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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

diário político 260

d'oliveira, 31.03.22

Quem te avisa...

d'Oliveira fecit , 31-03-22

 

Decorreu ontem a cerimónia da tomada de posse do Governo. Longa e chata como de costume. Muita gente qie ninguém quer faltar ao beija mão ministerial . aos beijinhos, abraços e restantes cumprimentos. Em Portugal é assim: todos empertigadamente solene, veneradores e obrigados. 

Depois há os discursos.

Sempre longos, sibilinos e sujeitos a intensa análise e escrutínio. Desta vez, o PR avisou que os mandatos são de quatro anos. Isto, porque à cautela, lá foi prevenindo que uma ida para a Europa,  como foi o caso de Durão Barroso, obrigaria a eleições. Em boa verdade, o PR apenas aplicou uma longínqua proposta do PS que Sampaio, mal, não ouviu. 

Por isso tivemos um governo Santana Lopes que foi derrubado por uma frase de Cavaco (“a má moeda afasta a boa”) mais do ue por qualquer outra razão. Os leitores talvez já não se lembrem mas Ferro Rodrigues, na altura secretário geral do PS demitiu-se em protesto à solução arranjada por Sampaio. Diz-se que este queria provar ao mundo a incapacidadede Santana ser melhor do que parecia. Lá provar provou mas quem amargou com aquele governo trambolhofomos nós os paisanos. Se as coisas tivessem corrido com Ferro queria talvez se tivesse adiado ou abandonado a solução Sócrates que, no caso em apreço foi pior do que acicuta. 

Desta feita, o aviso veio a tempo e cristalino: o mandato é para cumprir. Tanto mais que com maioria absoluta só a falta de imaginação é que pode tramar o novo Governo. 

Portanto um governo pronto a consumir. Tudo a favor, para já. A começar pelos mundos efundos do PRR e a acabar na incapacidade de a oposiçãoo se impor. Ainda porcima são duas, três ou mais as oposições. Alguém vê o PC aliado ao PSD contra Costa. Ou os  dois mais o BE e a IL todos juntos a votar melodramaticamente algum desde logo perdida moção de confiança?

Em poucas palavras : há dinheiro, há tempo há um país à espera, quase não há oposição credível e, muito menos, eficaz. 

Que se pode pedir mais?

A resposta matreira é fácil: competência! É preciso competência. 

Ainda é cedo para se começar a medir esta mas conviria reparar que na composição do Governo há um parde situações esquisitas: O Ministério dos Negócios Estrangeiro  está manco dos “Assuntos europeus”!!!

O inventor do PRR não é o responsável pela sua aplicação. 

Até nova ordem o Orçamento é o que foi reprovado mas o seu autor desapareceu do mapa. O mesmo sucedeu ao ex ministro da economia, um sólido e competente (para variar) amigo de Costa

Entre os ministros que continuam temos o delegado geral da falida TAP, aquela senhora da Agricultura que queria vender qualquer coisinha à China e a srª Temido que, pelos vistos, é incontornável na Saúde.

Costa, no seu discurso, afirmou que este Ministério não tem sequer o privilégiode umpar de meses em “estado de graça”. Está enganado. Tem-no sim senhor e muitos de nós estamos dispostos a esperar o tempo necessário para ver os ministros novos ou em novos ministérios perceberem como as coisas estão.

Se algo se provou com este longo interregno político é que as coisas lá foram andando sem especiais percalços mesmo com os ministros com poderes diminuídos e  o parlamento à meia luz. E a pandeia ainda chateava, a guerra acendia-se os preços das matérias primas ameaçavam subir. A vida continuou, graças eventualmente, ao conhecido bom senso do povo português que provou ser capaz de se mexer sem ser aguilhoado pela estridência da rua, pela facúndia discursiva e pela conspirata dos aparelhos políticos. Nem sequer os que costumam engrossar a voz, a engrossaram demasiadamente. Ou porque não quiseram, não puderam ou porque, de facto, já não lhes reste força suficiente para alanzoar ameaças

Só o clima se mostrou contrário: no choveu coisa  que se visse, é provável que  a seca seja violenta mas já há quem garanta que não faltará água para os campos de golfe, instrumentos incomparáveis para o dinamismo turístico..

“Eles” lá sabem....

diário político 257

d'oliveira, 01.03.22

A prática contra a teoria 

d’Oliveira fecit, 1 de Março

 

 

Hoje, pelo menos aqui, está tudo fechado ou quase. A papelaria e o supermercado estão a funcionar mas tudo o resto foi para os folguedos. Ou para casa, descansar. 

Há anos que isto é assim, o país para irremediavelmente ou porque o Governo dá  a chamada “tolerância de ponto” ou porque comércios de rua, empresas entendem que não vale a pena abrir portas. 

A “tolerância de ponto” significaria exactamente que às pessoas era dada a opção de não comparecer no local de trabalho, podendo quem quisesse, ir trabalhar!... claro que nunca vi alguém disposto a tal mas tolerância é isso mesmo: quem quiser não aparece. 

A origem deste quase feriado oficial e geral perde-se na noite dos tempos ou pelo menos do século passado. Até o Estado Novo concedia magnanimamente a citada tolerância. E o Pópulo agradecido aceitava avidamente essa benesse e ia em massa para os folguedos carnavalescos. 

Hoje em dia, há uma boa dúzia de terras que levam o carnaval a sério, com desfiles e ajudas camarárias aos organizadores. 

Digamos que, genericamente, estas demonstrações de entusiasmo artificial são desinteressantes e raramente revelam bom gosto. Mas as desfilantes, imitando as brasileiras não perdem a sua oportunidade de mostrar as carnes jovens apesar do frio da época. Ou mesmo da chuva. Nas ruas acumulam-se uns milhares de espectadores que juram estar felicíssimos e se sentem quase como em Veneza ou Copacabana. Ou no “Mardi Grass” de Nova Orleães. 

Os mesmos desfiles trazem umas dezenas de bonecos alusivos à vida política e desportiva ou apenas das pobres celebridades locais, dos famosos que a imprensa cor de rosa exalta. 

As televisões exultam e fazem copiosas reportagens cuja descrição não merece sequer ser lembrada ou comentada. Portugal, pobrete mas alegrete! 

De todo o modo, o meu ponto é este: o Carnavel é bem mais sentido do que a maioria senão todos os feriados republicanos  e nacional (5 de Outubro, 1 de Dezembro, 10 de Junho ) salvando-se, cada vez menos, aliás, os 25 de Abril e 1 de Maio onde, graças a uns milhares de convictos militantes, a coisa ainda funciona. Todavia, baesta que o dia esteja bonito e quente e as praias tem dez vezes mais pessoas que as festividades cívicas.

As festividades religiosas são menos afectadas pela indiferença do público. Natal, Páscoa são profundamente sentidas mesmo se no caso da segunda se vá perdendo a grande velocidade o compasso, pelo menos nas grandes cidades. O Corpo de Deus  passa quase despercebido salvo nas zonas onde há grandes procissões. Os santos populares perderam desde há muito o carácter sagrado e são festas profanas muito seguidas por isso mesmo, o carácter profano, a festa dos corpos, as sardinhas assadas.  Os três austeros santos tornam-se nesses dias criaturas bonacheironas, pagãs, protectores de amores, namoricos e o que mais possa ocorrer. O 8 de Dezembro passa despercebido mesmo se o Estado reconheça a data solene que vem aliás de longe. 

Em tudo isto o Carnaval aparece destacado como feriado à força, imposto pelas gentes comuns que já não se despedem da carne nem começam a viver uma quaresma sentida. Eu nem sei se a proibição de carne (já não durante os quarenta dias mas tão só às sextas feiras ainda vigora. Nos meus tempos de rapaz, havia entre os mais incréus a mania de ir comer uns bifes clandestinos na sexta feira santa. Mas isso eram rapaziadas, excesso de acne e o corpo (e a cabecinha pensadora e pecadora) a funcionar. 

Agora a sexta feia santa, em caindo mais para tarde, é passada, por quem pode, no Algarve, mar e discoteca à noite.

Não será o filho de meu Pai quem condene essa escapadela ao dia a dia, esse vago anúncio de Verão mesmo primaveril. Passei várias páscoas na praia outras tantas em Paris se a coisa calhava demasiado cedo para banhos de mar e não me arrependo. Aliás tenho saudades, e muitas, desses tempos descuidados onde o dinheiro não abundava especialmente. 

O carnaval, tenho de o confessar, nunca foi a minha praia. Nem o de cá nem os da estranja mas isso não é virtude minha (nem defeito, que diabo!). É como o Ano Novo: nunca me atraiu, acho que nunca o festejei a não ser com alguns amigos e discretamente. 

Este ano, divididos entre o esperado fim dos tempos pandémicos e o espectáculo atroz da guerra miserável imposta aos ucranianos. Não há razões para grandes entusiasmos. 

A única pida (de mau gosto) é a afirmação repetida por uma certa minoria cada vez mais isolada e afastada das pessoas, do bom senso, da generosidade e da realidade, que entendem que as tropas invasoras russas estão a defender-se, as inocentinhas, e a responder às “provocações” repetidas da NATO, da UE, do senhor Zelensky e dos EUA (e já agora, da Suiça ou da Finlandia!

Apetece dizer que isso é apenas a maneira brutal, imoral, deles celebrarem o carnaval ...   

 

diário político 211

d'oliveira, 03.11.20

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Reflexões inoportunas

d’ Oliveira fecit 3-11-2020

 

 

Reina o desnorte no partido socialista.

Agora é a geringonça açoriana que leva a porta voz do PS a levantar profundos e clamorosos gritos de indignação pelo que, eventualmente, possa suceder nos Açores. Esta nova émula da Pasionaria (sem o fulgor nem a inteligência da espanhola, diga-se) acusa o PPD do “horrível” crime de lesa democracia por tentar governar o arquipélago com a cumplicidade do Chega

A pobre senhora não conhece a história recente e, sobretudo, o resultado infrutífero das chamadas cercas sanitárias políticas. Bastar-lhe-ia ir ver o que sucedeu em França onde só por uma vez e por milagre a teoria da “cerca” conseguiu eleger Jacques Chirac contra um dos elementos Hean Marie Le Pen.

E essa vitória deve-se a Chirac apenas. Fosse o candidato de Esquerda e teria perdido sem apelo nem agravo como a história também recente da mesmíssima França demonstrou com a estrondosa derrota de Jospin perante o mesmo Le Pen na 1ª volta dessas eleições (um terceiro lugar na primeira volta).

A Direita derrota-se com argumentos claros, sólidos, perceptíveis pelos eleitores sem recurso à tralha ideológica que, no caso do PS actual, é uma confusão total que permite os Galambas, os Pedros Nunos, as Anas Gomes, as Isabel Moreira misturadas com um mais forte grupo conservador que em pouco ou nada se distingue da ala conservadora do PPD.

Se alguém quiser ir pelos motivos de adesão popular ao Chega pode começar por verificar onde é que este agrupamento de ideologia confusa e populista vai ganhando espaço e votos. E não é na baixa classe média, zona de pesca do PS do CDS e do PSD mas sim nos subúrbios mais populares e mais desfavorecidos. O mesmo aliás, mas em maior escala, se verificou noutras latitudes. Mai uma vez a França serve de exemplo: onde o PC perdeu força a Direita avançou. Nao vale a pena perguntar pelo PS francês que vegeta no fim da tabela ao lado de um ex-ps esquerdista mas inócio chefiado por um senhor Melenchon cuja principal marca de “esquerda” é ou era um cachecol vermelho.

Por outro lado, para governar, o PS de Costa mendigou os votos do PC e do BE que durante meses e anos lhe chamaram tudo e mais alguma coisa. Como agora, aliás, o BE faz.

O PS português vive da herança de Mário Soares, mesmo que a chama deste não se tenha perpetuado nos seus actuais dirigentes.

Governaram em tempo de vacas gordas e, agora, com a pandemia ea falta de estratégia (e também de táctica) andam “ó tio, ó tio”. Tiveram um fim de Primavera e um inteiro Verão para preparar o país para esta alegada segunda vaga” e o resultado é o que se vê. Desnorte, ameaças, proibições que depois se retiram, para não falar no desesperado pedido de boleia ao Presidente da República e nos acordos que eventualmente assinarão, pela calada, com o PC. Neste momento o S de PS só quer significar “sobrevivência” a todo o custo.

O problema é porém outro. Ou, por outras palavras: e nós? E nós, os paisanos, como é que vamos sobreviver ao vírus, à crise, à indecisão, às medidas avulsas, e, sobretudo, à polícia que nos vai vigiar a máscara mesmo – já se sabe – onde não se vir viva alma num raio de cem metros?

Devo dizer, sem amargura mas sem orgulho de qualquer espécie que, durante todos estes anos o meu pobre voto se refugiou neste saco de gatos que o PS cada vez mais é. Quando achei isso insuportável migrei para o voto branco. Não frequento a Direita, mesmo a civilizada e sinto-me demasiado europeu para confiar o voto a um partido que odeia a Europa ou a outro que aposta tudo nas medidas fracturantes mas não faz a mínima ideia do que é a Economia. Eu, para o peditório dos rapazinhos e raparigas pequeno-burguesas não dou.

Nisso, fixei bem a lição de Lenin que sobre o esquerdismo escreveu que chegasse. Logo ele, que agitou incansavelmente a bandeira radical perante os partidos “social-patriotas” e que, no golpe de outubro, liquidou os sovietes. . Mas do percurso sinuoso do homem que ajudou Stalin, se serviu de Trotsky, inventou a “Tcheka” e a NEP, perseguiu anarquistas e socialistas revolucionários caiu vítima de um atentado destes e está mumificado no muro do Kremlin como a “santinha da ladeira” poderia estar se os seus devotos tivessem os meios faraónicos que os seus fieis (e menos fieis) gastam para o manter tão fresquinho num monumento lúgubre que, actualmente, serve de pano de fundo para noivos e noivas imortalizarem o nó.

Enquanto a senhora porta voz do PS acusa os apoiantes de Rio, vão morrendo às dezenas e diariamente os velhos, os pobres os relegados para o vagão jota da Democracia.

E Ventura lá vai amealhando votos...

 

diário político 228

d'oliveira, 01.09.20

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A grande ofensiva

Ou um fantasma percorre Portugal

d'Oliveira fecit 1-09-20

 

Se um leitor descuidado der com o texto da Sr.ª Ana Sá Lopes (hoje publicado) verificará, alarmado, que está em curso uma segunda noite das facas longas, desta feita contra o proletariado, as forças progressistas, o povo humilde e trabalhador e os seus aliados.

Então não querem lá ver que as forças do capitalismo monopolista, da reacção ultramontana, do social fascismo, dos falsos democratas e do patronato explorador (aliadas como se verá aos banheiros e aos exploradores do turismo balnear e às forças do clericalismo mais radical) querem proibir o livre exercício dos mais simples direitos democráticos consagrados na Constituição, a saber o direito de reunião, o direito de associação, o direito à alimentação e o direito a ouvir o líder do Partido (no caso, este “partido” é o único que usa letra grande) proclamar uma vez mais que está vivo o pensamento de Marx, Engels, Lenine Estaline e Mao, que a luta pelos mais amplos direitos e liberdades está a ser posta em causa pela conspiração burguesa, capitaneada pela reacção, sua filha dilecta, tudo isso alimentado pelo Governo pusilânime, pela DGS (só as iniciais dizem tudo!) pelos comerciante da cidade de Amora, pelos manifestantes da marcha lenta, pelos impulsionadores da acção no tribunal contra uma festa pacífica, patriótica, progressiva e esquerda. E esta festa é um dos mais altos cumes da cultura, quase um Evereste, pelo menos um monte Ural de sabedoria que o “Partido” generosamente oferece ao povo trabalhador, ao proletariado, às mais amplas camadas populares etc., etc...

E mais, o “Partido” nega terminantemente que este ajuntamento não obedeça às mais rigorosas regras da higiene sanitária e marxista leninista, bem como ao mais severo distanciamento social, garantindo que num recinto de 300.00 metros quadrados (o sublinhado é da camarada Ana SL, digo da “amiga” do mesmo nome, dessa esclarecida companheira de estrada do progresso social gloriosamente iniciado num dia de Outubro, aliás Novembro, e sempre percorrido, sobretudo no carinhoso arquipélago Gulag, até tropeçar num mau caminho do Afeganistão e no muro a desabar de Berlin) podem caber muito mais de dezasseis mil e quinhentos camaradas, companheiros e amigos, sempre distanciados, sempre disciplinados.

Que isto, e voltando à camarada, companheira ou amiga Ana SL, é muito menos do que o que se passa nas praias, do que se passou em Fátima (quando? E quantos?) do que se passa nos centros comerciais (quais?) é revoltante. É uma conspiração contra a paz, contra o progresso, contra as justas aspirações do proletariado (onde ele já vai), dos trabalhadores “conscientes” e com “sentido de classe”, do povo trabalhador e honesto, das forças progressistas (outra vez!) e dos intelectuais comprometidos com as “justas aspirações do povo e das forças do trabalho”. E contra o “único partido ( aliás Partido) que não verga, não desiste, mão fraqueja perante a odiosa campanha da reacção, das forças capitalistas (etc., etc...) que não descansarão enquanto não virem o país governado por Trump, Bolsonaro, Hitler, Mussolini sob a meiga sombra do dr. Salazar (que, como é sabido, “está vivo nos nossos corações”, a exemplo de Stalin, patrono durante trinta gloriosos anos –entre a fome na Ucrânia, os processos de Moscovo e a deportação de milhões de inimigos do povo, do progresso e do socialismo, para as ridentes e confortáveis regiões siberianas dos “homens de boa vontade” de todo o mundo, incluindo-se neste grupo as escassas centenas de portugueses que sempre viram na URSS, o Sol da Terra, o paraíso dos trabalhadores e o primado do Direito e da Justiça.

A burguesia e o seu mais hediondo estracto, a reacção fascista, brandem a bandeira do Covid para combater a bandeira vermelha, para esmagar os sindicatos (os bons sindicatos, que também os há maus...) e para acossar o “Partido” (com letra grande) e para negar às mais amplas camadas populares o direito à alegria, à música, à cultura em geral e às bifanas proletárias.

Camaradas, estamos a caminho do 25 de Novembro, digo do 28 de Maio!

A reacção não passará!

 

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Adam por aí uns rapazolas (e rapariguinhas) que acham que o covid é apenas um fantasma que à semelhança de um outro, bem mais antigo, andou há quase cento e oitenta anos a assustar a Europa.

E acham que o uso dos açaimes, digo, mordaças, digo máscaras, é uma manifestação da ditadura do sistema, mesmo se usadas apenas em meios fechados.

O direito à opinião, mesmo a mais disparatada, é livre mas deveria ser confrontado com as consequências. Suponha-se que, contra toda a espectativa (pelo menos do ponto de vista destes novos negacionistas), um destes protestatários é infectado. Que fazer?, como diria o falecido camarada Ulianov, ou a sua múmia embalsamada? Vai sempre guiado pelas suas convicções anti sistema, mandar a maleita às urtigas ou recorrerá ao SNS e às medidas postas em prática pelas duvidosas autoridades que propõem as conhecidas medidas por ele desvalorizadas?

Alguém aposta comigo?

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A DGS, esta, actual e não a outra, antiga e de má, péssima memória, tem uns tiques que, mesmo com muito boa vontade, se terão de considerar desagradáveis. Entre eles, o do excessivo secretismo sobre este processo que, estou em crer, lhes criou uma sensação de comer sapos vivos. Não fora a forte campanha pública e a ajuda do Presidente da República e aposto que ainda hoje desconheceríamos as regras editadas para a “festa”!

Mais, tenho as mais sérias suspeitas de que, a não aparecer uma opinião pública forte, as regras seriam ainda mais generosas.

E nisto, as desconfianças não se ficam pelo organismo da Dr.ª Graça Freitas mas alastram até às esfarrapadas desculpas de vários membros do Governo, incluindo o conspícuo dr. Costa que, aflito por ter o “Partido” do seu lado na questão do Orçamento, se desmultiplicou em desculpas de mau pagador, em piscadelas de olho, em veladas promessas e em públicas afirmações quanto ao carácter político da festa. Como se não soubesse, e de ginjeira!, que a “Festa” é o mealheiro incontrolado da organização. Que a malta só atura os dois pequenos comícios porque no resto do tempo anda nos comes e bebes e nos concertos, na festa fraternal (ninguém duvida) ou seja em meras actividades lúdicas que tem a escassa desculpa da assistência a duas repetições da consagrada cassete que toda a gente conhece de cor

Ainda sobre a DGS conviria acrescentar que o sinuoso discurso desta começa a fazer-nos pensar que aquilo é mais uma repartição burocrática do que um organismo independente. E que voga ao sabor das continuas convulsões da OMS que, nisto, também parece navegar sem leme nem timoneiro.

 

E já agora, lembrar, aos menos versados que o,4% de 500 é diferente de 0,4 de 5000 e muito diferente de 0,4 de 50.000. Ou seja, dito desse modo até pode parecer que se baixou o número de infecta. O que, obviamente, é falso. 

Diário político 220

d'oliveira, 10.07.19

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Surpresas?

Nem por isso.

d'Oliveira, desenganado, viaja pela pátria em 10 de Julho do ano da graça de 2019

(Costa, amigos da Grécia, a saude periclitante, os monumento e Fátima Bonifácio) Espíritos sensíveis; não leiam!

 

1 Em fim de legislatura o dr. António Costa teve (tem e terá?) contra ele o dobro das greves que atormentaram o dr. Passos Coelho. O dobro! Algo como, cito de memória, 70.000 contra 32.000 (não garanto estes números e não tive oportunidade de os confirmar).

Trocando por miúdos, o dr. Costa, que chefia um governo progressista num momento de grande distensão económica e de recuperação do emprego, consegue apagar o dr. Coelho que era o “inimigo dos trabalhadores e do povo, o “serventuário da troika e dos interesses mais infamemente capitalistas”...

Dá para pensar. Então Costa apanha com greves obviamente comandadas pela Esquerda (PC e PS – aqui o Bloco não pinta para nada, ou muito pouco) mesmo governando com o apoio da ”geringonça”? ) E Passos, o reaccionário vê-se agora absolvido, senão beatificado, dada a “indulgência” de que terá sido alvo por parte das forças sindicais?

Será que a nova frente sindical tem como objectivo derrubar ou, no mínimo, desacreditar um governo “de esquerda”?

Ou, hipótese fascinante mas perversa, os sindicalistas disparam sobre Costa para forçar o regresso de Passos e, aí sim, reafirmarem a vontade popular e proletária de uma “verdadeira” revolução?

 

2 Mafra, o Bom Jesus e o Museu Machado de Castro, já fazem parte do património da humanidade. Nada mais justo nem mais inesperado. A propósito, uma das televisões entendeu entrevistar a senhora que faz de Ministra da Cultura. Sem propriamente se apoderar descaradamente do sucesso, e também sem o negar, a senhora em questão teceu um par de considerações irrelevantes esquecendo o enorme trabalho dos proponentes deste reconhecimento. Esqueceu, igualmente, o descaso que o ministério da alegada Cultura tem demonstrado no capítulo do Património Construído.

A propósito de Mafra esperava-se que, de uma vez por todas, alguém do Governo viesse anunciar que se punha fim ao “imbroglio” deste palácio (e dependências) ter uma administração (?) repartida por pelo menos três ministérios (Cultura, Defesa e Agricultura) e uma Câmara Municipal (que deve ter um papel idêntico ao de Durão Barroso no famoso encontro dos Açores onde se decidiu atacar o Iraque por este ter armas de extermínio maciço...) Não houve fumo branco. Nem preto! Nem fumo! Nem sequer “só fumaça”...

Sobre o candente problema da autonomia de museus e restantes sítios patrimoniais a senhora em questão fez vista grossa às objecções levantadas pelo ex-director do Museu de Arte Antiga e jurou que estamos no melhor dos mundos.

Finalmente sobre o “não aparecimento” de obras de arte pertencentes ao Estado (e há uma boa centena delas “não aparecidas”) a criatura entendeu explicar que a culpa –como de costume – começou no século passado. Desta vez, nem sequer aproveitou para cascar no governo anterior. Antes referiu os “tempos longos” tão caros a uma certa historiografia: tudo começou nos anos 90. Ou 80. Ou quarenta. Ou com as invasões francesas...

(mesmo sem retirar a carga ideológica e publicitária que, naturalmente, teve, seria interessante recordar a campanha do Estado Novo na reabilitação, preservação ou restauro dos monumentos nacionais, levada a cabo pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e facilmente consultável por ainda estarem à venda – em alfarrabistas, claro – oa 132 +3 boletins da referida instituição)

3 O dr. Centeno (que, como o finado dr. Salazar, quando ministro das Finanças, manda nisto tudo) veio esclarecer o povo ignaro da excelência da sua acção quanto ao Serviço Nacional de Saúde. Afinal está tudo bem, houve um gigantesco reforço em meios técnicos e humanos e um invejável investimento. Qualquer notícia sobre o estado catatónico do SNS é uma fake new.

A dr. Temido, ministra da mesma pasta, abundou no mesmo sentido: “Tout va bien, madame la marquise...”

Entretanto um estudo académico, coordenado por Pais Mamede e Adão Silva, vem propor um seguro de saúde universal que daria ao SNS pés (e mãos) para andar. É um pouco o ovo de Colombo: uma espécie de ADSE geral e universal que, com pequeno dispêndio para os cidadãos, tornaria o SNS financeiramente forte a ponto de evitar as dramáticas rupturas actuais e de, no momento do pagamento de serviços médicos, reduzir este a valores mais ou menos simbólicos, É evidente que a teoria absurda e não funcional de um SNS absolutamente gratuito cairia por terra. Como, aliás, já caiu. Entre atrasos evidentes e escandalosos e falta de assistência em muitos pontos do país, o SNS é já uma miragem que só serve para dar votos ao seus defensores que, entretanto, levam a sua miopia política e social a extremos inacreditáveis e são incapazes de explicar de onde hão de vir as cada vez mais crescentes necessidades de financiamento.

De todo o modo, ninguém, muito menos eu, acredita que isto seja levado a sério. Os esforçados defensores da “albanização” do país acham que “fazer do passado tábua rasa” é a única solução. Não é, já não é, nunca foi e os exemplos medonhos do passado século deixam cruelmente à vista o que foi o reinado da utopia (soviética & similares).

 

4 Na Grécia, o sr. Tsipras foi estrondosamente derrotado. O fim do populismo de esquerda do Siriza estava há muito anunciado. E tudo começou no exacto momento em que, para governar, se aliou a um partido de extrema direita. Depois foi o qu e viu, entradas de leão e saídas de sendeiro no conflito com a Europa, a história de um referendo que vencedor foi imediatamente desrespeitado pela ansia de continuar no poder. O reforço da austeridade por incapacidade de criar reformas que viabilizassem a economia nacional, que quebrassem o poder imenso da Igreja ortodoxa e dos principais armadores (cuja fortuna continuou intocada) e outros elementos da elite económica e financeira grega.

Ironicamente, a cereja neste bolo desastrado tem origem no único gesto inteligente e ousado de Tsipras: o acordo com a República da Macedónia do Norte.

A este propósito, recordo que a Macedónia de Filipe e Alexandre não era exactamente a mesma Grécia de Atenas, Tebas ou Esparta. E Demóstenes, ateniense e orador ímpar, bem que tentou afastar os macedónios da “verdadeira” Grécia.

Todavia, o nome “macedónia” e o emblema solar tornaram-se matéria sagrada para a maioria dos gregos e isso, como a condenação do nº 666 (o número da “besta” ou do Anti Cristo).

Por cá, os antigos amigos de Tsipras (e sobretudo, as antigas amigas) calaram-se como ratos. Para elas e eles, a Grécia já não estava na moda. Tinha-se rendido ao monstro europeu que, “cínica e miseravelmente” recusava dar mais dinheiro para um 4º resgate... Durante umas semanas, eufóricas e exaltadas, a Grécia preencheu os sucessivos vazios deixados pelos naufrágios da URSS, da China, da Albânia ou do Vietnam. Agora tudo se reduz, melancolicamente à admiração resignada dos senhores Melenchon e Iglésias, meras caricaturas dos heróis progressistas. Ou, pior ainda, do sr. Jeremy Corbin...

 

5 Uma senhora que já não é propriamente nova, professora universitária, historiadora e autora de alguns livros meritórios sobre o século XIX português, entendeu parir um texto sobre negros e ciganos e sua congénita inadaptação ao mundo ocidental. A coisa nem sequer é imbecil. Vai bem além disso .E é ridícula, mesquinha, baseia-se em preconceitos sem qualquer fundamento, toma algumas mínimas partes pelo todo e está tão disparatadamente longe da realidade que, só me apetece pensar que há idades perigosas para a razão!

Anda por aí um alarido, nem sempre inteligente, nem sempre responsável, nem sempre sensato sobre o “racismo” (que existe) e que obviamente (basta ver o presente exemplo) é cretino e afrontoso. Depois, e a par, correm uma série de propostas porventura generosas mas de resultado improvável. A ideia de quotas deeria ser temperada antes e a montante por um claro, exigente esforço desde os bancos da pré primária, desde as condições de habitaçãoo. Desde o respeito pelas minorias, desde a educação da polícia e de outros agentes do Estado.

E desde uma outra e fundamental ideia. Portugal (e o Ocidente para onde foge gente de todo o mundo)deverá exigir aos que o procuram um claro respeito pelas leis e costumes. E um rápido conhecimento da língua e da cultura nacionais. Sem isso, as sociedades ghetizadas, não saem do seu casulo e da sua estranheza. Por exemplo: é inaceitável que a certos romenos se permita mendigar ou usar a mendicidade como único meio de ida. É inaceitável o uso de burkas, nikabs e outras formas de esconder o corpo e o rosto. É intolerável a ablação d o clítoris. E por aí fora.

Isto dito, convém relembrar estoutra verdade: somos um povo emigrante. Fomos, “depressa e em força” para o Oriente, para o Brasil ou para África. E depois para o resto do mundo desde a Venezuela até à França, dos Estados Unidos à Alemanha ou à Inglaterra. Só não emigrámos para o leste europeu onde os poucos portugueses que lá passaram nunca se fixaram: o frio e o primado da ideologia sustentado na contínua vigilância policial eram mais repulsivos que “os brandos costumes do regime reaccionário e clerical em vigor no jardim à beira mar plantado. E integrámo-nos com grande facilidade. Em Malaca a raiz portuguesa quase desapareceu, o mesmo se passou na Índia e em África criou-se o termo “cafrealizado” para designar colonos que viviam sem constrangimento como os povos da região. Nada disto nos iliba dos desastres da colonização que levámos a cabo e que nunca foi especialmente humanitária ou portadora das luzes da civilização. A senhora Bonifácio, que terá tido uma juventude vagamente esquerdista e é historiadora, deveria saber isto mas pelos vistos o avanço da senectude fê-la olvidar estes maus passos desta “cristandade” pouco observadora dos Evangelhos.

Desconheço se contra chineses, indianos (e outra gente de cor) também alimenta argumentos idênticos ao seu desinspirado artigo. E, no entanto, há claríssima diversidade cultural, espiritual e social entre a Índia milenar, (com as temíveis diferenças de casta) a China ou o Japão onde ainda reina uma espécie de Deus vivo. E já que se fala de “Cristandade”, relembraria o Islão e as suas versões mais radicais, o judaísmo que continuadamente se perseguiu (e se persegue) e que na sua versão estatal mais dura trata os seus palestinianos abaixo de cão. E continuando neste mimoso caminho, será que a senhora Bonifácio também tem sobre, por exemplo, as minorias sexuais e as seitas religiosas mais extravagantes, opinião?

Aqui para nós, se a tem, ha de ser fresca, fresquíssima...

Parece que alguns ofendidos entendem que ela devia ser privada de espaço nos jornais, mormente no “Público” onde vomitou o pobre texto de que se fala. Não alinho nessa cruzada: as opiniões mesmo as mais obviamente estúpidas (e é o caso) devem ser conhecidas. Para poderem ser combatidas por armas menos perigosas do que as que foram usadas nos séculos que nos precederam (desde os campos hitlerianos aos da Sibéria e ao Congo sem esquecer os primeiros de todos miseravelmente inventados pelos britânicos na África do Sul e contra os boers.

A história recente está cheia de exemplos de intelectuais que ao lado de verdadeiras obras primas (Céline: voyage au bout de la nuit; Ezra Pound “Cantos”) foram cúmplices políticos da abjecção fascista. Mas há, entre eles e Bonifácio, uma diferença abissal: eles eram geniais e as suas obras permanecem como autênticos faróis do século XX. A senhora Fátima não ultrapassa (antes fica aquém) o padre José Agostinho de Macedo, que aliás escreve bem melhor.

 

 

(As vinhetas representam ciganos em campos de concentração nazis e negros congoleses administrados pelo rei dos belgas. À compadecida atenção da senhora Bonifácio, arauto da Cristandade e da e dos valores ocidentais. Para que saiba, se é que, coisa de que seriamente duvido, esta chamada de atenção vale a pena.)

Diário Político 215

d'oliveira, 13.04.19

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O gato escondido com o rabo de fora

d'Oliveira fecit (12/13 de Abril)

 

O dr Centeno, excelso Ministro das Finanças, resolveu dizer ao Financial Times o que não diz aos jornais portugueses. Presumo que ele é mais fluente em inglês do que na pátria língua, coisa que, aliás, já me tinha ocorrido pois, sempre que o ouvia. Notava-lhe alguma dificuldade de expressão.

Em poucas palavras, afirmou que entre a política económica e financeira do anterior Governo e a do actual não houve mudanças dramáticas. Deu-se com uma mão o que se retirou com outra (impostos indirectos, por exemplo).

A riqueza líquida do indigenato local apenas aumentou na medida (e nem sequer na exacta medida) em que aumentou a do resto da Europa.

Nem podia ser de outra maneira, mesmo se o país contou com um Banco Europeu complacente e generoso, com o incremento (importante) das exportações e com o maná turístico.

(e não se refere a baixa do investimento público e a pouca atractividade denotada pelo investimento estrangeiro e, muito menos, a política de cativações que redundou num espinhoso problema no capítulo da saúde, por exemplo).

As razões desta súbita “autocrítica” de Centeno prendem-se com algum “arrefecimento” generalizado da economia europeia e nacional, com a impossibilidade de resolver os problemas salariais de certos, bastantes, corpos da função pública (professores, militares, médicos e enfermeiros etc.) como parecia deduzir-se do programa de governo e, sobretudo, do que a “geringonça” poderia pressupor. Por isso, num último momento, viu-se o pobre diabo do Planeamento e Infra-estruturas avançar com salvas de pólvora seca sobre faraónicos projectos públicos que tinham a vantagem de ser sempre futuros, muito futuros. De todo o modo, as promessas estavam feitas e o Governo que depois viesse teria de se entender com os portugueses. Isto se não se apostasse na proverbial memória curta dos eleitores cuja utilidade (escassa) é servirem de carne para canhão em épocas eleiçoeiras. Quando as coisas acalmarem, na hipótese provável de um novo Governo capitaneado pelo PS, o sr. Pedro Marques estará longe, em Bruxelas.

Não se nega a Centeno as qualidades que tem e não serão poucas. E são elas, justamente, o que fundamenta a sua cautelosa navegação sempre à vista da costa. Pessoalmente, acho que teve uma cedência infeliz: permitiu que o IVA sobre a restauração fosse revertido. Conviria lembrar duas coisas (e ambas previsíveis no momento em que a medida foi levada a cabo): as empresas não baixaram os preços mesmo quando o IVA baixou (recorde-se que quando ele foi instaurado, praticamente todos os restauradores aumentaram consequentemente os preços); depois, é bom lembrar que num país onde o turismo externo crescia exponencialmente a medida foi apenas (ou sobretudo) boa para os visitantes estrangeiros. É duvidoso que a plebe nacional tenha sofrido especialmente com o agravamento e mais duvidoso ainda que do alegado e inexistente desagravamento, tivesse obtido algum benefício.

Sei que o sr. professor doutor Cavaco Silva se referiu a este ponto mas isso não me impede de o usar. De resto, não sei se o dinheiro que se perdeu absorveria parte do desastre na Saúde. De todo o modo, quem ganhou com esta medida foram de certeza os turistas e todos os que sempre puderam dar-se ao luxo de frequentar restaurantes. A minha diligente empregada doméstica (que aliás ganha bem mais do que o salário mínimo) seguramente que não foi a correr empanturrar-se nalgum mesmo pequeno restaurante.

A Oposição bem que bramia, do poço fundo para onde foi atirada, que a austeridade continuava. Mas, em Portugal, já o disse repetidas vezes, as oposições nunca são ouvidas seja qual for o Governo em funções. Por cá as oposições são sempre más, malignas, moscovitas ou serventuárias do mais infrene capitalismo, fascistas até. Ser da oposição não é uma sina mas tão só um traço de carácter. Eu ainda sou do tempo da “Outra Senhora”, dita a “oposicrática”, e recordo com desprazer não só as bastonadas que recebi nos magros e juvenis ombros mas sobretudo o desprezo a que eram votadas todas as opiniões que não respeitavam o Estado Novo.

O 25 de Abril não mudou uma vírgula neste capítulo, basta ver e ouvir o que os partidos dizem dos adversários, o uso imoderado de expressões como ética republicana, povo, democracia e reacção. A reacção é como a Hidra de Lerna, mas como já não aparece nenhum Hércules, continua a pavonear-se por aí como sustenta o PC que mantem, sem originalidade mas convictamente, que existe na pátria uma conspiração sem fim contra as políticas “patrióticas e de esquerda” e contra o povo que o PC entende representar sozinho (mesmo se esse povo, eventualmente ingrato, só lhe conceda 10% dos votos). A Direita (bicho de que todos fogem e ninguém assume) acaba nas franjas pouco edificantes de um par de grupúsculos que detestam imigrantes, sobretudo os mais escuros, homossexuais (de todos os tipos) e democratas. Além disso, juntamente com alguma alegada Esquerda, não gostam da Europa, do euro e são férreos defensores da “soberania nacional”, esdrúxula ideia que o PC (esquecido da célebre “soberania limitada” propagandeada por Brejnev e respeitada pelo dr Cunhal, que reduzia os países “socialistas” e os seus partidos únicos e dirigentes a uma extensão desinteressante da URSS).  

O dr. Centeno fez que sim com uma mão enquanto com a outra ia cortando eito e forte e feio. Agora, perto da hora da verdade, incapaz de pagar todas as promessas de bacalhau a pataco, veio friamente lembrar que o dinheiro não é elástico e que a mais elementar prudência obriga a dizer não. A entrevista no jornal estrangeiro serviu para avisar os mercados internacionais que isto por cá não anda sem rei nem roque. E que podem, apesar de tudo, confiar no actual Governo que poderia parecer vermelho por fora mas que é verde, verdinho, por dentro. Os protestos dos aliados na Geringonça serão sempre tomados por mera campanha eleitoral. Aliás, diga Costa o que disser, se necessário fosse, havia sempre a hipótese de “geringonciar” à direita. O “centrão”, ou o que lhe quiserem chamar, está ali para as curvas, sobretudo depois de quatro anos de amargo jejum e abstinência.

O dr Centeno foi saudado por Schauble o temível ministro das finanças alemão que o apelidou de Cristiano Ronaldo. O elogio não era fingido, como se vê. Nem fingidos foram os votos para a presidência do Euro-Grupo, mesmo sabendo-se que a grande maioria dos eleitores vinha do campo conservador. Estes cavalheiros (como o dr Cavaco Silva em seu tempo) nunca se enganam. E promover um ministro de um pequeno e periférico país (como também já ocorrera com a eleição de Durão Barroso...) evita problemas entre os restantes. Centeno era, é, um excelente menor denominador comum e mínimo divisor também comum. Com a obrigatoriedade de ter, como Janus, duas caras: a europeia e a nacional, nossa.

As boas almas do costume rejubilaram com a eleição de Centeno. Que bom, que agora sim, que já nos respeitam por esse mundo fora que voltaram os heróis do mar e outras banalidades do mesmo teor .

Houve mesmo quem adivinhasse um futuro brilhante para a pátria tristonha e benefícios a granel para Portugal. A iliteracia política, entre nós, não tem limites ou, se os tem, alguém se encarrega cuidadosamente de os obliterar.

 

Apêndice que não tem nada a ver com o antecedente: os líderes europeus deram à sr.ª May alguns meses para ele sair do beco sem saída em que se meteu. Ela e o parlamento inglês, diga-se... Há porém alguns pequenos escolhos. O primeiro diz respeito à data das eleições europeias. Nessa altura ou os britânicos vão a votos ou saem de todo. Se forem a votos, os deputados que elegerem poderão causar vasto sarilho no Parlamento Europeu. Por outro lado, os “brexiters” uivarão à simples menção de votar para um aboinávl parlamento que não querem. Finalmente, alguém credita que emOutubro (já com votos e tudo) alguma coisa diferente poderá suceder?

A pobre sr.ª May aguentou estoicamente e sozinha seis longas horas numa sala enquanto os 27 estatuíam sobre o seu pedido. Pior do que isto só o blitzkrieg!

Por cá há comentadores que enchem a boca com a “mais velha aliança europeia ou do mundo”. Temos pago essa aliança bem duramente e sempre al contado. E estamos a pagar, todos, este folhetim desde há meses. Estão em jogo a permanência e o empregos de 400.000 emigrantes portugueses lá e de 40.000 reformados ingleses cá e, por muitos planos de contingência que se desenhem ninguém garante quer para uns quer para outros uma solução razoável e digna.  

 

Nota: este texto está pronto desde ontem mas razões fúteis ealguma preguiça só o trazem à dvidosa luz destedia mais que cinzento hoje. Entretanto, um comentador do Público produz algo com algumas semelhanças neste sábado. Não me copiou, claro e muito menos eu o copiei. Coincidimos, apesar de claras divergências ideológicas, numa mesma conclusão. Centeno tem a língua bífida!

diário político 214

d'oliveira, 26.02.19

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Uma morte ao retardador

D’Oliveira, fecit 26 Fev 2019

 

Morreu o Arnaldo de Matos.

Quem?

O grande educador da classe operaria.

Ah, esse...

 

 

Arnaldo de Matos, 80 anos, militante e, na sombra, dirigente do MRPP morreu há dias. No entanto, a sua morte, pelo menos política, fora há já muito tempo. E em etapas sucessivas. A primeira data dos tempos post-PREC , finais dos anos 70. O MRPP, depois do 25 de Novembro e, sobretudo, depois dos governos militares, foi-se finando tranquilamente pesem embora os murais e toda a iconografia vermelha e amarela com que pintaram Lisboa e arredores. Sem lugar na Assembleia da República (ao invés da UDP que conseguiu manter um deputado tão inútil quanto representativo de uma certa extrema esquerda), batido em sucessivas eleições que cada vez mais o confinavam a Lisboa (mas não à sua cintura industrial), perdida gradualmente a influência nas escolas superiores seus veros bastiões. O MRPP (a quem alguma irónica má língua apelidava de “eme erre pum pum”) diluía-se na paisagem política, entretido em cisões internas (a famosa “linha vermelha contra a linha negra”) e sem ligações internacionais significativas (A China não lhe ligava especial importância, preferindo outros e mais modestos, discípulos lusitanos, igualmente irrelevantes no jardim da Celeste, e, obviamente a Albânia também não).

O fim da China da grande revolução cultural e proletária, o mesmo é dizer, o desaparecimento de Mao Zedong e a lenta, dificultosa mas tenaz caminhada para um capitalismo de Estado controlado pelo partido único, o fim da União Soviética (que, mesmo se criticada pelos ideólogos do MRPP, estabelecia um padrão e uma linha de conduta para a Esquerda de todos os matizes desde os “revisionistas modernos” e/ou “social-fascistas” até aos “verdadeiros marxistas-leninistas” (maoístas), passando pelas diferentes tendências trotskistas, e alentava a ideia de uma outra margem ideológica) tudo se conjugou para criar no público a ideia da irrelevância do também fantasmático Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses nome oficial do mrpp a partir de 76ou 77.

Entretanto, Arnaldo, crismado “o grande educador da classe operária” pelos seus entusiásticos camaradas deixou os cargos dirigentes (pelo menos oficialmente) passando o cargo ao advogado Garcia Pereira que aguentou anos e anos a fio uma organização onde, segundo ele, se conspirava permanentemente contra si. O desaparecido Arnaldo, pelos vistos, advogava para ganhar a vidinha, coisa que de nenhum modo pode ser criticável.  Não é impunemente que sedeixa o palco a outro por longos anos. Esta foi a 2ª ou 3ª morte do personagem de que ninguém ou muito poucos  sabiam. Nos últimos dois, três anos Arnaldo reemerge, ele-próprio e ele-outro sob o pomposo pseudónimo de Espártaco, e vai distribuindo, para um público tão indiferente quanto restrito, elogios –raros-, excomunhões –muitas, e ataques cerrados, quase sempre. E Pereira abandona o barco, como já antes outros conhecidos dirigentes (a começar por Durão Barroso, enquanto menino, ou Saldanha Sanches – o da linha negra – ou Fernando Rosas, um dos pais do Bloco).

Todavia, Arnaldo de Matos, a quem nunca se negou grande inteligência, excelentes dotes oratórios e cultura acima da média, conseguiu –talvez a par de Francisco Rodrigues Martins, o pai da FAP e do comité marxista leninista português e ex-membro do CC do PCP, ser a mais conhecida figura desta extrema esquerda que teve os seus dias de glória entre 1970 e 1976. Antes do 25 de Abril tornou-se conhecido pela campanha pro Vietnam e, menos pela luta anti-colonial. Também controlou algumas associações de estudantes lisboetas e, coroa de glória, a última dúzia de edições de “O tempo e o Modo” que, aliás liquidou pouco depois do 25 de Abril. Ler esse conturbado ano de “o TM” é, hoje, um penoso exercício. Os textos então publicados são de uma grande ferocidade e igual pobreza ideológica. Não foi caso único esta erupção editorial. Os mais curiosos poderão com igual espanto ler alguns dos derradeiros números dos “Cahiers Marxistes Leninistes” (Union des Jeunesses Comunistes Marxistes Leninistes) que eram bem mais rebarbativos. Todavia, neste caso, a maioria daquela malta acabou na “gauche proletarienne” e nos “mao-spontex”. De todo o modo, não se livram da vergonha de terem assumidamente perdido o comboio do Maio de 68 que, pelo menos era festivo e tentava com ingenuidade “changer la vie”

Foi por estes anos, mais precisamente em 68, provavelmente durante a “Tomada da Bastilha” de Coimbra que me cruzei episodicamente com Arnaldo de Matos. Este e mais umas dezenas de adeptos da ainda “Esquerda Democrática Estudantil” mãe putativa do mrpp. A Coimbra, nesse ano, com a AAC já reaberta depois de três anos de miseráveis comissões administrativas, afluíram para a festa uns centos de estudantes maioritariamente de Lisboa. No “plenário” que se realizou, ouvi pela primeira vez Arnaldo de Matos, senhor de um verbo vibrante mas com um discurso totalmente fora da realidade estudantil coimbrã. Curiosamente, nas vésperas da maior e mais bem sucedida greve estudantil portuguesa, alguns dos visitantes entendiam dever trazer a boa palavra aos bárbaros coimbrões que pacientemente e durante três anos de luta não só tinham conseguido manter uma forte unidade mas, nesse ano de 68, tinham infligido à Direita uma rotunda derrota nas eleições associativas. Não deixa de ser irónico que todos estes revolucionários não tenham conseguido sequer secundar a greve de Coimbra.

Depois dos discursos, encontramo-nos mais ou menos casualmente e ele, AM exigiu-me com sobranceria que lhe entregasse uns livros e documentos que me tinham sido oferecidos por um italiano com quem desde algum tempo eu mantinha relações políticas. Já só me recordo do título de dois livros dessa, aliás pequena, remessa: “L’anno degli studenti” de Rossana Rossanda e “Lettera a una professoressa” um texto colectivo alegadamente atribuído aos alunos de uma escola de Barbiana. Qualquer destes livros estava a milhas do discurso dos futuros eme-erres.

A coisa ficou por aqui e nunca mais nos cruzámos. Ou melhor, em inícios de 70 (Fevereiro ou Março) alguém me passou o primeiro número do recentíssimo “Luta popular”. Trazia-o comigo quando desconfiei de umas manobras de um conhecidíssimo agente da PIDE que ao passar pela “Brazileira” me fitou com ar de espanto. À cautela subi as escadas até ao andar dos bilhares e enfiei o jornalzinho muito bem dobrado num buraco da parede escondido pela porta, que estava sempre aberta (era aliás um local que eu e alguns outros conspirativos usáramos durante algum tempo para deixar papéis). Em boa hora o fiz porque pouco depois de ter regressado à minha mesa para tomar mais uma bica, fui ignominiosamente caçado por uma flotilha de pides e posteriormente enviado para Lisboa, primeiro por uns dias para a António Maria Cardozo e depois para Caxias onde estanciei uns meses numa cela com vistas para o mar. Quando regressei a casa, fui pelo jornalinho e lá estava ele bem escondido no buraco de sempre. Infelizmente, o mesmo não sucedeu com umas dezenas de livros que me foram levados e jamais restituídos.

Arnaldo de Matos, já o disse, era inteligente. Porém, era um estalinista convicto e ouvi-lo ou lê-lo era ainda mais chato do qu ler o artigo de fundo da Pekin Information. O seu estreito mundo ideológico era primitivo e parecia tirado a papel químico do “pequeno livro vermelho”. Nada tinha a ver com Portugal, com a Europa e, pelos vistos, nunca melhorou da miopia política de que enfermava. Nem é necessário relembrar as palavras de ordem do mrpp dos “bons velhos tempos”. Basta recordar a justificação infame e criminosa dos atentados jihadistas de Paris. Dignos de Pol Pot!

Dos mortos não deve dizer-se mal mas numa altura em que as boas consciências (que Matos sem rebuço desprezava) se multiplicam em elogios fúnebres, convém recordar estes pequenos factos, a cegueira e rudeza ideológicas. E imaginar por um único instante como seria o país se o mrpp alguma vez tivesse chegado ao poder. Diga-se de boa verdade que o mesmo se passou com o babado elogio fúnebre dos fundadores da ”rote Armée Fraktion” bem como de certos membros das “Brigate Rosse” ou de outros, e tão ou mais sinistros, grupos radicais. Uma vez mortos, são transfigurados em anjos anunciadores dos amanhãs que cantam.

 

diário político 211

d'oliveira, 13.12.18

Alguém que faça o favor de me explicar

(dOliveira a 13 (dia fatídico) de Dezembro de 2018 fecit)

A partir de Janeiro, p.f., o ordenado mínimo vai aumentar. Na privada passa para 600 euros. Na função pública para 635. Será que alguém, mormente do Governo ou dos partidos que o apoiam me pode explicar?

Teremos, em vez de um, dois países ou duas nações ou duas pátrias que se confundem num mesmo e único território?

Será que o trabalho na função pública é mais complexo, difícil e trabalhoso que o que se pratica nas empresas privadas?

Desde há anos que se assiste a uma contínua reivindicação de aumentos salariais na função pública tendo como base o facto, aliás indiscutível, ou quase, de as famosas “progressões na carreira” terem sido paralisadas. Conviria, já agora, lembrar que muitas dessas interrupções na famigerada “progressão” datam do último e virtuoso Governo Sócrates, ou seja de um governo retintamente socialista de que, aliás, sobram muitos membros no actual Executivo.

Conviria talvez, e com a habitual e contumaz má fé que me caracteriza, lembrar que durante o fim desse governo e depois nos anos da troika, o desemprego campeou à rédea solta. Enfim quase: na função pública não há notícia de nenhum desempregado, de nenhum despedido. Ao que parece foi na “privada” que se concentraram todas as desgraças, toda a emigração, toda a perda de riqueza. Em boa verdade, os trabalhadores privados, além de não terem uma sinecura, um seguro de emprego, são feios, porcos e maus. Merecem o lugar abjecto que ainda têm e a desigualdade de tratamento de que são alvo.

E não serve vir arguir que a culpa desta desigualdade é dos malvados patrões, das empresas que criam riqueza, que exportam, que criam emprego real. Como diz, e bem, o dr. Costa, o país não é rico. Não é rico mas trata os seus empregados como filhos e deixa a maioria dos trabalhadores reduzidos à situação de enteados. Isto sem esquecer que o dinheiro com que são pagos os funcionários públicos sai do bolso de todos os portugueses que pagam impostos (e há muitos que estão livres dessa alcavala) pelo que a generosidade do Estado patrão tem origem no facto de não sair do bolso dos seus responsáveis um cêntimo do que gastam (e, já agora, também recebem que por ali ninguém trabalha de borla seja contínuo, ministro ou professor). Com o dinheiro alheio também eu faria milagres...

Diário Político 211

d'oliveira, 31.10.18

 

Brasil, Brasis...

d’ Oliveira fecit 29/30, Outubro, 2018

Não sou brasileiro, nunca fui ao Brasil (e bem pena tenho) mas, desde pequeno, o Brasil faz parte da minha casa. O meu pai é (era) um carioca de gema e todos os seus parentes do lado materno o eram. Em boa verdade, um longínquo trisavô, fidalgote empobrecido saiu demandou as terras de Santa Cruz, estabeleceu-se bem longe da corte, no Rio Grande do Sul e amassou uma fortuna gigantesca, com sorte, bom senso, muito trabalho e provavelmente alguma ajuda extra. Mais tarde, um médico alemão chegou aos mesmos sítios e casou com uma neta do terra-tenente. Vem daí uma longa teoria de famílias Heinzelmann e Martins que alastraram do estado do sul até ao Rio. Um desses Heinzelmann, militar de carreira ainda se correspondeu comigo via internet. (“Ué que é que você é a vôvô?”- Respondi-lhe que trineto e daí uns tempos de correspondência até ele desaparecer no éter. Em boa verdade, devo-lhe uma lista de Heinzelmann desde o século XVI que o pai, também militar coligira com dificuldade, várias falhas e muita paciência).

Depois, o Brasil foi para mim, as “Selecções do Reader’s Digest”, a revista “Cruzeiro” que chegava a Moçambique, bem como duas publicações de “quadrinhos” (Gibi e Guri) que eram óptimas.

Um pouco mais tarde irrompia, na minha mocidade, a literatura brasileira: graças e louvores se deem a todo o momento à editorial “Livros do Brasil” que nos trouxe, Amado, Veríssimo, Guimarães Rosa, Lins do Rego e mais outros tantos – nunca esquecer a abençoada Clarice Lispector, Deus a tenha o seu lado direito, senão ao colo sé que ela deixa e o Senhor se atreve. Através do Cruzeiro chegavam-nos ecos das tragédias brasileiras, ainda me recordo do fim de Getúlio Vargas, dos escritos de Lacerda, dos desenhos e piadas de Vão Gogo e de toda uma plêiade de jornalistas e cronistas que se deixavam ler com um profundo encantamento. Já perto da Universidade, chegaram os poetas. Primeiro o Manuel Bandeira e depois, em turbilhão, Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto com quem tive a honra e o imenso prazer de conversar um par de vezes. E outros, muitos outros (uma comovida homenagem ao grande Vinicius de Moraes “o branco mais negro do Brasil” que vi e ouvi no Teatro Avenida de Coimbra, em plenos anos sessenta acompanhado por dois estreantes (Toquinho e Maria Creuza). Dessa época são também os “Jograis de S Paulo”, um quarteto de recitadores extraordinário de quem consegui há pouco gravar para “cd” dois Lp de primeira água (“Poemas de Fernando Pessoa” e “Poemas Brasileiros”) que nunca foram reeditados nem passados a cd!!! Estes quatro actores tornaram-se célebres porque, mais tarde, interpretaram muitas personagens de telenovela (assim de repente só posso lembrar o Nacib, da “Gabriela cravo e canela”, a única telenovela que vi de cabo a rabo. A partir dessa, nunca mais consegui prestar atenção às que se seguiram. Defeito meu ou “Gabriela... era imbatível?

Nunca perdi de vista a política brasileira (Café filho, Kubitschek, Jânio Quadros, Goulart e uma série longa de generais que acaba com um Figueiredo que, por acaso, era irmão de um Guilherme autor de um manual/tratado sobre os chatos que é imperdível e emparelha com os notáveis escritos de Stanislaw Ponte Preta, aliás Sérgio Porto. A “ditadura” saía dali bem maltratada...

A “democratização” teve dois grandes protagonistas, Tancredo Neves e Fernando Henrique Cardozo. O primeiro foi uma esperança e o segundo lançou –mesmo quando alguns finórios esquecem a sua imensa obra (e bom teria sido se tivessem lido um seu artigo saído no “El País” há duas escassas semanas) mas FHC não cabe nos estreitíssimos quadros mentais de alguma nomenclatura lusitana sobretudo num apaixonado “madurista” coimbrão que só vê maravilhas na Venezuela e medonhas profecias nessa indigência chamada Bolsonaro). O resto das presidências do Brasil, por muito que isso custe a uma certa inteligentsia esquerdizante, morreu com o mensalão. Nunca percebi como é que houve quem passasse por entre as gotas da chuva desse imenso escândalo e se fosse aproximando da beatificação democrática. É que, nesse momento, ainda havia hipóteses de inverter a triunfal marcha do populismo que se alimentava da corrupção avassaladoramente crescente de um regime exausto que fugia para a frente semeando medidas populares sempre segundo uma conhecida receita sul-americana que Perón e seus sucessores inventaram para anestesiar a Argentina e manter até hoje uma coorte popular saudosa desses tempo de desastre nacional anunciado (nem os anos dramáticos da Junta Militar conseguiram -no meio de um cortejo de horrores- vacinar duradouramente os “descamisados”).

Pelos vistos, só entredentes e em voz baixa, é que há quem lembre as responsabilidades da “Esquerda” neste vertiginoso caminho para o abismo. A “Direita” só não aproveitava este desastre ético, social e económico se fosse absolutamente imbecil. E nunca, por nunca, o é.

Ontem, na televisão, o pomposo dr. Louçã insistia na tola trivialidade: Bolsonaro é “fascista”. Eis uma qualificação fácil, encantatória, própria de um sacristão retardado que, pelos vistos, não aprendeu a história do século XX. Bolsonaro é claramente de Direita, odeia homossexuais, criminosos ( e no Brasil, no último ano, houve vários homicídios por dia, parece mesmo que por hora!), tem uma devota admiração pela generalagem da última ditadura que, aliás saiu pelo seu pé sem revolução das massas ou golpe de algum quartel menos autoritário. Nada disto absolve os militares golpistas mas também não eleva a nenhum altar especial os seus opositores (que, uma vez caído o regime, se multiplicaram como os pães e os peixes evangélicos. Como cá, aliás, como cá...).

A democracia brasileira teve de tudo e, sobretudo, abundaram os políticos medíocres, os Sarney, os Collor de Mello, os Itamar Franco... A ascensão do Partido dos Trabalhadores foi fartamente ajudada pela mediocridade desta gente e poderia ter produzido um estado regenerado não fora a fatal atracção pelo abismo. A corrupção aumentou e com ela aumentaram os corruptos, os corrompidos, a exasperação de quem assistia a este deboche.

Quando o cerco judicial a Lula se começou a apertar, Dilma Roussef, a “presidenta” (é dela o termo tão enganadoramente feminista) não soube, ou não pode, ou não a deixaram, distanciar-se do padrinho, bem pelo contrário. Caiu com ele, perante o protesto dos que subitamente entendiam a Justiça como demasiado politizada. A mesmíssima Justiça que já tinha atirado para a prisão dezenas de poderosos empresários e acusado outros tantos para não falar da multidão de políticos indiciados e arguidos por corrupção. Mas a “Justiça” só é boa quando varre os nossos inimigos...

O PT, entretanto, não percebeu que um candidato preso não é um candidato credível. E que insistir nele pode ter efeitos imprevisíveis. E assim começou a surdir um candidato improvável, um deputado discreto que percebeu (e para isso não era preciso especial clarividência) que o eleitorado brasileiro achava insuportável o partido no poder, o sistema, o desemprego que crescia exponencialmente, a criminalidade incontrolável o custo de vida, as tentativas canhestras (sentidas, aliás, como ilegais, imorais e injustas) de libertar Lula.

Haddad, que poderia ter sido um excelente candidato original e não – como a sociedade brasileira pressentiu – um “pau mandado” (que reunia semanalmente com Lula!!!), um homem de palha que, uma vez no poder, amnistiaria imediatamente o seu mentor, foi escolhido quando o furacão já vinha a caminho. A pergunta que poderia fazer-se é se o aparelho “pêtista” sequer o queria, se confiava nele se não esperava apenas o momento de o defenestrar, uma vez ele eleito e amnistiado Lula.

Percebe-se a desconfiança dos outros candidatos ditos democratas, o mais que tíbio apoio (sempre “crítico”) que deram a um homem que fora, todos concordam, um bom governador de S Paulo, mas que não tem qualquer mandato electivo para poder agir num futuro imediato. De que modo poderá Haddad intervir? Terá o apoio do partido a quem evitou uma derrota humilhante? É bom não esquecer que, da primeira para a segunda volta, o PT com Haddad registou uma subida quase vertiginosa (de 22 para 44% mesmo se nesse número se possam, e devam imperativamente, contar-se com as vozes de todos que repudiavam Bolsonaro mesmo que a simpatia para com o PT fosse inexistente ou diminuta.

Por outro lado, o PT tem a maior bancada no Congresso onde campeiam cerca de trinta partidos. Com esta pulverização partidária, Bolsonaro não terá a vida fácil. Não me custa pensar que terá de misturar alguma água ao seu vinho se é que não será obrigado a engolir sapos, e bem gordos. O mesmo sucedeu, aliás, a Trump que já viu medidas programáticas suas serem derrotadas e abandonadas. Julgo mesmo que a privatização de algumas grandes empresas públicas naufragará na antiquíssima tradição brasileira, reforçada nos tempos de Getúlio que, se não erro, foi quem estatizou a Petrobrás, entre outras.

No que diz respeito às medidas securitárias, é bom recordar que a polícia depende das autoridades estaduais (e os Estados do Nordeste são pêtistas) pelo que, mesmo neste ponto extremamente melindroso, muita água passará debaixo da ponte.

A liberalização do uso e porte de armas levanta um curioso problema: pelos vistos, no Brasil, os criminosos sempre tiveram um acesso franco e fácil à aquisição de armamento (de que fazem um uso generoso e imoderado: não são apenas os 36.000 homicídios contados anualmente mas a quantidade provavelmente muitíssimo maior de agressões, roubos, ameaças e assaltos diariamente perpetrados o que faz com que muitos particulares sintam essa promessa como justa, leal e necessária. Tudo isto terá de passar pelo crivo do parlamento onde os bolsonaristas, lato senso, não detém a maioria.

O “fascismo” na sua essência pressupunha uma visão pagã da vida, um partido único, militarizado, organizações militarizadas da juventude, dos sindicatos, submissão das igrejas ao Estado quando não o seu enfraquecimento. Por muitas homilias que Louçã pronuncie, nada disto, pelo menos nos curto e médio prazos, é ou parece ser exequível.

De todo o modo, o discurso do futuro presidente do Brasil é assustador, repelente e não augura nada de bom. A personagem é antipática, o seu passado é risível e são permitidas todas as dúvidas (até as menos razoáveis) sobre a sua capacidade para governar. De certo modo, isso acaba por minorar algum receio (minorar, repito, não apagar) que eu tenha. Bolsonaro terá de se apoiar em alguém como já é patente no que toca à Economia (onde, temivelmente, parece prosperar um ultra-liberal) e na Casa Civil.

O Brasil, não sendo uma “tenda de milagres”, não é também um país conformista, habitado por dóceis fantasmas. O famoso “jeitinho”, o desembaraço, a atitude lúdica e desafiante de boa parte da sua gente, se levaram à catástrofe da corrupção instituída e respeitada, também permite pensar num combate vitorioso a esse estado das coisas e numa eventual eventual salvação. Assim seja

 

Diário Político 2010

d'oliveira, 18.10.18

Remodelar, verbo transitivo

D’Oliveira fecit 17-Out-1918

 

Se apenas nos detivéssemos a analisar os discursos, prima facie, seríamos surpreendidos por esta brusca dança de cadeiras no Governo. O Primeiro Ministro andou nos últimos meses a dizer que tudo estava bem, que não mexia nas suas criaturas. Em jornais e na televisão esta foi a pauta musical mais usada. Usada, diga-se, até à exaustão.

Afinal, havia uns ministros exaustos, usados, desgastados. Alguns saíram no domingo depois de terem aprovado um Orçamento que outros hão-se cumprir. É bizarro mas é assim. Cavalheiros com o pé no estribo aprovam o mais importante documento que não irão cumprir! Portugal is different! Allways...

Há quem diga, fiando-se apenas no habitual nariz de cera desta ocasiões, que estes responsáveis saíram por seu pé. Que, ao contrário dos comentadores mais maldosos, inimigos do Governo, pedreiros livres, bolchevistas e tudo o mais que alguém se lembre, estas agora desaparecidas criaturas chegaram-se mansamente ao dr. António Costa e pediram com varonil insistência que as deixasse ir para o sossego dos seus lares, para o conforto da família, agora que o Natal está próximo...

Este “suave milagre” não tem grande base. Primeiro porque, se alguém quer mesmo sair, sai nem que seja a bater com a porta. Depois porque, pelo menos no caso do ex-ministro da Defesa, a sua defenestração estava na ordem do dia há meses. Só por birra bizantina é que a criatura não percebia que estava a mais, que, eventualmente, sabia de mais. Quem o viu, nas últimas semanas, garboso e marcial, ao lado do Primeiro Ministro que o cumulava de amabilidades, percebe perfeitamente que o homem se agarrava ao lugar como lapa ao rochedo. Estava, parecia dizer, de pedra e cal.

O senhor Ministro da Cultura, depois de mandado para casa, afirmou que fora muito feliz no seu ministério. Ora quem diz isto não faz supor que andasse pelos cantos do palácio a remoer mágoas e queixumes e a pedir pelas alminhas que o soltassem daquela medonha prisão da Ajuda.

O senhor Ministro da Saúde, não só permaneceu impávido e sereno (e muitas vezes com razão, demasiada razão...) perante os ataques de médicos e de enfermeiros, perante os remoques sobre o SNS (de cuja quase falência de nenhum modo era responsável: é bom lembrar que ali, na falta de meios, andou sempre a mãozinha de Centeno) foi, também ele, alvo da defesa pertinaz do chefe do Governo.

O discreto ministro da Economia que nunca conquistou as simpatias dos media, do público, das empresas e do resto, desdobrou-se nas últimas semanas num frenético rol de actividades, aparecimentos, promessas e declarações que, também, não prenunciavam qualquer ímpeto de abandono. Bem pelo contrário.

E por aí fora (sem esquecer Seguro Sanches que sai para alegria de todos os que andam a ganhar a vidinha cobrando ao Estado, melhor dizendo a nós, balúrdios muito mal justificados se justificação cabe aqui).

A imprensa, falada e escrita, jura que esta mudança tem em vista fortalecer a componente política do Governo. Não consta que, por exemplo, a dr.ª Graça Fonseca conheça melhor o mundillo cultural do que qualquer dos seus antecessores. Sabe-se, isso sim, que é uma fiel entre os fieis de St. António Costa pai dos milagres sucessivos. Idem quanto ao jovem Galamba cujo conhecimento das políticas energéticas é desconhecido de todos. Mas, também ele, é um fiel mais seguro do que o embaraçador Sanches que de seguro só tinha o nome.

Diz quem sabe que a novel ministra da Saúde tem sobre o sector um olhar que não se diferencia especialmente do substituído ministro. Mas que este estaria desgastado pela violenta e persistente ofensiva das corporações da saúde e pela endémica falta de dinheiro. A ver vamos se, como no das rosas, haverá o milagre da multiplicação de verbas para a Saúde.

As remodelações ocorrem quando algo começa a falhar ou para, pelo menos, dar a imagem que há algo de novo no horizonte. A “novidade” é um produto que vende bem sobretudo em época pré-eleitoral. Todavia, lembremos que vinho velho em odres novos não demonstra nada, mesmo se o provérbio fale em vinho novo em invólucro bem antigo.

E finalmente, a pergunta ou a constatação: estes novos responsáveis vão governar dentro de umas balizas orçamentais para as quais em nada contribuíram. É verdade que o Orçamento só fecha depois da discussão no Parlamento. Mas alguém acredita que, depois de tanta discussão no interior da “geringonça”, mude algo de substancial? Que os recém chegados Ministros que terão de penar um par de semanas só para conhecer os corredores do seu ministério e alguns dos mais importantes dossiers, poderão ter na discussão uma intervenção realmente produtiva?

As remodelações são sempre uma aposta ou, no pior dos casos, um remedeio para situações controversas (ainda hoje, em França, se noticia uma e seguramente que na Alemanha estará na forja algo do mesmo género dada a nova situação criada na Baviera onde a CSU registou –mesmo vencendo – o seu pior resultado em cinquenta anos E o SPD quase despareceu: tem menos de 10% dos votos e e 2º partido passa a 5º).

As espectativas que geram ou pretendem gerar é que não são sempre as mesmas. Por cá, o mais interessante foi a reacção dos parceiros da coligação. Apanhados de surpresa, reagiram comedidamente para não dizer desconfiadamente. É que dois cenários se perfilam: Costa quer a maioria absoluta ou tão só pretende evitar a usura de mais um ano complicado. Convenhamos que este é o que mais conviria ao BE e ao PC, sobretudo ao primeiro. Só que, neste caso, há uma confissão de que nem tudo o que brilha é ouro de lei. E, nesse caso, os partidos que, fora do Governo, o apoiam também devem pagar parte do prejuízo.

Claro que nada disto, neste momento, permite que a Oposição se entusiasme. Os anos de governo de Passos (nem sempre justamente) são considerados os da crise. Sócrates está demasiado longe para que alguém se lembre da falência trágica que fez a Troika entrar em Portugal. E, para maior ironia, o tratamento de choque aplicado pela coligação de Direita está na base do ressurgimento que, anos depois, se verificou e ainda se verifica. Isso e a política do BCE, o imenso esforço de reconversão das indústrias exportadoras e a vaga de turismo sem precedentes propiciada pela insegurança na grande maioria dos destinos turísticos mediterrânicos.

Dir-se-á que o povo português pagou um alto preço nesses anos dramáticos, a começar pelo desemprego. Também aqui, convém separar as águas. Foi o sector privado quem, de facto, sofreu a vaga de falências, de despedimentos, de empresas encerradas. E a emigração. Os funcionários públicos mantiveram os seus postos de trabalho mesmo se, como com os professores viram algumas espectativas bloqueadas. Aliás, os famosos 9 anos, quatro meses e não sei quantos dias dos senhores professores não começaram com Passos mas sim, antes, com Sócrates. O mesmo Sócrates que na iminência das eleições de 2009, aumentou os vencimentos da Função Pública...

No entanto, na hora do voto, a memória não costuma mergulhar tão longe e é com isso que Costa conta.

Ainda é cedo para analisar as medidas propostas no projecto de OE. Algumas, porém, são apenas fachada. Assim, a proposta de diminuir em 50% o IRS dos emigrantes que regressem só terá impacto se de facto houver regressos. O que parece pouco provável pelo que até à data se conclui das declarações dos interessados. Não vejo um enfermeiro, por exemplo, a trabalhar na França ou na Inglaterra a resolver baixar fortemente o seu salário atual para vir ganhar o que os congéneres recebem em Portugal. A incidência de 50% no IRS não parece argumento suficiente.

Outro ponto, que aliás me surpreende, é a baixa generalizada de propinas universitárias. Tal facto aproveita a pobres, remediados e ricos. E embaraça as universidades que, a secas, perdem 50 milhões de euros que, eventualmente, serão repostos pelo Estado. Porém, como afirmava a Federação Académica do Porto, esses milhões permitiriam duplicar o número de residências universitárias. Ora o alojamento de estudantes nas maiores cidades (Lisboa, Porto, Coimbra ou Braga e Aveiro) está caríssimo e raro. Os duzentos euros que cada estudante pagará anualmente a menos são uma gota de água no preço de quartos que atingem e até superam os 500 euros mensais.

Esta medida foi apresentada pelo BE e aceite pelo PS. Percebe-se que o BE saído da burguesia urbana de Lisboa e Porto não sinta com a mesma urgência o problema dos jovens deslocados da província. Ou não se percebe, mas isso é outro contar...

Também não se vê um abrandamento na incidência dos impostos indirectos, os mais danosos porque atingem todos. Atingem desigualmente, ao fim e ao cabo, visto que o mesmo imposto no preço de um quilo de batatas tem significados diferentes consoante se ganhe o ordenado mínimo ou um salário de, p.e., 2000 euros.

O Orçamento é sempre um instrumento político o que não é grave. O problema dos orçamentos feitos no fio da navalha é outro: basta que os juros subam, ou subam mais do que o previsto e a dívida dispara e o deficit aumenta. Mesmo que não se espere nada de dramático, não deixa de ser preocupante o facto de todas as previsões indicarem uma atenuação do crescimento. É por isso que a OCDE e o FMI discordam da previsão optimista de Centeno. Por outro lado, a guerra comercial EE.UU. /China e o desenlace do Brexit, deixam pairar mais sombras do que luz sobre os anos mais próximos.

Há pois mais incertezas do que as que nos querem fazer crer. Claro que não é morte de ninguém um défice mais alto, ligeiramente mis alto do que o proposto. Há caminho feito e poderemos esperar mais um ou dois anos pelo equilíbrio orçamental. De resto, os orçamentos são sempre passíveis de medidas de correcção (“retficativos”), como se viu em anos precedentes. Não se pretende ser profeta da desgraça (nem ela é desejada, bem pelo contrário) mas convém gastar menos nos foguetes no caso de ter de apanhar as canas na cabeça. Cautela e caldos de galinha nunca são de mais.

 

(nota que tem pouco a ver: o Chefe de Estado Maior do Exército demitiu-se. Menos um trabalho para o Ministro Cravinho. Não poderia desejar melhor ao filho de um bom, velho e leal amigo).