Um bom exemplo de reconversão profissional…em 1989
Ao ouvir muitas das inquietações dos jovens que, voluntária ou involuntariamente, são mediaticamente catalogados como “geração à rasca” e ao ler uma notícia do “Expresso” desta semana que abordava a vontade do Governo de promover a reconversão profissional de muitos jovens com cursos superiores desadaptados do mercado de trabalho, veio-me à memória a experiência que vivi e que marcou a minha carreira profissional.
Corria o ano de 1989, com os fundos europeus a correrem em catadupa, quando a Associação Empresarial de Portugal, através da sua área de Formação, lançou um curso pioneiro no país, que procurava precisamente dar novas oportunidades a jovens recém-formados em cursos com menor procura pelo mercado.
Sob a coordenação do excêntrico Prof. Pedro Arroja, hoje mais voltado para a consultoria financeira e a gestão de patrimónios, a AEP/Formação reuniu cerca de uma centena de jovens quadros formados em áreas como Direito, Línguas e Literaturas Modernas, Filosofia, História, Biologia ou Psicologia e proporcionou-lhes uma Formação em Assuntos Empresariais durante um ano. Os primeiros seis meses com um plano curricular comum centrado nos fundamentos da gestão empresarial, a que se seguiu um trimestre de especialização em áreas como gestão de recursos humanos, marketing, finanças e gestão internacional e um derradeiro trimestre de estágio em empresa.
Contando entre os formadores com docentes universitários, consultores e gestores de créditos firmados, essa experiência formativa foi considerada um caso exemplar pelos profissionais envolvidos. Os estágios proporcionados em empresas conceituadas contribuíram também para aproximar esses jovens quadros do mundo das organizações.
É verdade que muitos dos alunos acabaram por regressar à sua área de formação académica e enveredaram pelo ensino ou pela advocacia, mas umas largas de dezenas de jovens tiveram aí a oportunidade de mudar de vida. Hoje são vários os casos de empresários, administradores e gestores de empresas, directores comerciais e consultores qualificados saídos dessa iniciativa da AEP/Formação, que se prolongou por alguns anos.
Este excelente exemplo evidencia como a iniciativa de uma entidade privada, apoiada na altura por fundos europeus, deu um contributo decisivo para que várias dezenas de jovens se tivessem “desenrascado”. E mostra também como jovens de vinte e poucos anos se interessaram em despertar para outros saberes e interesses. Provavelmente, está na altura de replicar estes bons exemplos.