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Incursões

Instância de Retemperação.

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O gato que pesca 6

d'oliveira, 12.01.09


O.M.O. manda mais….

Os gatos (e sobretudo as gatas, claro!) percebem perfeitamente a linguagem dos humanos que, por sua vez, não fazem a mínima ideia da nossa. Todavia, se miarmos convenientemente eles pensam que nos entendem e lá se vão abrindo connosco.
Hoje, o mcr foi almoçar com dois camaradas de blog: o JSC e a “o meu olhar” doravante referida por OMO.
Ai vocês pensavam que eu estava a falar dessa saponária idiota que pretende lavar mais branco do que os nossos estimabilíssimos bancos? Que tolo engano. Eu queria apenas falar dessa amiga e colega do mcr que, segundo ele conta, lhe pagou o almoço. Vê lá tu, Ingrid, eu a comer á borla. E quem me pagou a soupe a l’oignon e o coq au vin não foi um monstro antediluviano, nada disso. Foi uma bonita mulher, loura até dizer basta e com uns olhos claros que nem te digo nem te conto. Bem, vinha de marido a tiracolo, mas pagou o almocinho á mesma, o que para um cavalheiro que já entrou na terceira idade, não é coisa de somenos.
Finalmente, o que o mcr queria dizer é que esteve em amena cavaqueira com dois colegas de blog (meus colegas, também, ao fim eo fim e ao cabo...). Parece que a OMO quer mudar o visual do blog.
Não me digas que ela é como a CG!, alarmei-me eu num miado três oitavas acima do normal. Convém explicar que a nossa casa anda numa reviravolta espantosa. A CG viu-se livre da empregada, começou a achar que estava tudo sujo, e toca de tirar tudo dos armários e barrela com tachos, panelas, copos, frigideiras, chávenas, travessas pires enfim uma boa tonelada de coisas repetidas, tri-repetidas, um horror!... O mcr anda em bicos de pés, escafedendo-se por tudo o que é buraco, resmungando coisas ininteligíveis em línguas ininteligíveis, deve ser o tal famoso dialecto de Buarcos, uma mistura de fenício antigo com palavrões lusitanos...
Pr’aí, pr’aí", respondeu num sussurro o mcrque fingia estar a arrumar as sagas islandesas. Achas que a saga de “Njall o queimado”, fica bem ao pé da d’ “os chefes do vale do lago”?
Nem lhe respondi, que aquilo era pura retórica, quero lá saber das vizinhanças de histórias de crimes e violências inauditos, ocorridos há mil anos entre islandeses mal humorados.
O mcr entretando lá me confidenciou que a OMO queria dar uma volta ao blog, põ-lo mais atraente, mais “actual”, mais interventivo. “Parece que ela quer que haja mensalmente um responsável que esteja sempre a deitar achas na fogueira. E diz-me isso a mim, que escrevo que nem um galego, que me esfalfo a puxar pelas pobres células cinzentos do senhor Poirot para servir as minhas freguesas de prosa, boa, abundante e bem confeccionada, como se diz nos quartéis a propósito do rancho da soldadesca. Tu já viste isto, Ingrid. E não te faças de parva que se esta coisa vai para a frente nem as gatas escapam. Uma vez posto um post, o autor tem de dar ao dedo senão...
Vê-se bem que o mcr não percebe nada de gatas e menos ainda de mulheres, mesmo loiras, inteligentes bonitas e de olhos claros. O que a OMO quer (e nisso vai certamente obter entusiástica aquiescência da Kami e da Sílvia) é acção.
Nenhuma mulher resiste ao apelo da mudança, seja ela qual for. Só os homens se instalam na preguiçosa rotina. O mcr diz que não. E exemplifica com os livros da sua biblioteca: “Tu já viste o que seria eu tentar mudar a ordem dos livros de três em três meses? Já nem falo de cada livro mas apenas dos romances, da poesia, do teatro etc... Olha se começava a mudá-los de estante... E se em vez de ser por grandes famílias fosse mesmo livro a livro. Tu já viste o que era mudar dezassete mil livros? Dezassete mil duzentos e trinta e dois, sem contar com os quatro ou cinco que estão em cima da estante da janela para dar entrada, pensei eu, mas não lhe disse nada. Nestas ocasiões devemos deixar a macharia em geral, humana ou felina, carpir as suas mágoas. Faz-lhes bem. É como quando as mulheres choram. Lavam a cara com o rimmel que escorre e lavam a alma.
E o mcr continuava. Ainda por cima a OMO gosta de Kandinsky, estás a ver? Claro que não estou a ver nada. O mcr adora os expressionistas, a pintura alemã dos anos dez a trinta, o “Blaue Reiter”, o grupo “Die Brücke”, a malta que se juntava à volta da Gabrielle Müntner em Murnau e que foi amorosamente coleccionada pelo von Lenbach e que está hoje exposta na Lenbachhaus em Munique. Todavia não sei o que é que isso tem a ver com o blog e com a pertinaz tentativa da OMO de nos pôr a trabalhar.
É que não se pode dizer não a uma pessoa que gosta de Kandinsky, explicou-me o mcr. Parecia mal...
Portanto., leitores meus e leitorinhas do mcr. Preparem-se. Vem aí mudança grossa. Barrela geral. Novo visual. O mcr vai ter de aprender várias coisas, inclusive pôr música (de jazz, disse-me ele, só jazz, árias de ópera, e coisas barrocas pequeninas. E alguma da maravilhosa música dos sixties.)
Desliguei. O homem, quando lhe chega a nostalgia dos sessentas não pára. E eu, francamente, para o rock já dei. Dei e não dou mais. Nós as gatas temos princípios. E um deles é os músicos que se amanhem que não há nada que se compare ao miar de um gato preto de olhos verdes.

Ingrid Bergman de Andrade

* na gravura, "Blaue Pferde", Franz Marc, 1913.
** ao lado esquerdo, foto de costas da autora num momento de inspiração bloguística.


O gato que pesca 5 (adenda)

d'oliveira, 08.01.09

O gato que pesca 5

d'oliveira, 07.01.09
Lenin, os dadá, o computador avariado
e a economia resplendente

“Não sei como sobrevivi tantos anos sem a tua ajuda!”
, disse o meu dono à Ingrid.
Espantei-me com tal afirmação tanto mais que a Ingrid estava deitada em cima de uma folha de jornal que o mcr estava a tentar recortar. Qualquer coisa que o fazia resmungar contra um senhor espanhol chamado Rivero que escreve numa das últimas “Babelia” um artigo sobe um livro que o hospedeiro muito recomenda: “Lenin Dada” de Dominique Noguez.
Consegui perceber (eu sou pouco dada ao dadaísmo”, prefiro os grandes clássicos, Flaubert entre todos...) que o livro estava escrito em tom humorístico mas que o tal Rivero o levava a sério, mesmo vinte anos depois da sua publicação.
A Ingrid provavelmente também se leva a sério quando se senta sobre o papel que o mcr tenta recortar e guardar num sítio de que nunca mais se lembra. Ela teme que o mcr se afogue em comunicação, se é que o já não está. Isto de se irritar com um critico eventualmente muito conhecido em Espanha mas irrelevante entre nós pode ser sinal disso. Fazer uma tempestade num copo de água, como se diz por aí.
Cheguei a temer que o mcr ainda andasse irritado pela série de chatices que o tem atingido. Mas o carro já cá está em casa (detesto aquele carro: é o que nos leva à veterinária...) e hoje o mcr esteve numa oficina apple onde lhe terão dado algumas esperanças quanto à reparação do computador Imac G4. Um senhor que tem um cão com pulgas (mas os cães têm sempre pulgas, coitados, não dão para mais...) chamado Pedro Aniceto meteu-se ao barulho e recomendou o colossus da Maia. Ai não sabiam que a Maia também tem um colosso? Tem, pois claro. Tem até um em latim. Não é como o de Rodes mas para tratar de um produto apple está por ali.
"Gente simpática, Kiki, vamos lá a ver...", sussurrou-me enquanto me pegava ao colo. Por acaso até fui eu quem lhe saltou para os joelhos, as gatas tem de amimar os donos sobretudo se está frio e eles tem uma barriga boa e quente.
Aliás a onda de solidariedade que o seu patético relato nestas páginas despertou já teve efeitos: ofereceram-lhe um portátil mac que o mcr prontamente aceitou. "Se não há quem o use...", justificava-se.
Mas a grande notícia é o frio. Parece que os humanos queriam chuva no nabal e sol na eira. Queriam um inverno estilo verão moderado. Enfim um inverno manso como se em tempos de crise os invernos não fossem mesmo assim. A CG tem a teoria de que o inverno também entrou em recessão. Não dá para mais do que seis ou sete graus.
O único humano optimista que conheço é um senhor chamado Constâncio que terá declarado que o rendimento das famílias portuguesas vai aumentar!
Sobretudo o daquelas em que um dos membros do casal foi, ou vai ser, despedido. Como ocorre todos os dias...
Então se marido e mulher forem para a rua, é uma festa: com os subsídios de emprego vão encher os bolsos.
Uma série de cavalheiros, obviamente banqueiros, e assimilados, gestores de grandes empresas públicas ou quase, estão para ali a dizer que a situação é boa para quem quiser aproveitar as ocasiões. Por exemplo podem comprar-se acções em baixa. Estão a ver o casal, desempregado de fresco, a comprar acções do BCP? Se não se acautelam ainda chegam ao Conselho de Administração do banco. Eles que se cuidem. A situação está má para os membros dos conselhos de administração. Ah se eles soubessem teriam preferido ser operários toda a vida...

Kiki de Montparnasse

* “cãocompulgas”, blog de Pedro Aniceto, animador da mailing list "o correio dos outros
**Colossus, uma das oficinas apple que tenta animar os desamparados.
***"Lenin Dada" Dominique Noguez, Robert Laffont, Paris 1989

esta crónica deveria sair com uma bonita fotografia minha mas o computador diz que se verificou um erro e não sai fotografia por mais que se tenta KdM

O gato que pesca 4

d'oliveira, 17.12.08

A carta na garrafa:

às exmas gatas e Lucy (chez Manuel António Pina) pelas suas congéneres Kiki de Montparnasse e Ingrid Bergman( chez mcr)


Caras amigas

Somos as gatas hospedadas por mcr, admirador incondicional do vosso hospedeiro Manuel António Pina. Por solilóquios vários do nosso hospedeiro soubemos que o vosso projecta editar “apenas para amigos” um livrinho de poemas.
Grande sacana!, murmurava o mcr, a gente nunca se vê e o tipo é menino para se esquecer de mim.
Quem?, perguntou a CG, hospedeira nossa e nossa especial manicure, cabeleireira e massagista. O Manel Pina, um tipo que é poeta e que conheço desde sessenta e tal. E é bom?, Bom?, é óptimo. O gajo sabe da poda como poucos, quase nenhum.
Poda, pelo que conseguimos perceber deve ser o mesmo que poesia, só que em puro, limpo, directo, luminoso, sem rodriguinhos nem narizes de cera. Uma coisa, esta é da Ingrid, quase tão especial quanto uma gata. A Ingrid é muito selectiva neste capítulo da classificação dos seres vivos. Dos humanos só aproveita um senhor chamado Mozart, um outro chamado Joyce, um tal Borges e uns (quem seráo?) Rabelais e Voltaire. E o Fernão Mendes Pinto? Esse vem na segunda lista, divisão A, superior.
Ora, como verificam, este nosso hospedeiro, que é bom tipo, com suas manias, nunca se esquece de partilhar o fiambre do pequeno almoço comigo (Kiki dixit) anda com as vísceras alanceadas. E se o Manel esgota os livrinhos antes que o pilhe? Telefone, propõe a CG. Sei lá se o tipo tem telefone... os poetas são assim, comunicam por outros meios, por telepatia ou, no mínimo através dum tal alfabeto homográfico que era uma coisa que se fazia com bandeirinhas na mocidade portuguesa, uma estafadeira tão inútil quanto o resto e meia pateta, respondeu, sombrio o mcr. O homem é um nocturno, um cabouqueiro da noite, ninguém o apanha a horas decentes.
Foi por estas e outras razões que, enquanto o mcr está na livraria leitura com um par de jarretas da mesma idade (às quartas feiras é certinho: juntam-se na livraria, bebem café, chateiam os empregados e dizem mal do Saramago) fomos ao computador que está na nova sala dos livros e zás, atirámo-nos às teclas e aqui está: uma carta para vocês colegas e patrícias desta classe superior da Criação. É uma cunha que vos metemos: convençam o vosso hospedeiro a guardar um livrinho para o mcr. Ele merece, apesar de tudo. E tem todos os livros de Manuel António Pina. Ou quase, pois pode haver algum contrabandeado só para amigos de que não há notícia. Valeu?


* o gato que pesca é uma série que começou sob a égide de Puff von Heinzelmann, gato que morreu demasiado cedo e que tinha uma pecha pelo quartier latin. Agora é redigido por duas gatas mas mantém-se o masculino em homenagem ao primeiro redactor e à rua imortalizada por Yolande Foldés
**a fotografia que enriquece este post, o blog, e a internet é das autoras quando teriam seis meses.


o gato que pesca 3

d'oliveira, 23.05.08

um interregno no Maduro Maio

ou de como as gatas Ingrid Bergman de Andrade e Kiki de Montparnasse Correia Ribeiro resolveram provar aos seus "donos" que também elas sabem fazer um seat-in contra a projectada viagem destes últimos a Roma. A Roma? A essa cidade paraíso de gatos e gatas de linhagem patrícia? E sem nós? Era o que mais faltava...
E vai daí ocuparam a mala da "dona" desafiando-a a tentar meter lá uma simples peça de roupa.
Muito me temo que a repressiva CG não se deixe convencer por esta ocupação pacífica e à força as desaloje. como ocorreu no Panthéon, justamente...
Enquanto uma turba multa de "incursionistas" se preparam para uma jantarada em terras do perigoso JCP o último fumador de autênticos "Cohibas" e de um serão nas propriedades de "o meu olhar" e JSC, este escriba terá de se consolar com um jantarinho no Campo de Fiore...
Às leitoras que bem precisam deste descanso de escrita e aos camaradas do blog um até para a semana.
As gatas contestatárias e ocupantes ficam entregues aos cuidados da enteada Ana e da bem humorada D. Eugénia. Elas sobreviverão ao desgosto de não nos verem um par de dias.