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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

O leitor (im)penitente 281

mcr, 31.01.25

 

 

 

 

 

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Um livro feito de cinco livros

 

(Codex Calixtinus. manuscrito de Salamanca)

 

mcr, 29-1-25

 

 

 

De todas as grndes peregrinações da Cristandade, destaca-se, porque persiste mesmo se não apenas na vertente religiosa, a peregrinação a Santiago.

Não são poucos os caminhos da peregrinação, incluindo alguns portugueses, e, de certo modo, diz-se com alguma razão que este código, na sua pate 5ª, dita o livro do  Peregrino, é um guia de viagem e o mais antigo texto de uma europa cultural. E como tal é reconhecido pelas grandes instâncias internacionais, esperando-se, para já, que o actual inquilino da Casa Branca não tente diminuir a sua importância ou comprar as partes europeias que milhões de peregrinos foram consolidado desde o sec XIII.

(os restentes livros do Codex Calistinus, dizem respeito à liturgiia musical de Compostela  (livro 1, fl 1-139), aos milagres de Dantiago (livro 2, fl 139-155, ao relato da ua evangelização )livro 3, fl 156 a  162),  à crónica do pseudo Turpin onde se trata de Carlos Magno e Rolando, livro 4º, e R 163 a 19 e finalmente ao "guia do peregrino , livro 5º , fls 193 a 213.

Esta é, para a generalidade dos tratadistas e leitores a parte mais importante não só porque é o primeiro guia de vaigens conhecido mas sobretudo pela excelente descrição do itinerário principal da peregrinação que durante séculos (e porventura hoje) rivalizou  com as peregrinções a Roma  (os "romeiros" e à terra santa (os "palmeiros")

 

De certo modo, os caminhos de Santiago (e há itinerários desde o centro da Polónia!....), pelo menos os mais importantes (e entre eles, o "caminho francês") quase constituem a ossatura da Espanha actual. pelo menos do Norte desde a fronteira até bem dentro da Galiza. Se insisto em falar do norte peninsular, é porque como é sabido, boa parte do sul esteve sob controle de potentados árabes. 

Por outro lado, são conhecidos os chamados caminhos portugueses e a esse título basta citar um bonito e excelente livro de Carlos Gil e João Rodrigues  "Pelos caminhos de Santiago (itinerários portugueses para Compostela)",

Escrita inteligente, leitura amena, excelente iconografia, bastam para convidar quem for mais curioso a tentar apanhar este livro.(Publicações D quixote e Círculo de Leitores, 2990)

Vale a pena recordar que, dentre a meia dúzia de cópias conhecidas, uma há que está na Biblioteca Nacional e é proveniente do da livraria do Mosteiro de Alcobaça.

 

E já que estamos com a mão na massa, é boa altura para referir um belíssimo livro que se intitula "Viaje de Cosme de Medicis por Espana y Portugal" acompanhado por um atlas de 70 lâminas com paisagens   Também qui, de certa maneira, a ideia era a de fazer uma peregrinação a Santiago de Compostela que se edctuou entre  18 de Setembro de 1688 e 19 de Março de 1669  

A edição que ora refiro é obviamente um fac-simile de grande qualidade (especialidade em que os espanhóis são mestres) e custa uma forte soma de morabitinos. Claro que vem acompanhada de um volumoso "libro de estudios"  cerca de 330 pp, com textos de vários especialista e  uma abundante iconografia.  A edição do fac-simile é de 2011 mas a do livro de estudos é de 2024. Eu só compro este tipo de obras se vierem com o citado estudo e é por isso que só agora, digerida parte importante da literatura monográfica e a tradução do Codex, é que me sinto à vontade para esta nota de leitura. 

Claro que não proponho a ninguém com mais juízo do que eu uma compra deste género mas suponho que há, pelo menos em Espanha, edições populares, traduzidas  a bom preço.

*vinheta: Santiago, Matamouros, ilustração no Codex 

 

O  codex foi atribuído ao papa Calisto iii mas, na verdade, terá Sido redigido, no todo ou em parte,  em Compostela, sob as ordens do temível bispo Diego Gelmirez demasiadamente conhecido em Portugal e sobretudo em Braga. De facto, este bispo verdadeiro arquitecto da grandeza de Compostela, veio em 1102 a Portugal e a Braga onde se encontrou com o bispo S Geraldo. 

O seu secreto intuito, aliás conseguido, era roubar um farto lote de relíquias o que foi coroado de êxito  A história diz quuuue as relíquias de Santa Susana, S Frutuoso, S  Silvestre, S João evangelista (irmão como se sabe de Santigo) e S Cucufate foram contrabandeadas para a cidade glega e terá começado aí o primado de Santiago de Comºostela sobre Braga. As más línguas (que eventualmente merecerão algum crédito) juram que Gelóirez embebedou o bispo bracarense e os seus cónegos para melhor levar a cabo a sua pilhagem que é conhecida como o "santo latrocínio"

Apenas se salvaram as relíquias de S Torcato porque estavam numa igreja longe de Braga!  

Si non é vero...) 

 

ficha

Codez Calistinus da Universidade de Salamanca (também conhecido como  S Jacobi codex) 

edição facsimilda de 898 exemplares  Este exemplar tem o nº 69 (LXIX).   Ed: Siloe, 2011

dim: 33x25x5

acompanhado de Libro de estudios, Sloe, 2024, com textos de Luis AngelMontes Pedral, Fernando LopezAlsina, Francisco Singul, José Eduardo Lopez Pereira e Oscar Llao Franca (contem a tradução completa do Codex e demais estudos 

              

Em relação à "Viagem de Cosme de Medicis e ao excelente atlas que  acompanha (cr  o leitor (im) penitente  240 de 12-8-22)

ficha:

Viaje de Cosme de Medicis por España  y Portugal(1688-1689)

2 volumes (texto e volume de lâminas gravadas)

350 pp  e 71 lâminas com 2 gravuras cada, estas com 66 x 50 

introdução e notas  de Angel Sanchez Rivero e Ângela M de Sanchez Rivero

Junta para aAmpliación de Estúdios y Investigaciones Científicas

Centro de Estudios Históricos, s/d 

 

 

 

o leitor (im)penitente 280

mcr, 14.01.25

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Rui Namorado , um adeus

mcr, 13-1-25

 

Nascemos no mesmo ano e na mesma terra. E éramos ambos filhos de médico que terão sido contemporâneos mas não condiscípulos na mesmíssima cidade.

fomos às "sortes" na mesma altura , um ou sois meses antes de rebentar a guerra em Angola. Ambos ficámos "livres" por falta de robustez física graças a uma coisa chamada índice de Pignet. O Rui, como eu era magro esgalgado mas mais alto, um monte de ossos galhofeiro que já poetava. Nem seise o conheci primeiro como poeta e só mais tarde pessoalmente. De todos os modos ficámos amigos logo nos finais de 1960. Ambos nos implicámos a sério na vida associativa estudantil e, também por isso, fomos "compagnons de route" do pc, partido a que o Rui nunca aderiu como nessa altura me confidenciou. Em 1962 fomos dos poucos estudantes de Coimbra que conseguiram chegar  Lisbos para festejar o "dia do estudante" e só o conseguimos porque pouco antes de Lisboa deixámos o comboio que se dirigia a Santa Apolónia e apanhámos um outro, provavelmente suburbano, que nos deixou em Entrecampos. quando chegámos ao campus universitário fomos convenientemente agredidos pela polícia . Depois, já em Coimbra, estivemos na primeira fila da tomada de posição de solidariedade com a malta de Lisboa. Em Maio de 62 fazendo parte do grupo que, pela 2ª vez, ocupou a sede da Associação Académica. quarenta e quatro de nós  foram mandados para Caxias. E o Rui (e eu...) sempre nesse grupo activista. Em 69 lá estávamos de nova na primeira barricada mas dessa vez, ele teve a sorte de escapar à prisão. Estivemos juntos no "Cong" (congeminação que ele Rui reduziu significativamente para aquelas quatro enigmáticas letras e, na sequência da crise de 69 fundámos a "Centelha"  onde ele editou o livro que apresento em vinheta. Não era o primeiro  ("Maio ausente", nome premonitório para uma recolha  anterior 4 anos a Abril ) mas elegi-o porque foi feito e editado pelo grupo que fundou e dirigiu a Centelha, editora que terá numa breve vida que não terá chegado a uma dúzia de anos, fez circular bem mais de uma centena de títulos onde avulta um quarteirão delivros de poesia. Poeta e ensaísta, o Rui deixou mais mreia dúzia delivros depoesia foi publicando poesia esparsa em várias publicações de que destaco "Poemas Livres", I, II e III,  "Petas da Centelha" e "antologia da poesia universitária". Nos últimos anos animava um blog, "O grande Zoo" título que ele pescado num livro de Nicolás Guillen. E durante vários anos lá me enviava por Abril e às vezes por uma que outra data que nos era comum, um poema. 

No ano passao já não recebi poema e logo suspeitei que a saude dele estaria abalada. Ainda tentei saber o que se passava mas as minhas parcas diligências não tiveram resultado. Com mais de oitenta anos, nada mais natural, do que a previsão breve do dim da vida.

Dos nossos companheiros de Caxias, já se foram bastantes, mais do que aqueles de que tive notícia, porquanto espalhados pelo país, fomos perdendo o contacto.

 

Em memória de Abílio Vieira, António Bernardes, Alfredo Fernandes Martins, Alfredo soveral Martins. Carlos Mac-Mahon José Martins Baptista,  José Augusto Rocha, Francisco Delgado, José Monteiro, Irene Namorado, João Quintela, Luís Bagulho, Mário silva,  Manuel Balonas e, eventualmente mais alguns de que não tenho notícia.

Estiveram em  Caxias em 1962 e já cá não estão. O Rui já está com eles. 

E na minha, nossa, memória.

o leitor (im)penitente 279

mcr, 12.01.25

"Retouches a mom Retour" d' Eça

mcr, 12-1-25

 

Pelos vistos, uma grande parte do comentariado ilustre e pago, terá entendido afirmar que Eça estava vivo e que as   suas obras retratavam ainda um Portugal idêntico ao de há cento e cinquenta anos.

 

O colunista, ex-ministro e professor Pedro Adão e Silva vem explicar que esse velho vício português de olhar para a pátria com óculos demasiado antigos não tem razão de ser e não só não revela Portugal como ainda menos homenageia Eça. 

esta é uma verdade como um punho mesmo que, nos deparemos,  constantemente com alguns  dos velhos  vícios e laivos provincianos que, em seu tempo, Eça (e demais companheiros) fustigou. 

Portugal hoje, tem pouco a ver com aquele do século XIX mesmo se ainda se percebam atavismos antigos e se possam tentar estabelecer paralelismos  tão fáceis como falsos    com alguma realidade passada. 

Pessoalmente, nunca fiz parte desse clube   que sofre de patrioteirismo  mesmo se não é o de Pinheiro Chagas  de quem Eça zombou vezes sem conta .

Todavia, mesmo deixando Eça em paz e não tentando colocá-lo no Portugal de hoje, coisa insensata e sem sentido, conviria lembrar que a nossa História nos fornece um pequeno rosário de escritores (ou de obras) que no seu conjunto definem muito razoavelmente os altos e baixos desta  já longa aventura nacional. Pela parte que me toca sinto-me  devedor dos poemas de D Dinis, de Camões tanto quanto da Peregrinação e da História Trágico Marítima. Junte-lhes os Sermões de Vieira, "as "viagens na minha terra", o "Amor de Perdição", Cesário, Pessoa, Aquilino e Hélder e poderia fixar algumas bases para uma tentativa de retrato  nosso, da nossa gente, desta gente que provavelmente não pôs os pés na cerimónia do Panteão (alguém acusou a chuva, o frio mas eu tenho por mim que aquela cerimónia não excitou quaisquer ânimos, não mobilizou multidões e sobretudo não veio de qualquer modo, tornar Eça mais próximo.

Tenho, de resto, a impressão (agora diz-se "percepção"...) que a unanimidade de votos na Assembleia da República para a trasladação de Eça contou  com uma fortíssima percentagem que ou o não leu ou leu-o obrigada e, sobretudo, pouco o percebeu

 Sou um leitor entusiasta dele sobretudo de tudo o que não é romance. O mesmo se passa com Aquilino (mesmo o tradutor do D Quixote que não está à altura da radução, também dele,   da "Retirada dos 10.000". Leio toda a sua prosa não romanesca com prazer, gozo e reconhecimento.)

Desde sempre, ou desde que a panteonização entrou na ordem do dia, entendi  que Eça estava muito bem em Santa Maria do Douro, longe da cidade e perto das serras e estou de acordo com a velada ironia do Presidente da Assembleia da República que se perguntou sobre o que Eça diria daquela cerimónia soleníssima . 

Parece que alguém mais "eciano" que Eça terá argumentado com um texto seu sobre a entrada de Victtor Hugo no Panteão francês. Conviria sobre isso lembrar que Eça, mais do que enorme escritor,  muito claramente refere o herói da resistência contra   "Napoleon le petit" . que durante quase vinte anos de exílio manteve  acesa a luta pela liberdade e contra o despotismo imperial que, aliás, levou a França à derrota humilhante, em Sedan. Usar a entrada de Hugo no panteão sem esclarecer exactamente as  circunstâncias e o teor do texto é  má fé . 

Esperemos que a fúria panteonística que eventualmente assola certa inteligentsia nacional poupe Camilo e mais um par de autores que ainda repousam em locais próximos do sítio onde viveram.   

 

O leitor (im)penitente 278

mcr, 08.01.25

 

 

 

 

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Eça degredado

mcr, 8-1-25

 

 

Eça de Queirós  saiu da sua inventada Tormes em direcção a Lisboa, mais propriamente ao Panteão Nacional.

Cento e tal anos depois da sua morte, eis que o autor de" Uma   campanha alegre" continua, depois de morto, a percorrer os cemitérios da pátria.

Recordemos brevemente que, falecido em França foi o seu corpo transportado para Portugal num navio militar e em Lisboa foi alvo de um enterro de Estado tendo o cortejo fúnebre sido acompanhado por uma enorme multidão.

Se relembro este facto é porque julgo que logo aí o país lhe rendeu a homenagem devida.

O jazigo onde o corpo foi depositado foi muitos anos mais tarde declarado abandonado e uma das suas descendentes entendeu e muito bem que o caixão deveria ir para o cemitério mais próximo da sua "Tormes" e perto da Fundação que leva o seu nome. 

convenhamos: o panteão de eça é a sua absolutamente admirável obra que continua viva e aser lida e editada.

Há um par de anos terei recordado aqui uma crónica admirável sobre o Afeganistão onde peba certeira do escritor descreve com talento e ironia os desastres militares do Império britânico nas suas relações com esse longínquo país. Os secessivos intentos de grandes nações desde a URSS até aos EUA de controlar aquela zona  copiam exactamente, mas com menos graça e maiores desgraças para o povo local e para as tropas invasoras. Tudo o que Eça escreve, desde Londres, em 1880  pode ser lido como acontecendo nos finais do século XX primeiro com os soviéticos e depois, já no século seguinte com os americanos.

A História repete-se, disse alguém e a a história da Hstória padece do mesmo mal

Os leitores apenas terão de ir ào primeiro texto das "cartas de Inglaterra" e ler, babando-se de gozo o artigo "Afeganistão e Irlanda. Está lá tudo: a inteligência, a graça, a escrita admirável, o bom senso de alguém que de muito longe olha para o mundo e o descreve com precisão cirúrgica mas amável. 

Agora, mais uma vez, os restos mortais do escritor mudam de poiso. Como se isso acrescentasse um milímetro a sua obra e à procura constante da obra por parte de leitores de todas as idades.

Eu nada tenho contra Santa Engrácia que, de resto é uma bonita igreja reconvertida. Também nada tenho contra os restos verdadeiros ou imaginados do quarteirão de notabilidades que lá estão. Aliás, até me felicito por saber que ninguem, até ao momento se lembrou de retirar de lá os caixões de Carmona ou de Sidónio Pais. Os mais exaltados abrilistas que nasceram com o êxito da revolução, não se lembraram daquele venerável edificio situado perto da feira da ladra e pouco ou nada frequentado. Provavelmente, muitos nem saberiam quem eram estes dois nomeados o Teófilo Braga  e Manuel de Arriaga também eles panteonizados  e que pouco dizem (se é que dizem alguma coisa) às gerações mais recentes, incluindo até a minha ...) 

Pelos vistos, no ano que passou foram 170.000 os visitantes do "augusto lugar". Valeria a pena saber se se trata fubdamentalmente de turistas estrangeiros, criancinhas das esscolas ou de alguma escolha mai séria de cidadãos interessados na História nacinal. 

Tormes (que é apenas o nome da estação) recorda o último romance de Eça que anos antes foi a Santa Maria do Douro  (concelho de Baião) reconhecer uma propriedade herdada por sua mulher. Aí se ergueu com energia, sacrifício, pertináia e apoios vários de ecianos e instituições a Fundação Eça de Queirós, obra de uma grande senhora (Maria da Graça Salema de Castro) que tive o prazer e a honra de conhecer quando desempenhava o cargo de Delegado Regional de Culrura do Norte. 

Dizem-me que a população tinha enorme orgulho naquele túmulo de alguém que com simpatia e justeza descrevera aqueles montes longe de tudo. A Fundação ataía (e atrai) visitantes , desta vez sabedores do que querem conhecer conheço gente que muito fez pela obra.

No panteão, Eça é, apenas, mais um  e não creio que o seu futuro poiso seja mais visitado ou propositadamente visitao como acontecia nas terras durienses de onde foi desenterrado. 

A família, ou parte dela, foi favorável à trasladação e a Assembleia da República deu luz verde (por unanimidade!...) a uma proposta do PS.

Esquecceram-se as ilustres luminárias dos retratos impiedosos e hilariantes que Eça fez do Parlamento  em várias "farpas" constantes de "uma campanha alegre"!

Não me atrevo a pensar no que o "pobre homem da Póvoa do Varzim" diria desta última homenagem, dita nacional. Mesmo assim, parece-me ouvir um riso escarninho e tumular  soprado das folhas do livro que alguém entretanto com oum sorriso luminoso e feliz lê descansadamente à luz baça de um dia de invernia. 

 

*na vinheta nesta estante estão três monstros da literatura portuguesa a daber, Eça, Aquilino e Camilo (Camões, Pessoa e Antero)  não couberam aqu e estão nas estantes de poesia da mesma sala)  acompanhados por um punhado de escritores (Isabel da Nóbrega, Cardoso Pires, Nemésio, entre outros que conheci e me acompanharam até na prisão de Caxias. Junte-se-lhes Xenofonte que frequento desde o meu 6ºano do liceu e que constantemente ofereço a quem entendo que o merece conhecer)

Na fila de baixo está um quarteirão de obras sobre Eça e no armário fechado outras tantas acompanhadas de ensaios , biografias e dicionários sobre alguns escritores portugueses. Falta ( porque não cabia) na estante das obras de EQ a edição monumental e belíssima do Centenário.  que anda por aí ao desbarato. Não se vê mas estão lá em cima no canto esquerdo os quatro livros ilustrados de Eça publicados pela Lello

 

Vai o folhetim em memória de Joaquim Patrício Curado, meu tio, quase um irmão mais velho, que lia e relia Eça  ou ensaios sobre a sua obra sem parar...

o leitor (im)penitente 277

mcr, 06.01.25

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A revolução que deu frutos

mcr, 4-1-25

 

Está prestar a fechar portas a exposição "surrealisme"  no Centre Georges Pompidou que ira fazer um par de viagens pela Europa durante todo este ano mas que não chegará a Portugal  (como de costume...).

Por razões quase absurdas não pude ir vê-la  pelo que tive de me contentar com o sumptuoso catálogo   onde surpreendentemente falta o catálogo da exposição "Le surrealisme en 1947" quealém de reunir 25 multiplos trazia na capa o famoso "objecto" de Marcel  Duchamp: um seio em relevo com a menção "priére de toucher ".

Consultada a parte do catálogo actual na parte que diz respeito aos inueros textos, revistas, manuscritos "cadavres exquis"  estranha a falta  daquilo que, mesmo hoje, pode ser considerado um dos  mais importante documentos da aventura surrealista. 

De todo o modo, mesmo para um "leitor (im)penitente" como eu que, depois de ter descoberto o surrealismo literário (português), por volta de 1962, nunca mais deixei de tentar ler, ver, perceber aquela aventura empolgante.

Foi com a leitura de O'Neil e Hélder (mais que com Cesariny!) que comecei. foi o António Manso Pinheiro que viria a ser o editor da Estampa que fui introduzido nesse singular clube, o único a que me mantenho fiel. 

Anos, poucos, depois, durante umas férias de Verão  em Miramar, descobri num alfarrabista portuense um bom quarteirão de obras francesas, algumas em primeira edição. Comprei  imediatamente todas as que pude (bm poucas, de resto, que os morabitinos eram escassos) e combinei voltar no dia seQuinte para tentar comprar o que faltava. Quando, de facto, voltei o raio do homem tinha vendido tudo a alguém que com o mesmo faro e mais dinheiro no bolso, levara tudo. 

Muitos anos, depois, em Paris, no fim de uma estadia e logicamente já com poucos francos "en poche", entrei na Maeght parisiense e perguntei pelo catálogo de 47. As meninas que me atenderam perguntaram logo se eu procurava o que tinha o "objecto". Na altura nem percebi bem mas não foi dificil  chegar  ao seio de Duchamp. . Não o tinham na loja mas podiam requisitá-lo à casa mãe , também ela editora do referido livro (a editora  real era outra, algo que se chamava "Pierre a Feu") . E lá comprei esse catálogo que, em boa verdade é tão só um fac-simile do original. Agora o original anda por aí por largos milhares de euros  (vi mesmo um  livreiro alfarrabista descarado e alucinado a pedir 100.000! De todo o modo creio que nunca se arranjará a peça completa (com os múltiplos) por menos de 5 a 7000 euros. 

Este catálogo que dá origem ao folhetim celebra a data redonda (100 anos) do nascimento do movimento surrealista. A exposição no CoGP tem, de resto, mas noutra sala (suponho) ,o escritório de André Breton que o museu comprou há já varios anos e que, por si só, já dá uma ideia  bastante interessante da actividade dos surrealistas que entre outras opções de negócio deram a conhecer e a vender muitas peças de arte negra e ameríndia. 

Há dias, o "Público apresentou duas inteiras páginas sobre a exposição  o que me permite não ter de descrever com mais pormenor o conteúdo do catálogo. De todo o modo, a vinheta mostra a uma das estantes com obras sobre o surrealismo e aí constam muitas das peças (mas originais!) do movimento.

na vinheta

estante dos livros sobre o surrealismo (exceptuam-se as obras literárias) com algumas peças sobre o dadaísmo, o futurismo, a internacional situacionista e o College de Pataphysique

 

o leitor (im)penitente 275

mcr, 20.12.24

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"Tomemos, cá, do O'Neil..."

mcr, 19-12-24

 

 

Hoje. 19 de Dezembro. Alexandre O'Neil faria 100 anos. Para celebra a data e o enorme poeta que me acompanha desde o ínicio dos anos sessenta deixo aqui um poema menos conhecido que muito me diz pois é dedicado a Manuel Bandeira, prodigioso poeta brasileiro  que, com João Cabral de Melo Neto (outro gande) é muito cá de casa e também da de O'Neil.

Também descobri estes dois ao mesmo tempo de A O N. Acho que tenho todos os poemas e livros de qualquer dos três e a eles recorro comovido mas feliz sempre  que posso. 

No ultimo Jornal de Letras  (14 a 24 de Dezembro, nº 1414) podem ler-se com farto e gozoso proveito duas entrevistas ao poeta assinadas por outros dois amigos meus (Fernando Assis Pacheco e António Mega Ferreira que também já não andam por aí). Todavia, leitores, nesta época em que gastamos dinheiro à fartazana ofereçam-se a vós mesmos um presente: As "poesias completas" que já vão na 3`ou 4`edição  (!!!) valem o seu peso em ouro ou em prazer, a escolha é vossa

 

 

Alô, Vovô!

A Manuel Bandeira, nos seus 80 anos.

 

 

Esperei vê-lo por aqui um dia, seu dentuças,

travar-lhe do braço e contar-lhe como o Maximiliano do México foi parar ao Rossio

(toda a gente julga que é Pedro IV o pedestalizado),

apontar-lhe o frustrâneo cotovelo lusitano

no mármore dos cafés,

comer com Você joaquinzinhos inteirinhos e duma só vez,

fazer boca ou boqueirão com o vinho (que era) de tostão,

mostrar-lhe como eu e o Cinatti caprichamos nas saladas

(aqui não põem coentro na salada, calcule Você!),

saladas de alface, agrião,

coentro,

rabanete, tomate,

mais coentro,

mas «cebola, não!»…

Ch’bola, non!

… que não sai nem com o desodorizante que chamam de halazon.

Um pulo à casa onde nasceu Pessoa, sim?

(Nós não somos pessoas assim à toa, não!)

E em minha casa, à Rua da Saudade, a cavaleiro do rio,

Você podia fumar escondido dos adultos

como na outra Saudade do seu Recife de menino.

Depois: broto ou brisa

com Anarina, mas sem Adalgisa…

Atenção, Poeta: re-cepção!

Iríamos deixá-lo à porta da recepção,

da sessão de autógrafos,

de antropógrafos,

às mãos dos vestibulantes tão (p)restantes.

À saída lá estaríamos pra levá-lo ao hotel

e, esquecida a poesia, a literatura,

num repente de ternura pegar-lhe na mão:

– Sua bênção, Vovô Manuel !

Remessa

Drinka, trinca

connosco, Manuel,

sem autógrafo nem cóquetel,

que nós não podemos ter os teus oitenta,

nem com uísque, nem com água de Juventa,

Manuel!

 

*na gravura um livro de ONeil publicado pela Einaudi em 1966, com tradução de Joyce Lussu, uma intelectual italiana de grande prestígio e resistente contra o fascismo. O nome Lussu vem do marido, Emílio, também ele conhecido na esquerda europeia e italiana e autor de vários importantes ensaios entre eles "A teoria da insurreição". Ambos foram resistentes e "partigiani".  Emílio foi (depois do Partido da Acção sarda. um dos fundadores do PSIUP, senador membro da Assembleia constituinte italiana. Há mesmo um museu Joyc e Emilio Lussu que guarda um enorme espólio de obras de ambos. Durante um pequeno período Emílio e Joyce estiveram em Portugal mas ele cedo partiu para Inglaterra tendo depois entrado clandestinamente em França (ocupada) para com outros membros da Esquerda Itliana constituir um dos primeiros núcleos políticos contra o regime de Mussolini. Durante a estadia em Portugal Joyce conheceu os poemas de O Neil e preparou esta edição de "Portotogallo mio rimorso"  que comprei por duas vezes pois ofereci o primeiro exemplar a uma amiga italiana e andei mais de trinta anos atrás de um novo que já consegui na rede alfarrabista italiana, sinal que mesmo aí o poeta foi lido, apreciado e guardado.

** O título do folhetim recorda uma excelente antologia   ("Tomai lá do O'Neil", ´círculo de leitores,  1986) organizada por António Tabucchi com fotografias de  Alexandre Delgado O'Neil, 1º filho, já falecido, do poeta

 

o leitor (im)penitente 274

mcr, 02.12.24

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Os livros proibidos, queimados, não editados e as jornalistas analfabetas (ou pior...)

mcr, 1-12-24

 

Estou farto de me referir ao jornal que todos os dias (desde o primeiro número....)  compro e leio. Durante anos juntava-lhe quase diariamente "Le Monde", "El  País" e "La  Republica".

Agora esses jornais ou deixaram de chegar a Portugal ou chegam às pinguinhas e nunca à tabacaria-papelaria onde todas as  manhãs, antes da primeira bica me forneço da imprensa que ainda resta disponível. 

E quando estou (cada vez menos...) no estrangeiro faço (ou fazia) o mesmo, encher-me de notícias frescas como quem parte para um pequeno almoço reforçado.

O mesmo ocorre com revistas e também aí as coisas pioraram e muito, mesmo em comparação com os anos de chumbo quando assinar uma revista era uma aventura cara e às vezes perigosa como verifiquei muitos anos depois ao ler os processos que a miserável pide me foi movendo. Curiosamente citavam mais vezes "L'Éxpress" ou "Le nouvel obaservateur" que a volumosa  e progressista  "Europe"  provavelmente porque esta aparecia como uma revista literária! Também terão escapado aos sevandijas policiais os "Cuaderni Piacentini" (provavelmente por serem em italiano) ou mais surpreendentemente ainda uma publicação semi-artesanal  "Analyses et documents" que seria obra de um esforçado e bem preparado grupo de trotskistas franceses. 

Tudo isto para agora me espantar por ler uma prosa insípida e aberrante, mal documentada e com um mais que provável carga de má fé de uma senhora que assina o editorial do "Público" de hoje, domingo, 1º de Dezembro. 

Em meia página, a referida criatura começa por  referir umas pessoas que (cito)"não acreditam só que não deve haver liberdade de ler, Acreditam que não deve haver liberdade. Ponto."

Até aqui nada há a repontar. Os que advogam a iletreracia à força são sempre inimigos da liberdade. E da cultura, E da poesia. E de quase tudo.

O problema está no resto do texto. Melhor dizendo de parte do texto. De facto, a autora refere que nos EUA  houve (algumas) localidades onde se propôs a destruição de livros ou subversivos ou corruptores da moral. Eram, segundo ela iniciativas de (alguns) cidadãos e/ou (algumas) autoridades públicas. (os parentesis sãõ meus)

De seguida, refere as famosas queimas de livros na Alemanha nazi, queimas essas levadas a cabo por uma grande parte da juventude estudantil. 

Ambos os casos, mesmo se com diferentes proporções, desígnios e apoios, são verdadeiros mesmo se o caso alemão tornado acção do Estado fosse bem mais radical e absolutamente perigoso para os escritores cujos livros arderam. Recordo que entre os grandes nomes (a Começar por Thomas Mann) estava o  autor de "Emilio e os Detectives", Erich Kastner um liberal humanista que teve a enorme coragem de permanecer na Alemanha para "testemunhar" o que se passava e "não abandonar o povo". São dele algumas das mais lúcidas analises do peíiodo mais negro da historia alemã.  

Deixemos, porém o escritor  e passemos ao que interessa: a proibição de ler, a proibição de escrever. Quando se entra neste tema, para além de poder  (e dever...) testemunhar o caso português (centenas de livros proibidos e apreendidos, escritores vigiados  ou julgados ((por todos Aquilino)) convém lembrar o caso da União Soviética onde depois de uma inicial explosão literária de rara qualidade se passou ao silenciamento total de centenas de escritores incluindo três futuros prémios Nobel (Pasternak, Brodsky, e Soljenitsin) . É longa, longuíssima, a lista dos que foram presos, enviados para o gulag a partir do início dos anos trinta e praticamente até à era de Gorbachev. É verdade que, durante um curto período, e sob a égide de Krutschev, pareceu existir um ligeiro apagamento da censura mas foi sol de pouca dura malgrado o aparecimento de Evtuchenko ou  Voznessensky. Outros poetas de grande qualidade foram entretanto tratados como "vadios", internados em asilos psiquiátricos e sempre proibidos de publicar. Isto, obviamente, para não falar no período anterior que viu autores da importância de Mandelstam serem presos e rapidamente executados. Não vale a pena referir  que os três Nobel acima referidos foram continuamente perseguidos na URSS sendo o caso de Soljenitsin o mais  trágico pelos longos anos de gulag  mesmo depois de durante o referido e curto período de Kruutschev ter  tido a sorte de publicar "um dia na vida e Ivan Denisovitch" um "classico" que chegou a ser estudado em algumas escolas. Depois foi o que se viu: a prisão e o silenciamento.

O mesmo ocorreu nos chamados países satélites e sobretudo na China onde o poder nunca apreciou os intelectuais mormente os escritores. A Revolução Cultural foi o momento mais trágico mas as ameaças e a censura nunca pararam. Até hoje. 

Portanto: referir as perseguições levadas a cabo por sectores, de resto minoritários, americanos associar-lhes algo desalmadamente diferente no caso alemão já é´ou ignorância grosseira ou má fé. Se ao mesmo tempo não se referir o que e passou nos setenta e tal anos soviéticos ou na China já mostra claramente enviésamento ideológico.

A segunda parte do editorial em questão refere as ameaças de grupos radicais claramente (para já) minoritários de Direita que interrompem sessões de  apresentação de livros da área lgbtqia+ com insultos, palavrões ou mesmo ameaças.

Pessoalmente nada tenho contra (ou a favor) tal área mas repugna-me absolutamente a acção dos grupelhos ultra que não só carecem de qualquer legitimidade para as suas acções mas, ainda por cima, é duvidoso que obtenham resultados desse tipo de campanhas pois ao vitimizar os opositores dão-lhes uma aura de perseguidos que eles usam sempre. Mas não é da estupidez dos radicais que pretendo falar (já aqui o dfiz demasiadas vezes) mas sim de uma outra questão.

Mesmo dentro da União Europeia há países, para não falar de fortes minorias ou maiorias partidárias,  que não aceitam sequer a manifestação pública dos defensores  lgtb.-... Aliás existem mesmo fortes proibições  que afectam essas pequenas minorias. 

Porém, e  é aqui que bate o ponto, a área sexual minoritária em questão é brutalmente perseguida na Rússia, na China, nos países muçulmanos e, sobretudo em África. 

Acontece, todavia, que muitos dos mais radicais defensores da mesmíssima área lgtb.... usam igualmente um discurso anti-racista, anti imperialista, anti colonialista a par da defesa da sacrificada Palestina onde a homossexualidade nunca, de resto, foi tolerada. Ou, por outras palavras, os ataques a estas minorias sexuais e culturais só parecem medonhos no Ocidente que justamente as tolera e as defende legalmente.  

Eu não sei se a autora inocentinha daquele editorial patético  alguma vez pensou nisto, se é que pensar é uma tarefa a que dedique alguns minutos por dia. Sei apenas que quando se condena algo é bom que não se tergiverse ou esconda partes do mesmo mal que se pretende condenar. 

Em tempos publiquei aqui, por mero divertimento e desfastio, um apontamento sobre um livrinho  com quase 400 páginas publicado em 1908. O seu autor era um senhor abade Louis Bethleem e a obra ia já na quarta edição. O título dizia tudo "Romans a lire & Romans a proscrire (essai de classification au point de vue moraldes rincipaux romans et romanciers de notre epoque 1800-1908- avec notes et indications pratiques) . Um autêntico petisco literário  que, contudo, sobre a senhora articulista tem uma vantagem: foi escrito ha mais de um século, atem-se à "moral" católica da época e dá uma gigantesca indicação da literatura de ficção da época e faz-nos rir a bandeiras despregadas.  Direi mesmo que fora das enciclopédias será difícil encontrar uma tal quantidade de referências a escritores com obra publicada. Quanto à crítica dàs obras vale a pena ler não só porque aquilo é, de certo modo, uma pequena história da mentalidade da época mas também dos temas literários em voga.

Por outras palavras, o abade documentou-se bem ao contrário da autora do infeliz editorial

`*na vinheta capa da obra citada

 

o leitor (im)penitente 273

mcr, 28.09.24

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Duas épocas 

(1921-1974)

Que diferença!

mcr, 27-9-24

 

 

A velhice é uma doença, assevera a minha Mãe que vai nuns garbosos 102 anos (isto de garbosos diz apenas respeito à cabeça que no resto as coisas não estão especialmente famosas_ os olhos atacados pela mácula que ela nunca tratou, os ouvidos a depender do que ela chama os ouvidores, ou seja os aparelhos que a incomodam, irritam e saem do sítio quando mastiga; os pés "gastos" mesmo que a excelente Senhora ainda palilhe a casa toda num afã lento  que a cansa mas não a demove. tudo isto junto à inabalável decisão de não querer ter ninguém em casa durante boa parte do dia, melhor dizendo entre as cinco da tarde e as dez da manhã. Nós tentamos convencê-la mas ela responde que ainda é senhora dos seus actos e decisões e que ainda não precisa de uma ama seca! ...)

Eu que, começo a suspeitar que lhe herdei a maleita ocular e a dureza de ouvido que começa a dar sinal que já não tem a agudeza de outros tempos, não vou tão longe mas consinto em dizer que a velhice é uma valente chatice. Faz rima e é verdade sobretudo quando nos damos conta da lentidão com que levams a cabo tarefs que dantes se faziam "numa fervurinha". 

A leitura começa a cansar-me se insisto muito e eudantes era criatura para ler em qualquer sítio, durante horas a fio. Agora, preciso das lupas electrónicas, de luz forte se apenas me fio nos óculos. E sorte tenho porquanto, se me falta a lupa milagreira na altira da bicae do jornal ou há luz forte na esplanada ou tenho de me limitar aos títulos da gazeta! 

Agora começo a compreender melhor o Jorge Luís Borges, esse escritor portentoso (e porteño), porventura um dos maiores do século passado que sobretudo tinha uma cultura imensa e uma memória prodigiosa

No que toca, começo a rodear-me de caderninhos e papéis avulsos onde anoto tarefas ou apontamentos para o dia a dia, blog incluído. Porém, o que antigamente era uma escrita legível foi-se transformando numa espécie de linear B , uma série de gatafunhos que, volta e meia, não consigo decifrar! 

rudo isto vem a propósito de um par de livros adquiridos recentemente e especialmente de duas obras de pequena dimensão: "A noite sangrenta  (João Miguel Almeida, Manuscrito ((grupo Presença)) 2024) e "A revolução do 25 de Abril" de José Medeiros Ferreira, Shantarin, 2024. redição de "ensaio Histórico sobre a revolução do 25 de Abril"

O    Medeiros Ferreira,  meu amigo desde o º(e único) Encontro Nacional de Estudantes, Coimbra 1961, foi um dos mais brilhantes dirigentes estudantis  dos sessentas, aliás de 62 e mais tarde viu-se forçado a exilar-se . Fez parte do grupo da Suíça e só regressou depois do 25 de Abril. Foi também um dos mais destacados poííticos da primeira fase da Democracia e um ensaísta de reconhecido mérito Deixou um par de pbras que ainda hoje, uase 50 anos depois, se lêem com proveito e, acrescento eu, prazer pois escrevia bem. 

Esta reedição teve o apoio de alguns historiadores de reconhecida competência que enquadram  um par de aspectos que com o tempo merecem agora comentário discussão.  Do que, em tempos tinha lifo, e já lá vão largos anos, fiquei com a ideia de um texto inteligente e original e, de certo modo, muito contra a corrente. Irei de novo lê-lo mas apresso-me a chamar a atençao para o livro, quanto mais não seja pelo facto de durante largos anos a produção teórica dos nossos políticos no activo não merecer atençao e menos ainda comentário dada a pobreza manifesta  (incluindo a estilística...) que demonstram. 

Com o Sé (e também com a Maria Emília Brederode, sua mulher na altura namorada)  ocorreu nesse 1º´ENE, algo que só muito mais tarde terá tido a sua pequena importância. Estávamos os três à conversa na Praça da República, em Coimbra à espera do início dos trabalhos quando um agente da PIDE nos abordou dando ao Zé e Mªa Emília ordem de imediato regresso a Lisboa. Lá explicaram que teriam de ir buscar a sua bagagem à sede da Associação Académica  e com a minha ajuda para lhes indicar o caminho, recolheriam os pertences e abandonariam a cidade. Claro que nada disso aconteceu e só partiram no dia seguinte. Nunca mais me lembrei desse caso até verificar que um dos 14 processos que a PIDE me dedicou vinha toda essa aventura "provando-se assim a minha perigosidade  de elemento desafecto ao regime e de conluio com agitadores lidboetas". Como só fui à Rorre do Tombo à procura do meu miserável cadastro, já não tive oportunidade de informar o Zé desta singular jornada oposicionista em que ambos coincidimos.

 

O segundo livro de que quero dar notícia é uma descrição detalhada e recentísima do singular caso da "camioneta fantasma" que na violentíssima noite de 19 de Outubro percorreu Lisboa, raptando políticos adversários do partido Democrático. Foram assassinados três importantes republicanos, antónio Granjo ex-primeiro ministro de um dos 51 governos dessa época caótica, Machado dos Santos o herói da Rotunda e o verdadeiro fazedor do 5 de Outubro e Carlos da Maia, companheiro do anterior e elemento fundamental na insurreição da marinha de guerra. 

Terá havido mais mortos, para além de gente espancada, maltratada ou meramente ameaçada.

Este episódio infame nunca foi bem explicado e, sobretudo nunca se chegou a conhecer os mandantes da sinistr tarefa. Para a história ficou um capanga violento conhecido como o "dente de Ouro2, marinheiro ou arsenalista que foi preso mas que nunca denunciou os seus verdadeiros chefes.

A história dos agitadíssimos 16 anos da 1ª República regista um numero  impressionante de violências de toda a ordem, desde atentados bombistas, assassínios, ataques a sindicatos e a jornais s, golpes de Estado, perseguições religiosas e fraudes eleitorais. Aliás convém recordar que na mesma época, e por essa Europa fora, os tempos não eram também especialmente pacíficos mesmo se Portugal se tenha destacado, melhor dizendo antecedido

De todo o modo. a 1ª República já estava agónica em 1921 .A "revolução" sidonista, o assassínio do Presidente Rei já tinham dexado marcas profundas na destruição das instituições e revelado o pouco apreço  das milícias radicais lisboetas  pelos governantes em particular e pela classe política em geral. A instituição militar , depois da fraca figura demonstrada na Flandres e nas colónias, dedicava-se com etusiasmo a hipóteses de intentonas quando não assistia à ivasão de civis nos quartéis. Estes desconfiavam da oficialidade e esta pagava na mesma moeda e quando era chamada  julgar militares sediciosos ou dados como tal  transformava os processos em caricaturas   e exculpava os oficiais do quadro de todas as formas e feitios. 

Acrise financeira campeava, o país não tinha crédito  externo decente e tudo prenunciava uma crise que se tornou evidente com o 28 de Mio cinco anos depois. Vale a pena lembrar que o sr general Gomes da Costa foi tranquilamente para Brga, montou num cavalo eventualmente branco e  foi descendo do Norte lentamente de modo a permitir que todas as guarnições militares se fossem rendendo e juntando a essa marcha patétic. Uma vez chegao a Lisboa, passou a pena aos reestantes conspiraores e assumiu o poder. Depois foi o que se viu: um cavalheiro de Coimbra, misógin e deconfiado, puro prosuto da ruralidade e da sempre reaccionária faculdade de Direito foi tomando paulatinamente o poder, abençoado pela Igrej e, pior, por uma esmagadora maioria de cidadãos que fartos das confusões apenas queria um poder forte que os livrasse dos sobressaltos que tinham passado durante quase década e meia. 

Todavia, o livro que recomendo não vai tão longe nem era esse o seu fito. Retrata tõ só um par denoits infames e selvagens que produziu várias vítimas mortas à ordem de aguém  que até  hoje se desconhece. As três  principais vítimas dessa camioneta fantasma eram o que se poderia chamar "republicanos modeados" que se opunham aos "democráticos" nome dado às facções nem sempre unidas que genericamente se reclamavam de Afonso Costa. Representavam na desolada  paisagem política lusitana, uma certa Esquerda que, todavia, n\ão via com bons olhos as organizações sindicais, sobretudo a CGT anarco-sindicalista, nem tinha a anção das elites intelectuais democráticas, por exemplo o grupo Seara Nova.

Vale a pena ler o que sobre este acontecimento se escreve na "Ilustração Portuguesa" um suplemento vistoso e recheado de fotografias do "século". ao longo de uma boa dúzia de anos foi comprando e juntando os 947 fascículos semanais desta publicação  que desapareceu em 1924. 

 E é, justamente da "Ilustração Portuguesa" que retiro a vinheta que acompanha este post (Il . Port., nº 821 de 12/11/1921) Obviamente os númerosa anteriores estão recheados de fotografias, artigos e declarações sobre este crime.

o leitor (im)penitente 272

mcr, 21.09.24

A Fernanda Santos regressou

mcr, 20-9-24

 

You can tell the mailman not to call

I ain't comin' home until the fall

And again I might not get back home at all

Lulu's back in town, yeah

Oh tell all my pets

All my Harlem coquettes

Mister Waller regrets

[Incomprehensible], no

Tell the mailman not to call

Ain't comin' home until the fall

And then again I might not get home at all

Lulu's back in town

 

A Fernanda Santos regressou a sua oficina de encadernação onde ocorrem autênticos milagres  no que toca a vestir um livro velho e quase destruído numa coisa pimpona, bonita, legível com ar cosmopolita. limpo e jovial.

É esse o oficio dos encadernadores que amam os livros e os salvam das misérias da idade, do descuido dos seus possuidores e de mais uma série de desastres que afectam livros e bibliotecas.

Conheci a Fernanda e a sua pequeníssima equipa quando me caiu na mão uma publicação que parecia fugida de Gaza ou dos piores territórios da Ucrânia invadida por uma horda selvagem às ordens de um autocrata delirante e saudoso dos piores dias do estalinismo.

Era uma edição comemorativa sobre a imprensa de Moçambique cujo centenário caiu em 1954. 

Em papel da época, e sobretudo o papel de jornal, deixava muito a desejar. Aquilo vinha sujo, coberto de pó que parecia colado às folhas e os bordos das páginas estavam crivados de numerosos rasgões. 

O alfarrabista que me vendeu aquela peça jurava que era raríssima mas fazia um preço baixíssimo porque ele mesmo acreditava que aquele monte lixo nunca teria comprador .

Ora, eu vivi em Moçambique entre o terceiro e o quinto ano do liceu e fiquei para sempre um autêntico macua  (de facto deveria acrescentar changane pois foi mais o tempo de estadia em Lourenço Marques do que em Nampula, terra a que ainda regressei já universitário por duas longuíssimas férias de Verão). Nunca mais lá voltei mas recordo tudo (colonialismo incluído)  e. ao longo dos anos fui constituindo uma biblioteca africana  que ocupa uma inteira parede de uma divisão da casa. 

Esta publicação cujo valor é mais documental e sentimental do que científico, permitia-me, de qualquer modo, retraçar a origem de algumas publicações periódicas  que nem sequer constam das bibliotecas portuguesas e, menos ainda, moçambicanas

Quando entreguei aquele "quase monte de lixo" à Fernanda estava bem longe de imaginar que  após um paciente trabalho de limpeza, e de um forte esforço para aparar as páginas, ela me entregasse algo que parecia não vou dizer novo mas apenas um muito bem conservado jornal comemorativo  de 60 páginas. Encadernado em meia francesa (e também nisto há mester  digno de louvor; basta pensar que o tamanho das folhas anda pelos 50x32 cm que implica que o livro necessite sempre de estar bem amparado por outros do mesmo porte mas bem mais espessos para não entortar). Já tive ofertas que atingiram cem vezes o peço (baixo) que paguei na compra. 

Andam cá por casa mais de 500 livros encadernados pela Fernanda & comandita. Todas essas encadernações são o que chamo "encadernações defensivas" ou seja de tentativas até agora bem sucedidas de salvar livros e revistas cujo estado não era exactamente o melhor. 

Alguém, neste ponto, dirá que devo ter gasto uma fortuna tanto mais que eu mesmo adquiri papéis especiais  quase sempre estrangeiros. Como as lombadas e os cantos são em pele  poderia pensar-se que cada encadernação me tivesse ficado por várias dezenas de euros. Nada disso. Paguei muito pouco porquanto esta oficina de encadernação está sob a alçada da Segurança Social e tem por objectivo criar emprego assistido para pessoas com diferentes tipos de deficiências físicas.

Em boa verdade, os comandados pela Fernanda Santos podem orgulhar-se por trabalhar, ter a sensação que são úteis e, finalmente prestarem um serviço à farta clientela (alguma institucional) que acorre ao seu local de trabalho.

Tudo isto, entretanto foi posto em causa pela pandemia e, depois pela ausência da Fernanda que necessitava de um rim. Três anos mais tarde, ei-la que regressa sempre bonita, sempre prestável, sempre competente

Tinha lá vários livros para encadernar e arranjar e esperei pacientemente e com esperança por este dia. 

Não sei porquê, ou se calhar sei bem de mais, do fundo do coração, que só me apetece trautear uma velha canção americana, um standard de jazz que todos os grandes a começar por Fats Waller interpretaram Não sou, quem me dera, o herói da cantiga, mas o tema leve, brincalhão e desenfadado de  "Lulu's back in town" não me sai da cabeça e distrai-me dos péssimos dias porque tantos portugueses estão a passar. 

E já tenho um monte de livros para entregar ao cuidados da Fernanda porque ela, para além da eficiência tem um gosto notável   combina como ninguém os papéis que forneço com as peles que arranja para já não falar nos "ferros" que aplica nas lombadas. 

Alfarrabistas amigos a quem mostrei alguns dos livros tratados pela Fernanda quiseram logo saber onde é que pratica as suas boas artes. Porém como são de Lisboa, desistiram  porque não vale a pena fazer a viajem e, sobretudo, esperar pela conclusão do trabalho que, esse sim, é demorado dada a escassez de pessoal na encadernação.

 

 

o leitor (im)penitente 271

mcr, 10.09.24

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Salgueiro Maia veio de Santarém para Lisboa. Sozinho?

mcr, 10-9-24

 

Permitam os/as leitores/as que eu cite aqui Brecht, melhor dizendo as "Perguntas de um operário leitor ("...César conquistou as Gálias. Não teria pelo menos um cozinheiro?..)

em boa verdade, o título é um chamariz (também, de facto, é para isso ue os títulos servem)  e o capitão de Santarém, herói absoluto masi vezes citado do que respeitado, serve apenas para chamar a atenção neste cinquentenário de Abril para algo que por tanto se falar em "capitães de Abril" se esquecem todos quantos arriscaram muito ao acompanhá-los.

No caso concreto quero apenas citar os jovens oficiais milicianos , e terão sido largas centenas, que desde o primeiro dia, muitas vezes bastante tempo antes, estiveram na génese ou no apoio entusiástico ao golpe militar. 

Poderia referir ainda outras centenas de portuguesas e portugueses que, fora dos quarteis arriscavam diariamente a vida ou pelo menos a liberdade num combate sem tréguas ao Estafo Novo.

Todavia, desta feita, e repetindo vários antigos folhetins aqui publicados sobre o papel de um largo número de combatentes nas guerras africanas, quero uma vez mais destacar o papel dos oficiais milicianos  e sobretudo dos que nos anos posteriores a 70 foram chamados a combater nas frentes de guerra.

Desta vez, isto vem a propósito de um livro  ("Guiné os oficiais milicianos e o 25 de Abril" Ancora ed, 2024 , da autoria de Alvaro Marques, amaro Jorge, Canhoto Antunes, Celso Cruzeiro, Eduardo Maia costa, João Ferreira do amaral, João Teixeira, José Manuel Barrosos,  José Manuel Correia Pinto, José Pratas e Sousa, Luís Araújo e Rui Pedro silva) 

Deste grupo, seis são meus migs e contemporâneos de Coimbra que se fizeram ou ajudaram a fazer a crise de 69. Só por isso sinto umaespecial alegria o escrever os seus nomes, como aliás comovidamente relembro  (porque brevemente citados no mesmo livro) mais três que com eles estavm no mesmo barco mas que já cá não estão: José Barros Moura, Luciano Avelãs Nunes e  joel Hasse Ferreira  (este só o conheci mais tarde  noutras andanças ).

Este livro cuja leitura é, além de imperiosa, agradável  e bastante curiosa, refere apenas como é que umas largas dezenas de milicianos destacados na Guiné conseguiram não só entrosar-se no MFA  como ainda por cim, graças àsua capacidade e experiência políticas, ganha nas batalhas estudantis, fazer pender a trajectória do MFA guineu para um rápido acordo cm as gentes do PAIGC. 

Não estou, de modo algum, a diminuir a coragem, o pensamento, a vontade dos oficiais do quadro aderentes e fundadores do Movimento mas apenas a realçar um facto que, cada vez mais se torna desconhecido:o 25 de Abril e boa parte do seu programa final teve também, a mão de centenas de milicianos. Direi mais: sem esse apoio nem lá (na Guiné) nem cá em todos os quartéis de onde partiram tropas, o 25 de Abril não teria sucedido. Tão simples quanto isso .

A minha tropa,  por razões que não vem ao caso, foi mais feita nas prisões espaçadas e noutras actividades conspirativas que incluiram um pequeno apoio que não foi necessário accionar ao dia 25. Todavia, mesmo nesses dias anteriores  posteriores outros amigoa, colegas e companheiros desde Coimbra estiveram na linha da frente, a começar pela ocupação da PIDE portuense e nas movimentações ocorridas nos quartéis da cidade.

Este livro que, como um dos autores afirma, não pretende fazer o retrato de pessoas que eventualmente se poriam em bicos de pés, a reclamar a sua parte de gloria militar, vale pelo contributo franco, desempoeirado  com que se descreve um processo exemplar (o da Guiné) e como sem mesmo eles contarem  isso teve consequências nas outra partes de África onde, igualmente, outas centenas de milicianos cpnseguiram ,de certa maneira apor a sua pequena contribuição "revolucionária"  (eu prefiro dizer, "cidadã, civilizada, humana) a um processo que não foi fácil mesmo se (e ao contrário do que parece transparecer em alguns depoimentos) as teses ditas spinolistas (e "neo-coloniais") já não tivessem, realmente, pernas para andar. Faço parte dos que pensam que Spinola e um par de dirigentes políticos que pensaram uma outra solução para as guerras africanas chegaram já demasiado tarde. tivessem eles podido oferecer essa alternativa nos princípios de 60 e talvez as coisas puderiam ter sido ligeiramente diferentes. Porém, tenho como certo que a teoria do "tamanho do nariz de Cleópatra" é apenas uma vaga teoria sem possibilidades de se poder comprovar. A ideia de uma federação luso africana nunca passou de uma ligeira conversa de amigos  sem substância nem defensores que pudessem modificar a política do Estado Novo.

A História é o que é, os factos tem muita forç e Spínola mesmo eleito Presidente da República já não tinha mão no MFA e menos ainda nos partidos políticos. Isto sem falar na "rua" onde a única exigência ouvida éra o regresso imediato da tropa, dos pais, dos filhos, dos maridos e dos irmãos que, corriam naturalmente o risco de perecer por uma causa  que já não tinha defensores suficiente para não falar de aliados. 

(a este propósito não resisto a lembrar, outra vez mais, que logo nos primeiros dias de democracia e liberdade, houve uma greve (dos CTT se bem me lembro= para a qual foram despachados dois outros amigos meus, milicianos, também de Coimbra. Recusaram-se a "matar" a greve e foram obviamente presos. Chamavam-se eles Anjos e Marvõ , vinham da crise de 69 e o país cobriu-se de inscrições ((Anjos Marvão  / Libertação))

É verdade que há um par de livros que cobrem não só uma parte da Resistência ao Regime do Estado Novo mas que referem actos, gestos, situações que, de certo modo foram, também eles, parte do ar subversivo que, apesar de tudo animava o pequeno contingente da Oposição que sempre existiu, resistiu e padeceu. Porém, na escassa e cada vez mais distante memória colectiva, no encanitado debate político que, à boleia de Abril (sem culpa deste) se tem levado a cabo, perpassa finalmente um desconhecimento da realidade portuguesa, dos anos de chumbo e fica apenas a ideia altamente redutora que duas centenas de oficiais do quadro entenderam a certa altura correr com um Governo que já era m cadáver à espera de certidão de óbito. 

Como dizia o sr marquês de Pombal, "um homem mesmp morto necessita de quatro para o tirarem de casa"

Um Governo mesmo naagonia precisou de quatro tiros na parede do quartel do Carmo para perceber que já não existia. 

E é bom lembrar que mesmo antes desses qatro tiros o pequeno mas heróico destacamento de Salgueiro Maia estava já acompanhado de uma enorme multidão de paisanos que (suponho) sabiam quese as coisas dessem para o torto deixariam ali umas largas dezenas de mortos e feridos.

Também esses meus amigos, na Guiné, no Porto e em toda a a parte sabiam que arriscavam muito .  Mas não titubearam. Ninguém conhece os seus nomes mas na hora da verdade é bom que alguém recorde que eles estiveram onde foi preciso

Um forte, comovido e imenso abraço velhos  companheiros de há cinco seis décadas. Estamos vivos!