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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Mikhail Gorbatchov (1931-2022)

José Carlos Pereira, 30.08.22

Morreu Mikhail Gorbatchov, um dos estadistas com maior impacto no mundo nos últimos 40 anos. A minha geração cresceu a acreditar que "glasnost" e "perestroika" eram termos que vinham transformar a União Soviética. E logo depois vieram os acordos com os EUA quanto à proliferação nuclear, a desintegração do bloco de Leste, o fim da União Soviética e do Pacto de Varsóvia. O mundo mudou a partir daí e deve-o em grande parte à acção corajosa de Gorbatchov, que foi sempre mais admirado no ocidente do que no seu próprio país.

Guerra e paz na Ucrânia

José Carlos Pereira, 01.06.22

Na edição online do jornal "A Verdade" , publiquei um texto de opinião acerca da situação de guerra na Ucrânia:

"A guerra na Ucrânia tem já mais de três meses e estamos longe de vislumbrar o fim dos combates. A Rússia acreditava que alcançaria com relativa facilidade os seus objectivos políticos e militares, que iam muito para lá da denominada região do Donbas, mas não contava certamente com a reacção enérgica dos ucranianos e com o apoio que os países ocidentais prontamente prestaram ao país agredido.

O exemplo de coragem e determinação que chegava da Ucrânia e as imagens devastadoras de morte e destruição provocaram um clamor emocional, fazendo com que as opiniões públicas pressionassem os governos e ajudassem a ultrapassar as reticências de alguns países no apoio financeiro e militar à Ucrânia.

Num curto período de tempo, Putin fez mais pelo reforço da NATO e pela escalada do investimento em meios de defesa dos países que integram a Aliança Atlântica do que anos e anos de discussão em torno dos fins e limites da NATO. Entre outros casos emblemáticos, vimos a Alemanha decidir reforçar o seu orçamento de defesa como nunca o fizera desde a II Guerra Mundial e assistimos aos pedidos urgentes de adesão à NATO de Finlândia e Suécia.

Nesta guerra não há lugar para meias palavras: a Rússia invadiu um estado soberano, matou, destruiu e pretende colocar sob sua jurisdição boa parte do território da Ucrânia, oito anos depois de já ter ocupado a península da Crimeia. Os que vêm dizendo que a NATO e os EUA contribuíram para esta situação com os seus avanços na Europa de Leste esquecem que nada justifica a invasão de um país por parte de outro. De resto, os acordos que vários países fizeram com a NATO ocorreram por livre determinação desses Estados, que assim se julgavam mais protegidos. A invasão perpetrada pela Rússia na Ucrânia só lhes veio dar razão.

Aqui chegados, o que fazer para encontrar a paz? A necessidade de encontrar resposta para esta questão começa a colocar-se com acuidade, uma vez que a guerra não pode prolongar-se indefinidamente. Seja pelas populações e pelos países envolvidos, seja pelos efeitos dramáticos que isso poderá provocar em vários cantos do globo, atendendo ao facto de Rússia e Ucrânia serem responsáveis pelo abastecimento de cereais essenciais a boa parte dos países menos desenvolvidos, particularmente em África.

O caminho da paz não é fácil de delinear e ninguém parece ter soluções capazes de sentar as partes à mesa. Aqueles que, por simpatia ou cinismo político, defendem que a Rússia terá de ganhar algo (Donbas?) para acabar com a guerra e que não pode sair humilhada parecem olvidar que isso seria beneficiar o infractor. Nesse caso, qualquer país que tivesse diferendos territoriais com outro ganharia um alento suplementar para novas investidas militares. Na Europa, na Ásia, em África…

Por outro lado, querer apoiar as posições da Ucrânia ao ponto de insistir no total restabelecimento do território soberano de 2013, com a reintegração da Crimeia, poderia até ser a solução mais justa, mas perpetuaria a guerra por quanto tempo? Estamos preparados para isso? O poderio militar da Rússia, embora mais frágil do que se imaginava, e o apoio ocidental à Ucrânia arrastariam o quadro actual muito para lá do que seria suportável pela comunidade internacional. 

Se fosse possível voltar atrás, a 2013, e realizar referendos de autodeterminação nas regiões ucranianas do Donbas e na Crimeia, poder-se-ia avaliar a vontade das populações e negociar politicamente um acordo entre a Ucrânia e a Rússia, atendendo aos convénios anteriormente estabelecidos e às ligações seculares entre ambos os países. Hoje, isso não é possível, desde logo por causa da “russificação” levada a cabo nesses territórios através de migrações forçadas de milhões de russos.

Quando um dos contendores da guerra revela um comportamento imprevisível e violador de todos os princípios do direito internacional, como sucede com Putin, é difícil esperar que o país vítima de ataque e as próprias organizações internacionais, como a ONU, consigam olhar para ele como um parceiro fiável e de confiança. Como também não se vislumbra que surja na Rússia um movimento capaz de derrotar e derrubar Putin, vejo com muito cepticismo a possibilidade de se poder encontrar uma via para a paz a breve prazo.

O que sei é que a solução não passará com certeza pelo envolvimento directo das forças da NATO no terreno, como alguns preconizam, pois isso significaria uma escalada no conflito que poderia levar a um confronto de proporções inauditas.

O tempo acabará, fatalmente, por gerar um ponto final para esta guerra hedionda. Infelizmente, já com um custo elevadíssimo de vítimas e cidades destruídas. Acredito que as consequências materiais do esforço de guerra vão inevitavelmente debilitar a Rússia, fragilizando a sua posição negocial, mas para isso convém que os países europeus se deixem de tibiezas, reforcem as sanções e diminuam o mais rápido possível a sua dependência energética face àquele país, deixando de alimentar os cofres da Rússia em pleno período de guerra. O acordo alcançado no Conselho Europeu desta semana foi mais um passo positivo nesse sentido. "

A vitória de Macron e o os sinais que ficam

José Carlos Pereira, 11.04.22

As eleições presidenciais francesas têm sido terreno privilegiado, há muitos anos, para testar a evolução da extrema-direita na Europa e num dos seus países mais relevantes. Emmanuel Macron venceu a primeira volta de ontem e, tudo o indica, reunirá a maioria dos votos na segunda volta, daqui a duas semanas. Contudo, Marine Le Pen e o conjunto da extrema-direita cresceram em relação à primeira volta das anteriores eleições e isso não pode deixar de ser levado em conta nestas duas semanas e nos tempos que aí vêm, em França e não só. Sob pena de os franceses e os europeus se arrependerem mais tarde...

Jantar-debate sobre a guerra na Ucrânia

José Carlos Pereira, 27.03.22

Na noite da passada sexta-feira, participei em Matosinhos num jantar-debate muito interessante sobre a guerra na Ucrânia com a participação, entre outros, de actuais e antigos responsáveis políticos, a nível governamental e parlamentar, membros da Igreja, académicos, agentes do sector cultural, consultores, empresários e jornalistas.

Conversa fluida (atenta e preocupada) a partir do conhecimento de alguns dos presentes sobre aquela zona da Europa e as disputas geopolíticas que estiveram na origem da guerra.

Mário Soares, Putin e a Ucrânia

José Carlos Pereira, 27.02.22

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Há menos de sete anos, Mário Soares lembrava que Putin era um homem perigoso e imprevisível, evocando já nessa altura as suas responsabilidades pelo que se passava no leste da Ucrânia com o apoio aos separatistas pró-russos. A escalada desta semana, com a invasão da Ucrânia e a morte de civis indefesos, merece uma resposta firme e sanções muito duras da Europa e do mundo ocidental.
 

Loucura pouca mansa

José Carlos Pereira, 07.01.21

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O indizível aconteceu ontem em Washington, gerando uma situação muito perigosa para os EUA e para o mundo. Dar uma volta pelas televisões internacionais permitiu ver um apoiante de Trump em "guerra santa", de crucifixo em punho, e um cartaz num carro a apelidar a líder democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, de Satanás. Deveras elucidativo.

Hoje sucedem-se os pedidos de destituição de Donald Trump, o instigador de tudo o que aconteceu no Capitólio. Embora seja difícil que tal venha a ocorrer, seria muito higiénico para a democracia, para os EUA e para o mundo que Trump fosse desalojado da Casa Branca antes de 20 de Janeiro.

Os Pastores da Cisjordânia

JSC, 24.11.20

Os militares chegam e, sem aviso prévio, intimam as pessoas a abandonarem as suas casas, que nem são bem casas, mas que são o único abrigo que têm. Bondosos, os militares concedem 30 minutos para retirarem os pertences, findos os quais dão início à demolição de todas as casas.

Suponho que aquelas pessoas tenham ficado a olhar para o monte de entulho, pasmadas, incrédulas com o que acabara de lhes acontecer. As pessoas e os rebanhos ficaram todos à solta, a céu aberto, por sua vez, as crianças ficaram a conhecer o caminho que Netanyahu lhe traçou.

A vida na Cisjordânia também é isto, a violência contra indefesos que vem do outro lado. O governo israelita vive fora da lei quando assim actua. A comunidade internacional assiste. E se há alguém que o denuncie, aqui-d’el-rei que é anti-semita. O terrorismo tem muitas faces, mas nem todo é combatido com a mesma frontalidade.

A notícia no Público: Demolições israelitas já deixaram quase 800 palestinianos sem casa em ano de pandemia

Número de pessoas sem casa este ano por acções de demolição na Cisjordânia é já o mais alto dos últimos quatro anos. Há duas semanas, houve a maior operação dos últimos dez anos.

A lição da direita espanhola

José Carlos Pereira, 26.10.20

Na passada semana, o Partido Popular espanhol, a principal força de direita do país vizinho, votou contra a moção de censura ao governo proposta pela extrema-direita, tendo o seu líder, Pablo Casado, condenado, num discurso contundente, a prática política, o "ódio, fúria e barulho" do Vox.

O Partido Popular sempre foi extremamente crítico dos executivos socialistas e do governo de Pedro Sánchez em particular, num tom a que não estamos habituados em Portugal, mas isso não o levou a ultrapassar neste caso a linha que separa as legítimas diferenças entre adversários em democracia das posições extremistas de tiranetes que apenas sabem alimentar campanhas de ódio, divisionismo e xenofobia. É certo que há coligações que juntam o PP e o Vox em algumas soluções de governo regional e municipal, mas isso não foi transposto para a realidade nacional.

Esta é uma lição para todos os que, em Portugal, vão defendendo que se deve trazer o Chega para as contas e os alinhamentos necessários ao regresso da direita ao poder. A situação criada nos Açores com o resultado eleitoral de ontem será o primeiro momento em que a direita democrática vai ter de decidir se vale tudo para atingir o poder, contando com o Chega para uma nova maioria parlamentar, ou se prefere manter o partido de extrema-direita isolado no seu reduto, agarrado a princípios e valores de cidadania que devem repugnar todos os democratas.

Os impostos que Trump não paga

José Carlos Pereira, 28.09.20

"The New York Times" faz serviço público. A revelação das declarações fiscais de Donald Trump, que este sempre escondeu, pode ser a machadada que faltava para obstar à sua reeleição. Oxalá Joe Biden saiba tirar partido desta bomba na sua campanha, começando já pelo debate televisivo de amanhã.