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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Um olhar sobre o regicídio

ex Kamikaze, 31.01.08


Convite para a apresentação (pelo Dr. António Pedro Vicente) do livro da minha boa amiga historiadora-investigadora Margarida Magalhães Ramalho.
Lisboa, Paços do Concelho dia 1 Fevereiro, às 18h00 (às 16h00 visita aos locais do regicídio – concentração junto à estátua do rei D. José, no Terreiro do Paço)

(clicar na imagem para aumentar)

Diário Político 74

mcr, 13.01.08


No ano de 1975, se a memória não me falha, tive a honra de conhecer e ouvir durante um par de horas Don Pepín Bello. Em 1982 voltei a ter o prazer o de o ver e ouvir numa sessão da Residencia de Estudiantes.

no momento da sua morte, seja-me permitido, tirar lenta e metaforicamente o chapéu e dizer, também eu, "ola Pepín!

E muito, muito, obrigado

d'Oliveira

o leitor (im)penitente 30

d'oliveira, 06.01.08



O José António Barreiros manda-me um mail a chamar a atenção para a “revoltadaspalavras.blogspot.com”, um dos muitos blogs que anima e que, como os outros é imperdível, com a notícia da morte do Luiz Pacheco.
Ligava-nos, entre outras coisas, esta comum admiração pelo Pacheco, escriba que me acompanha desde os anos sessenta. Apesar de serem 26 os seus textos guardados na estante, ocupam escassos 30 centímetros (medi-os agora mesmo, por razões que a seguir se esclarecem). Ponhamos que me faltarão quatro ou cinco folhetos, entre perdidos, “desviados”, em parte incerta ou simplesmente nunca encontrados. Está nisto a trágica ironia duma escrita combativa, irremediavelmente solitária, duma escrita que é fácil acusar de marginal (e, de certa maneira, era-o) mas duma escrita que não poucas vezes foi sumptuosa, irradiante e quase sempre certeira.
Não sei o que é que o futuro destinará a Luiz Pacheco. O futuro, sobretudo o português tem destas coisas, é difícil predizê-lo, sobretudo no caso Pacheco que, por razões diversas e algumas culpas próprias, nunca se pode ocupar dele, tão atrapalhado estava para viver o seu presente, difícil presente, há que acrescentar.
Na hora da morte há quase sempre um tácito acordo: não se referem os pecados e só se exaltam as virtudes. No caso dos escritores a coisa complica-se. A literatura (e temos casos emblemáticos desde Pound ou Céline até Cela para vir mais para perto) vê-se muitas vezes confrontada com a vida dos seus autores.
Conheci o Luiz Pacheco há cerca de trinta anos. Já era seu leitor graças sobretudo a um editor inteligente e sabedor, António Carlos Manso Pinheiro (Estampa). Suponho que antes dele só a Ulisseia (“Critica de circunstancia”?, meados dos anos sessenta e fanada pela PIDE numa das suas incursões à minha biblioteca) é que se dera ao trabalho de o publicar. O resto aparecia sempre sobre a chancela da “contraponto” a editora inventada por Pacheco. Algum dia se falará desse seu trabalho, das revelações literárias que originou, do apurado gosto do editor, do seu amor pelos livros e por uma outra, e nova, literatura.
No final dos setenta e princípios de oitenta, encontrava-o muito pela “Opinião” e não me fiz rogado para entrar na lista dos “mecenas” já não com “vintinhos” mas com “cemzes” (de acordo com esses anos de inflação) com que LP ia angariando a vida sempre difícil. Uma que outra vez transigia em ir jantar à “Trave” do Jaime e do Santos antes deste partir para a aventura do “Primeiro de Maio”. Não recordo, porém, nenhuma conversa sensacional, nenhum segredo literário, nenhuma revelação definitiva sobre os anos surrealistas ou a vida literária de fins de cinquenta até ao 25 A.
E foi por essa época que, inocentemente, colaborei com ele nas suas piratarias editoriais. Em 78, Herberto Hélder publicou, numa edição & etc... “o corpo o luxo e a obra” (600 ex, 100 fra do comércio). À cautela eu encomendara o livro em vários lugares de modo que me couberam dois exemplares. Alguém, cujo nome já não recordo, informado desse bambúrrio, procurou-me para me comprar o exemplar a mais. Tais artes terá tido que eu, burro confesso mas generoso, lho ofereci. Tempos depois, à entrada de um espectáculo de teatro do FITEI fui surpreendido pelo destinatário da minha generosidade que vendia “o corpo o luxo e a obra” numa contrafacção assinada contraponto com a única diferença de incluir um texto de Maria Estela Guedes como prefácio. Vamos andando que me ofereceu um exemplar da “nova edição”. Os anos foram passando e as notícias de Pacheco, salvo os livros que iam saindo que, nem sempre alcançavam a qualidade dos textos anteriores e sobretudo do “libertino passeia por Braga...”, “comunidade” etc...
O passeio, a atribulada mas excitante viagem de Pacheco, acabou. Pelas minhas contas andou por cá oitenta e poucos anos. Ou seja gastou o melhor da sua vida num país tristonho, embiocado em relentos do século dezanove, se não do dezoito, pouco atreito à liberdade livre que Pacheco e os seus, mais que proporem, defenderam e viveram. Com todos os riscos que isso implicava. E com as dificuldades, muitas, algumas prisões pelo meio, processos de toda a ordem, toda uma aventura. Muito mais do que coube, cabe ou caberá, á maioria de nós todos.

Cafés e Tertúlias

ex Kamikaze, 05.12.07

missanga a pataco 34

d'oliveira, 22.11.07

Esta vai assim, directa, para o éter sem redacção prévia sem plano (como se eu fosse muito dessas coisas) como quem segue uma música ao longe. Morreu o Béjart. Quase diria morreu a dança mas isso ele nunca o permitiria.
eu não sei se o século XX teve muitos revolucionários. Duvido bastante, para falar com sinceridade. Mas se os teve, um deles, e não o menos importante foi este meteoro que agora se vai juntar à grande família das estrelas errantes. Morreu, diz o "le monde". morreu, vírgula! Enquanto se dançarem as suas coreografias não há morte que o leve, que o esconda, que o torne esqecido. E há os filmes, os vídeos e, sobre tudo isso, a nossa memória. E o nosso embevecido encantamento. Aquele homem punha um paralítico a dançar...
Deixo para os críticos, o relato frio e minucioso do que ele fez e não fez. Eu, e porventura muitos como eu, contentávamo-nos em assistir espantados aos espectáculos que ele montava.
Permitam-me que, dentre todos, recorde um, em Lisboa, onde no fim entre intermináveis aplausos, Maurice Béjart chegou-se à boca de cena e condenou o fascismo português. A plateia levantou-se ainda mais e se me lembro saiu-se do teatro numa arruaça tremenda. Béjart foi obviamente expulso nessa mesma noite. Mas o escandalo e a repercussão internacional do seu gesto fizeram o regime dançar freneticamente uma dança de S. Vito. Sem aplausos da plateia internacional e dos jornais de todo o mundo que relataram a acção do grande coreógrafo que de todo o modo ainda estava em início de carreira.
Nem que fosse só por isso, querido Béjart, muito obrigado.

Mães da Praça de Maio

ex Kamikaze, 10.10.07

A propósito desta notícia, deixo aqui a lembrança daquela tarde chuvosa, do passado mês de Setembro, mais uma 5ª feira em que o Movimento "Mães da Praça de Maio" se manifestou mesmo em frente às traseiras da Casa Rosa, de onde todos os caudilhos, masculinos ou frmininos, falam às massas. Desfilaram primeiro silenciosamente, em volta da praça, elas com o lenço branco símbolo do movimento, , ao peito fotografias dos familiares há décadas desaparecidos, depois com apelos a que Justiça seja feita, com notícia das batalhas judiciais, cívicas e políticas em curso, tudo pela voz de uma senhora já idosa mas de convições e voz fortes e jovens. Parece que é assim todas as 3ªas e 5as feiras de tarde, há anos e anos.

Kamikaze
´kamikaze











kamikaze


Kamikaze
Assisti, ouvi, senti, aplaudi.
Ao fim ao cabo vale sempre a pena lutar. E se não podemos esperar que todos tenhm essa coragem, há que manter ao menos a crença de a maioria apoie as lutas justas e não pactue com os que, ontem como hoje, não resistem ao apelo do poder dos esbirros, tenham eles o labéu de direita ou de esquerda.
Ainda que, pelo caminho, alguns se aproveitem das justas revoltas para passar as suas mensagens mais político-partidárias...

Kamikaze

voz alheia 1

d'oliveira, 27.08.07


Por uma vez, provavelmente única, dou a palavra à Maria Manuel Viana que quis corresponder à amabilidade dos companheiros desta barca e enviar-nos um texto seu sobre o Eduardo.
Aqui o recebi e, por junto, copiei-o.
Juntei para o ilustrar uma fotografia de uma máscara Urhobo (Nigéria). Achei que o EPC gostaria dela, curioso como era.


para as incursões


ele teria gostado de ler as palavras do marcelo. ter-se-ia comovido. aquelas eram também as palavras dele. vagueio pelos blogs, à procura dum pequeno sinal, duma memória partilhada, para assim calar esta dor insuportável.
ele já não está.

em 73, cruzámo-nos num festival de cinema na figueira. ele falava da persona do bergman. eu tinha 18 anos. fiquei fascinada.

amámo-nos por entre muitos rostos, muitas outras pessoas, muitos filmes e muitos livros.
ele já não está.

adormeceu devagarinho, no sábado de manhã.
como o menino que era.
ele já não está.

dói-me acordar.
dói-me viver.
ele já não está.

fomos felizes enquanto os deuses o permitiram.

estes dias que passam 74

d'oliveira, 25.08.07

A morte, hóspede inesperada




Ainda ontem, sexta, pela tardinha, tínhamos recebido uma mensagem da Maria Manuel: o Público trazia uma reportagem sobre a Mayra, prima segunda de ambos e ela e o Eduardo achavam por bem prevenir todos os familiares.
Nada fazia prever este desenlace, depois de tantas e tantas vicissitudes, há fígado, não há fígado, há rejeição, a rejeição foi vencida, enfim o rosário do costume, as aflições habituais.
Conheci o Eduardo na Figueira há mais de trinta anos numa das primeiras edições do Festival de cinema. Fomo-nos encontrando ano, pós ano, criando laços, coisa mais que natural entre pessoas da mesma geração e com interesses semelhantes. Polemicámos as vezes necessárias que ambos somos senhores do seu nariz. Uma que outra vez, por interposta imprensa, trocámos um que outro afectuoso abraço a propósito de pequenas coisas que nos interessavam.
Há uns anos ele e a Maria Manuel acharam que tinham sido criados um para o outro e disso me deram conhecimento rápido. Ao fim e ao cabo sou o primo mais velho duma série de dezasseis, todos netos da Velha Senhora. A Maria Manuel foi durante muito tempo a única prima que eu conheci, aliás conhecia-a com dois anos de idade, aos gritos numa janela namorando descaradamente os polícias da esquadra em frente. Nos seus romances, a Maria Manuel lá me vai fazendo aparecer fugazmente e o Eduardo dizia que tinha ciúmes...
Agora já os não tem. Nem ciúmes, nem histórias para contar, como ainda há um ano na Galiza. Às oito e meia da manhã de hoje, a minha mãe telefonava-me mais rouca (e mais velha...) do que de costume a dar-me esta miserável novidade. Convenhamos que há maneiras mais agradáveis de acordar. Ao meio dia e meia, não perguntem como, já estava em Lisboa. Vamos daqui a pouco para lá velar o nosso mais recente parente.
Estamos mais pobres e mais desolados.
O Verão é uma má estação para morrer. Aliás, todas as estações são más que a morte é sempre uma hóspede inesperada.

Georges Rouault: Notre Dame des Champs nº4. Acho que o Eduardo gostaria desta gravura malgrado a sua consabida falta de fé. A mim também me falta mas rouault é indiscutível...

Uma perda

José Carlos Pereira, 25.08.07
O país e o espaço público de debate e reflexão em Portugal ficaram mais pobres com a perda de Eduardo Prado Coelho. As suas crónicas diárias no “Público”, sobre os mais variados temas, da política ao cinema, da dança à literatura, eram um dos mais valiosos espaços de reflexão e análise da realidade contemporânea nacional.