Apontamento sobre fraude e corrupção na Europa
Periodicamente as quatro grandes auditoras internacionais publicam o “ponto da situação” em relação a diversos comportamentos desviantes. Desta vez foi a Ernst & Young: 2011 European fraud survey.
Começamos por esclarecer que temos muitas dúvidas sobre as metodologias de amostragem e recolha da informação adoptadas por essas empresas e lastimamos que não sejam feitos estudos mais completos e sistemáticos para Portugal, o que seria possível, com custos razoavelmente ridículos em comparação com o preço dos seus serviços. Contudo esses estudos têm bases suficientemente firmes para permitirem fazer algumas leituras rigorosas, para tirar algumas fotografias à sociedade e às empresas.
Vejamos algumas das conclusões do estudo acima referido:
- “um terço dos funcionários de grandes empresas na Europa revela estar disponível a oferecer dinheiro, presentes ou qualquer outro tipo de entretenimento para ganhar um negócio”;
- “dois terços [dos funcionários] reconhecem que o suborno e a corrupção são comuns no seu país e 40% referem mesmo que esse problema se agravou nos últimos dois anos, com a recessão económica”;
- “um quarto dos entrevistados não confia na ética empresarial da gestão [porque] a gestão não olha a meios para atingir os objectivos”.
Todas estas situações apontam para a falta de integridade das empresas, para a inexistência de uma política antifraude nas instituições (código de ética e sua prática como parte da cultura de empresa; formação dos quadros nesse sentido; introdução das praticas negociais correctas por parte da administração, etc.), para o baixo nível de formação nas áreas da integridade, corrupção e fraude, para a carência de quadros especializados na detecção e prevenção da fraude e corrupção.
As empresas europeias parece ainda não terem percebido que combater e prevenir a fraude é um bom negócio por três razões fundamentais:
- Pode aumentar a sua margem de lucro. A segurança tem custos, mas funciona como um seguro, quando na Europa mais de 5% do seu volume de vendas é indevidamente desviado.
- Demora-se muitos anos parar criar confiança numa marca, mas pode perder-se em segundos; os custos da recuperação, se possível, serão muito mais elevados
- Neste inquérito “75% [dos funcionários] dizem mesmo que há vantagem comercial num comportamento ético. Os trabalhadores preferem certamente trabalhar para empresas com forte reputação ética, tendo 45% dos entrevistados mostrado indisponibilidade para integrar empresas envolvidas em casos de suborno ou corrupção”.
O estudo aponta como solução o aumento e a melhoria da regulação. Não temos nada contra, mas temos dúvida que tal funcione. Também existem outros caminhos:
- Que cada empresa deixe de aplicar uma “política de avestruz” fingindo que não há fraude ou, se existe, é só nas outras empresas ou feita pelos clientes e fornecedores.
- Que haja por iniciativa do Estado uma entidade séria e desburocratizada que apure anualmente a fraude (e corrupção) existente ou detectada, chamando a atenção de onde actuar e como actuar.
- Que a “equipe de administradores” deixe de ser um círculo fechado onde o conflito de interesses, a proximidade e o compadrio pululam.
Claro que há mais medidas possíveis de curto e longo prazo, mas deixemos estas a saltitar no ar.