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Ena pá, tanto consumo interno!
Uma boa dúzia de cavalheiros, alegadamente – e só – independentes produziu um documento de estratégia macro-económica onde se apontava para politicas favorecedoras do consumo, via aumento de salários ou reposição de cortes nos mesmos, que induziriam um aumento de investimento e por aí fora.
Dito assim, até parece verdade, só que...
Só que nem sempre o aumento do consumo privado produz efeito no investimento e consequentemente no emprego que depois se reflectirá em mais salários, melhores e mais consumo. Uma espiral de felicidade, em suma.
Eu, desgraçado licenciado em Direito no tempo em que as cadeiras de económicas e de finanças não eram um refresco, aprendi que no consumo privado há sempre que distinguir o que agrupa produtos fabricados no país eo que se refere a produtos importados. Os primeiros, mesmo que sejam apenas transformação de matérias primas importadas, de facto acrescentam a riqueza nacional. Os segundos traduzem-se sempre numa dívida externa. Há que pagá-los ao país produtor. Podem, claro, gerar uma pequena receita devida à cobrança de impostos que sobre eles recaiam mas, no fundamental, a maior parte do que paga pelo produto, vai direitinha para outros, e estrangeiros, bolsos.
Do modo como o programa foi apresentado pelo partido político que encomendou essa descoberta da pólvora económico-financeira, o silêncio sobre estes ínvios mecanismos foi de oiro, melhor dizendo de latão.
Este primeiro semestre de 2015 viu um aumento exponencial de consumo de automóveis. Um pouco mais de 116.000 viaturas vendidas! Quase 30% mais d que em 2014!!!
O melhor resultado desde2010.
Isto mostra duas (ou três) coisas. Primeiro que houve mais rendimento disponível o que contraria as teses miserabilistas de uma certa oposição. Segundo que o aumento de consumo se traduz num aumento de importações sem que isso seja um sério reflexo de aumento da riqueza nacional. Terceiro, e só a título de hipótese, que o automóvel particular pode eventualmente ser um valor refúgio para o cidadão que tomou a decisão de o comprar (se assim foi, não se aposta muito sobre a literacia económica do comprador que irá pagar juros, sofrer uma contínua depreciação do veículo que ultrapassa em muito a lógica do valor refúgio.)
Uma sociedade que compra mais de doze mil carros por mês ou se sente enriquecida ou está completamente tola. Um (ou uns) partido(s) que não vêm isto estão a caminho do autismo e correm sérios riscos nas próximas eleições. Os senhores economistas virtuosamente independentes (ou não tanto) que maniqueisticamente apostam no aumento do consumo como panaceia para a desgraça da pátria deveriam ser mais contidos e explicar preto no branco que nem tudo o que luz é oiro e corrigir (caso tenham apontado reservas ao afirmado em título) as necedades dos políticos que lhes encomendaram o estudo.
Boas férias, cidadãos.
(e digo boas férias porquanto tudo indica que os portugueses também neste capítulo entenderam que estavam melhor e encheram os balcões das agências de viagens não deixando uma simples vaga nos aviões que voam para os paraísos turísticos estrangeiros ou as praias do Algarve. Para país deprimido, a coisa, surpreende... )
*na gravura Bugatti "royale"