fecit, 1 de Março

 

 

Hoje, pelo menos aqui, está tudo fechado ou quase. A papelaria e o supermercado estão a funcionar mas tudo o resto foi para os folguedos. Ou para casa, descansar. 

Há anos que isto é assim, o país para irremediavelmente ou porque o Governo dá  a chamada “tolerância de ponto” ou porque comércios de rua, empresas entendem que não vale a pena abrir portas. 

A “tolerância de ponto” significaria exactamente que às pessoas era dada a opção de não comparecer no local de trabalho, podendo quem quisesse, ir trabalhar!... claro que nunca vi alguém disposto a tal mas tolerância é isso mesmo: quem quiser não aparece. 

A origem deste quase feriado oficial e geral perde-se na noite dos tempos ou pelo menos do século passado. Até o Estado Novo concedia magnanimamente a citada tolerância. E o Pópulo agradecido aceitava avidamente essa benesse e ia em massa para os folguedos carnavalescos. 

Hoje em dia, há uma boa dúzia de terras que levam o carnaval a sério, com desfiles e ajudas camarárias aos organizadores. 

Digamos que, genericamente, estas demonstrações de entusiasmo artificial são desinteressantes e raramente revelam bom gosto. Mas as desfilantes, imitando as brasileiras não perdem a sua oportunidade de mostrar as carnes jovens apesar do frio da época. Ou mesmo da chuva. Nas ruas acumulam-se uns milhares de espectadores que juram estar felicíssimos e se sentem quase como em Veneza ou Copacabana. Ou no “Mardi Grass” de Nova Orleães. 

Os mesmos desfiles trazem umas dezenas de bonecos alusivos à vida política e desportiva ou apenas das pobres celebridades locais, dos famosos que a imprensa cor de rosa exalta. 

As televisões exultam e fazem copiosas reportagens cuja descrição não merece sequer ser lembrada ou comentada. Portugal, pobrete mas alegrete! 

De todo o modo, o meu ponto é este: o Carnavel é bem mais sentido do que a maioria senão todos os feriados republicanos  e nacional (5 de Outubro, 1 de Dezembro, 10 de Junho ) salvando-se, cada vez menos, aliás, os 25 de Abril e 1 de Maio onde, graças a uns milhares de convictos militantes, a coisa ainda funciona. Todavia, baesta que o dia esteja bonito e quente e as praias tem dez vezes mais pessoas que as festividades cívicas.

As festividades religiosas são menos afectadas pela indiferença do público. Natal, Páscoa são profundamente sentidas mesmo se no caso da segunda se vá perdendo a grande velocidade o compasso, pelo menos nas grandes cidades. O Corpo de Deus  passa quase despercebido salvo nas zonas onde há grandes procissões. Os santos populares perderam desde há muito o carácter sagrado e são festas profanas muito seguidas por isso mesmo, o carácter profano, a festa dos corpos, as sardinhas assadas.  Os três austeros santos tornam-se nesses dias criaturas bonacheironas, pagãs, protectores de amores, namoricos e o que mais possa ocorrer. O 8 de Dezembro passa despercebido mesmo se o Estado reconheça a data solene que vem aliás de longe. 

Em tudo isto o Carnaval aparece destacado como feriado à força, imposto pelas gentes comuns que já não se despedem da carne nem começam a viver uma quaresma sentida. Eu nem sei se a proibição de carne (já não durante os quarenta dias mas tão só às sextas feiras ainda vigora. Nos meus tempos de rapaz, havia entre os mais incréus a mania de ir comer uns bifes clandestinos na sexta feira santa. Mas isso eram rapaziadas, excesso de acne e o corpo (e a cabecinha pensadora e pecadora) a funcionar. 

Agora a sexta feia santa, em caindo mais para tarde, é passada, por quem pode, no Algarve, mar e discoteca à noite.

Não será o filho de meu Pai quem condene essa escapadela ao dia a dia, esse vago anúncio de Verão mesmo primaveril. Passei várias páscoas na praia outras tantas em Paris se a coisa calhava demasiado cedo para banhos de mar e não me arrependo. Aliás tenho saudades, e muitas, desses tempos descuidados onde o dinheiro não abundava especialmente. 

O carnaval, tenho de o confessar, nunca foi a minha praia. Nem o de cá nem os da estranja mas isso não é virtude minha (nem defeito, que diabo!). É como o Ano Novo: nunca me atraiu, acho que nunca o festejei a não ser com alguns amigos e discretamente. 

Este ano, divididos entre o esperado fim dos tempos pandémicos e o espectáculo atroz da guerra miserável imposta aos ucranianos. Não há razões para grandes entusiasmos. 

A única pida (de mau gosto) é a afirmação repetida por uma certa minoria cada vez mais isolada e afastada das pessoas, do bom senso, da generosidade e da realidade, que entendem que as tropas invasoras russas estão a defender-se, as inocentinhas, e a responder às “provocações” repetidas da NATO, da UE, do senhor Zelensky e dos EUA (e já agora, da Suiça ou da Finlandia!

Apetece dizer que isso é apenas a maneira brutal, imoral, deles celebrarem o carnaval ...   

 

diário político 256

d'oliveira, 19.02.22

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Isto não é a Suíça, que diabo

d’Oliveira, fecit (Fevereiro de 2002)

A  sr.ª presidente da ANMP (associação nacional dos municípios portugueses) que é também presidente da CM de Matosinhos parece ser uma entusiástica adepta da regionalização.

Eé tanto assim que faz propostas bizarras para que o processo seja levado a bom fim. Propõe que desapareça da Constituição (poe ajuste, notem bem, e não por revisão) a exigência de haver pelo menos 50% dos eleitores a votar. A intrépida autarca “não corta cavilha”, ou seja, entende que a  “crescente taxa de abstenção torna problemática aprovação da regionalização!...”

Vai daí o melhor é aceitar qualquer resultado...

Depois, a referida entusiasta da regionalização de um país que mal tem dez milhões de habitantes, dos quais três quartos no litoral compreendido entre o Porto e (vá lá) Setúbal, acha que os eleitores (esses ignorantes...) não tem de se pronunciar sobre o mapa visto que a divisão entre as actuais CCDR está “consolidada”.

Eu recomendaria a esta senhora, pelos vistos conhecedora profunda do país e da constituição, que mais lhe valia propor que nem sequer se sujeite o povo a essa maçada do referendo (sempre por “ajuste” da Constituição, clato9 .

Os leitores recordarão que há vinte anos, malgrado a intensa campanha a favor da regionalização o povo, esse ingrato” não a aprovou. Em boa verdade, na altura (e agora será provavelmente o mesmo) os adeptos da partilha de cargos chorudos e poderes e sub-poderes cada vez mais locais, dividiam-se em múltiplas tendências regionalistas. Se ão erro chegou mesmo a propor nove ou dez em alguns casos. Era a multiplicação não dos pães mas dos esfomeados!

Tive oportunidade, de por períodos razoáveis, viver em países ditos regionalizados. A Alemanha, exceptuando as famosas e antiquíssimas cidades-estado, as regiões correspondem a populações com vários, bastantes (`às vezes mais do que a inteira população portuguesa)  milhões de habitantes, por um lado, a Itália, por outro tem. Além do mais uma longa tradição histórica de regiões que estiveram independentes, que criaram uma fortíssima consciência regional. Por outro lado, na vizinha Espanha, regionalizou-se a torto e a direito, havendo agora, se não erro, dezassete (17!!!) autonomias que, na maioria dos casos a nada ou a muito pouco correspondem. Se a Galiza, o País Basco e a Catalunha correspondem  a existência  de línguas diferentes do espanhol (o castelhano que todos sem excepção usam quando precisam de dialogar com o exterior) ainda permitiria fundamentar qualquer coisa, já o resto é pura tolice (que diferença há entre as Castelas e Madrid? E entre a Andaluzia e Valência? A que título as Astúrias são uma região? E por aí fora. No caso da França a primeira regionalização já encolheu e não pouco. E mesmo assim tirando casos absolutamente especiais (A Corsega) o progresso feral devido à regionalização é altamente inferior aos custos e sobretudo ao conseguido na descentralização de um Estado que a Revolução francesa unificou.  

Irão os transmontanos, os alto-durienses, os beirões (alto e baixos) os minhotos,  os ribatejanos, ganhar algum protagonismo nesta negociata onde Braga provavelmente não aceitará a tutela do Porto, Viseu e Aveiro a de Coimbra ou Beja a de Évora, só para recordar exemplos recentes? A única vaga região natural  seria o Algarve, o reino dos Algarves, com uma vaga tradição histórica e claras e bem definidas fronteiras com o Alentejo. E as ilhas, claro onde, aliás, conviria investigar minuciosa e  politicamente o que é que o estatuto de região trouxe aos seus habitantes. Enquanto Jardim jardinou o seu jardim, a pedinchice, a exigência, a insolência e a ameaça separatista foram o pão nosso de cada dia.

É verdade que o Estado, num país como Portugal, sem especiais (e muito menos profundas) raízes democráticas, com uma história pesada de pequenos autocratas a partir de Lisboa (o que não quer significar que todos ou mesmo a maioria fossem de lá originários) foi sempre cioso dos seus poderes e tratou o resto do território como mera paisagem (nem sequer protegida). :as isso resolve-se com o fortalecimento dos concelhos (e são mais de trezentos), com a atribuição de poderes e financiamento adequado a cada câmara. Não há, felizmente quaisquer especificidades regionais, quaisquer diferenças substanciais num país antigo, com uma língua comum, com fronteiras externas mais que definidas há séculos que exija mais outra autarquia entre o Estado e as já existentes. As províncias nunca foram importantes mesmo quando tinham população abundante afora desaparecida com a emigração interna e externa. Os distritos viram sem incómodo algum desaparecer os governadores civis que, aliás, eram agentes do Estado . As comissões de coordenação apenas devem ter o carácter técnico que a especificidade local exigir, o resto é para discutir entre as Câmaras e o poder central que pode sem perda de prestígio ou de natural influência, perder prerrogativas  que só alimentam um exército de funcionários que, em muitos casos deveriam estar mais que descentralizados e distribuídos pelo território. Aliás, essa gradual mudança para os locais onde forem necessários poderia inverter em parte a desertificação crescente a que se assistiu nos últimos 30/4o anos. Aliás, está por provar que a regionalização (sobretudo se feita nos moldes propostos pela ambiciosa autarca de Matosinhos) tenha qualquer espécie de eficácia no repovoamento de dois terços do país (e digo dois terços para não dizer três quartos ou, quiçá quatro quintos.... Basta olhar para um mapa...)

Finalmente, as cautelas regionalizantes da referida autarca evidenciam bem quão incerto é o eventual resultado de uma escolha popular, desde que claramente informada e sem truques políticos. Um país, qualquer país não andar de vinte em vinte anos a brincar aos referendos quando, ainda por cima, em questões fundamentais foge a eles  mais depressa que um rato a um gato esfomeado.              



diário político 255

d'oliveira, 31.01.22

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Os ovos todos no mesmo cesto

d’Oliveira, fecit 31deJaneiro 2022

 

 

 

Um velho, querido e saudoso amigo meu, afirmava, nos anos seguintes ao PREC, já com eleições a sério e sem as fantasias “revolucionarias” da época, que “nunca se deviam pôr todos os ovos no mesmo cesto”.

Ele tinha por certo que, numa república democrática e com um parlamento, havia que procurar o máximo consenso comum para evitar o maior divisor também comum.

A História desmentiu-o com a Aliança Democrática mas esta pouco resistiu às mortes de Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa (o verdadeiro artífice político e ideológico do CDS, na altura uma “democracia Cristã” importada da Itália e não confundível – como os detratores queriam – com uma extrema Direita. 

Não me atrevo a dizer que vem daí, dessa época, um espantalho eleitoral que se persigna sempre que alguém fala em maioria absoluta. 

Pessoalmente, e sobre as maiorias absolutas, apenas digo que podem ou não ser benéficas. Aliás, a sua existência traduz sempre a vontade popular, dificilmente sai de conspirações ou arranjinhos pré eleitorais. Uma maioria destas pode permitir finalmente o avanço de reformas profundas, de quebra de acordos eleitorais mínimos que não andam nem desandam, como ocorreu com estes seis anos de uma caricatural “frente popular”  em que, como é tradição neste género de falsas unidades, vícios redibitórios constantes e com severas consequências. 

Costa (e assessoriamente  o PS, nesta exacta ordem)btem a oportunidade histórica e provavelmente irrepetível a curto e médio prazo, de fazer andar o país para a frente, de acabar com estrangulamentos, práticas antigas (e especial destaque para a corrupção) e reformar quer a justiça, quer a saúde, quer o trabalho e a administração pública. São muitos trabalhos de Hércules e pesa no horizonte o conhecido “amiguismo” peculiar de Costa, o que como o sono da razão criou monstros como Cabrita ou Sócrates (de quem Costa tenta fazer passar a ideia de nunca ter sido ministro dele).

Esta maioria absoluta, criada expressamente pelo BE e pelo PC que agora uivam inocências e perversas endemoninhadas  conspirações Costa/Marcelo, traz também algumas salutares novidades. 

Á uma acabou com o mito “juvenil” a dirigir partidos. Aquele pobre diabo do CDS conseguiu o que até agora ninguém tinham conseguido: rebentar com um partido que sempre esteve no Parlamento. Foi exterminao pelo Chega e pela IL sem dó nem piedade. O CDS é agora um moribundo sob respiração artificial e não se vislumbra com clareza se consegue sair do coma. 

Depois, começa aperceber-se, cada vez mais nitidamente, que o PC começa a dar de si cada vez com mais violência. Sempre que um velho alentejano morre é menos um voto, como se verifica com a tremenda derrota do delfim Oliveira em Évora. Mesmo assim, o PC averba uma pequena mas consoladora vitória, está à frente do BE em deputados. E merece, digam lá o que disserem. 

Os Verdes (por fora e vermelhos por dentro) passam pelo cano. Sempre foram um logro, algo vagamente muleta e  História não registará grandes lágrimas por eles.

O BE é outro caso flagrante de suicídio colectivo. Vê-se que nunca perceberam realmente o que aquilo era: um partido de protesto, um lugar de refúgio para descontentes urbanos que não suportavam já o PC nem se atreviam a entrar no PS. 

Serem ultrapassados pelo Chega e pela Iniciativa Liberal deve ser um pesadelo que os vai assombrar por muitos e bons tempos. 

A Sr.ª Martins bem que pode esperar por uma conversa com Costa como audaciosamente prometia. Talvez um pequeno banho de realidade lhe limpe o ouvido político e a cabecinha sonhadora. A pequena e média burguesia urbana que andou com o BE ao colo cansou-se das tropelias e prefere o colo gordo, burguês e confortável de Costa. 

Aliás, parte dos votos que se escapuliram permitiu ao LIVRE voltar ao Parlamento mesmo depois do absoluto desastre Joacine. De todo o modo, o LIVRE e a PAN casa um com o seu deputado, são irrelevantes e é duvidoso se alguma vez acrescentaram algo ao debate político nacional. De todo o modo, o castigo do PAN é mais do que merecido depois de se declarar apto a aliar-se com quem quer que fosse. A falta de espinha dorsal é algo que nem nos animais ajuda, quanto mais nos bípedes humanos.

O caso do PSD também não traz especiais novidades. Pela primeira vez, e a sério, Rio morde o pó. É verdade que os dois partidos emergentes na Direita retiraram-lhe importantes franjas de apoio, sobretudo a IL pois o Chega terá engordado sobretudo `custa do falecido (ou quase) CDS. 

A mansidão suave de Rio não convenceu os adversários do PS, antes o beneficiou. Alguém terá pensado que se era para viabilizar um Governo de Costa mais valia deitar logo o papelinho nele. O PSD vi ter de continuar o seu caminho das pedras e tem quatro anos para tal a menos que o PS cometa algum erro colossal.

Finalmente o PS.

É verdade que Costa pediu e despediu a maioria absoluta, que prometeu tudo a todos, que falou de maçanetas e portas mais do que um marceneiro mas, por ele, tinha o ar de vítima  coisa que o povão adora. Traído, enganado pelos parceiros de Esquerda que nunca perceberam quem Marcelo era ou podia ser, Costa mesmo “sem vontade” (como alguns acusaram) lá foi fazendo o seu caminho.

Os portugueses, combalidos pela pandemia, intrigados pela tactica do PPD (onde até Santana Lopes, essa velha ave agoirenta compareceu!!!), recordados dos anos dourados pré pandemia, alvoroçados pela dinheirama que virá da Europa preferiram “antes asno que me leve do que cavalo que me derrube” como bem ensina Mestre Gil na farsa de Inês Pereira.

A última grande derrota da noite foi o sucessivo desenrolar das sondagens do empate técnico. Nem a ligeira descida da abstenção justifica tal dislate. Alguém anda a enganar alguém... 

  

 

...

d'oliveira, 25.01.22

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O “conciliador” e o “rabugento” 

d’Oliveira fecit 25 de Janeiro

 

 

Este texto vem apenas relembrar um outro escrito há três anos e onze meses, mais exactamente em 20 de Fevereiro de 2018.

Intitulava-se o post : “Notícias fúnebres só depois da pessoa estar morta” e trazia como subtítulo “diário político 224

Não vale a pena estar agora a resumir o que então escrevi bastando-me apenas citar a última frase :”Vai uma apostinha que Rui rio está para durar?”

Por razões de vária ordem (que não de simpatia ou de voto) segui com alguma (mas não demasiada)  atenção a carreira política de Rui Rio, sobretudo a partir da altura em que ele foi “secretário geral” do PSD .

Por essa época, tornou-se notado por levar a cabo uma cruzada interna radical contra os barões e demais establishment do partido, começando uma espécie de refiliação, acabando com o acumular de militantes (dezena e até centenas numa só direcção) tentando impedir que, em vésperas de congresso aparecessem centenas ou dezenas de pagamentos de quota efectuadas por uma única pessoa, enfim um rol de tropelias que exasperou meio mundo e  tornou uma espécie de “ódio de estimação” nos circuitos dos grandes patrões do PPD.

Quando entendeu candidatar-se à Câmara do Porto hpuve um tremendo frémito de regozijo na cidade. Não porque ele parecess ser um vencedor mas justamente porque todos, sem excepção, apostavam que o candidato socialista Fernando Gomes o estralhaçaria.

De resto, essa era também a ideia que passava nas hostes do PS. Gomes praticamente chegou a gabar-se que contra aquele adversário nem valia a pena fazer campanha.

Quando toda a gente esperava uma estrondosa derrota de Rio, eis que o homem ganha com um confortável resultado que, não terá chegado à maioria absoluta mas lhe permitiu governar a cidade. E nos dois mandatos seguintes foi o que se viu: maiorias absolutas e crescentes.

 

Enquanto Presidente da Câmara, rio também se malquistou com um formidável adversário: o Futebol Clube do Porto e o seu presidente, o sr Pinto da Costa. A causa foi ridícula mas interessante: rio recusou receber a equipa campeã do Campeonato (o Porto) nos Paços do Concelho como sempre acontecera. Não caíram o Carmo e a Trindade mas temeram a Sé e a torre do Clérigos!. Houve choro e ranger de dentes e Pinto da Costa uivou  ameaças medonhas e, a partir daí tornou-se um fervoroso adepto do PS ou de qualquer força que corresse com rio. Não correu.

Quando Rio chegou ao limite dos mandatos  municipais, apareceu, dentro do PSD uma candidato    que trazia já duas vitórias na Câmara de Gaia,  Luís Filipe Meneses, estrela nortenha, cruzado contra a mourama elitista de Cascais, ferrabrás vitorioso de muitos prélios políticos.

Rio, como é seu costume, torceu o nariz, achou Meneses demasiado enfatuado e, sobretudo pouco portuense. Se alguém deu uma mão a Rui Moreira foi ele, Rio. Moreira, evidentemente tinha (e tem poderosos apoios na cidade, pertence aquilo que se costuma chamar “homens bons da cidade”, vem da alta burguesia tripeira, fora presidente da Associação Comercial, enfim era já um candidato com possibilidades mas o não de Rio a Meneses trucidou este último.

(que agora Rio e Moreira não estejam em boas relações é algo de natural, Rio é assim, sempre foi assim, mesmo que no actual momento Moreira tenha o apoio dos vereadores social-democratas.)

Na CMP, Rio também entrou em forte conflito com algumas (mas não todas) entidades culturais oo que lhe criou  uma má fama de inculto. Mas mesmo aí averbou algumas vitórias inclusive no caso da “Rivolição”, situação em que uma dúzia de contestatários ocupantes da sala saíram ao fim de escassos dias nem sequer aureolados por uma entrada (que se não verificou por vontade de Rio)violenta da polícia. Saíram vencidos, humilhados e tragicamente sozinhos naquela tola aventura que pensavam heroica.  

Depois de sair da Câmara do Porto (onde pelo menos deixou contas certas e boas), foi à sua vida de cidadão privado mas voltou depressa para discutir a liderança do partido.

Como de costume, ninguém lhe augurava uma vitória clara mas ele lá foi fazendo o seu caminho, tropeçando aqui, levantando-se ali e ganhando  pulso uma batalha mais do que incerta Montenegro ou Santana morderam o pó à conta do homem do norte de que ninguém parecia gostar muito. Já no ano passado, foi à luta com um candidato capaz, inteligente, deputado europeu, culto com uma tribuna semanal no Público. Contra Rio, parecia estar todo o aparelho, as “distritais”, enfim, o poder do mundo. Mas Rio, o intolerante, mais uma vez saiu vencedor, depois de ter apelado ao voto militante.

Agora, numa corrida que todos (ou quase, ou cada vez menos) davam antecipados parabéns a Costa, eis que Rio lá vai amealhando ponto aqui, ponto acolá, mais outro além, aproximando-se de um contendor que aspirava à maioria absoluta.

Não sou adivinho, não me fio em sondagens, sei que a tecla costista (e verdadeira) da vitimização, digamos da traição dos parceiros da geringonça (que aliás também nunca terão percebido que arriscavam demasiado... mas isso é com eles que agora se arrepelam de uma possível queda de votos e de deputados) ainda permite pensar numa vitória não muito grande do PS. Mas, Rio, que é cuidador de um gato parece ter aprendido com o bichano o que é ter sete vidas.

Quem tem gatos à sua guarda sabe que estes pequenos carnívoros são indomáveis, solitários (como a maioria dos felinos) e levam a sua avante sem grandes dificuldades. Quando os comparam com cães, é bom lembrar que com estes (aliás simpáticos) animais o homem fez trinta por uma linha: há cães grandes, médios, pequenos ridículos bonito e feios. Só por boa vontade se pode comparar um lebreu ou um serra da estrela com um chiuahua. Ora qualquer gato é igual a qualquer outro mais pelo menos pelo. Mesmo em questões de tamanho a diferença nunca ultrapassa  quinze, vá lá vinte centímetros.

Portanto quando Costa arrisca uma piada sobre gatos depressivos é bom que saiba que mesmo assim os bichanos tem unhas e que unhas...

Não sou jogador de casino, por junto aposto no totoloto sabendo contudo que só um bambúrrio me trará os apetecidos milhões, porém, se vivessem Inglaterra e tivesse um bookmaker capaz, era menino para arriscar cinco libras em Rio. E não vou votar no homem...

No dia 30 se verá.

(quando referi a nega de Rio ao FCP lembrei-me da tola história de costa e Medina metidos na “comissão de honra” daquele cavalheiro benfiquista, Vieira, se bem recordo...         

E que, ainda por cima, os correu da lista depois do pequeno escândalo!..