estes dias que passam 345
Os aprendizes de ratazana e a necessária digna resposta
(ponto prévio:não conheço e não gosto do sr. dr. Jaime Nogueira Pinto que, nos meus longínquos tempos de estudante, representava a Direita radical na Universidade. Ficou-me desse tempo uma antipatia visceral pela personagem mesmo se admita que os tempos mudam muito quando não mudam tudo. Em teoria, estou disposto até a acreditar que JNP seja actualmente um pacífico conservador pronto a aceitar a Democracia em todos os seus aspectos).
A questão: parece que o dr Nogueira Pinto ia proferir uma conferencia na Universidade Nova sobre Democracia e Populismo. E que a dita conferencia seria apadrinhada por uma organização chamada “Nova Portugalidade”.
Pelos vistos, a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas entende que a desconhecidíssima Nova portugalidade é “nacionalista e colonialista” pelo que a conferência de Nogueira Pinto mesmo se trata de questões absolutamente diferentes sê-lo-ia também!!!
Vai daí a AE avançou com um protesto que coenvolveria ameaças à boa ordem dos trabalhos. O diligente director da FCSH aproveitou a boleia para cancelar a alegadamente incómoda conferência receando eventualmente pela vida ou pela saúde do dr Nogueira Pinto ou de qualquer eventual espectador.
Nada de novo sob a roda do Sol. Por razões não muito diferentes (sempre a ordem pública) foram proibidas as Conferências do Casino patrocinadas pelos díscolos da Geração de Setenta (o melhor que Portugal teve no século XIX).
Um bando de rapazinhos patetas e provavelmente ignorantes faz um berreiro, grunhe um par de ameaças veladas e lá se vai o verniz democrático de uma Faculdade, dos seus dirigentes e dos seus estudantes que provavelmente desconheceriam o evento na sua esmagadora maioria.
Conheço, de raspão o senhor Coronel Vasco Lourenço e a Associação a que preside (A Associação 25 de Abril onde tenho comido uns magníficos cozidos à portuguesa, numa ambiente simpático e caloroso com amigos de sempre).
A Associação 25 de Abril é claramente – e com todo o direito – uma associação progressista, conotada com a Esquerda e que reúne boa parte dos chamados militares de Abril. Nada pois que permita associá-la a Jaime Nogueira Pinto, claramente um dos vencidos do 25A.
Todavia, nem o facto de JNP ser, eventualmente, um adversário político perturbou o claro pendor democrático e abrangente da Associação 25 de Abril que, ao saber do cancelamento canalha da conferência, imediatamente pôs os seus salões à disposição do conferencista. Chama-se a isto “espírito democrático”, nobreza democrática e amor à liberdade e à discussão livre.
A associação 25 de Abril não precisava de mais louros para se estabelecer como organismo digno e relevante na sociedade portuguesa. Porém, ao perceber ameaçada uma das liberdades que fizeram nascer o movimento que lhe deu corpo e razão de ser não hesitou em mostrar o caminho. O caminho da liberdade, da troca franca e leal de opiniões. Em breve, com os amigos do costume, lá irei para mais um almoço de cozido. Desta feita, entrarei mais contente, mais grato e mais consciente de que piso uma zona livre e digna.
*Ao senhor Coronel Vasco Lourenço (de quem por vezes discordo) à Direcção da A25A aos seus associados e frequentadores o abraço do cronista: o 25 A faz-se todos os dias mesmo que isso pese aos imbecis de alguma associação de estudantes e aos que com eles tergiversam, fogem, escondem-se ou calam.