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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 800

d'oliveira, 15.05.23

Um cheirinho a autoritarismo e a passado

mcr, 15-5-2

 

deixei de fumar há uns bons 25 anos. Foi uma decisão pensada mesmo que, fumador inveterado, nada sentisse quanto os efeitos do tabaco.

Apenas isto, subitamente pensei que deveria parar, e parar imediatamente, sem apelo nem agravo. Por uma questão de bom senso a que não faltava uma ponta (ou várias) de orgulho.

Como única ajuda, arranjei uns selos aparecidos na altura de que o médico que consultei para pedir a receita obrigatória, disse que talvez valesse a pena tentar.

O tom pouco convicto de médico depois de saber que eu jogava na primeira divisão fumadora a quatro maços por dia, exasperou-me e deu-me mais força para enfrentar o desmame do tabaco. Comecei por usar o selo e, de duas em duas horas puxava do cigarro e dava-lhe uma aspiradela. Uma e só uma. Guardava a pirisca esperando que me desgostasse para a próxima mas nem isso ocorreu. O meu dia nessa época dava para três quatro cigarros avidamente acesos e chupados!

Ao fim de mês e meio, num dia em que almoçava com a minha mãe em Cascais, fui pelo cigarrinho e e descobri que me esquecera do maço. “Não faz mal, fica para a hora do lanche. À hora do lanche desafiei-me e deixei para depois do jantar. E quando chegou  a hora, decidi ir para a cama a secas.

Nunca mais puxei de um cigarro mas durante um ano andei sempre com um maço no bolso. Devo dizer que este desmame à bruta (os selos eram para três inteiros meses...) provocou-me semanas, que digo!, meses de algum sofrimento. Tanto mais que sonhava apavorado que estava a fumar!

Nunca mais fumei, deitei o maço fora e até hoje. Parece que o meu pulmão estará em grande forma como se nunca tivesse acendido um paivante. 

Não sou um anti-fumador convertido à verdade, mesmo que me custe sentir o fumo de alguém que, eventualmente fume perto de mim.

Quando saiu a lei que ainda nos rege sobre o uso do tabaco fui entrevistado e disse que, em certos pontos, me parecia demasiado severa.

Agora, uma senhora secretária de Estado veio à janela da televisão e anunciou um terramoto anti-tabágico.  

Lembrei-me logo da “lei seca” nos Estados Unidos, verdadeiro motor da implantaçãoo e crescimento desmedido da Mafia ou, melhor de várias máfias, do crime organizado das perseguições aos bares clandestinos, da corrupçãoo que cresceu no seio das polícias por via dos pacotes de dólares dos gangsters, enfim lembrei-me de tudo. Que a medida não resultou nem fez diminuir seriamente o número de bebedores todos sabemos. Que após o fim da lei seca as mafias se reconverteram nas drogas, idem, aspas. Que os crimes causados por alcoólicos não diminuíram é uma evidência, sobretudo num pais onde as armas mais sofisticadas se compram quase em todas as esquinas.

Temo bem que esta lei por ora anunciada, este higienismo a outrance, este pacote severo que lembra o passado (e eu conheci e vivi trinta anos nesse passado de medo, denuncia, “bufaria”, pide desenfreada) autocrático, afascistado do país.

Há na nova hipótese de lei coisas que bradam aos seus mesmo se não chegam às orelhinhas da Secretária do Estado ou do Ministro da Saude que de resto só se ouve a si próprio e gasta o seu tempo a perorar sobre as maravilhas actuais do seu ministério. 

A coisa lembrou-me um romance que foi um enorme êxito, “A 25ª hora” até em português foi traduzido! 

Suponho que é aí (ou será noutro romance também lido mas de que não recordo o nome) que aparece a história de um grupo de adolescentes convidados a uma qualquer dura tarefa nos tempos da Roménia comunista. A descrição do futuro que o camarada controleiro faz do trablho que eles irão desenvolver parece um radioso conto de fadas futurista que, inclusive, trará aquela região “um céu mais azul”.

Eu desconfio, sempre desconfiei das boas intenções que justificam sempre leis restritivas da liberdade individual e que, ainda por cima, nem sequer tomam em linha de conta a realidade nacional. 

A proibição de venda de tabaco em cafés vai sobretudo cair sobre todo o interior, sobre o litoral menos habitado onde também há povoações que só tem um café/tasca para todo o serviço.

A televisão já mostrou um velho alentejano que terá de calcorrear mais de vinte quilómetros para encontrar uma tabacaria. 

Também não percebo porque razão se há de vender tbaco nos aeroportos se no resto do país há tantas restrições, desse a proibição das máquinas, à proibição de venda em papelarias, quiosques e tudo o resto...

Na melhor hipótese é mais um frete que este Governo sempre obsequioso, sempre de pata pedinchona estendida ao eventual estrangeiro que trará para cá o cacauzinho que não aquece as algibeiras portugas, A proibição nas bombas e serviços assimilados das autoestradas convive com a exuberância de álcoois de venda livre. Afinal um condutor bêbado (e rodos os dias se apanham dúzias deles) não consegue prejudicar tanto a nossa rica saúde como o cigarro.

Claro que vai haver prevaricadores em todas as esquinas e, a menos que se recrutem à fartazana, polícias, bufos e restante pessoal, a coisa vai ser uma lei seca à portuguesa. Na falta de sítios onde comprar os cigarrimhos não faltarão locai clandestinos, vendedores clandestinos, enfim mais uma pequena mafia que crescerá como crescem todas as outras. Por exemplo, as da droga que enchem o país de lés a lés, desde os portões das escolas até locais pouco frequentados onde a qualquer hora se pode ver um mariola a picar-se, outro a fornecer, vários acampados (basta ver o que se passou no Porto...) miúdos a roubar primeiro os pais, depois os familiares e no fim toda a gente. Até morrerem de overdose!...

Entretanto, o álcool vende-se livremente, a garotada universitária faz questão de desfilar no cortejo da queima bêbada como um cacho, o que resto já se tornou uma tradição.

A vida, dita nocturna, a movida à portuguesa, exemplifica como o álcool circula. Se for preciso há sempre um adulto para ir buscar lá dentro uma rodada de  cerveja. Isto quando os proprietários se mostram difíceis, o mesmo é dizer que ou se coloca um polícia a casa canto do balcão ou a venda entusiástica continua.

Os restantes dispositivos legais anunciados não destoam deste higienismo, melhor dizendo desta pobre imitação   de uma autocracia higienista.

O actual ministro perde-se em palavreado mesmo se, como hoje, as notícias falam em consultas adiadas por três ou mais anos. Como de costume é o Interior qu apanha com os atrasos. Esta hipótese de lei parece um fuga para a frente.

Pelos vistos a Secretária de Estado, que será um médica experiente, não se pode gabar de algo que neste caso, é política pura e dura. Provavelmente daria uma excelente missionaria nalgum perdido país africano onde, de resto, poderá ainda subsistir o saudável hábito de comer os religiosos que os procuram confortar espiritualmente quando eles, sofrem de fome, de pobreza, de doenças e de agressões militares. 

Os portugueses tem problemas piores do que o tabagismo mesmo se este não seja grave, como o alcoolismo! Como as drogas pesadas! Como a falta de médico de família, de urgências abertas, de  cuidados continuados (terão fechado quase noventa camas recentemente...)

Não lhe desejando que figure no menu de um bando de canibais sempre lhe recomendaria o regresso ao hospital onde exercia uma medicina de qualidade. E recordar-lhe que há uma coisa chamada “princípio de Peter”. Ao ministro já se não recomenda nada. Nõ vale a pena!... 

 

 

 

estes dias que passam 799

d'oliveira, 10.05.23

O Sis novas tarefas

mcr, 10-5-23

 

Não sei o que é que as criaturas que velam pelo SIS foram dizer na AR. 

De todo há apenas a afirmação que tudo se passou “nos conformes” porquanto o ex-ajunto Pinheirov entregou na rua o computador.

A minha pergunta é simples e baseia-se na ignorância de Pinheiro quanto a intimações do SIS. Será que se ele se trancasse em casa, o SIS desistiria da gloriosa mansão encarregada por Galamba e voltaria de orelha murcha à toca? 

Mais, se Pinheiro, mesmo na rua, se recusasse a entregar o computador exigido? Que faria o SIS?

De todo o modo: serve o Sis para como moço de recados ou cabo de esquadra andar por aí a cumprir os pedidos ou ordens de um ministro?

Será que a alegada “informação reservada, especial ou classificada” merece a actuação policial do SIS?

Não vou classificar o facto de só seis horas depois de alertado o SIS, houve comunicação À PJ. Seis horas parece-me demasiado para tõ urgente tarefa e faz-me pensar que alguém, com mais bom senso que o iracundo ministro, o preveniu da “argolada” cometida e o aconselhou a recorrer aos meios mais adequados de busca e apreensão de computadores vadios. 

Aliás, ainda estou perplexo com os métodos de escolha dos adjuntos.   Então serve ualquer um* Não se investiga se a criatura tem impulsos desfasados, manias, é eventualmente infiel ou de pouca confiança?

Eu tinha ideia que este sr Pinheiro era maisum produto do viveiro da jota socialista.

Verifico que não, que entrou nesta alta roda pela mão da srª Ana Drago quando ela briosamente representava o BE. Seria Pinheiro um dos infantes desse ajuntamento que, posteriormente, viu a luz e mudou-se de armas e bagagens para a órbita do PS, considerando que este partido era o que “estava a dar”?

E, já que estou com a mão na massa, que dizer da saída inopinada do sr presidente da comissão de inquérito, amuado com os insistentes e naturais pedidos de tempo para apuramento da verdade? Que ºe passou na cabecinha sonhadora desse cavalheiro? Perceberá ele que esse abandono dos trabalhos é, mais do falho de qualquer bom senso (já nem refiro a inteligência), algo de profundamente ridículo?

Não haverá alguém dentro do PS que, mesmo sigilosamente puxe a orelhinha do recalcitrante e mal humorado desertor (temporário?) da comissão? 

A pergunta (outra) que várias vezes me ocorre é esta: Vale tudo? 

A reposta que mais me acode nesses momentos de  desânimo é que, de facto, tudo leva a crer que vale tudo (e mais qualquer coisa).

estes dias que passam 798

d'oliveira, 02.05.23

 

 

 

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Garraiada infantil

mcr, 2-5-23

 

 

Isto também se podia chamar “cada cavadela cada minhoca”, pois  a coisa adquiriu um ar de motu continuo imparável!

O que mais surpreende é não tanto a desenvoltura de um pobre diabo que foi promovido a ministro quando nem para contínuo de uma repartição serviria mas a falta de sentido de Estado, a falta de senso, a incapacidade de perceber o resultado de qualquer acção.

A ideia peregrina de chamar o SIS como quem chama o guarda nocturno (ou chamava que agora já não há disso) para nos abrir o portão, permite afirmar que, pelos vistos, não se sabe que o SIS não é uma polícia, não está à disposição de um ministro, nem pode, sequer fazer o que eventualmente foi feito, isto é intimidar um cidadão (também ignorante!...) e reclamar-lhe um computador com alegada “matéria reservada”.

Diga-se, en passant, que também não se percebe como é o dito SIS ou quem nele superintende se deixou convocar para uma tarefa de cabo de esquadra.

Depois há a historieta sobre a troca de insultos, gritos, tabefes, sei lá que mais, na sede de um ministério com duas criaturas a refugiarem-se num lavabo a fugir de um pretenso agressor. O alegado agressor terá chamado a polícia (!!!) que o retirou do local protegendo-o

Para tornar esta jornada ainda mais lamentável, há a queixa crime, se é que houve de facto uma queixa crime. Ou seja, mete-se também a PJ na medonha balbúrdia que seguramente deve estar (no caso de ser conhecida lá fora )  a fazer rir meia Europa.

É isto um país europeu, ocidental, civilizado?

Passados que são dois ou três inteiros dias, a criatura infra-estrutural ainda não foi mandada para casa com armas e bagagens?

Há muitos, muitos anos, numa Coimbra, combativa mas agoirada pelo peso da universidade e pela sombra de bufos e polícias, a última  latada de letras (que despertou farta gargalhada mas valeu  a prisão ao seu principal responsável, António Luís Landeira) tinha por mote uma frase que nunca esqueci:

“Há governos que caem pela força, este cairá pelo ridículo!”

não caiu ainda durou onze anos, onze anos perdidos, odiosos, que agora parecem emergir numa caricatura obscena.

(* são sete da tarde, vou aguentar a impaciência da CG, alguma pouca curiosidade, esperando ouvir pelas oito a notícia da defenestração da criatura Galamba. Será pedir demais?)

 

 

 

estes dias que passam 797

d'oliveira, 30.04.23

 

 

 

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É tudo farinha do mesmo saco!...

mcr, 30-4-23

 

 

As peripécias a que vimos assistindo sobre o caso TAP mais parecem uma caricatura de um drama de faca e alguidar.

O espectáculo é penoso, caricato e nem vontade de rir dá.

Não se passa um dia sem que apareçam novas histórias, novos factos, que dão dos personagens envolvidos uma ideia de que estamos a ver um espectáculo de feira pobre onde a estupidez parece ser o único elo entre as cenas, as personagens e o público.

Como alguém dizia, é demasiado mau para acreditar. Infelizmente, tudo isto é real, tudo isto desemboca na mesma fossa a céu aberto. Desde uma parvoíce sobre semântica, a uma reunião que afinal são sua, uns mails tontos que os autores nem sequer protegem, enfim uma balbúrdia que faria rir toda a europa, Putin incluído, se porventura alguém se lembrasse de olhar para esta canto perdido onde a terra acaba e o mar começa, onde o bom senso naufraga e a estultícia burra enche o peito.

Nem sequer. me vou dar ao trabalho de saber quem mente, pois é visível que todos metem o pé na poça, se desculpam com meias verdades que ainda pioram a mentira original, o erro monumental que custou ao país alguns milhares de milhões (e inda vai custar outro tanto...) .

Depois, emerge medonha e sinistra, a tentativa de continuar agarrados ao rochedo, qual mexilhão que não percebe nem as ondas nem o pescador que espreita a maré baixa.   

Um ministro que declara enfaticamente que é ministro e que te todas as condições para governar não percebe já não o riso mas o desprezo da rala multidão que acaso ainda se dá ao trabalho de o escutar.

Um rapazola, decerto vindo da jota e da intrigalhada do aparelho que de há anos a esta parte vai assessorando uns e outros,  com o mesmo desvelo, a mesma alegre ousadia que, subitamente se “lembra” de uma borrada qualquer e, amedrontado avisa que vai falar se o obrigarem e que à cautela, depois de corrido como um leproso, vai ao antigo gabinete buscar um computador cuja propriedade é incerta ese vê impedido de sair, a pontos de chamar a psp que o retira de lá, duas alegadas secretarias que, afirmam ter sido obrigadas a esconderem-se numa retrete (atrás ou dentro da sanita?), queixas cruzadas na PJ, o SIS, ah o Sis!!!, a ir pressuroso buscar o computador carregado de segredos que é prontamente entregue, sem oposição nem violência (mas seguramente com tudo já copiado para uma pen posta a bom recato) toda esta comédia baratucha que já não faz rir mas apenas nos envergonha a todos.

“...Estamos tocando el fondo...”

 

 

* a citação final é um verso de “La poesia es un arma cargada de futuro” (Cantos Iberos, Gabriel Celaya, 1955.  A minha edição é da ed Turner, Maddrid, 1975) .Este poema foi cantado e muito divulgado por Paco Ibañez (cd “Paco Ibañez aen el Olympia” Effen, 100432)

estes dias que passam 797

d'oliveira, 19.04.23

A “conspiração” na versão de Raquel 

mcr, 18-4-23  

 

Há um ror de anos, numa das costumeiras querelas internas do MRPP, apareceu uma palavra de ordem condenatória de uma das facções que era mais ou menos assim: “agitar a bandeira vermelha para melhor combater a bandeira vermelha” e, se bem me lembro traduzia mais um enésimo combate entre a linha justa (a vermelha, claro) e a linha negra. 

esta versão pitoresca das desavenças ideológicas dentre do inenarrável partido de Arnaldo de Matos (o grande educador da classe operária)  veio-me à memória a propósito de uma declaração da srª professora Varela sobre o caso Boaventura. Pelos vistos, ainda que enviesadamente, esta senhora entende que nisto das denúncias à crua luz do dia tem origem numa campanha da Direita para desacreditar um cavalheiro que, pelos vistos, alguém considera um ícone da Esquerda! 

De nada valeu o facto das denunciantes serem tidas, pelos vistos, como mulheres e Esquerda, o mesmo sucedendo nos dois casos latino americanos, igualmente de cara descoberta que corroboraram a denúncia. 

É como facilmente se conclui um grupúsculo infiltrado de agentes do Chega ou algo do mesmo teor e substância que quer aniquilar a Esquerda nacional pondo nas páginas dos jornais (também de Direita ou servindo-a) a notícia de uma continuada predação sexual.

Eu percebo o embaraço de certas criaturas  ou como dizia uma jornalista do Público, a coisa teria sido mais fácil se ao Boaventura se cortasse a bondade e ficasse a triste criatura que chefia o Chega. 

Aí não haveria problemas jurídicos ou para-jurídicos. O pelourinho aí estria já com as cordas penduradas  e o povo à espera, babando-se.

Eu não recordo as opiniões que a dita senhora expendeu sobre o caso dos abusos na Igreja. Nessa ocasião não vi ninguém vir a terreiro falar na produção de prova, na presunção de inocência.

Não sou, nunca fui, um cruzado da instituição Igreja que deixei de frequenta vai para sessenta e vários anos. Todavia, mesmo tendo bem claro que a vox populi não andaria longe da verdade considerei que talvez valesse a pena uma maior verificação de factos, uma acareação e mais  clareza em muitas denúncias. 

De todo o modo, estou mais que convencido que houve predação de menores por gente que tinha sobre eles poderes e influência e que isso constituía a todos os títulos algo de grave. De muito grave. Não vi a Direita mobilizar-se especialmente para defender a instituição. Ao contrário da Esquerda que, e de certo modo, com razão fustigou asperamente os silêncios, as meias palavras a inércia posterior e certos bispos. Digamos que na Esquerda portuguesa, ou em certa e abundante Esquerda indígena, ainda se sentem palpitar um par e ardores anti-clericais herdados da 1ª República. Convenhamos que a Igreja portuguesa andou com o Estado Novo ao colo  e forneceu-lhe todas as bênçãos necessários ao mesmo tempo que aquietava os fieis e recomendava paciência, resignação e respeito pelas autoridades. 

Por tudo isto, mas sobretudo porque as teses do neo-liberalismo conspirador ou do esfarrapado racismo  não são senão argumentos ridículos que ainda por cima só prejudicam quem os usa. 

Quando uma intelectual como a Dr.` Raquel Varela se junta a este regimento exculpatório, começa-se a perceber que o assédio sexual só se pode imputar a criaturas de Direita. A Esquerda, ou aquela caricatura de Esquerda nunca faz coisas dessas. Ou se faz é com o claro consentimento das assediadas. Ou então elas são de Direita e estavam mesmo a pedi-las. Ou são burras como portões de quinta e não percebem que os toques no joelho ou mais acima são meras expressões de amizade e respeito...

Ou finalmente estamos de novo na batalha da linha negra contra a linha vermelha (como dizia Marx, "a história repet-se..."

 

 

estes dias que passam 796

d'oliveira, 17.04.23

Retrato do país que ressona

mcr,17-4-23

 

Há 54 anos, em Coimbra, teremos escrito  a última grande página da Resistência Estudantil  ao  Estado Novo.

E se falo em última página é porque a chamada Crise de 69 ultrapassou as mais loucas esperanças dos que nela participaram.

Em boa verdade, o Poder (Governo, Universidade e rspectivos agentes e sicofantas  que os havia em grande quantidade e variedade (convenhamos que nos anos 60 o país continua a padecer de informadores per bene ou pagos) fizeram tudo para a greve resultasse vitoriosae estrondosa.

Tudo poderia ter ficado limitado ao dia  não fora a estúpida prisão do Alberto Martins, as primeiras cacetadas da polícia, as proibições reitorais, um discurso provocador do ministro Hermano Saraiva que, pomposamente, exigia à estudantada que voltasse imediatamente às aulas.

A única medida inteligente das autoridades foi ter posto a polícia judiciária na primeira linha da investigação, deixando a pide escondida mais para trás (escondida mas não ociosa que aquela formiga branca continuou a recolher informações e a ajudar a pj). O balanço final daqueles dias de vinho e rosas não poderia ter sido melhor: A AAC manteve-se de pé, os estudantes mobilizados para Mafra regressaram a Coimbra, os processos disciplinares foram anulados, o reitor substituído e o ministro mandado pastar para outro lugar.

Deixemos porém esta recordação para outro momento e vejamos o que se passa, desta feita, nos domínios da ferrovia.

Há um cavalheiro de seu nome Carlos Fernandes que é actualmente o vice-presidente da Infra-estruturas de Portugal. No seu currículo tem o cargo de assessor do ministro Pedro Marques. Este pecado capital não perturba o senhor Fernandes que não obstante faz sobre aquele tempo e a ferrovia em geral afirmações surpreendentes.

Vejamos “o calendário proposto pela IP era de execução totalmente desajustada”; “houve imprudência grande  ao comunicar um calendário tão desajustado” (sic). “Alguns projectos já estavam quatro anos atrasados, não era possível fazer aquilo”

Actualmente o ferrovia 2020 só tem 18% das obras concluídas!

Mas isso não perturba o depoente mesmo afirmando que nem sequer ningúem se lembrara que para despesas superiores a 100.000 euros se necessitava da aprovação! contr das duas tutelas. Também ninguém notou que eram necessários estudos de impacto ambiental.  Muito menos se precaveram contra o tempo de demora das expropriações, da autorização para o corte de árvores protegidas (só isso pode demorar de 3 a 6 meses...).

Ou seja, para não fatigar algum estupefacto leitor: em 2016 o ministro Marques não fe mais do que baixa e falsa propaganda. Ou então nem bom senso tinha (já nem falo de inteligência pois a coisa era de tal modo grotesca que um rapazinho com a antiga 4ªa classe perceberia que aquilo era pura imaginação.

Uma pessoa pergunta-se  que tipo de assessor seria o sr Fernandes que ou não preveniu o Ministro ou se calou bem calado para não levantar ondas. Fez bem que o silêncio é de oito e sete anos depois está onde está.

Pelos vistos mesmo com os atrasos já conhecidos vai tudo correr bem . E vão cumprir-se os novos prazos. E não perderemos o dinheiro que como de costume vem de fora e com condições...

Portanto, sempre segundo ele, “não estamos muito atrasados no Ferrovia 2020” Por acaso até já se sabe que há obras que se não farão apesar ser afirmado que “temos 1200 milhões em obra (ferroviária) em Portugal. Não sei se alguma vez houve no país volume de obra tão elevado”

Eu também não sei mas percebe-se, sou apenas um cidadão intranquilo e chato. E velho! E farto de ver o dinheiro perder-se nas areias movediças. E numa CP ingovernável ou melhor governada por duas dezenas de sindicatos que passam a vida a parar e dar cabo da vida não dos poderosos mas da gente huilde que diariamente tem de ir trabalhar para longe, paga m passe quenão serve para nada e se levanta a desoras na vã tentativa de ser transportada como gado para abate.

* a referência à Coimbra da minha longínqua juventude  serve apenas para saudar os sobreviventes e sobretudo para os alertar para se manterem na medida do possível vigilantes. Aceito que estejam desiludidos mas aqueles tempos eram desesperantes. Agora passa-se o que passa mas pelo menos podemos denunciar a escandaleira. E pouco, claro mas é muito também. quem em 69 esperava ue cinco anos depois e no mesmo mês houvesse o 25 A?

 

estes dias que passam 795

d'oliveira, 16.04.23

A desventura de mulheres estudiosas somada à presença demasiado próxima de Boaventura dão asas a Ventura.

mcr, 16-4-23

Não há isto qualquer aventura neo-liberal mas apenas a corrução da pesada  estrutura académica que adicionalmente  dá sempre razão à usura 

“a usura... 

...leva o parasita ao leito, deita-se

entre a jovem noiva e o seu noivo...*

 

No meio deste naufrágio salvam-se poucos personagens da barca académica  em causa. Não há “gentil maré” (como no auto vicentino) mas tão só uma história de prepotência que não é exclusiva de Portugal e se estende a quase todo o mundo onde estruturas rígidas dominam e controlam as escadas e as escalas do saber e da sua difusão. 

Não se trata sequer de uma doença infantil (no caso: senil) da Esquerda universitária mas apenas do resultado de vícios velhos e situações novas (no cao o acesso admirável  de mulheres que querem saber e que hão sabem ou não podem  defender-se dos predadores instalados nas cátedras e donos de um poder absoluto. Decidem carreiras, aplainam ou dificultam os percursos que deveriam avaliar e antepõem interesses pessoais ao múnus que deveriam respeitar e exercer. 

Há nas universidades ( e em muitas outras instâncias) um poder quase absoluto, um sistema de permanente vassalagem ao Mestre, que poderá “ser brilhante mas tem as suas bizarrias”. E é intocável. 

Ai de quem resiste ou se queixa: fala para as paredes e vê o muro de silêncio rornar-se sufocante. 

Se isto já é mau e nauseabundo o pior vem depois. Se, porventura, algum murmúrio se escapa  para o exterior aí temos a habitual: é (neste caso) a Direita e todos os seus terrores neo-liberais que tentam tornar o gemido numa enxurrada que arrasará tudo. 

A desculpa mais esfarrapada, ouvi-a hoje: nenhuma estudante ajuizada se lembraria de ir ao apartamento de um cavalheiro buscar um ou mais livros. Se foi já sabia o ao que ia! 

Ou seja, as mulheres são sempre as instigadoras dos descomedidos ardores masculinos, que “um homem não é de pau!”

A violência de género é só para a arraia miúda que bate, fere ou mata . Haverá ainda quem se lembre  daquele julgamento em que uma mulher separada do marido e mais tarde de um ocasional companheiro igualmente maltratador foi espancada pelos dois de comum e cornudo acordo  tendo mesmo usado uma moca com pregos para que a atrevida percebesse bm o crime que perpetrara. E lembrem-se da sentença...

Pelos vistos, neste caso de que só agora se começam a descortinar os sucessos, há uma conspiração capitalista, nortista, ocidental  que pretende abater os profetas de um “admirável mundo novo” que nos tem oferecido causas fracturantes que se sucedem e anulam rapidamente, pensamento politicamente correto e  nos vai periodicamente culpando de males variados ao mesmo tempo que desculpa os excessos do sul ou do leste porque vítimas de uma secular exploração ainda estão a consciencializar-se e a tornar-se autónomos.

U grande poeta e fraco ideólogo afirmou 

“diz-se violento do rio que tudo arrasa à sua passagem, mas ninguém se lembra das margens que o comprimem.”

Esqueceu-se o poeta que se poderá sempre dizer que foi o rio com a sua força que cavou os solos e criou as margens que de quando em quando destrói.

Há acima uma citaçãoo de um poema de Pound, um poeta extraordinário, o “mais generoso dos amigos” no dizer de Hemingway. Pound tinha um ódio forte à “plutocracia” que ele identificava apenas com o mundo ocidental especialmente o americano. Cego, julgou que o remédio contra isso estava no fascismo, mais concretamente no fascismo italiano que, durante a guerra ajudou com programas radiofónicos descabelados e odiosos, Ocupada a Itália, foi detido peãs autoridades militares americanas que o meteram numa jaula onde permaneceu algum tempo. O seu processo prosseguiu e foi condenado  a uma pena bem mais leve do que a que muitos outros não tiveram direito. Libertado continuou em Itália onde, de resto está enterrado. 

Deixou uma obra admirável “Os Cantos” que é um dos máximos poemas do século XX. Todavia, o seu nome ficou para sempre amarrado a esses quatro anos de guerra em que, ao serviço de uma ideologia  infame, produziu programas radiofónicos onde disse o indizível.

Outros autores maiores do século XX conduziram campanhas repelentes. Por todos cito Céline, um romancista francês violentamente anti-semita que entretanto nos deixou um dos cinco ou dez melhores romances do século: “Voyage au bout de la nuit”

No caso, tanto Pound como Céline, tomaram partido pelos (justa e felizmente) vencidos da 2ª Guerra. Conviria, porém, recordar que no campo dos vencedores (nomeadamente na URSS) se assistiu entre o final dos anos XX e a morte de Stalin a uma razia entre o quede melhor havia no pensamento, na literatura, na arte e nesse imenso grupo incluíam-se socialistas, progressistas ou democratas. Mas disso ninguém, durante muitos anos se ocupou e mesmo hoje, os amigos de Putin mantém um estranho silêncio... 

Vejamos se esse arreigado hábito não ressuscita por cá.A minha fé é pouca.

 

*Ezra Pound, “Os Cantos” , Canto XLV, trad José Luís Grunewald, Edit Nova Fronteira 1986

 

estes dias que passam 794

d'oliveira, 14.04.23

Mais tarde ou mais cedo o #me too# havia de chegar

mcr, 14-4-23 

 

E chegou com estrondo mas sem surpresa. Apesar de nunca estar identificado, o alvo era tão óbvio que a única coisa que ouvi a diferentes pessoas, numa pequena esplanada no Porto, foi  “porque só agora?”

No meio disto tudo, fiz o papel do surpreendido- De facto, apesar de me terem chegado uns zunzuns não esperava uma tempestade deste tamanho. Em boa verdade, como nunca gostei da criatura que sempre considerei pretensiosa, nunca pensei que acusações do teor das que tem aparecido tivessem fundamento.

Em casos deste género, o que mais me irrita é o facto de sempre traduzirem um excesso de relações de poder em que os mais fracos estão sempre em situações extremamente difíceis. A ideia de se queixarem esbarra nos poderes fácticos existentes e, sobretudo no meio académico, tornam tudo muito complicado. Basta lembrar o que se passou na Faculdade de Direito de Lisboa para se perceber que naquele meio fechado e hierarquizado o queixoso (melhor dizendo a queixosa) corre o risco de não só não obter ganho de causa mas, sobretudo de ver uma eventual carreira arruinada. 

A coisa complica-se ainda mais quando o abuso parte de pessoas reputadas como de “esquerda”. Há todo um arsenal de contra-informações que defendem o alegado agressor e remetem as acusações para o domínio da difamação política. 

Conviria recordar que a “Esquerda”  tem como um dos seus mais arreigados princípios a condenação da política de género, a luta pela igualdade e o repúdio pelas tentativas machistas. 

Em boa verdade, o último  risível argumento que deveria ter sido usado é o de tudo isto poder passar por um ataque político a um “homem de Esquerda”. Curiosamente, a criatura de “Esquerda” tem sido mais do que veemente na tomada de posições sobre a agressão à Ucrânia.  

E nenhuma delas é favorável a Kiev bem pelo contrário. A nenhuma simpatia que nutro pelo acusado não vem daí mas de muito antes. E tem pouco a ver com a ”esquerda” porquanto sempre o tive por um radical pequeno-burguês tardiamente chegado à política e por isso mesmo mais agressivo do que é normal suceder com quem sempre teve de lutar pela Democracia e pela Liberdade.    Mas isso são questões que para já não vale a pena aprofundar. 

Ontem, se não estou em erro, citei aqui a famosa frase atribuída a César sobre o que a mulher deveria ser e mais ainda sobre o que deveria parecer. 

Quem está numa situação de poder tem de ter a maior precaução nas relações que estabelece com quem por razões de toda a ordem depende dele ou parece depender. Porque há sempre gestos que por mais inocentes que possam parecer, podem ser tomados por abusos, sugestões pouco claras, tentativas de sedução...

Ora, na situação conhecida e em causa, havia, desde há muito, referências veladas, graffiti prontamente apagados mas sempre lidos com avide, desculpas esfarrapadas de pessoas que tentavam justificar os factos narrados como uma simples fraqueza de um espírito brilhante como se isso fosse desculpa bastante para as ousadias que eram faladas. 

E, para terminar, não deixa de ser curioso o facto de mesmo que no artigo inculpatório  não se identificar a acusado, prontamente e de vários lados haver pessoas a identificar peremptoriamente o alvo. 

Tenho pouca fé nas comissões que começaram a ser anunciadas. O meio académico que sempre ocultou ou assobiou para o lado não me parece propício a julgar um dos seus pares mais ainda quando muitos dos eventuais juízes foram colegas ou discípulos do investigado. Acredito bem mais na anunciada actuação da Associação Académica que está bem mais longe do local onde eventualmente (e sublinho “eventualmente”) ocorreram asa faladas agressões  de cariz sexual. 

Que tudo isto necessite de uma forte barrela não é surpresa ou novidade. No entanto, tenho por plausível que tudo se enrede  (como na Universidade de Lisboa) pois o medo e a vergonha guardam melhor a vinha do que uma matilha de cães raivosos.

A ver vamos...

 

(nota que nada tem a ver com o que acima se disse: o sr deputado Carlos Pereira retira-se da Comissão de Inquérito à TAP. Pelos vistos, ao que até ao momento se conhece, não estaria na origem dessa decisão o “perdão da CGD sobre um aval prestado pelo deputado que, com surpresa minha (é a 2ª vez, hoje!!!) terá feito parte de como relator de uma comissão de inquérito ao banco em causa. 

É possível que não haja relação de qualquer espécie entre o perdão e a dívida. Todavia, o que me admira é que alguém com uma dívida ao banco, mesmo desta natureza, tenha tomado parte na comissão de inquérito e até, maior surpresa ainda, tenha sido relator.

“à mulher de César...”

2ª nota:: como já aqui escrevi, não tenho especial simpatia pelo #me too"  e em especial pelos excessos a que se assistiram,. Porém tamvem não simpatizo minimamente com a canzoada masculina que em diferentes centros de poder, e apenas porque o detinham , tentaram  - e conseguram muitas, demasiadas vezes molestar mulheres que apenas pretendiam seguir uma carreira e se viram confrontadas com a lascívia miserável dos poderosos. 

Estes dias que passam 793

d'oliveira, 12.04.23

A lição de igualdade de género do Sr Ministro Medina

mcr, 12-4-23

 

 

 

A jurista Laura Cravo, casada com João Galamba foi nomeada pelo antigo ministro das  finanças, João Leao para o inexistente cargo de “coordenadora” num departamento do Ministério das Finanças.

Ocorre  que para um quadro de comissão do Mercado  de Valores Mobiliários isto é uma benesse inesperado e, convenhamos, insólito.

Esse cargo ocupado há mais de um ano deveria ser provido ou por concurso ou por substituição. Nada disso aconteceu , coisa que uma professora de Direito da U Minho explica por que nos dois casos em apreço haveria de publicitar-se no DR . Isso tornaria pública a nomeação e provavelmente daria azo “às más línguas”, às “forças do bloqueio”,  aos “mal pensantes”, aos que vem a protecção dos boys e das girls em tudo o que apenas é um acto de boa governação.

Pelos vistos, o Sr Medina entendeu criticar o deputado do Chega que se referiu à “coordenadora” como “mulher do Ministro. Medina explicou evangelicamente que a “mulher” do Ministro tinha nome e direito a ele. 

Devo contrariar a opinião e a reprimenda do sr Medina por uma simples razão e que se baseia no facto de uma técnica de um serviço estranho ao MF ser feita “coordenadora”, cargo inexistente na estrutura que “coordena”.

A conclusão que nos acode é, infelizmente, só uma: a nomeação foi feita ao arrepio da lei e apenas porque a nomeada é “esposa” de um cavalheiro importante.

O concurso de provimento vai finalmente (e Medina já por lá anda há um ano...) ter lugar ou pelo menos há o seu anúncio. Demorou o tempo que demorou e a notícia só apareceu ºporque o Chega chegou-se à frente e resolveu perguntar. Se não perguntasse querem apostar que a “coordenação” continuaria em tranquila rota no mar calmo do Ministério?

Quando as coisas parecem favores não há que vir dizer que a mulher de César se chama Pompeia pois, como bem disse o  general e ditador romano, “à mulher de César não basta ser honesta ,Tem de parece-lo.

Claro que esta frase alude sobretudo a uma alegada tentativa de um jovem cidadão que se introduziu numa festa proibida a homens, vestido de mulher e com o fito nunca provado de seduzir a citada Pompeia, Porém a frase ficou e seria bom lembrá-la à dr.ª Cravo, ao marido e ao subitamente defensor das mulheres portuguesas. E esperar que o tal concurso anunciado mas ainda sem data se realize...

 

 

 

estes dias que passam 792

d'oliveira, 11.04.23

"Mas as crianças, Senhor?"

mcr, 11-4-23

 

Os piedosos russistas & demais apaniguados, se porventura este folhetim lhes chegar aos olhos vesgos, vociferarão indignados por a vinheta ser preenchida com meninos judeus armazenados nos campos onde quase todos pereceram.

Alguns progressistas igualmente míopes protestarão contra a menção que adiante se fará a um grande romance de Jerzy Kosinski, “O pássaro pintado”.

A horda do Chega & assimilados jurará que nunca advogou o extermínio físico ou social de crianças.

E por aí fora...

Todavia, manda a verdade (“a áspera verdade”...- Danton, sic) que se insista neste ponto medonho: as guerras são sempre péssimas mas as suas primeiras e mais frágis vítimas são as crianças. E quem diz guerras diz tudo o resto q que este princípio de século tragicamente nos habituou: as crianças em movimento, migrantes involuntários seja nas plagas do Índico, na travessia de África, nos tristes e infames barcos que tentam passar o Mediterrâneo ou, pior mas menos conhecido, o Atlântico entre a África Ocidental e a península.  É impossível esquecer os sapatinhos do menino sírio que deu à costa na Síria ou o rapazinho morto por balas israelitas quando se tentava esconder ao lado do pai.

Existe, mas não sei exactamente em que livro da Bíblia, que versículo aquela citação  “ai de quem ofender uma criança que mais lhe valeria atar uma pedra de moinho ao pescoço e atirar-se ao mar” (se não é assim é parecido).

Sempre que vejo as atrocidades constantes de que as crianças são vítimas não consigo deixar de ser vingativo e selvagem, suficientemente bárbaro para me ver a atar mós de moinho ao pescoço dos que maltratam os pequeninos, os pequenos, os muito jovens, os indefesos.

Desta feita, temos as autoridades da Federação Russa, os auto-libertados dirigentes dos territórios do Donbass que, de uma penada enviaram para a “mãe pátria que os pariu” cerca de 20.000 crianças ucranianas retiradas, na maior parte dos casos, às famílias que movem céus e terra para as recuperar. No meio desta odiosa orgia de raptos e violência está uma mulher, cujo nome não pronunciarei para não infectar estas metafóricas páginas, que é na Rússia a máxima responsável pela protecção das crianças. Já tem um mandado de prisão em cima mas, como é de calcular, não será tão depressa que lhe deitarão a unha. A menos que uma misericordiosa mas justa mão lhe dê o mesmo destino do recentemente blogger militar russo evaporado num bar de São Petersburgo. . eu sei que vão longe os tempos do velho Oeste (onde de qualquer modo ainda se massacram crianças em escolas ou infantários...) mas, que querem, não me contenho pelo menos enquanto escrevo sobre este tema.  Sei perfeitamente que a pna de morte não é remédio bastante para a violência mas as restantes soluções não atemorizam os criminosos mais empedernidos que sabem que mesmo as penas mais duras de prisão acabam por se transformar com o tempo e a permitir a libertação misericordiosa de detidos por velhice, por doença, por cansaço dos carcereiros.

Como de costume, a Federação Tussa apressou-se a tentar justificar a deportação de milhares de  crianças por razões “humanitárias”. Tratava-se de salvar meninos abandonados em orfanatos ou pelas famílias em fuga. Por isso nada melhor que transferi-los para regiões distantes das zonas de conflito, baldeá-los de “campo” em “campo”, de instituição em instituição de modo a que a sua pista se perdesse. Organizações ucranianas, internacionais e mesmo uma que outra russa, tem conseguido, contra todas as previsões “encontrar crianças e, depois de um processo moroso, kafkiano e arriscado restituí-las às famílias. No entanto, e até ao momento, trata-se de uma pequena minoria  de resgatados. É de prever que muitos milhares nunca sejam encontrados, muito menos devolvidos. 

Esta guerra, que na Rússia usa o pseudónimo de “operação especial”, ainda se não compara à 2ª a “grande”  que devastou quase toda a Europa e obviamente atirou milhares de crianças sós e em fuga para os caminhos do horror, da fome, de todas as privações. Li, há demasiados anos (cinquenta, porventura) o livro que acima citei. Na época não havia tradução portuguesa e a Wook informa que estará esgotada uma edição portuguesa já deste século. É provável que algum alfarrabista ainda tenha exemplares disponíveis pelo que recomendo vivamente que o procurem: “O pássaro pintado” ou de como uma ficção baseada porém em factos reais e conhecidos e testemunhado descreve uma atrocidade que, ingenuamente, pensávamos desaparecida nesta Europa ou nos seus confins.

A guerra é sempre pavorosa mas mesmo nela há graus de infâmia. U desaparecimento das crianças ucranianas na imensidade da estepe russa é uma delas e eventualmente a mais grave.

NB O título cita um poema de, se bem me lembro, Augusto Gil um autor esquecido mas que vel a pena ressuscitar do olvido.