Eleições europeias com reflexos nacionais
As eleições europeias do passado Domingo mobilizaram mais portugueses, talvez fruto da facilidade concedida pelo voto em mobilidade, e deram alguns sinais interessantes aos partidos políticos e aos seus líderes.
O PS alcançou mais uma vitória europeia - foi a sexta vez em nove eleições realizadas desde 1987 - e Marta Temido revelou-se uma aposta bem sucedida de Pedro Nuno Santos, que substituiu todos os eleitos em Bruxelas e interveio assiduamente na campanha. Foi uma vitória por curta margem, a segunda menor vantagem nestes duelos europeus com o PSD/AD, mas não deixa de representar uma viragem positiva face à derrota nas recentes legislativas. A vitória de Marta Temido tem ainda maior relevância pelo facto de a maioria dos membros elegíveis da lista não ter uma grande notoriedade.
A AD, pese embora todas as medidas lançadas de supetão pelo Governo, não conseguiu repetir a vitória de Março e consolidar a posição de maior força política. A escolha excêntrica do cabeça de lista, Sebastião Bugalho, não deu a Luís Montenegro o resultado que o primeiro-ministro desejava. Alguém que gosta de se assumir como jornalista, mas que na verdade é um comentador engajado à direita, cuja única experiência política tinha sido como candidato (não eleito) a deputado pelo CDS, nunca pareceu ser uma escolha acertada. O líder da AD cavalgou a onda do mediatismo, mas deviam ter lembrado a Montenegro que, fora da bolha político-mediática, Bugalho era um perfeito desconhecido.
O Chega teve um resultado de algum modo surpreendente, pela enorme perda de votos verificada em relação às legislativas, o qual pode ser justificado por vários factores: o desastroso candidato que apresentou, o menor compromisso com a Europa por parte dos seus eleitores, o facto de o Parlamento Europeu não ser o destino privilegiado dos seus protestos e descontentamentos e o comportamento errático que André Ventura tem seguido desde as últimas legislativas.
A Iniciativa Liberal teve um resultado extraordinário, fruto sobretudo do perfil do candidato Cotrim de Figueiredo e da sua forma de estar na campanha eleitoral. Continuo a pensar que a mudança de líder na Iniciativa Liberal foi um erro e que Rui Rocha jamais terá a empatia que Cotrim de Figueiredo consegue com os eleitores.
À esquerda do PS, BE e CDU não conseguiram travar o declínio que se vem acentuando, apesar de terem apresentado nas eleições candidatos com grande visibilidade e que já foram líderes do partido, no caso de Catarina Martins, ou da bancada parlamentar, no caso de João Oliveira.
Nos partidos mais votados entre os que não conseguiram eleger, ficam algumas notas a reter: o crescimento do Livre, com a novidade Francisco Paupério, não alcançou por muito pouco um lugar em Bruxelas; a surpreendente, para dizer o mínimo, Joana Amaral Dias, pode ter ajudado a consolidar o ADN como mais um veículo da extrema-direita em Portugal; o PAN teve um resultado muito mau, perdendo espaço enquanto partido verde e ecologista.
A nível europeu, felizmente não se verificou o crescimento que se anunciava para a extrema-direita. Apesar do preocupante resultado que o partido de Le Pen conseguiu em França, obrigando Macron a reagir com a antecipação das eleições legislativas, o Parlamento Europeu continuará a ter no Partido Popular Europeu e nos Socialistas & Democratas os principais grupos políticos e a garantia da defesa dos valores estruturantes da União Europeia. Nesse contexto, ficou reforçada a possibilidade de António Costa vir a ser candidato à presidência do Conselho Europeu, com o apoio do Governo português reafirmado por Luís Montenegro.