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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

missanga a pataco 83

d'oliveira, 03.08.17

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Pergunta inocente

 

Foi regulamentada por decreto a gestação de substituição ou seja a possibilidade de um casal infértil poder pedir a ajuda de uma mulher para gerar o futuro filho daquele.

O decreto estabelece inequivocamente a absoluta gratuitidade da gestação a cargo da gestante substituta.

Do ponto de vista dos princípios isto parece óbvio. Mas, na prática, como é que será?

Alguém de bom senso acredita que vão aparecer por aí mães de substituição à borla?

Alguém acredita que o casal que deseja filhos não pague, se tal for exigido pela gestante?

Ou estaremos perante mais uma lei “para inglês ver”?

Não me abono no cinismo corrente e contemporâneo mas, desculpem lá, não acredito nisto. E vocês?

(mcr 4-8-17)

missanga a pataco 82

d'oliveira, 04.08.15

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Ena pá, tanto consumo interno! 

 

Uma boa dúzia de cavalheiros, alegadamente – e só – independentes produziu um documento de estratégia macro-económica onde se apontava para politicas favorecedoras do consumo, via aumento de salários ou reposição de cortes nos mesmos, que induziriam um aumento de investimento e por aí fora.

Dito assim, até parece verdade, só que...

Só que nem sempre o aumento do consumo privado produz efeito no investimento e consequentemente no emprego que depois se reflectirá em mais salários, melhores e mais consumo. Uma espiral de felicidade, em suma.

Eu, desgraçado licenciado em Direito no tempo em que as cadeiras de económicas e de finanças não eram um refresco, aprendi que no consumo privado há sempre que distinguir o que agrupa produtos fabricados no país eo que se refere a produtos importados. Os primeiros, mesmo que sejam apenas transformação de matérias primas importadas, de facto acrescentam a riqueza nacional. Os segundos traduzem-se sempre numa dívida externa. Há que pagá-los ao país produtor. Podem, claro, gerar uma pequena receita devida à cobrança de impostos que sobre eles recaiam mas, no fundamental, a maior parte do que paga pelo produto, vai direitinha para outros, e estrangeiros, bolsos.

Do modo como o programa foi apresentado pelo partido político que encomendou essa descoberta da pólvora económico-financeira, o silêncio sobre estes ínvios mecanismos foi de oiro, melhor dizendo de latão.

Este primeiro semestre de 2015 viu um aumento exponencial de consumo de automóveis. Um pouco mais de 116.000 viaturas vendidas! Quase 30% mais d que em 2014!!!

O melhor resultado desde2010.

Isto mostra duas (ou três) coisas. Primeiro que houve mais rendimento disponível o que contraria as teses miserabilistas de uma certa oposição. Segundo que o aumento de consumo se traduz num aumento de importações sem que isso seja um sério reflexo de aumento da riqueza nacional. Terceiro, e só a título de hipótese, que o automóvel particular pode eventualmente ser um valor refúgio para o cidadão que tomou a decisão de o comprar (se assim foi, não se aposta muito sobre a literacia económica do comprador que irá pagar juros, sofrer uma contínua depreciação do veículo que ultrapassa em muito a lógica do valor refúgio.)

Uma sociedade que compra mais de doze mil carros por mês ou se sente enriquecida ou está completamente tola. Um (ou uns) partido(s) que não vêm isto estão a caminho do autismo e correm sérios riscos nas próximas eleições. Os senhores economistas virtuosamente independentes (ou não tanto) que maniqueisticamente apostam no aumento do consumo como panaceia para a desgraça da pátria deveriam ser mais contidos e explicar preto no branco que nem tudo o que luz é oiro e corrigir (caso tenham apontado reservas ao afirmado em título) as necedades dos políticos que lhes encomendaram o estudo.

Boas férias, cidadãos.

(e digo boas férias porquanto tudo indica que os portugueses também neste capítulo entenderam que estavam melhor e encheram os balcões das agências de viagens não deixando uma simples vaga nos aviões que voam para os paraísos turísticos estrangeiros ou as praias do Algarve. Para país deprimido, a coisa, surpreende... )

*na gravura Bugatti "royale" 

 

missanga a pataco 80

d'oliveira, 17.03.13

O da Beira...

 

Num esforçado comício em tom comovido e falsete o doutor António José Seguro prometeu aos seus escassos espectadores que "novamente teriam um beirão no Governo". 

Presume-se que se referia a si próprio.

Todavia, não é à naturalidade do secretário gral do PS que me quero referir mas apenas à promessa: outra vez um beirão! 

 

A idade não perdoa, e eu também não: durante mais de trinta anos da minha vida tive um beirão no Governo. Chamava-se António de Oliveira Salazar e, francamente, não guardo saudades de qualquer espécie, mesmo se as coisas parecessem andar sem sobressaltos económicos. dos outros, mais conspícuos, nem me apetece falar, mas o pºobre Seguro nem sabe como é que aquilo, com o beirão, era. 

será que no PS não há alguém que explique História recente ao Tozé? 

missanga a pataco 80

d'oliveira, 28.01.13

Telegrama ao senhor grão mestre

ou o português é uma língua sacaninha 

 

A propósito dos escândalos que abalaram algumas instituições maçónicas indígenas, eis que o grão mestre do Grande Oriente Lusitano entendeu declarar: "a frequência das lojas, e inclusivamente a aderência de elementos, foi significativa, maior do que se poderia esperar após esta situação."(sic, apud "Público" ed de 28.01.2013).

Haja alguém de boa vontade, irmão ou não, que piedosamente explique ao senhor Fernando Lima que aderência não é adesão. Mesmo se, na prática medíocre de todos os dias as coisas passem por iguais. O Venerável queria dizer adesão mas confundiu os conceitos. As rodas do comboio aderem aos carris (nem sempre como infelizmente se verificou em Alfarelos). Há criaturas que achando a Maçonaria uma instituição maravilhosa (o que pode ser bizarria mas não constitui delito) aderem a esta. A isso, a esse sentimento de concordância chama-se adesão.

Estamos entendidos, senhor Lima?

A bem do português, que não da Nação. 

missanga a pataco 79

d'oliveira, 28.09.12

 

Aberrante!

 

Parece que o Governo, pela autorizada voz do Ministro da Saúde, entendeu que os cidadãos, todos os cidadãos, com mais de 65 anos teriam direito á vacinação gratuita contra a gripe.

Desconheço o custo da vacina, mesmo se também eu anualmente a tome. A ideia é que é barata. Pelo menos para pessoas com o meu (modesto) nível de rendimentos.

Entendo que os velhos estão mais sujeitos aos riscos que uma gripe implica. Entendo que a pessoas de recursos baixos tal vacina fosse a preço zero. Todavia, mesmo com a crise, ainda há muito boa gente (ou até má...) que a pode pagar sem com isso ver o orçamento mensal tremido. Quer eu quer o senhor Belmiro Azevedo, ou o patrão do Pingo Doce (permitam-me, uma vez sem exemplo, figurar neste clube restrito de empresários afortunados) poderemos pagar a vacina em causa. E, connosco, mais umas dezenas de milhares de portugueses.  

A economia não será gigantesca mas pelo menos, neste caso, é ridículo oferecer-nos algo que poderíamos pagar.

É este género de medidas (que a imprensa achou “justa” e boa) que mostra á evidência que o governo anda de cabeça perdida.

Que nenhum politico, desses ferocíssimos que uivam por tudo e por nada, tenha saído à estacada a denunciar esta tolice, só me surpreenderia se eles estivessem de facto a falar a sério. Mas temo bem que não estejam.

 

 

 

 

 

missanga a pataco 78

d'oliveira, 28.09.12

 

Sobre o uso  (e abuso!) do termo “justicialismo

 

Justicialismo: doutrina política de Juan domingo Péron (1895-1974) presidente da Argentina; peronismo; pensamento e acção política dos que seguem essa doutrina na Argentina (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, vol IV, p. 2199)

Peronisme: systéme politique instauré en Argentine pour le président Péron, inspiré du corporatisme mussolinien qui aliait réformes socialies et dirigisme

(Dictionnaire Hachette  2005 p. 1226).

E por aí fora...

Tentar confundir uma objurgatória da senhora Ministra da Justiça com o peronismo foi um arriscado passo dado pelos senhores Santana Lopes e João Galamba (deputado de PS). O português para estas duas criaturas deve ser mesmo uma língua muito trabalhosa.

Que a palavra tenha sido depois repetida até á saciedade por jornalistas ignorantes, políticos indigentes  e  cidadãos inocentes e pouco frequentadores do dicionário revela que por cá qualquer andorinha anuncia não a primavera mas o inverno das ideias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

missanga a pataco 75

d'oliveira, 21.10.10

Este pecado não mora ao lado

Marilyn Monroe era uma mulher bonita, sensível, inteligente e talentosa. A vida deu-lhe muito e tirou-lhe tudo. Foi famosa, invejada, amada, idolatrada e conseguiu o milagre absoluto de permanecer intacta na sua esplêndida beleza todos estes anos. Graças ao cinema e a ela própria. E a um corpo escultural, uma voz delicada e á aura da desgraça.

Quererem fazer dela, agora, uma intelectual assanhada é claramente uma revisão da história. Marilyn, já se disse, era inteligente e talentosa. Era curiosa e gostava de ler. Leu muito, porventura demais, ou isso quiseram fazer crer. Escreveu um pequeno diário em que apontava com ingenuidade e sensibilidade o que via, o que ouvia e o que sentia. Fazer disso uma obra literária do tamanho do Pulitzer é ridículo e diminui uma grande mulher infeliz e demasiado bela.

Os vampiros da carniça que contribuíram para a perda dela, não desistem de ganhar dinheiro com o cadáver que já se não pode opor-se-lhes.

Sempre admirei MM, mesmo quando isso parecia pequeno-burguês e quando se devia exaltar apenas alguns camafeus do neo-realismo de que já ninguém se lembra. Tenho os seus filmes, alguns álbuns sobre ela, e um persistente, antigo encantamento.

Basta de exploração! Não destruam o mito e sobretudo não matem segunda vez a mulher que perseguiram até à morte.

* na gravura: a gata Kiki de Montparnasse com Marilyn ao fundo

missanga a pataco 79

d'oliveira, 25.01.10

Django está vivo.......(em disco, claro)

Em tempos bem antigos dizia-se de um sanguinário que atormentou meia Europa que “estava vivo nos nossos corações”. Bem no meu não, que eu, para tal peditório, não dei. Mas a verdade é que havia uns rapazolas que, alucinados pela acne politica, achavam que o camarada Yossip Djugatchivilli, conhecido no século por Stalin, estava vivo. Não estava, graças a Deus, estava até bem morto e enterrado, mas para uma jubilosa e ignorante proto-esquerda o cavalheiro estava fresquinho, pronto a servir.

E Django? Django Reinhardt, ao completo, guitarrista de jazz emérito, manouche de boa cepa, fundador do Hot Club de França, companheiro e cúmplice de Stéphane Grapelli?

Pois Django faria hoje cem anos, bonita idade não fora dar-se o caso de ter morrido em 53 depois de uma vida extraordinária. De facto, era um verdadeiro autodidacta, incapaz de ler música mas com um ouvido e uma intuição absolutamente excepcionais. Mais excepcional ainda é o facto de ter perdido o uso de dois dedos da mão esquerda, devido a um incêndio na casa onde vivia. Mesmo assim, e os discos estão aí para o confirmar, o seu virtuosismo é mais que evidente.

Passou a guerra em Paris e, diz-se, teve a vida salva graças a um oficial alemão amador de jazz que terá conseguido livrá-lo das perseguições de que os ciganos eram vítimas.

Foi igualmente um dos primeiros músicos brancos e não americanos a ser reconhecido nos Estados Unidos onde tocou com Ellington. Deixou nesse pais um rasto de admiração e há inclusive algumas composições celebrando-o. De regresso a França trouxe na bagagem o bee-bop de que foi um defensor e um percursor na Europa. Ainda hoje o seu modo de tocar, as suas invenções são seguidos e imitados a pontos de se falar num jazz manouche ou jazz cigano, ainda que, talvez, se possa dizer com expressão limitada à França. Fora de dúvida é seguramente a sua ainda forte influência nos seguidores da guitarra jazz. E a sua música essa, felizmente, continua a ser ouvida e editada (até cá!).      

missanga a pataco 78

d'oliveira, 19.12.09

 

Também os remadores jantam

 

Pois é leitorinhas gentis e leitores conspícuos (entre os quais o meu especial amigo JVC que se rói de inveja por eu ter leitoras) também nós, os deste lado do ecrã, ou seja os incursionistas, jantamos. Mais uma vez se realizou o tradicional ágape de inverno. Mais uma vez, JCP teve o encargo de encontrar restaurante, marcar o jantar e animar as hostes. Desenganem-se, porém, os que esperam que eu refira o charuto que ele tradicionalmente acende e fuma. JCP acata a lei do tabaco e nem se moveu da mesa. Terá deixado o vício? Zangou-se com Cuba? Foi alvo de ameaças terríveis se for apanhado a fumar? Fez uma promessa para o tempo natalício (comer pouco, não fumar não......)?

Coutinho Ribeiro, o fugido carteiro, mais misterioso do que nunca, não se abriu quanto á sua escassa participação. Que se passa? Que se não passa? Centenas de leitoras (ou milhares?) interrogam-se sobre este mistério. Não serei eu quem levante o véu mas na verdade gostei de ver o velho amigo todo lampeiro.

O Mocho Atento, sempre afobado por afazeres de índole espiritual (o homem vai a todas, ele é escuteiros, organizações de solidariedade social, agora  dá uma mãozinha ao Bispo, enfim não pára) chegou –como já também é tradicional – atrasado! Mas com o bom humor de sempre no que foi secundado pela dupla “o meu olhar”/JSC. Faltaram Simas Santos que agora anda de avô babado, Kamikaze, vice-raínha dos Algarves, às voltas com a sua livraria de Faro, e a nossa ministra plenipotenciária em Copacabana, Sílvia Chueire que, entretanto, mandou um poema, Saravah Sílvia!

Comeu-se, pois, forte e feio, discutiu-se, como é da praxe, tudo acabando mesmo na rua onde durante uns bons quarenta minutos continuou a conversata à temperatura comprovada de cinco () graus. Arre!, que isto é mesmo gosto em estar juntos. Quando o Coutinho Ribeiro achou que estava quase congelado despediu-se e a tropa destroçou: leitinho, xixi e cama.

Andamos nisto há já uns anos. Com altos e baixos, como todos os blogs, mas com uma consoladora, reconfortante, média de leitores e alguns picos francamente interessantes. Isso me basta ( e nos basta) para continuar. Andamos nisto porque nos divertimos, porque ninguém impõe nada a ninguém, porque discutimos se nos apetece, porque somos todos diferentes e respeitamos essas diferenças. E, pelos vistos, vamos continuar assim: um grupo de desalinhados sem complexos, de mulheres e homens com causas mas sem arcas encoiradas. Provavelmente este pequeno grupo subsiste porque é uma imagem a la minute do país, da nossa comunidade de leitores e amigos. Se isso for verdade, que honra!