Comentadores de qualidade… precisam-se!
Porque será que nas televisões portuguesas não aparecem comentadores destes?
Por cá, pelo menos nos jornais, há quem trate do assunto de uma forma séria. Ler: Só o BCE pode salvar o euro
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Porque será que nas televisões portuguesas não aparecem comentadores destes?
Por cá, pelo menos nos jornais, há quem trate do assunto de uma forma séria. Ler: Só o BCE pode salvar o euro
publicado às 13:52
1. Andamos tão preocupados com as nossas condições de vida, com alguns dos acontecimentos na Líbia (os relatados pelos órgãos de informação), e com o filho do hipopótamo carinhosamente mostrado pela Televisão, que quase nos passou despercebida uma notícia sobre a Islândia.
Uma operação policial inglesa liderada pelo organismo especializado no combate à fraude (eles têm esses estranhos hábitos de cumprir a lei!) levou à prisão de dois importantes empresários britânicos. São acusados de pertencerem a uma rede internacional associada à falência do banco Kaupthing, “um dos três bancos da Islândia que caiu no auge do aperto do crédito em Outubro de 2008”, arrastando o país e os islandeses para uma situação dramática. Segundo a mesma notícia de O Económico, de 10/03/2011, “o banco Kaupthing tinha em carteira empréstimos de 8,6 mil milhões de euros que eram, segundo a primeira-ministra Johanna Sigurdardottir, «se não ilegais, completamente sem ética». No conjunto, os três bancos atingiam dívidas 12 vezes superiores ao produto islandês, o que forçou o país a pedir uma ajuda de 3,3 mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional”.
2. Esse descalabro bancário não resultou do mau comportamento de alguns, mas da lógica do sistema: a financiarização da economia, a liberdade de circulação de capitais (não de homens!), o poder dado ao mítico mercado. O encanto pela “bola de neve” do crédito que gera crédito, como se nunca fosse preciso pagar as dívidas. Como hoje se reconhece, o sistema financeiro americano, centro nevrálgico da financiarização, especializou-se em criar ferro-velho e vendê-lo como ouro. E todos os outros, incluindo as austeras instituições financeiras alemãs, acumularam o que hoje se designa por lixo tóxico financeiro.
3. Quando o dólar ameaçava deixar de ser internacionalmente convertível em ouro (nos longínquos anos de 60/70 do século passado), discutia-se as vantagens e desvantagem do regime de padrão-ouro, de câmbios fixos ou de câmbios flutuantes na estruturação do sistema monetário internacional. Num desses debates Jacques Rueff, o francês defensor do padrão- ouro, opositor do liberalismo, prognosticava que a chamada liberdade económica, o “livre” funcionamento dos mercados, seria a organização económico-social que exigiria mais frequentemente os governos reunirem de emergência para promoverem políticas económicas. A história deu-lhe razão. Mas nunca imaginou é que essa intervenção dos Estados também seria para prender os defraudadores e combater as máfias. Então era quase impossível prever a degenerescência das relações éticas, como a que vivemos há duas décadas.
4. Será que se pode continuar a defender o “emagrecimento” do Estado, o “haraquiri” do Estado? Será que se pode continuar a defender que os mercados se auto-regulam e que têm uma dignidade institucional superior ao homem? Será que há uma “Declaração Universal dos Direitos dos Mercados”?
A questão não está em mais ou menos Estado, mas em saber que Estado é capaz de repor a dignidade e o respeito pela maioria dos cidadãos do país e do mundo.
publicado às 23:45