Estes dias bizarros
d'Oliveira fecit 7/XI/ 2019
! Nunca fui adepto de dar o nome de pessoas vivas a ruas, prédios ou instituições. As razões são muitas se bem que a mais óbvia seja esta: depois da homenagem, o homenageado pode perder a cabeça e desatar a fazer tropelias de todo o género ou, pelo menos, tornar-se uma criatura odiosamente vaidosa e insuportável.
Recordo, entre parêntesis, que, na minha meninice, vivi anos a fio na rua ou avenida Almirante Tenreiro, um homem forte do Estado Novo e manda-chuva do sector das pescas. Com o 25 de Abril a toponímia mudou porventura por iniciativa dos primitivos homenageantes. Aconteceu algo de semelhante à ponte Salazar rebaptizada “25 de Abril”.
Ora, para evitar estas desastradas reviravoltas toponímicas, bem avisado andará quem só queira o seu nome glorificado depois de morto.
Tal não sucedeu com Rosa Mota. A cidade do Porto entendeu que se Lisboa dera o nome de Carlos Lopes (outro campeão olímpico da maratona, para quem porventura já não saiba quem é) a um pavilhão desportivo no parque Eduardo VII, bem que se poderia dar novo nome ao pavilhão do Palácio de Cristal e de uma penada homenagear a atleta.
Convenhamos que a homenagem era fraca porquanto o “palácio” estava já num estado deplorável a pedir obras urgentes.
Apareceu uma cervejeira disposta a pagar caro a publicidade e enterrou uma boa dezena de milhões no edifício, restituindo-o à sua primitiva dignidade e melhorando muito o seu interior. Percebe-se, assim, que a tanto milhão gasto corresponda uma enfática vontade de perpetuar grandiloquentemente o nome da marca e eis que temos o “superbock arena em letra grrafal (como compete a uma marca de cerveja!...) e mais em baixo e um pouco menos apelativo “pavilhão Rosa Mota”.
Rosa não gostou mesmo se, em seu tempo de atleta, tenha provavelmente usado dorsais com marcas de produtos que amparavam e subsidiavam a sua carreira. Desconheço se, nessa época, criticou o estado calamitoso do pavilhão que tinha o seu nome.
Agora, recusou-se a assistir à inauguração do renovado espaço. Estava no seu direito e não serei eu quem a critique. Porém, além de faltar à cerimónia, que, de todo o modo se realizou com a habitual pompa e circunstância, Rosa Mota resolveu alertar a pinião pública para a “desconsideração” sofrida. Pelos vistos, desconhece a força do dinheiro e a penúria das instituições públicas que se viram obrigadas a recorrer ao mecenato da “superbock”.
Parece que, apesar de convidado, o senhor Presidente da República não esteve presente. Agenda sobrecarregada, preparativos para a recentíssima e feliz intervenção cirúrgica ou mera solidariedade com a atleta que S.ª Ex.ª há pouquíssimos dias exaltara como valendo mais que muitos, todos, os presidentes da república. Eis que o Professor de Direito se revela um conhecedor da Grécia clássica e da admiração sem limites ali professada pelos atletas vitoriosos.
A Câmara do Porto apanha por tabela mesmo se parece evidente que, no caso, pouco ou nada poderia fazer. Alguém acha que o senhor Presidente da Câmara, deveria comparecer de corda ao pescoço ou de luto carregado apelando aos “homens bons” da cidade dita invicta ou à plebe que se está nas tintas para substituir a superbock por uma “sagres”?
Quem sou eu para aconselhar Rosa Mota, sobretudo depois do caldo entornado. De todo o modo bastava-lhe faltar à cerimónia, envolvida num digno mas loquaz silêncio para se perceber o seu desagrado. Ao proclamá-lo tão ruidosamente (acompanhada ou não pela indignação de uns, pelo calculismo de outros e pelo populismo de eminentes figuras públicas) a coisa adquire um risível tom que diz muito sobre o “torrãozinho de açúcar”....
2 O novo Governo da pátria imortal nação valente averba 69 responsáveis! É obra! Eu não vou pela facilidade da acusação mesquinha quanto ao custo de tantas luminárias a que se irão somar infindáveis hostes de assessores e demais afilhados.
Também não vou, à semelhança de um Ministro remanescente, chorar sobre a perda de uma senhora Ministra por acaso, mero acaso, esposa amantíssima do mesmo cavalheiro. Aqui, à puridade, sempre direi que ela me parecia valer por três dele mas isso é porque talvez eu seja um feminista que se desconhece.
Eu, sobre relações familiares no Governo não digo sim ou não. Também não digo “nim”. Como se ensinava na imortal faculdade de Direito que me amargou a juventude, cada caso é um caso. E naquele, nunca me dei conta que os negócios do mar andassem com o mesmo lento e frágil vagar que o senhor Eduardo Cabrita imprime ao seu pelouro. O ar pesado e cansado do ministro parece ser o retrato do estado do seu ministério. Mas isso é outro contar.
O único mas formidável problema que veja em tanto ministro e secretário de Estado é o raio da sobreposição. Eu, ave de mau agoiro e piores fígados, temo conflitos em série nas áreas secantes ( e, muito provavelmente das tangentes) de cada senhor Secretário de Estado pois as próprias atribuições já conhecidas não estabelecem fronteiras fáceis, sequer seguras entre cada pelouro. Depois, os Secretários de Estado, sobretudo os caloiros vão fazer o possível e o impossível para mostrar de que madeira são feitos (e nisto não vai qualquer comparação com o imortal Pinóquio, tanto mais que Costa é demasiado espesso e encorpado para fazer de Gepeto).
A juventude (que é uma doença que passa com a idade) é assim. Muito afirmativa, muito senhora do seu nariz (e volto a dizer que nada de Pinóquio aqui, mesmo se alguns governantes mentirem mais do que o ousado boneco e sem o perigo de lhes crescer o nariz...). Mas mesmo sem o sangue a ferver-lhes nas guelras o simples estado dos problemas que vão enfrentar e a bandalheira em que está o desgraçado interior vão dar água pela barba a muitos destes jovens cavalheiros.
Este governo gigantesco tem no seu gigantismo (perdão pela estilo pleonástico) a ameaça maior para o sucesso. Por muito hábil que seja o Primeiro Ministro, coordenar 19 (+ 50 por interpostas pessoas) criaturas não vai ser pera doce.
Depois, nunca fui, não sou, e já não me deve restar tempo para ser, adepto desta moda de desmultiplicar ministérios (agora vamos ter o da função pública, Jesus Maria, José!...,) como se isso fosse a poção mágica do sucesso. Não é. Os detalhes por muitos que sejam, não implicam que não deva haver uma visão de conjunto que o desregramento de ministérios pode ferir.
3 Parece que a senhora Ministra da Função Pública vai premiar os funcionários que faltarem pouco. Eu aceito que se premeie o funcionário que não falte e mais ainda o que produza trabalho que se veja que inove, que proponha, que cumpra. A falta (não falo de doença, claro) é sempre uma anomalia e, por definição, acarreta custos quanto mais não seja pela descoordenação que pode provocar num serviço. E, na generalidade. não deve ser tolerada,
Eu teria estimado que S.ª Ex.ª tivesse referido o escândalo da nomeação de chefias, o favoritismo político a falta de respeito pela CRESAP, a situação inacreditável de centenas de responsáveis em funções a título de substituição e por períodos que são até contra a lei.
Dir-se-á que isto é óbvio. Será, mas nunca é demais insistir, reconhecer uma realidade que corrói as instituições e afecta o bom nome da função pública no seu todo.
É verdade que o mal vem de longe mas justamente por isso é que é urgente extirpá-lo.
E já que se fala de função pública seria bom que, de uma vez por todas, se permitisse aos mais de dez mil novos contratados para o exercício dessas funções o acesso à ADSE, como é desde há muito pedido pelo Conselho Geral da instituição (lembremos que o silêncio da administração e do Governo sobre isto que parece justíssimo e, aliás, necessário para a boa saúde financeira da ADSE, é ensurdecedor.). Além de ser um indiscutível direito desses trabalhadores, é, seguramente, uma boa ajuda para as finanças da instituição. Parece que a senhora presidente da ADSE ainda não percebeu isto.
Nós não percebemos como é que a criatura lá foi parar mas esse é um mistério facilmente resolúvel...