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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Futebol Clube do Porto

José Carlos Pereira, 19.01.25

 

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Estive ontem na Assembleia Geral do FC Porto, curiosamente na companhia de um membro do anterior Conselho Fiscal e Disciplinar. Perante as respostas finais do presidente André Villas-Boas, consolidei a convicção de que o meu clube tem a liderança certa para os tempos que vivemos. E fiquei também com a certeza de que franjas minoritárias estarão sempre contra a actual Direcção. É a vida.

Mário Soares

José Carlos Pereira, 07.12.24

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No dia em que se assinala o centenário do nascimento de Mário Soares, recordo o texto que aqui publiquei no dia da sua morte:

"Mário Soares morreu hoje, aos 92 anos, após vários dias de internamento hospitalar. Foi uma vida longa e plena. Oposicionista ao regime do Estado Novo, destacando-se como activista das candidaturas de Norton de Matos e Humberto Delgado, foi preso várias vezes, deportado e exilado. Fundador do Partido Socialista, regressou a Portugal logo a seguir ao 25 de Abril, foi primeiro-ministro por três vezes, Presidente da República durante dez anos, vencedor da eleição para o Parlamento Europeu aos 74 anos e recandidato presidencial aos 80 anos.

Mário Soares nunca foi uma personalidade consensual, como nunca o são as personagens marcantes da história. A ruptura com a esquerda mais extremista, que permitiu a consolidação da democracia em Portugal nos anos de brasa de 74/75, e as repercussões à direita de um doloroso processo de descolonização contribuíram muito para que Soares gerasse uma oposição forte em determinados sectores.

O país, contudo, deve-lhe muito. A implantação e consolidação do regime democrático e a adesão à Europa tiveram na sua acção um contributo determinante. Mário Soares é, sem qualquer dúvida, um dos pais fundadores da nossa ainda jovem democracia.

Soares manteve-se orgulhosamente fiel ao princípio de lutar e resistir às adversidades, mas, como bem lembrou Henrique Monteiro no “Expresso” aquando do seu 90º aniversário, o discurso inflamado desse período do ajustamento da troika e as palavras às vezes excessivas mereciam ser devidamente enquadradas e temperadas. A verdade é que todos nós gostamos de uma forma especial dos amigos e familiares que atingem tão bonitas idades.

Encontrei-me duas vezes com Mário Soares, nas campanhas eleitorais presidenciais vitoriosas, que apoiei convictamente. Na primeira campanha, integrei a pequena comitiva que o recebeu à entrada do município de Marco de Canaveses e daí seguimos para um comício bem sucedido em que também intervim. Recordo com saudade o abraço apertado e emocionado que me deu no final desse comício, quando as perspectivas de vitória eram ainda longínquas. Esta minha intervenção, quando era então um jovem militante da JSD, valeu-me, aliás, uma inconsequente ameaça de expulsão. Cinco anos depois, já livre de militâncias partidárias, voltei a conversar com Mário Soares num evento da sua campanha no Porto.

Lamentei a sua decisão de se candidatar novamente à presidência da República em 2006 e decidi, por isso, não corresponder ao convite para ser o seu mandatário concelhio em Marco de Canaveses. Já não era o tempo de Mário Soares, embora percebesse o que o fazia avançar. Não o apoiei, mas também não votei contra esta sua última investida.

Até sempre, caro Presidente Mário Soares!"

Comissão Municipal de Toponímia

José Carlos Pereira, 23.09.24

Alguns anos depois, retomei este mês uma missão de serviço público, passando a presidir à reinstalada Comissão Municipal de Toponímia de Marco de Canaveses por indicação dos restantes membros, todos eles com larga experiência de intervenção pública, designadamente nos órgãos autárquicos, no ensino e na vida associativa. Enquanto órgão consultivo da Câmara Municipal, procuraremos dar o nosso melhor contributo ao município.

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Os ventos que chegam de Londres, Paris e Washington

José Carlos Pereira, 12.07.24

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Num contexto internacional que continua marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, pela escalada militar de Israel contra o povo palestiniano e pelo desalinhamento crescente entre o bloco ocidental e a China, os processos eleitorais deste ano em França, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América (EUA) têm importância acrescida.

No Reino Unido, os trabalhistas obtiveram no início do mês um dos melhores resultados de sempre, elegendo 411 parlamentares num total de 650. Os cerca de 9,7 milhões de votos (33,7%) dos trabalhistas foram recompensados pelo sistema eleitoral maioritário, tal como todas as sondagens indiciavam. A viragem do Reino Unido à esquerda, pondo fim a catorze anos de governação conservadora, castigou as trapalhadas e a incompetência de Boris Johnson, que não foram ultrapassadas na opinião pública pelos seus sucessores Liz Truss e Rishi Sunak, como o demonstraram as eleições locais que foram ocorrendo. Do lado dos trabalhistas, Keir Starmer conseguiu serenar e unir o partido, que abandonou posições mais radicais e centrou o seu discurso em medidas com forte impacto na população, como os impostos, o sistema nacional de saúde e a imigração, com o fim do inacreditável envio para o Ruanda de imigrantes requerentes de asilo. Starmer tem a oportunidade de comprovar que a esquerda democrática pode governar com sucesso um dos principais países europeus. 

Em França, a coligação de esquerda Nova Frente Popular ganhou as eleições com 180 mandatos e 25,8% dos votos, seguida da coligação centrista Juntos pela República, liderada pelo partido de Emmanuel Macron, que alcançou 159 deputados e 24,5% dos votos. O sistema eleitoral e a barragem "republicana" levada a cabo pelos partidos democráticos, na segunda volta, travaram a vitória que se anunciava para a coligação de extrema-direita liderada pelo Reagrupamento Nacional, que foi a mais votada (37% dos votos), mas só conseguiu eleger 142 deputados, ainda assim o seu melhor resultado de sempre. O desafio que a França tem pela frente é de tentar que a esquerda e o centro ultrapassem as maiores divergências e consigam suportar um governo que reganhe a confiança dos franceses e acabe por reconquistar para o campo democrático grande parte dos mais de 10 milhões de votantes na extrema-direita, muitos deles votantes de protesto, descontentes com a falta de respostas dos partidos que têm ocupado o poder. Macron criou o problema ao antecipar as eleições e terá agora de encontrar um caminho que contribua para evitar a vitória de Marine Le Pen nas próximas presidenciais.

Finalmente, os EUA. A mais importante eleição no mundo democrático corre o sério risco de conduzir à vitória de Donald Trump. As sondagens apontam nesse sentido e o comportamento de Joe Biden dá força a essa possibilidade. As gaffes têm-se sucedido - nas últimas horas chamou Putin a Zelensky e referiu-se à sua vice-presidente como Kamala Trump! - e os pedidos para a sua desistência têm vindo a crescer desde o debate televisivo com Trump. Assisti em directo à primeira meia-hora desse debate e foi verdadeiramente confrangedor ver as debilidades do presidente que luta pela reeleição. Não se compreende como o Partido Democrata não gerou, em tempo útil, uma alternativa forte e credível para suceder a Joe Biden. Muitos dizem que, mesmo assim, Biden ainda é o único capaz de derrotar o intempestivo Donald Trump. Não sei se tal é verdade, mas o mundo olha para os EUA e fica inquieto perante as possibilidades que se colocam, seja Trump a presidente, seja um diminuído Biden reeleito, com os cordelinhos a serem assumidos por terceiros na sombra. O Partido Democrata ainda estará a tempo de virar o jogo?

Eleições europeias com reflexos nacionais

José Carlos Pereira, 11.06.24

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As eleições europeias do passado Domingo mobilizaram mais portugueses, talvez fruto da facilidade concedida pelo voto em mobilidade, e deram alguns sinais interessantes aos partidos políticos e aos seus líderes. 

O PS alcançou mais uma vitória europeia - foi a sexta vez em nove eleições realizadas desde 1987 - e Marta Temido revelou-se uma aposta bem sucedida de Pedro Nuno Santos, que substituiu todos os eleitos em Bruxelas e interveio assiduamente na campanha. Foi uma vitória por curta margem, a segunda menor vantagem nestes duelos europeus com o PSD/AD, mas não deixa de representar uma viragem positiva face à derrota nas recentes legislativas. A vitória de Marta Temido tem ainda maior relevância pelo facto de a maioria dos membros elegíveis da lista não ter uma grande notoriedade.

A AD, pese embora todas as medidas lançadas de supetão pelo Governo, não conseguiu repetir a vitória de Março e consolidar a posição de maior força política. A escolha excêntrica do cabeça de lista, Sebastião Bugalho, não deu a Luís Montenegro o resultado que o primeiro-ministro desejava. Alguém que gosta de se assumir como jornalista, mas que na verdade é um comentador engajado à direita, cuja única experiência política tinha sido como candidato (não eleito) a deputado pelo CDS, nunca pareceu ser uma escolha acertada. O líder da AD cavalgou a onda do mediatismo, mas deviam ter lembrado a Montenegro que, fora da bolha político-mediática, Bugalho era um perfeito desconhecido.

O Chega teve um resultado de algum modo surpreendente, pela enorme perda de votos verificada em relação às legislativas, o qual pode ser justificado por vários factores: o desastroso candidato que apresentou, o menor compromisso com a Europa por parte dos seus eleitores, o facto de o Parlamento Europeu não ser o destino privilegiado dos seus protestos e descontentamentos e o comportamento errático que André Ventura tem seguido desde as últimas legislativas.

A Iniciativa Liberal teve um resultado extraordinário, fruto sobretudo do perfil do candidato Cotrim de Figueiredo e da sua forma de estar na campanha eleitoral. Continuo a pensar que a mudança de líder na Iniciativa Liberal foi um erro e que Rui Rocha jamais terá a empatia que Cotrim de Figueiredo consegue com os eleitores. 

À esquerda do PS, BE e CDU não conseguiram travar o declínio que se vem acentuando, apesar de terem apresentado nas eleições candidatos com grande visibilidade e que já foram líderes do partido, no caso de Catarina Martins, ou da bancada parlamentar, no caso de João Oliveira.

Nos partidos mais votados entre os que não conseguiram eleger, ficam algumas notas a reter: o crescimento do Livre, com a novidade Francisco Paupério, não alcançou por muito pouco um lugar em Bruxelas; a surpreendente, para dizer o mínimo, Joana Amaral Dias, pode ter ajudado a consolidar o ADN como mais um veículo da extrema-direita em Portugal; o PAN teve um resultado muito mau, perdendo espaço enquanto partido verde e ecologista.

A nível europeu, felizmente não se verificou o crescimento que se anunciava para a extrema-direita. Apesar do preocupante resultado que o partido de Le Pen conseguiu em França, obrigando Macron a reagir com a antecipação das eleições legislativas, o Parlamento Europeu continuará a ter no Partido Popular Europeu e nos Socialistas & Democratas os principais grupos políticos e a garantia da defesa dos valores estruturantes da União Europeia. Nesse contexto, ficou reforçada a possibilidade de António Costa vir a ser candidato à presidência do Conselho Europeu, com o apoio do Governo português reafirmado por Luís Montenegro.

O Incursões faz 20 anos!

José Carlos Pereira, 18.05.24

O Incursões cumpre hoje o seu vigésimo aniversário! Foi a 18 de Maio de 2004 que um poema de Eugénio de Andrade abriu as páginas deste blogue.

Nesta hora, recordamos aqui todos os antigos e actuais autores do blogue, particularmente aqueles que já não se encontram entre nós, como são os casos do advogado, jornalista e político J.M. Coutinho Ribeiro, durante muitos anos um dos principais esteios deste espaço, e o economista e professor universitário Carlos Pimenta.

A todos os leitores que nos acompanharam nesta caminhada de 20 anos fica o nosso reconhecimento e a vontade de que continuem a acompanhar-nos. Mesmo numa altura em que se anuncia a perda de relevância dos blogues, contámos no último ano com mais de 25.000 visualizações, o que só pode deixar-nos satisfeitos.